Assim que cheguei naquela manhã de início de inverno Nathan havia acabado de sair do quarto de Will, fiquei imediatamente um pouco preocupada porque geralmente naquele horário eles já estavam pela cozinha ou na sala e aparentemente Will ainda estava na cama.
Quer dizer, porquê Nathan não o havia tirado da cama ainda? Will só ficava na cama quando estava indisposto e se o problema era esse significava que algo com a saúde dele não ia muito bem.
— Will está se sentindo bem? -Perguntei franzindo a testa olhando de soslaio para a porta do quarto, a televisão parecia estar ligada. - Porquê ele ainda está na cama? Alguma recaída com a imunidade?
— Ele está ótimo Lou, apenas me pediu para deixa-lo ficar na cama um pouco mais hoje. Eu também não entendi muito bem o pedido já que ele sempre parece ansioso para se ver longe dos lençóis, mas não questionei porque o humor dele pode mudar rápido demais. -Disse Will pegando as chaves de seu carro e caminhando para a porta, lançando um olhar calmo para mim com um meio sorriso. - Os pais dele viajaram a negócios e voltam amanhã a noite, preciso ir ver um paciente aqui perto. Qualquer coisa estou no celular, ligue na menor dúvida que tiver, por favor.
Nathan saiu e após fazer um chá para mim, caminhei na direção do quarto, hesitei um momento, mas por fim abri a porta do quarto de Will que sorriu ao me ver e não tive como não sorrir de volta.
Como eu amava aquele sorriso!
— E a razão de não ser tão horrível acordar todas as manhãs está aqui finalmente. -Disse ele ainda sorrindo largamente, demostrando uma rara onda de bom humor que vinha crescendo bastante nas últimas semanas e isso me enchia de alegria. - O tempo está frio mesmo com o início do verão, então como provavelmente é uma péssima ideia ir lá fora imaginei que talvez poderíamos assistir um filme, além disso, faz um tempo que não fazemos isso. Deixo você escolher​ hoje, prometo.
— Achei a ideia maravilhosa, ao que parece acordou de bom humor mesmo. -Falei com um pequeno sorriso.
— Pelo jeito falou com o Nathan quando chegou. O que tem de errado em querer um dia de preguiça na cama? -Questionou Will fazendo beicinho como uma criança chateada, rindo em seguida e tive que acompanha-lo.
Fui até o armário onde os DVDs eram guardados por ordem alfabética e ao abrir o mesmo corri os olhos pelos títulos pegando um que me chamou a atenção; uma espécie de comédia romântica ou algo do tipo, coloquei no aparelho e deitei ao lado de Will, que por sua vez riu baixo em meu couro cabeludo, sorri abraçando sua cintura desnuda, cuidadosamente colocando um de seus braços em minha cintura e foi então que algo novo aconteceu dentro de mim.
Eu já havia visto Will sem camisa algumas vezes quando ele estava mal e Nathan cuidou dele junto comigo, porém naquele momento era diferente porque ele parecia bem e mesmo assim não estava vestindo nada além de uma bermuda preta de dormir que mais parecia uma cueca box pelo tamanho, simplesmente começamos a trocar pequenos olhares, comecei a beijá-lo lentamente e o beijo começou a parecer mais quente, porém Will fechou os lábios virando o pouco que conseguia do pescoço.
— O que foi Will? Está com dor? - Perguntei preocupada erguendo o corpo levemente para poder olha-lo e então encarando a porta do banheiro fazendo menção de levantar. - Eu posso pegar analgésicos​ ou alguma coisa mais forte se quiser, o Nathan disse que podia te dar analgésicos​ quando estivesse com dor, menos se estiver com queda de imunidade porque aí mesmo que não goste vou precisar de dar antibiótico. Desculpe.
— Não, eu estou bem e não tenho nada contra antibióticos, apenas não gosto muito de tomar. É só que... Não sei se é uma boa ideia avançavamos... Ainda. Desculpe. -Respondeu ele lentamente, claramente escolhendo cada uma das palavras com cuidado e logo entendi o que o incomodava.
— Tá bom, tudo bem Will. -Falei lhe dando mais um selinho voltando a deitar em seu braço, voltando minha atenção para o filme.
— Não... Não me entenda mal Lou, o problema não é com você, juro que não. -Explicou Will com a voz um pouco trêmula, ergui um pouco o corpo para poder olha-lo melhor. - É só que... Eu não fiz mais nada com ninguém desde o acidente e... Nossa, isso vai soar realmente muito ridículo, mas eu não quero que seja uma experiência frustrante para você ou traumatizante.
— Quando estiver mais confortável com essa nova situação nós podemos... Tentar. Está tudo bem, é sério. -Falei ainda o abraçando, ele pareceu mais relaxado e logo o filme nos distraiu. - Enquanto isso vamos curtir um filme no nosso dia de preguiça, pelo menos até o Nathan chegar.
No almoço não fiz nada de especial porque eu estava mesmo levando a sério o dia de preguiça, então fiz um caldo verde com bastante legumes e após conseguir colocá-lo sentado e fazê-lo comer ficamos um bom tempo conversando sobre uma infinidade de coisas relacionadas a nossas vidas antes de nós conhecemos, lhe dei os remédios necessários de rotina e voltamos a ver filmes o restante do tempo.
Acabamos dormindo semi-nus afinal em algum momento durante o sono da tarde que eu não faço ideia simplesmente tirei minha blusa ficando apenas de sutiã e calça de moletom. Assim que acordei encontrei os olhos de Will me observando de um jeito curioso e isso me chamou a atenção imediatamente.
— Ah quanto tempo está acordado Will? Que horas são agora? -Perguntei com a voz preguiçosa, porém recusando-me a sair do lado dele. - Como assim já é de manhã!? Meus pais devem estar querendo me matar por eu não ter voltado pra casa. Ah que droga, eu acho que dormi demais!
— Acalme-se Lou, na verdade ainda é bem cedo para qualquer coisa, não se preocupe com o horário. O Nathan vai demorar pelo menos mais duas ou três horas para chegar aqui, a neve começou a cair mais cedo esse ano. Você não percebeu, mas a neve começou a cair ontem enquanto estávamos jantando então de qualquer forma você não poderia voltar para casa porque seria algo impossível, seus pais com certeza sabem disso. Você pode ligar pra eles mais tarde se isso te deixar mais tranquila, fique calma. -Disse Will com um pequeno sorriso gentil ao encarar a janela da frente e então ficou sério ao voltar os olhos para mim novamente. - Eu estava pensando sobre o que aconteceu ontem a tarde... Sobre o que conversamos.
— Esquece isso Will, eu disse que posso esperar você se sentir pronto e falei sério. -Falei o beijando e sorrindo em seguida me sentando devagar por ainda estar sonolenta procurando minha blusa pela cama. - O que vai querer para o café da manhã hoje? Seja bonzinho, acho que seus pais só vão mandar alguém ao mercado amanhã por causa da neve, por conta disso nossas opções são realmente bem limitadas hoje.
— Você. -Respondeu ele parecendo animado e ao olhá-lo o peguei examinando todo meu corpo de um jeito que deveria ser crime mundial.
— Eu estou falando sério Will! -Falei revirando os olhos ainda procurando minha blusa, por fim desisti imaginando que talvez poderia pegar alguma camisa de Will emprestada por algum tempinho já que estávamos sozinhos. - O que vai querer comer no café de manhã? Posso fazer panquecas com recheio de brigadeiro de colher ou com recheio salgado, você gostou bastante quando fiz na semana passada.
— Eu também estou falando sério Lou, então esquece as panquecas doces ou salgadas e presta atenção em mim, por favor. Eu quero você, quero poder ser um só com você. Agora. -Disse ele mordendo o lábio inferior de um jeito que fez todo meu corpo queimar por dentro de uma forma muito boa me fazendo respirar fundo e soltar o ar com dificuldade. - Eu quero ao menos tentar dar mais esse passo se é algo que você quer mesmo fazer; testar os meus limites e ver até onde vamos. Por favor.
— Tudo bem, então vamos ver onde estão os limites de Will Traynor essa manhã. -Concordei arregalando os olhos de surpresa com as palavras dele e principalmente com as minhas, sorrindo ao voltar a deitar em seu peito para poder beija-lo de um jeito mais quente. - Você tem certeza de verdade que está pronto pra isso?
— Absoluta. Nunca tive tanta certeza de algo em toda a minha vida com relação a algo que já tenha feito Lou, está tudo bem. -Respondeu ele sorrindo de um jeito que aparecia suas suaves covinhas no final das bochechas que ganharam um tom avermelhado.
Eu havia feito muita pesquisa e leitura sobre todo tipo de assunto que envolvia a condição de Will quando decidi que poderia convence-lo de que valia a pena viver, incluindo também a parte sexual inicialmente por curiosidade do que utilidade, então sabia mais ou menos como as coisas poderiam acontecer quando esse passo fosse dado em algum momento - tanto boas quanto as menos satisfatórias por assim dizer, em casos como aquele eu iria ficar no controle de basicamente toda a situação já que a movimentação dele era totalmente reduzida. Apesar de tudo imaginei que não conseguiria fazer mais nada fluir depois que removi as roupas dele e as minhas, mas de alguma forma vê-lo daquela forma e sentir como o corpo dele poderia ficar quente e mesmo assim significar algo bom percebi que não havia lugar melhor para estar além dos braços dele e o que aconteceu nas horas seguintes foram os momentos mais intensos que eu já vivi na vida.
Quando acabamos e me deitei ainda nua sobre o peito dele colocando um de seus braços em minha cintura com cuidado senti como se fogos de artifício estivessem sendo acessos por todo o meu corpo e pelo sorriso no rosto de Will imaginei que ele estava se sentindo da mesma forma.
— Eu sei que vai soar extremamente ridículo, mas eu preciso perguntar uma coisa a você, mas não sei exatamente como devia... -Comecei meio sem jeito, o que não fazia muito sentido já que eu não estava com vergonha alguma das coisas que o fiz sentir e muito menos os gemidos que não pude conter enquanto estava sobre ele.
— Quer saber como me sinto com o que acabamos de fazer, não é? -Perguntou ele sem tirar o imenso sorriso dos lábios um segundo sequer, simplesmente​ assenti sem conseguir dizer nada. - Estava imaginando quando perguntaria. Quer a verdade? Bem, a verdade é que eu nunca me senti tão vivo e completo em toda a minha vida Clark, foi a coisa mais mágica e perfeita que eu já fiz desde que tudo na minha vida mudou drasticamente por causa do acidente. Obrigado por me mostrar o paraíso, é lindo.
Após àquele momento incrível o ajudei a colocar suas roupas novamente temendo que pudesse ficar resfriado ou algo assim e vesti as minhas indo para a cozinha, 10 minutos depois Nathan chegou com manchas de neve derretendo por toda sua jaqueta, me cumprimentou elogiando o cheiro do molho branco que estava tomando quase todo o lugar. Sorri envergonhada quando ele entrou no quarto para ajudar Will com o que fosse necessário, afinal havíamos acabado de fazer amor e mesmo que não fosse um crime ou algo assim me sentia estranhamente envergonhada assim mesmo.
— Esse é definitivamente o melhor molho branco que eu já comi na minha vida. Onde aprendeu a cozinhar desse jeito? -Perguntou Nathan durante o almoço já que pedi que ficasse com a gente.
— Com a minha irmã Trenna, porém como na maioria das coisas ela é muito melhor nisso do que eu com certeza, mas quando ela ficou grávida ninguém conseguia fazê-la comer nada e tudo a fazia passar mal quase toda a semana, isso até um dia que fiz o jantar mesmo não tendo muita certeza do que estava fazendo, desde aquele dia aprendi a me virar melhor a cada dia e tem também o meu primeiro emprego numa cafeteira onde fiquei por 6 anos e é isso. - Respondi levantando e tirando os pratos da mesa, indo para a pia em seguida.
— Esquece isso Lou, pode sair daí. Você fez o jantar então eu lavo a louca de hoje, é justo... Espera um segundo, como assim você ficou num café por 6 anos? Nunca se imaginou fazendo qualquer coisa além disso? -Disse ele parecendo indignado e surpreso ao mesmo tempo, o que para Nathan era uma combinação bastante incomum e até engraçada.
— Essa história eu conheço, é divertido de ouvir. -Respondeu Will dando uma baixa gargalhada, mas o ignorei. - Eu vi isso Clark!
— Bem, acontece que um dia Trenna apostou comigo que eu não conseguiria encontrar um emprego em menos de 24 horas, eu provei que ela estava errada. -Respondi dando de ombros, afinal não era grande coisa.
— E ficou lá por 6 anos? Caramba, estou verdadeira muito impressionado. -Respondeu Nathan rindo baixo e Will o acompanhou então não tive escolha a não ser fazer o mesmo.
— Eu sei muito bem o que isso tudo parece, mas antes que diga que eu poderia ter feito muitas coisas além de ter ficado lá era muito legal e eu adorava a energia e as histórias de vida das pessoas. -Me defendi fazendo biquinho e então sorrindo, porém logo fiquei séria. - Vocês estão com uma cara estranha, eu estou tagarelando de novo, não é?
Esperei pelo pior, porém ambos explodiram em gargalhadas; legal como sempre de alguma forma eu sempre acabava sendo a piada. Já era algo que eu estava acostumada.
— Podem rir, mas foi graças a isso que aprendi a fazer as melhores sobremesas da cidade! -Garanti com um sorriso.
— Isso é verdade, você com certeza faz a melhor torta de limão do mundo! -Disse Will olhando para mim e me senti estranhamente quente, mas era de um jeito muito bom.
— Bem, a neve está diminuindo então eu vou aproveitar para ir no mercado antes que seus pais cheguem Will. Quer uma carona pra casa Lou? -Perguntou Nathan se colocando em pé já com as chaves em mãos. - Eu posso te deixar em casa.
— Seria ótimo, obrigada. -Falei me levantando e então beijando Will antes de ir para o lado de Nathan a tempo de ouvir o carro dos pais dele. -Seus pais chegaram, agora não vai ficar sozinho. Te vejo amanhã.
— Estarei esperando ansioso por isso. -Respondeu ele com um pequeno sorriso.
Nathan me deixou em casa e assim que entrei na cozinha todos me olharam com preocupação e alívio estampados no rosto e tratei logo de explicar que com a neve caindo mais cedo do que deveria a estrada estava escorregando demais para que eu viesse pra casa, então tomei um banho e após brincar com Thomas até a hora do jantar finalmente fui para a cama, mas não por estar cansada porque eu não estava. Fui para a cama simplesmente para poder ficar a sós com minhas lembranças, cada movimento, cada beijo... Eu jamais poderia imaginar que um dia estar com alguém poderia ser tão incrível.
O restante dos meses seguiam sem grandes novidades, até aquela manhã, eu definitivamente não estava me sentindo muito bem, me sentia estranhamente tão cansada naquela manhã que por um momento quase considerei não sair da cama, mas Will precisava de mim e eu também precisava estar com ele, então cansada ou não tomei um banho e segui para a mansão dos Traynor.
— Eu falei com a minha mãe semana passada durante o fim de semana que não fui te ver porque sai com ela para termos um tempo junto, acho que devíamos tirar umas férias e ela concordou. -Comentou Will após Nathan colocá-los em sua cadeira após ajudá-lo a se vestir. - Nathan qual o lugar que você nunca esteve na vida?
— Rio de Janeiro, dizem que é muito bonito e com praias lindas. Devia ir lá um dia, aposto que iria gostar de um lugar mais quente. -Disse ele dando de ombros e então me olhando. - O que acha disso Lou?
Senti minha visão ficar estranha, começou a ficar borrada e não conseguia prestar atenção ao que estavam dizendo.
— Quando viajamos ela gostou bastante, talvez eu a faça mergulhar em algum lugar de novo. -Disse Will sorrindo e então me olhando e dizendo algo que não consegui ouvir de início. -Clark? Sai do mundo da lua e conversa com a gente! Lou, está tudo bem? Louisa? NATHAN SEGURA ELA!
— Desculpe, o que vocês estavam... -Comecei a perguntar encarando Will com a testa franzida, mas me senti grogue, de repente o ambiente parecia esquisito e mais gelado do que de costume então tudo simplesmente escureceu.