Orchideos escrita por Natur Elv


Capítulo 1
Rosas Azuis


Notas iniciais do capítulo

Aquele AU que todo mundo ama e merece!!! Mano, se tem uma coisa no mundo pela qual eu sou completamente lok é um au de HP. Especialmente se é com alguma coisa que eu amo, heh. Então tá aqui! Vou ser sincere e dizer que não sei muito bem qual o rumo que essa fic vai tomar, mas vmo indo, né. Espero que gostem, como eu gostei de escrevê-la ♥ e mil perdões p essa sinopse hahahauhs eu olho e penso "que isso, mano", mas é isso, eu acho.

Para quem não sabe, Orchideos, o título da fic, é um feitiço que faz com que flores floresçam.

Me deixem saber o que acharam, assim vou continuando com energia, yay! Boa leitura e me avisem sobre qualquer erro, por favor ♥



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“Victor, cuidado!” Christophe Giacometti repreendeu o amigo que havia acabado de derrubar o frasco da poção que usariam para cuidar das mandrágoras idosas de que tratavam na aula de Herbologia daquela tarde. Quando velhas, as criaturas não mais tinham energia, ou vontade, para gritar e, portanto, era permitido às alunas e alunos, bem como aos professores e professoras que lecionassem a matéria, ficar sem os protetores de ouvido. E devido àquilo, todos os olhares na grande Estufa 3 estavam agora fixos em Chris e Victor, ambos alunos da Grifinória. 

“Nikiforov!” A professora, uma mulher alta, de rosto largo e traços firmes, olhos escuros por trás de óculos redondos, os cabelos lisos e igualmente pretos presos em longas tranças, chamou-o atenção. 

“D-desculpe-“ 

“É a segunda vez que desperdiça poções por não prestar atenção no que faz, senhor Nikiforov.” 

“Pode me chamar de Victor, professora.” Ele falou, sorrindo, sem alcançar com eficiência seu objetivo em não parecer nervoso, especialmente quando a professora ergueu uma sobrancelha para ele, lançando-o um olhar severo. “Eu não sou tão velho assim, sabe...” 

Alguns alunos e alunas cochichavam e outros riam baixinho – com exceção de Jean Jaques Leroy, que não se importava em rir-se todo em voz alta –, Chris balançava a cabeça lenta e negativamente, sorrindo cheio de pena do amigo. 

“Não há por que tanto alarde, professora, eu posso consertar tudo.” Ele enfiou a mão na longa capa preta que vestia, à procura de sua varinha, e a mostrou radiante à professora ao puxá-la do bolso. Ele apontou a varinha para os restos do frasco no chão e pronunciou Reparo e então os cacos foram se juntando um por um para darem forma ao objeto agora restaurado. Um feitiço simples, mas limpíssimo e muito bem executado, como era de costume de Victor. Apesar de não parecer muitas vezes, o garoto era um dos melhores, se não o melhor, aluno em feitiços e em basicamente todas as matérias que fazia. 

Victor moveu o frasco com a varinha para a base de apoio e lançou sua atenção ao líquido turquesa no chão de pedra, pronunciando outras palavras, o líquido ergueu-se, como se atraído pelo frasco, diretamente para dentro dele, deixando para trás qualquer impureza obtida ao espalhar-se no chão. 

Ainda segurando firme a varinha e com um largo sorriso no rosto e orgulho brilhando em seu olhar, Victor fitou a professora, mas, mais uma vez, encontrou o olhar severo por trás das grandes lentes redondas de seus óculos. 

“Pronto, professora, consertado! Impecável, viu? A poção está a salvo, eu a livrei das impurezas do chão.” 

“Fico aliviada em saber que presta atenção em alguma coisa, senhor Nikiforov, e peço que faça o mesmo nesta aula e tenha mais cuidado com os objetos desta estufa. Nem todos são tão facilmente consertados, assim como as poções. Não quero que aconteça uma terceira vez, se não serão dez pontos a menos à Grifinória. Estamos entendidos?” 

“Claro, professora.” 

“Agora, todos de volta às suas mandrágoras!” 

Victor relaxou os ombros e ouviu Chris suspirar ao seu lado. “Sinceramente, Victor.” 

Victor riu. “Vamos, Chris, me passe as luvas. Essas raízes velhas deixam um cheiro terrível nas mãos.” A grande mandrágora de que Victor e Chris cuidavam abriu minimamente os olhinhos apertados e muito mais enrugados do que o normal, encarando o dono dos cabelos platinados. “O que foi? Você sabe que fede, dona mandrágora, não me olhe assim.” 

“Ela vai matar você se continuar agindo dessa forma.” 

Victor riu de novo, mais breve desta vez, e deu de ombros, vestindo as luvas nas mãos. Mas mesmo que agora tocasse a mandrágora para fazer o que tinha de ser feito naquela aula, seus olhos – sua atenção – não estavam no que fazia e sim na bancada de alunos do outro lado da estufa, onde Katsuki Yuuri passava o frasco com a poção turquesa para Phichit Chulanont, um aluno da Lufa-Lufa e seu melhor amigo. 

“Victor.” Chris chamou-o, seu tom de voz audível o suficiente para ele saber do que se tratava. 

“Estou vendo, Chris.” 

“Eu não sabia que Katsuki Yuuri era uma mandrágora.” Chris ergueu uma sobrancelha para o amigo, sorrindo de maneira a provocá-lo. 

“Não diga isso.” Victor fez um bico, manuseando a mandrágora, seus olhos agora devidamente fixos nela. “Meu Yuuri não se parece em nada com esse bicho feio. Au!” A mandrágora havia batido com as raízes de suas pernas no braço de Victor. 

Chris riu baixinho, balançando a cabeça negativamente para o amigo. 

— 

“Guardem as luvas e os frascos e juntem seus materiais. Estão livres.” Uma grande movimentação seguiu-se ao anúncio da professora e logo a estufa começava a se esvaziar. 

Era uma tarde ensolarada e a grama estava muito verde e gostosa de caminhar sobre. Havia uma brisa que, apesar de fraca, balançava as vestes pretas das alunas e alunos que subiam em rumo ao castelo. Victor subia ao lado de Chris, distraídos com o que conversavam. Mas tão logo o assunto morreu, quando Victor sentiu algo segurar sua mão e os dois pares de olhos fitaram a pessoa que havia se juntado a eles. 

“Estão falando sobre o jogo?” 

“Yuuri!” Victor lançou os braços ao redor do pescoço de Yuuri, obrigando-o a afundar o rosto na curva de seu pescoço. 

Yuuri sorria contra a capa de Victor e retribuiu o abraço, rodeando sua cintura com os braços. 

“Yuuri,” Victor pronunciou seu nome de novo, mais contido desta vez, ao livrá-lo do abraço apertado. 

“Oi, Chris.” Yuuri cumprimentou o amigo, sem separar-se de Victor. 

“Oi de novo, Yuuri.” 

“Yuuri, onde você estava? Eu o procurei, mas você já tinha deixado a estufa.” 

“Estava conversando com Phichit.” Sua mão voltou à de Victor, os dedos entrelaçando-se, e os três continuaram a subir pelo gramado. 

“Não é justo que eu tenha que ficar separado de você nas aulas de Herbologia.” Victor choramingou, encostando seu ombro no de Yuuri. 

“Também não gosto de não podermos escolher nossas duplas ou grupos nas aulas da professora Bórdís, mas pelo menos você tem o Chris, não é alguém com quem não se dá bem, apesar de eu achar que seria uma boa oportunidade das pessoas se entenderem.” 

“Mas o Chris só fica brigando comigo o tempo todo.” Victor choramingou. 

“Encare como conselhos, Victor.” Chris se pronunciou. “Não ache que eu gosto de chamar sua atenção a todo momento. Se ao menos levasse mais à sério...” 

Victor imitava-o com caretas enquanto falava. 

“Viu? Esse é um ótimo exemplo.” Chris concluiu e Victor suspirou pesadamente, jogando os braços mais uma vez sobre os ombros de Yuuri quando alcançaram a marquise de pedra que levaria à uma das entradas do castelo. 

“Eu quero ficar com o Yuuri.” Victor choramingava. 

“Não vou interpretar isso como se quisesse dizer que sou uma má companhia. Você tem muita sorte de me ter como dupla. Quem mais teria paciência com você, huh?” 

“O Yuuri teria.” 

“Victor, Chris está certo.” Yuuri imediatamente recebeu o olhar chocado de Victor e a risada de Chris preencheu seus ouvidos. “Não! Não, não estou falando sobre ter paciência com você. É claro que eu teria, amor, não me olhe como se não soubesse, fazemos praticamente todas as aulas juntos, Victor, somos da mesma casa e... e além disso..." Yuuri lançou o olhar para sua mão agarrada à de Victor e este fez o mesmo. Sua bochecha queimava de leve. Não era como se não quisesse falar, era só que sempre que se lembrava uma felicidade tão grande e genuína parecia congestionar em sua garganta, impedindo-o de transformar em palavras. 

Seus olhos castanhos voltaram ao rosto de Victor e ele encontrou um sorriso doce e compreensivo. "O que quero dizer é que... Chris tem razão em repreendê-lo por não prestar atenção no que faz. Foi a segunda vez que quebrou alguma coisa e quase desperdiçou poção na aula de Herbologia. Eu sei que é muito bom em praticamente tudo, mas, como a professora Bórdís disse, há poções e materiais que não são tão facilmente concertáveis. Portanto, fique mais atento ao que faz, ok?" 

"Como é que eu posso me concentrar quando você está do outro lado da estufa, Yuuri?" Victor bateu o pé, fingindo birra. 

Chris, pela enésima vez naquele dia, balançava a cabeça em reprovação ao amigo. "Yuuri, desista." 

"Yuuri, você me enfeitiçou." Victor brincou. 

"Por favor, não quebre nada que não poderá consertar, ok?" 

"Mas quebrar itens de deveres é algo que acontece, a escola deveria estar preparada para isso." Victor protestou. 

"Você tem razão, Victor," Chris concordou "mas ainda assim não é um motivo para fazê-lo. Mas admito que a professora Bórdís é um pouca severa demais em se tratando deste assunto." 

"Pelo menos ela não passa muito dever. Eu nem acredito em todas as coisas que a professora Baranovskaya nos pediu." Yuuri desabafou, então os três foram acolhidos pela sombra do corredor cheio de alunas e alunos, que conversavam e caminhavam para lá e para cá, alguns sentados ou apoiados aos parapeitos das janelas. 

Eles viraram à esquerda num corredor maior quando Victor reclamou: "Estou com fome, ainda falta muito para o jantar?" 

"Umas cinco horas." Chris respondeu e Victor resmungou em frustração. 

"Eu também estou com um pouco de fo- ah!" Yuuri parou, alarmado, havia se lembrado de algo. "Preciso ir à ala dos animais!" 

Victor e Chris o encaravam cheios de questionamento em seus rostos. 

"Grolago. Preciso dar comida a ele." Yuuri explicou. 

"Agora?" Victor perguntou. 

"Sim, agora." 

"Por que não pede às professoras? Afinal, isto não faz parte do trabalho delas como professoras de Trato das Criaturas Mágicas?" 

"Sim, mas você sabe que eu cuido de alguns dos animais, não sabe? E Grolago está sob minha responsabilidade. Eu preciso ir." 

"A criatura não vive livre?" 

"Deixe-o ir, Chris." Victor falou. "Eu preciso ir à biblioteca devolver um livro, se não fizer isso agora o senhor Mongkut vai suspender minha autorização por um mês, porque esqueci de devolver os três últimos livros que peguei." Ele riu como se não fosse nada. "Desculpe não poder ir com você." 

"Tudo bem." Yuuri sorriu, aceitando o abraço que Victor o oferecia. "O melhor aluno de Hogwarts não pode perder a autorização para a biblioteca, huh?" 

"Pensando bem... talvez eu possa." Victor segurou o rosto de Yuuri entre as mãos. "Nós sempre estudamos juntos, mesmo, de repente isso pode nos deixar ainda mais pertinho um do outro." 

Yuuri sentiu as bochechas corarem furiosamente e Chris revirou os olhos, dando uma risadinha. Às vezes o amigo de cabelos prateados era simplesmente péssimo demais em flertar e Chris não sabia se era de propósito ou puramente por ser bobo demais. 

"É-é melhor ir logo, Victor. E eu também. Grolago já deve ter feito vários buracos no chão. Ele fica impaciente quando está com fome. Sabe como hipogrifos são." 

Victor sorriu largo e abertamente um de seus sorrisos de que Yuuri tanto gostava antes de descansar um beijo em seus lábios. "Te vejo na aula de Poções." 

"Não temos aula de Poções hoje. É História da Magia." Yuuri o corrigiu, assistindo as sobrancelhas claras juntarem-se em confusão. "Você precisa de um feitiço de memória." 

"Yuuuuri! Cruel..." Victor choramingou, fazendo bico, e Yuuri riu – suas risadas que tinham tanto poder em aquecer o peito de Victor. 

"Te vejo na aula de História da Magia." Yuuri segurou o queixo do outro entre os dedos e o trouxe para um novo e rápido beijo antes de acenar um até logo para Chris e deixar o corredor, sua capa esvoaçando ao caminhar depressa. 

"Chris," Victor encarava o corredor cheio de alunas e alunos, mas que agora não tinha rastros de Yuuri, seus olhos arregalados e a mão sobre o peito. 

Chris o olhou interrogativo, esperando que continuasse. Então recebeu o olhar do amigo que alternava entre mil emoções. 

"Acho que estou apaixonado." 

"Ah, Victor, pelo amor dos magos."  

— 

Grolago era um hipogrifo adolescente, por assim dizer. Era uma das criaturas que estudavam em Trato das Criaturas Mágicas, única matéria lecionada por duas professoras na escola, Lys Fugl e Priroda Skrik. As professoras sempre se mostraram a fim de fazer com que alunas e alunos ficassem próximos das criaturas e não as visse apenas como objeto de estudo, mas que criassem um vínculo de respeito e, quem sabe, alguma ligação com elas. Desta forma, tinham essa espécie de atividade em que deixaram que alunas e alunos, livremente – e sem serem obrigadas ou obrigados –, cuidassem de uma ou mais criaturas. 

As criaturas viviam livres na floresta, montanhas e lago. Lys e Priroda as traziam às aulas e cuidados através apenas de conversa e aproximação e assim era com Grolago. Às segundas e quartas ele vinha à ala dos animais em Hogwarts porque sabia que Yuuri estaria lá para alimentá-lo, ainda que pudesse caçar por conta própria, e dar-lhe alguma atenção. 

Yuuri era especialmente bom em Trato das Criaturas Mágicas, tinha muito jeito e carinho com os animais e adorava aprender qualquer coisa que Lys e Priroda tivessem para ensiná-lo. 

Grolago era quase um metro mais alto que Yuuri, um animal enorme e belíssimo. Suas penas e pelos eram marrom alaranjado, como folhas secas de outono e ele gostava de quando Yuuri abraçava seu pescoço e acariciava de leve suas penas. Yuuri tinha muito cuidado para manter cada pena em seu lugar, pois era sabido entre todos que um hipogrifo não admitia ter suas penas arrancadas. Ainda que Yuuri, bem como as professoras, soubesse ser muito pouco provável que Grolago o ameaçaria de alguma forma, atentava-se em tocá-lo com cuidado. 

"É muito cruel que mate tantas doninhas por uma única refeição, você sabia?" Yuuri dizia, jogando no ar mais uma doninha morta para o hipogrifo agarrar com o grande bico. 

Depois de várias doninhas, Yuuri levantou as mangas da camisa branca da escola e aproximou-se do animal, que bicava a parte inferior de uma das asas. 

"Suas penas estão mais bonitas que nunca." Ele o elogiou – hipogrifos adoravam ser elogiados – e acariciou a lateral de seu tronco, os dedos correndo pelas penas incrivelmente macias. Então seguiu para o largo pescoço e imediatamente Grolago abaixou a cabeça para que Yuuri o abraçasse. E assim ele o fez, rindo do mimo da grande criatura, cujo peso da cabeça e pescoço descansavam exaustivamente em seu ombro. 

"Alguém veio te ver, Yuuri." A voz muito suave de Lys Fugl alcançou seus ouvidos e Yuuri lançou os olhos a ela, sentada sobre uma pedra, alimentando mariposas com cubinhos de açúcar. A professora não olhava para ele, tampouco para a direção da qual a terceira pessoa vinha, e quando Yuuri procurou, encontrou Victor caminhando em sua direção pelo gramado. 

"Victor?" 

Ele aproximou-se e lançou um olhar muito rápido a Yuuri antes de fixar-se em Grolago, então fez uma reverência e ficou a esperar a resposta do animal, que não tardou a vir. Grolago inclinou-se, dobrando uma das grandes patas, para então voltar à posição anterior. 

"Olá, Grolago." Victor ergueu a mão para acariciar sua cabeça cheia de penas. 

"Ele gosta de quando você acaricia o bico." Yuuri informou e assim Victor o fez, deslizando os nós dos dedos sobre o duro bico de Grolago, que meneava a grande cabeça para aproveitar mais do toque. "O que está fazendo aqui?" 

"Deixei o livro na biblioteca, peguei outro exemplar," Victor mostrou o grande livro de capa marrom a Yuuri "e não percebi que estava vindo para cá até avistar você e Grolago." Seus olhos azuis caíram sobre Yuuri. "Yuuri, eu acho que você me enfeitiçou. Meus pés se movem sozinhos na sua direção, eu não sei mais o que fazer." 

Yuuri riu. "Pare com isso." 

"Yuuri, por que você é tão bonito?" 

Yuuri arrumou o óculos sobre a curva do nariz, ouvindo seu coração latejar em seus ouvidos. 

"Aposto que o Grolago concorda comigo, não é?" Ele dava palmadinhas no pescoço do hipogrifo, que voltara a bicar a própria asa. 

Uma risadinha que os fazia sentir cócegas na barriga juntou-se ao ar e Victor avistou o corpo pequeno da professora. 

"Oi, professora!" Ele acenou. 

"Olá, Victor." Ela o cumprimentou. 

"Onde está a professora Priroda?" 

"Andando pela floresta, acredito." Ela sorria de forma a esconder os dentes e espremer os olhos redondos, fazendo com que marcas de idade aparecessem nas laterais de seus olhos quando na verdade seu rosto era jovem como o de uma adolescente. "Yuuri, vou buscar mais cubinhos de açúcar. Tudo bem?" 

"Claro, professora." 

Victor e Yuuri observaram-na sumir dentro de uma pequena construção de madeira e antes que pudesse voltar a atenção ao namorado, Victor arrepiou-se ao sentir um sopro em seu pescoço e escutou-o dizer em voz baixa: 

"Olhe para cá, pés encantados." 

"Yuuri," Victor suspirou. 

Yuuri sorriu para ele, descansando os braços em seus ombros para então beijá-lo devagar. Victor deixou que o livro caísse no chão para que pudesse tocar Yuuri com as duas mãos. 

Tão logo, porém, Yuuri sentiu algo tocar sua cintura, puxando uma das doninhas ainda penduradas no cinto de caça. Ele sorriu entre o beijo e disse o nome de Grolago, na tentativa falha de fazê-lo parar com o que fazia, mas o hipogrifo não estava disposto a cooperar. 

Sem que partissem o beijo, riram abafado um contra a boca do outro e Yuuri tentou livrar a doninha de sua cintura com uma das mãos e teve algum trabalho para fazê-lo, deixando que o corpo morto do animal caísse na grama ao conseguir soltá-lo. Desta vez, tiveram de partir o beijo, porque Grolago não aceitaria a refeição daquela maneira. 

Yuuri abaixou-se, pegou o animal e o lançou no ar, assistindo-o ser capturado pelo hipogrifo antes de encarar um Victor sorridente e de lábios rosados, bem como os seus. 

"Yuuri, eu acho que ele está fazendo de propósito." Victor sussurrou ao abraçar a cintura de Yuuri. "Olhe, ele está nos encarando." 

"Você vai provocá-lo, Victor." 

Ainda sorrindo um para o outro, voltaram a se beijar, mas não demorou a serem interrompidos por Grolago novamente. Desta vez, porém, o animal não conteve-se e forçou o bico no pequeno espaço entre os dois até separá-los. As risadas altas tomaram o gramado e a professora, que havia voltado não sabiam ao certo há quanto tempo, sorria enquanto os observava e alimentava as mariposas. 

"Acho que Grolago quer você só para ele." 

Yuuri voltou a acariciar as penas do hipogrifo, ajeitando-as cuidadosamente. 

"É isso que você quer, Grolago, a atenção do Yuuri? Eu também." Victor levou a mão ao bico do animal e Yuuri pousou a própria sobre a sua. Ele encontrou os castanhos do namorado e tudo em que conseguia pensar era em como Yuuri era lindo... Fazia seu coração pulsar forte em sua garganta. "Yuuri, você é tão bonito." As palavras deixaram sua boca antes mesmo de dar-se conta. "Yuuri, eu acho que quero chorar." 

"Victor..." 

"Estou dizendo a verdade." 

Yuuri sorriu sem jeito e deslizou sua mão sobre a de Victor, obrigando-o a fazer o mesmo sobre o bico de Grolago. "Assim. Ele prefere deste jeito." Ele livrou a mão de Victor, que continuou a deslizá-la na mesma região. "Bom garoto." Yuuri disse ao hipogrifo. "Dê uma doninha para ele." Instruiu ao outro bruxo. 

Victor pegou a doninha e a mostrou a Grolago, que pareceu animar-se. Então jogou-a no ar e aplaudiu e soltou um alto yay quando Grolago a abocanhou. 

"Ele gosta de você." 

"Eu também gosto dele." Victor agarrou o braço de Yuuri, beijando seu rosto, mas antes que tivesse a chance de beijar seus lábios, foi impedido por Grolago, que não esperara terminar a doninha para separá-los. 

"Okay, okay." Victor ria, afastando-se de Yuuri para pegar o livro ainda no chão. "Alguém precisa aprender a dividir." 

Grolago fez um som esganiçado em protesto. 

"Acho que ele pensa que esse alguém é você." 

— 

Yuuri terminou de alimentar Grolago, mimou-o, correu junto com ele até a orla da floresta e então caminharam entre algumas árvores por lá antes de voltarem para perto da cabana – Yuuri montado do largo dorso do animal. 

A professora Fugl não estava mais na pedra e em nenhum lugar que Yuuri pudesse ver. Ele desceu das costas de Grolago e ofereceu-o um cafuné como agradecimento por deixá-lo montar. 

Lá na frente, no gramado, sob uma das árvores, Victor lia o livro que havia pegado na biblioteca. Ele não havia notado a volta de Yuuri e do hipogrifo, estava consideravelmente longe e, aparentemente, muito concentrado. 

Yuuri pegou um pergaminho dobrado que carregava no bolso e o abriu, tirou a varinha do outro bolso e tocou a superfície irregular com a ponta, então o amarelo suave transformou-se num bonito azul, como se tivesse deixado cair tinta sobre o papel. Ele sussurrou algumas palavras e o pergaminho partiu-se em vários pedaços iguais antes de todos se dobrarem no ar para tomar a forma de grous de origami. Yuuri soprou-os na direção de Victor e assistiu-os alcançá-lo, surpreendendo-o, batendo as pequenas asas de papel enquanto voavam ao seu redor. Então pousaram, alguns sobre o livro, outros na grama, e dobraram-se uma nova vez, transformando-se em rosas. 

Yuuri estava a três metros de Victor quando os olhos azuis o fitaram cheios de uma ternura imensa. Ele sentou ao lado de Victor, ansioso por uma resposta, e apreensivo ao mesmo tempo. Sentiu a mão do outro sobre a sua, deslizando para que pudessem entrelaçar os dedos uns nos outros. 

"Você sempre me surpreende, Yuuri." 

Às vezes, quando Victor sentia-se muito, muito contente ou surpreso com algo, ele simplesmente não dizia nada ou dizia muito pouco, como se faltassem palavras, segurava a mão de Yuuri e ficava a encará-la junto com a sua, como fazia naquele momento. E Yuuri quase podia sentir seu coração batendo junto com o próprio enquanto fitava o movimento preguiçoso das pouquíssimas nuvens no céu. 

"Temos que ir para a aula." Ele falou, eventualmente. 

"Eu não quero ir." Victor resmungou em resposta. 

"Eu também não." Yuuri confessou. 

"Yuuri! Wow, eu não sabia que meu Yuuri era tão rebelde." 

Yuuri pegou uma das rosas de papel que permaneciam exatamente onde os grous haviam pousado e levou-a ao cabelo de Victor, arrumando-a a fim de mantê-la presa ali. 

"Yuuri," Victor o chamou, baixinho, enquanto ainda ajeitava a rosa. "Yuuri," seu tom foi mais pontual e no instante em que Yuuri pareceu satisfeito e o encarara, Victor o beijou. 

Todo o tempo depois, durante toda a aula de História da Magia, o jantar e de volta à sala comunal e dormitórios, Victor permaneceu com a rosa azul de papel no cabelo, exatamente no lugar em que Yuuri a encaixara, orgulhoso e imensamente feliz em constatar que continuava ali toda vez que via o próprio reflexo em algum lugar, igualmente satisfeito e contente ao responder que Yuuri quem o havia dado a rosa. 


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