Protection escrita por Mab


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi cara de boi! Me perdoem pelo atraso!!!
Eu não desisti da fic, então, por favor, não desistam de mim kk Voltamos!!
Aproveitem a leitura ♥



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Temari

A viagem de volta foi tranquila e pareceu durar bem menos. Conseguíamos estabelecer um diálogo consistente, que me ajudou a manter a mente focada em outros assuntos que não envolviam minha vida pessoal desses últimos meses. Shikamaru tem sido muito atencioso desde o dia em que decidi me abrir. Ele respeita meu espaço, compreende quando não consigo conversar sobre algo e fez questão de demonstrar que estaria ali caso algo acontecesse, isso me tranquilizava e permitia com que eu pudesse relaxar um pouco.

Quando chegamos em Konoha, viemos diretamente para o escritório da Hokage reportar o sucesso da missão. Shikamaru contou-lhe sobre o imprevisto que tivemos na ida e relatou a calmaria do retorno. Antes de sairmos, entretanto, ele solicitou a Hokage permissão para que minha estadia em Konoha durasse mais alguns dias – algo que se aproximou de uma semana. Arregalei os olhos com surpresa e a pergunta foi direcionada a mim, aceitei a sugestão e agradeci a permissão cedida por ela, alegando que não havia necessidade de avisar ao Kazekage-sama. Quanto menos eles soubessem sobre a minha localidade, melhor seria para mim.

Já tínhamos saído do prédio que abrigava o escritório quando nos encontramos novamente com Ino e Chouji passeando de mãos dadas. Eles pararam para conversar, perguntando sobre a missão e dando espaço para Ino insinuar algum tipo de relação entre mim e Shikamaru. Observei-o corando e coçando a cabeça como sinal de nervosismo antes de chamar a situação de problemática. Eu também senti minhas bochechas corarem e apenas desviei o olhar. Eles combinaram o horário do próximo treino e se despediram, caminhando em direção oposta à nossa.

Estávamos caminhando lentamente até o hotel em que eu passaria a noite. Mesmo sabendo que em Konoha estaria segura, eu não queria me sentir só. Talvez esses dias durante a jornada estando sempre na presença de Shikamaru tenham me deixado mal-acostumada. Desde que chegamos a ideia de passar a noite sozinha já me causava frio na barriga e eu estava lutando contra meu orgulho para pedir a ele não ir embora, mas tudo o que consegui fazer para prolongar a companhia foi sugerir conversar com a Hokage assim que chegamos.

Avistei uma Tenten sorridente acenando para mim. Parei por alguns instantes para conversar com a kunoichi que alegava estar feliz em me ver, enquanto Shikamaru se distanciou pedindo licença e nos dando privacidade. Disse a ela que estava cansada da missão e encerrei logo o assunto, indo ao encontro do Nara parado sobre uma pequena ponte suspensa sobre o lago de um pequeno jardim público. Ele observava algumas carpas deslizando na água de um lado para o outro e o movimento que elas faziam.

—Você gosta da Ino. – Disse por trás dele, fazendo-o virar a cabeça em minha direção.  Eu abri um curto sorriso e me apoiei ao seu lado.

—Como? – Shikamaru curvou as sobrancelhas com curiosidade.

—Foi por isso que me beijou no dia em que cheguei Konoha. Você estava com ciúmes dela. Está chateado por ela ter escolhido o seu melhor amigo ao invés de você. – Expus sutilmente meu raciocínio – Agora está aqui observando a água e pensando nela.

—Não gosto da Ino, não seja problemática. – Ele abriu um sorriso divertido e o devolvi com um olhar desconfiado – De onde tirou essa ideia?

—Por que mais você faria aquilo?

—Que problemático. – Shikamaru me observou com o canto dos olhos – E me desculpe por aquilo, não sabia pelo o que você estava passando.

—Tudo bem. – Sustentamos um silêncio desagradável por algum tempo.

—Está com fome?

—Sim. – O respondi sem rodeios.

—Então vamos comer algo.

Quando nos dirigíamos para algum quiosque em busca de comida, sugeri que pegássemos para viagem. Apesar de não me sentir tão bem sozinha, estava cansada demais para permanecer muito tempo em um local público. Ele deu aquele sorriso debochado, mas não disse nada além de sugerir alguns lanches para comermos. Quando chegamos em um acordo sobre o que seria a nossa refeição noturna, caminhamos até um dos quiosques próximos, Shikamaru se ofereceu para ir comprar e eu o esperei do outro lado da rua em pé próxima a uma árvore, olhei para o céu e fiquei admirando a lua, suas estrelas e algumas nuvens rasteiras que passeavam por ali. O ar fresco da noite penetrava meus pulmões, o barulho das pessoas rindo e caminhando trazia uma sensação de lar, eu me sentia muito bem em Konoha. Fechei os olhos lentamente e abri um pequeno sorriso involuntário provocado pela leveza que foram os últimos dias, completamente diferente do que vinha vivenciado em Suna.

Abri os olhos e me virei de costas à rua, por trás dos galhos da árvore eu continuei acompanhando as nuvens e o som das pessoas cessou quando me concentrei em admirar o céu.

—Olá, boneca. – Terrivelmente conhecida, uma voz me tirou dos meus devaneios.

Shikamaru

Me afastei da Temari por poucos minutos para comprar alguma coisa para comermos naquela noite. Ela deveria estar próxima àquela árvore sem flores e com poucas folhas amareladas, marcando a chegada do inverno. Retornei em passos lentos, não estava muito preocupado com o tempo e, admito, estava indisposto em acelerar qualquer situação que fosse.

Tenho que confessar que fiquei surpreso quando vi um homem alto e bem forte posicionado na frente de Temari, ele falava bastante, o que pude deduzir apesar de não conseguir ver seu rosto. Teria achado aquilo estranho naturalmente, mesmo que Temari não me deva satisfações, mas duas coisas fizeram minha espinha se arrepiar: não parecia nenhum sujeito conhecido da vila e ela expressava pânico. A feição de Temari fez meu coração falhar uma batida. Apesar de sua expressão abatida quando conversamos sobre o que acontecia com ela, eu jamais imaginei vê-la... indefesa?

Temari

—Eu senti tanto a sua falta. – A voz trôpega dele foi acompanhada de seus passos em minha direção. Eu tinha me virado de frente a ele quando fui surpreendida, estupidamente me apoiando contra o tronco da árvore.

—O que está fazendo aqui?!

—Mas que modos são esses, meu amor? – Cada passo mais próximo de mim, ele mantinha um sorriso perverso no rosto – Eu estava com saudades e queria te ver. Você demorou, vim te buscar.

—Me deixa em paz, por favor. – Supliquei com a voz menos confiante do que eu esperava.

—Não faça essa manha, minha boneca. Sei que você também sentiu falta de mim. – Com uma das suas mãos ele segurou meu rosto, pressionando com força as pontas dos seus dedos contra minhas bochechas. Sua outra mão estava apoiada na árvore, sustentando seu peso e impedindo-me de fugir.

—Não quero mais que você encoste em mim. – Uni todas as forças que absorvi nos últimos dias e disse ríspida, puxando seu pulso e fazendo-o me soltar.

—Ora... – Ele suspirou me fazendo inalar um ar etílico – Quer dizer que agora está me desafiando? – Rindo, Hideo aproximou seu rosto do meu, sussurrando ao meu ouvido – Você não tem o direito de me tratar assim, garota. Sua estúpida! Acha que pode escolher algo? Está se esquecendo de todo esforço que fizeram para arrumar um namorado para você? O mínimo que pode fazer é me aceitar calada! Quer que eu espalhe por toda a vila o quanto você me trata mal? Assim ninguém, nunca mais, irá te querer. Se esqueceu disso, meu amor?

—Me deixa... – As palavras de Hideo sugavam minhas forças. Eu sentia lágrimas brotando, mas eu não daria o prazer de chorar na frente dele.

—Não se iluda. Você é minha e vai me obedecer. – De modo malicioso, direcionou suas mãos ao meu quadril, apertando levemente as pontas dos dedos contra minhas pernas e minimizou tudo o que pode da distância que havia entre nós. Sentia seu corpo contra mim, quase que me obrigando a manter o mesmo ritmo de sua respiração. Eu não suportaria mais nenhum segundo, mas tudo que consegui fazer foi fechar os olhos para impedir as lágrimas.

Shikamaru

Me mantive um pouco afastado, observando a cena e tentando compreender o que estaria acontecendo. O homem continuava falando e agora aproximava seu rosto de Temari com bastante frequência, como se estivesse sussurrando-lhe ao pé do ouvido. Além disso, ele começou a prensá-la contra a árvore usando o próprio corpo.

Temari estava imóvel, coisa que em nada combina com a personalidade dela. Ela não relutava, não gritava e também não esboçava estar gostando daquilo. Durante diversas lutas que estivemos lado a lado, Temari sempre se saiu melhor que eu nas questões físicas, mas de alguma maneira era como se ela não conseguisse lutar contra ele.

O estopim para eu me aproximar foi quando ele posicionou suas mãos sobre o quadril bem desenhado de Temari. E então eu a vi fazer algo que eu temia que ela fizesse. Seus olhos se fecharam numa expressão de choro e seus lábios se curvaram. Temari cedeu.

Temari

Eu tentei me manter firme para não dar a ele o prazer de me ver desesperada, mas quando percebi que tudo seria em vão preferi fechar os olhos e não ser obrigada a ver aquela cena além de vivenciá-la. O choro estava entalado na minha garganta, eu não conseguia engoli-lo nem o colocar para fora. Aquela sensação péssima de culpa, de incompetência e de nojo estavam me preenchendo de novo. Pelo menos se eu conseguisse chorar, chamaria alguma atenção e fosse salva daquele monstro. Mas estava anestesiada, não sei se era pelo medo ou pelo hálito altamente alcoólico que exalava da boca dele.

Eu não conseguia me mexer.

—Algum problema por aqui?

Abri os olhos quando as mãos enormes me largaram e a voz de Shikamaru se fez presente. Agradeci ao universo quando Hideo se virou na direção do shinobi de Konoha e eu consegui me desvencilhar pelo pequeno espaço que havia surgido entre minhas costas e a árvore.

—Konoha e seus heróis. – A voz embargada dele soou como se nada ali estivesse errado – Não está vendo que estamos ocupados?

—Desculpe, acho que não notei. – A voz sarcástica de Shikamaru foi acompanhada de um olhar duro e sério. Aproveitei para me posicionar atrás dele, me afastando o máximo possível do outro.

—Volte aqui, boneca. – Hideo me olhou de forma maliciosa – Ainda nem começamos.

—Eu já te disse para me deixar em paz. – Na minha mente eu diria aquelas palavras enquanto estivesse o acertando na cara, mas na realidade minha voz saiu vacilante e fraca. Ele se aproveitou disso e abriu um sorriso largo dando um passo na minha direção.

—Você vai deixá-la em paz. – Shikamaru se colocou entre nós.

Sorrindo de modo sarcástico e insatisfeito, Hideo fechou o punho e o vi apertando os próprios dedos com força. Seu corpo começou a tremer conforme uma risada embargada e irônica se instalava e acertou o Nara no rosto com a força digna do título shinobi que possuía. Shikamaru precisou de alguns instantes para se recompor, entretanto conseguiu reagir antes que recebesse outro soco que já havia sido desferido. Direcionou um chute rápido ao abdômen, na altura da boca do estômago, o que resultou em Hideo se encurvando pouco antes de cair de joelhos com as mãos espalmadas no chão, despejando pela boca tudo o que havia ingerido até aquele momento.

—Vamos. – Shikamaru disse se virando e caminhando em passos rápidos. Eu apenas o segui imediatamente.

Shikamaru

Ainda estávamos no meio do caminho quando segurei a mão de Temari e comecei a guiá-la. Não estava planejado, apenas rumei para o bairro do meu clã por instinto. A Sabaku estava trêmula, com os olhos ligeiramente arregalados e não tinha reação nenhuma, parecia ter parado no tempo. Sendo levado pelo hábito, só consegui pensar no que estava fazendo quando dei de cara com a minha mãe na sala de casa.

Coloquei Temari sentada no sofá e pedi para que minha mãe fizesse algum chá. Assim que ela rumou para a cozinha me ajoelhei em frente a Temari e segurei suas mãos entre as minhas. Tardou um pouco para que os orbes verdes me fitassem e processassem tudo o que tinha acontecido. Os olhos dela marejaram e um choro baixo se iniciou. Eu jamais seria capaz de entender o que passava pela mente dela, mas eu tinha certeza de que era a pior coisa que poderia acontecer. Esperei pacientemente Temari compreender a situação e me levantei apenas o suficiente para envolvê-la num abraço.

Eu nunca tinha abraçado Temari. Aquela era uma experiência completamente inédita e eu não sabia o que esperar. Senti-a aconchegando-se contra meu ombro e deduzi aquilo como algo positivo. Apertei um pouco mais meus braços em torno dela e me sentei ao seu lado, sem soltá-la. Temari tinha levado as mãos ao rosto, abafando o choro. Eu afaguei seus cabelos sem saber o que ao certo eu deveria fazer. Fechei os olhos por alguns instantes, me concentrando nas reações expressivas dela. Sentia os soluços leves, suspiros intensos e o choro cessando lentamente. Soltei-a devagar, enquanto ela endireitava a postura me direcionando um olhar tímido. Segurei seu rosto com as minhas duas mãos, enxugando o trilho das lágrimas com meus polegares e fazendo-a desviar o olhar.

—Me desculpe. – Sussurrei mantendo os olhos fixos nela.

—Pelo o que? – Seus olhos avermelhados se viraram para mim curiosos, mas sua voz saiu baixa e rouca.

—Eu não estive lá. Eu disse que não permitiria que isso voltasse a acontecer, mas...

—Não, Shika. – Ela me interrompeu, abrindo um sorriso curto e colocando suas mãos sobre as minhas em seu rosto – Você apareceu na hora exata, aquilo não foi nada comparado à antes.

—Problemático. – Desviei os olhos retirando lentamente minhas mãos sob as dela – Fiquei preocupado com o que ele faria.

—Obrigada.

Ligeiramente arregalados, meus olhos se encontraram com os dela. Sustentamos aquela conexão por alguns instantes, sentia meu coração acelerado e a via respirando descompassadamente, de modo sutil. Olhei para a mesa de centro e notei que já havia um bule de chá, com xícaras e uma bolsa fria dispostos sobre uma bandeja. Me inclinei buscando o chá e oferecendo-o a Temari. Ela tomou de minhas mãos e bebeu lentamente, encarando o chão e normalizando suas reações. Eu não vi minha mãe voltando, imagino que aquilo tenha deixado Temari mais à vontade.

Me relembrei das cenas que tinha presenciado, cada sinal de fragilidade que ela apresentou durante a missão era perfeitamente justificável. Eu processava com lentidão cada memória, tentando extrair o máximo de informação possível e entender como eu deveria agir agora.

Algo extremamente frio entrou em contanto com meu rosto na região do olho, me tirando do meu raciocínio e me fazendo retrair todo meu corpo. Ouvi uma risada baixa escapar da boca de Temari e virei lentamente para observá-la. Ela sustentava a bolsa fria contra o olho que havia sido socado e tinha um sorriso doce estampado no rosto. Mal consegui associá-la à outra versão de si que estava em prantos segundos atrás. Soaria repetitivo se eu dissesse que ela tem a força de um exército?

—Acho melhor ir para o hotel agora. Não quero te incomodar mais. – Desfazendo o sorriso ela afastou a bolsa do meu rosto e a depositou sobre a mesa, se levantando em seguida.

—Não, você não precisa ir embora.  Ainda corre o risco de encontrar com ele de novo. – As íris verdes me encararam com esperança – Durma em casa, pelo menos até descobrirmos que ele foi embora.

Em silêncio ela assentiu e sorriu agradecida. Me ajudou a retirar a bandeja de chá e insistiu que eu continuasse a compressa fria por, pelo menos, mais alguns minutos. A obedeci, realizando a compressa enquanto preparava seu aposento.

Sua presença era agradável, além de tudo. Pelo menos ali tínhamos a certeza de que ele não nos encontraria. Confortado com esse pensamento foi que consegui repousar a cabeça contra o travesseiro e passar a noite.

A voz alta de Tsunade-sama poderia arrancar sangue dos meus ouvidos se eu estivesse dois passos mais próximo dela. Estava visivelmente irritada e exalava uma fúria assustadora, mas ela tinha motivos. De sobra.

Originalmente, ela havia mandado shinobis atrás de mim em casa quando não encontraram Temari no hotel em que normalmente ficava hospedada. Eu desconfiei imediatamente do que se tratava e resolvi poupá-la disso. Modéstia à parte, foi uma excelente decisão. Hideo havia arrumado muita confusão em Konoha depois de eu ter frustrado o encontro dele com Temari. Quebrou algumas barracas, bateu em alguns civis e perturbou muitos outros. Tudo isso para encontrá-la e por isso Tsunade-sama estava atrás dela.

Tive que aturar uma bronca antes de explicá-la toda a situação de maneira discreta. Tentei não expor Temari e nem dizer sobre o que ela tinha me contado, afinal, ela confiou a mim toda sua aflição. Aparentemente, Hokage-sama entendeu bem e parou de berrar contra mim, batendo os dedos meticulosamente sobre a mesa, o que foi mais assustador ainda. Dispensou-me sem muita cerimônia e nem expressividade, provocando-me arrepios na espinha e me fez desejar sair correndo para perto da minha mãe como uma criança em apuros.

À tarde, enquanto passeávamos pelas ruas, ouvimos dizer sobre um shinobi de Suna que tinha sido expulso de Konoha por conta do seu comportamento inadequado, ele estava com seu passaporte suspenso até que Kazekage-sama se manifestasse. Não foi preciso citar nomes para observar a expressão de alivio estampado no rosto de Temari. Eu já havia contado à ela que Tsunade-sama tinha solicitado sua presença, mas ousei ir em seu lugar. Prontamente disse que conversaria com a Hokage, assim que se sentisse confortável e eu concordei apoiando-a em qualquer decisão que tomasse. De agora em diante, Temari não ficaria mais sozinha.

Durante sua estadia tive folga das missões, oficialmente decretada por Tsunade após sua conversa com a Sabaku. Minha mãe insistiu para que ela continuasse hospedada em casa, portanto passamos a fazer muitas coisas juntos, além do que já seria. A levei para o treinamento junto com Ino e Chouji por alguns dias, em outros elaboramos o relatório da missão e a noite buscávamos algum entretenimento nas ruas da vila, desde jantares com amigos até jogos, como na Névoa.

Aprendi a dirigi-lhe elogios discretos e revestidos de motivação. Eu sentia como se estivesse cumprindo a minha missão em resgatá-la e nos últimos dias tive a sensação de que ela percebeu isso, já que sorria sarcasticamente e me provocava todas as vezes em que tentava relembrá-la de sua postura.

—O céu de Konoha é tão bonito. – Aproximou-se, sentando antes de deitar-se ao meu lado sem tirar os olhos do manto negro que nos cobria.

—É uma das poucas coisas em que posso concordar com você.

—Não seja chorão. – A curva sarcástica ganhava forma outra vez – Vocês têm muita sorte. É uma pena ter que me despedir.

Virei o rosto para observá-la. O sorriso não existia mais e seus olhos traziam aquela tristeza qual tanto tentamos afastar. Aquilo me trouxe um choque de realidade, aquilo demonstrou que ela não estava curada e jamais estaria. Hideo não foi um pesadelo que invadiu sua mente por uma noite, apenas. Ele esteve presente durante todos os dias por meses e o que fez contra ela jamais seria apagado. Eu me apeguei tanto a ideia de que precisaria trazê-la de volta que ignorei o fato de que Temari jamais seria a mesma pessoa. O que eu havia tratado como um quebra cabeça quase completo se desfez e todas as peças embaralharam novamente. Minha postura precisaria mudar se eu realmente fosse a ajudar.

—Pare de me olhar com piedade. – Sua voz ríspida me fez estreitar os olhos – Estou acostumada, não há nada demais.

—Problemática – Voltei os olhos para o céu e soltei um suspiro – Isso não significa que eu não deva me preocupar.

—Sei que foi obrigado a ouvir tudo aquilo, mas eu não tive a intenção de provocar pena.

—Pelos céus, Temari. Eu não sinto pena de você. – Me sentei e a encarei – Estou preocupado.

—Por que se preocuparia comigo? – Sentou-se também, deixando os nossos olhares na mesma altura.

—Porque me importo com você. – Suspirei e cocei a cabeça antes de me deitar novamente. – Irei com você para Suna amanhã.

—Eu não preciso de babá, Shikamaru. Posso me virar.

—Não serei sua babá. Apenas irei resolver assuntos burocráticos à pedidos da Hokage-sama.

Temari soltou os ombros e suspirou. Não voltou a deitar, manteve-se sentada encarando o céu e o horizonte e dirigindo algumas palavras a mim. Ela parecia se sentir mais confortável nessa posição. Menos vulnerável e mais na posse da situação. De qualquer forma, os olhos opacos ainda se mantinham presentes naquela aura indecifrável. Sempre que eu acreditava ter conseguido defini-la e desvendá-la, era surpreendido por uma atitude que exigia muito tempo para ser interpretada. Ela realmente se mantinha no controle. Demonstrava apenas aquilo que queria que fosse descoberto até quando se tratava de Hideo.

Essa mulher sempre provoca uma confusão dentro dos meus pensamentos sem que eu sequer perceba.

Temari

 Os dias em Konoha transcorreram mais rápido do que eu fui capaz de acompanhar e eu teria que partir em breve. Eu tentei me recompor durante esses dias, absorvi toda a força que pude e me preparei para encontrar com Hideo novamente. Eu estava apavorada, sentia necessidade de chorar incansavelmente como havia feito há uns dias. Sabia que não podia. Aquilo era repugnante para mim e eu precisava restabelecer meu comportamento ou não aguentaria mais um dia sequer na presença de Hideo.

Assumi novamente a postura impenetrável e fiz dela real. Manteria assim o máximo que me fosse possível, mas não tinha ideia de quanto tempo aguentaria.

Contudo, foi impossível não estremecer quando dei o primeiro passo para fora dos portões de Konoha. Todas as lembranças voltavam como pedras atiradas contra mim e a angústia fazia questão de se manifestar. Precisei parar enquanto reorganizava os pensamentos, eu tinha me preparado para aquilo, não podia me render agora.

A mão de Shikamaru se entrelaçou à minha, fazendo-me direcionar os olhos arregalados para ele. O sorriso expresso no rosto do Nara provocou uma aceleração na minha frequência cardíaca. Ele me ajudou a retomar os passos e os quilômetros se estendiam ainda com as nossas mãos unidas. Uma voz sutil chamou minha atenção de volta à realidade e eu tive certeza de que não estaria mais sozinha.

—Não se preocupe, problemática. Eu vou te proteger.


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Notas finais do capítulo

That's all, guyss!
Mais uma vez peço desculpas pelo atraso! Correria de fim de semestre, problemas pessoais e tudo mais que possa colaborar pra um belo bloqueio de criatividade me impediram de voltar antes. Espero não tê-los decepcionado!
Não se esqueçam de deixar suas sugestões, críticas e opiniões! É extremamente importante para mim
Beijoss ♥