Após chegar à minha escola que estudo pela manhã, entro na sala e fico esperando a professora chegar. Eu já podia a ver escrevendo no quadro negro o meu nome, pois com certeza eu estaria de recuperação em inglês nesse trimestre. Mas resolvi não me estressar com isso agora.

 Abri na ultima folha do meu caderno e comecei a pensar nas poucas músicas que consegui pesquisar a noite. Eu poderia dividir a minha turma em dois ou três grupos de dança. Para facilitar para eles daria musicas que já ensaiamos algumas vezes e eles se deram bem. A nossa turma tinha vinte alunos. Dez poderiam ficar com a música Overdose da Exo, três com Você partiu meu coração e o resto com a música Ninguém segura ela do Biel.

Eu tinha que fazer tudo isso rápido por que provavelmente que as professoras já iam querer começar com os ensaios. E a noite os lideres de cada turma da escola, tanto das turmas de dança quanto as de canto, se reuniriam na escola e discutiriam o que faríamos. Amanda me avisou isso antes de dormir, falou que a professora Ana tinha a avisado para falar para mim, pois não tinha mais me visto.

Provavelmente até Dudis estaria lá, por que provavelmente agora ela é líder da turma no evento. Não preciso nem ser avisada para saber disso. E da onde será que ela veio? Ninguém nunca poderia entrar em uma escola de dança já sabendo dançar tudo aquilo que ela dançou. E ainda que a nossa escola não deixa qualquer um entrar. Talvez eu pudesse dar uma rápida olhada na ficha dela e ver de onde ela é. Não! Que pensamento é esse?! Melhor me distrair com o que realmente é importante e não com um desafio proposto pela minha prima.

— Os alunos que pegaram recuperação passem na minha mesa que teremos uma conversa. – Falou a professora de inglês escrevendo o nome das pessoas que estariam de recuperação. Eu e mais quatro colegas estávamos. Ela primeiro falou com eles e depois eu fui. – Luca, admito não saber mais o que fazer com você. Você desde o sexto ano não melhorou nada, pelo contrario, piorou. Só passou de ano por eu ser querida e dar alguns pontos a mais, mas não vou poder deixar você passar para o ensino médio com só isso de aprendizagem em inglês. Se você não for ótima nessa próxima prova, pode ter certeza que vai reprovar nessa matéria.

 Comecei a entrar em desespero. Reprovar? Eu nunca reprovei na minha vida em nada. Meus pais me matariam se eu rodasse de ano. E ela estava certa falando que estava sendo querida em me dar pontos, porque ela nunca me dava um ou dois como dava para os outros, tinha vezes que ela me dava sete pontos a mais. Suspirei e tentei não demonstrar estar tão desesperada como realmente estava.

— Que prova vai ser? – Perguntei botando as minhas mãos dentro do bolso para a professora não ver que eu estava tremendo de medo.

— Para você vai ser especial. – Falou ela tirando uma folha da pasta.- Vou te dar essa folha. O seu trabalho é saber falar toda ela sem errar até o final do mês, se não... Reprova! – Falou dando um tapa na mesa. Fazendo-me dar um pulo para trás. – Entenda, só faço isso para o seu bem.

— Sim... – Falei pegando a folha e olhando. Era um texto gigante em inglês. Ela estava querendo muito que eu reprovasse. Acho que ela não me quer longe dela. Porque não pode ser verdade. Esse texto é grande de mais para eu aprender a falar ele todo até o final do mês. Sorri para a professora, quando na verdade minha vontade era xingar ela, e me retirei da sala.

Chegando na minha outra escola de barriga vazia, porque decidi estudar ao invés de almoçar, me deparo com a professora conversando com a Dudis. Com certeza convidando ela para ser a líder da turma no evento. Aproximei-me delas e a professora já abriu um sorriso.

— Oi. – Falou Dudis me dando um demorado abraço.

— Oh! Vejo com as duas já se conhecem. – Falou a professora. – Vi o vídeo de vocês duas dançando, formam uma bela dupla em dança. Acho que se uma ajudar a outra nesse evento que vai acontecer as duas podem se dar muito bem. – Vi o vídeo... Que vídeo? Não que postaram aquilo na internet.

— Postaram o vídeo na internet? – Perguntei.

— Claro! As duas estavam dançando tão bem que postamos no blog da escola. – Falou a professora super animada.

— Que ótimo! – Falou Dudis. – Foi ótimo dançar com a Luca. Ela é uma ótima parceira de dança.

As duas ficaram mais um tempo falando em como eu e Dudis dançamos muito bem e depois a professora se despediu indo embora. Dudis se virou para mim sorrindo e pulou nos meus braços.

— Eu também vou ser a líder da turma minha turma no evento. – Falou me abraçando e pulando.

— Pra quem não queria está bem feliz. – Falei rindo.

— Pois é eu sou assim. – Ela falou rindo.

— Só você para me fazer rir quando na verdade deveria estar chorando. – Falei parando de rir. Ela me olhou preocupada e se afastou um pouco.

— Por que chorando?

— Posso reprovar de ano porque não vou ter nota suficiente em inglês. – Ela me olhou e começou a rir.

— Pensei que fosse algo mais grave.

— Mas isso é gravíssimo!

— Não se preocupa Lu. Eu te ensino a matéria. Sou ótima em inglês. – Entreguei a folha para ela e fiquei um tempo quieta enquanto ela lia. – Fácil! Te ensino bem rápido.

— E como você é tão boa em inglês? – Perguntei mesmo a resposta sendo obvia. Ela estudou.

— Te conto se ir a um baile comigo. - Propôs Dudis com um sorrisinho estampado no rosto. Ela queria que eu saísse com ela para me contar como sabe inglês?!

— Depende. Não sei se meus pais vão deixar. – Falei e ela já foi desfazendo o sorriso para uma expressão triste. – Mas eu vou fazer o Maximo para eles deixarem. – E ela voltou a sorrir.

— Yes! – E pulou de novo nos meus braços. Uma hora dessas nós iríamos cair no chão. Ela não da nenhum aviso de que vai pular. Simplesmente pula. – Vai ser hoje de noite no salão que tem aqui por perto. Depois de sairmos da reunião hoje de noite vamos direto para lá.

— Com licença. – Pedi a atenção da minha turma. – Como eu fui escolhida para ser a líder no evento, já fui decidindo as músicas e os grupos. – Comecei a citar as músicas e todos ficaram bem animados. Pelo visto escolhi as músicas certas. Depois falei os três grupos e com qual musica cada um iria ficar. Alguns alunos ficaram furiosos e outros felizes com a minha escolha de grupo. – Caso não tenham gostado não posso fazer nada. Agora vamos começar a ensaiar.

Comecei pelo maior grupo e fui mostrando como eu queria a coreografia. Cada um ouviu atentamente e depois ficaram ensaiando em um canto da sala. Ensinei depois para o grupo de sete pessoas e depois para o de três.

De começo apareceu várias pessoas com dúvidas em passos e de suas posições, mas com calma expliquei tudo certo para eles e começou tudo a dar certo. Ficamos lá ensaiando as coreografias por horas. Até que eu achei que já tínhamos ensaiado o suficiente por hoje.

— Podem parar de dançar. Estavam todos ótimos. – Falei e a musica acabou de imediato. Alguns se jogaram no chão de cansaço, outros pararam e sentaram no chão e outros ficaram de pé ofegantes. – Vocês foram muito bem. Pensei que levaríamos mais tempo para chegar a esse nível. – Menti para eles. Na verdade tudo o que aconteceu hoje eu sabia que aconteceria. Nada a mais e nada a menos. Eu sei do potencial da minha turma e quanto eu devo esperar deles. Mas menti mesmo assim para eles ficarem mais motivados a continuar.

Um aluno levantou a mão e assenti para ele falar.

— Como vai ser as roupas? – Falou dando várias paradas para respirar.

— Isso eu deixo com vocês. Sei que tem muita gente aqui que é melhor em escolher as roupas do que eu. Se dependesse de mim falaria para cada um de vocês virem com a roupa que mais gostam, mas como esse evento é muito importante, tem que ser tudo consideravelmente perfeito. – Após isso o sinal tocou e todos foram para o recreio. O que significava que agora teria aula de inglês com a minha professora particular chamada Eduarda.

O recreio foi uma maravilha. Ela se dedicou por completo em me ensinar e eu me dediquei por completo em aprender. Não olhávamos nem para os lados de tão concentradas que estávamos. No final do recreio ela escreveu o número do celular dela no verso da minha folha para eu ligar para ela e nos combinarmos melhor sobre hoje de noite.

— E como foi ser professora dos teus colegas? – Perguntou Dudis.

— Uma maravilha. – Falei sorrindo e olhando o número de celular dela. Em seguida olhei para ela e não pude deixar de notar um brilho no olhar dela.

— Que ótimo Luca.

— E como foi com a sua turma? – Ela fez uma cara de brava.

— A Joyce ficou me contrariando em tudo que eu falava. Que garota mais insuportável! – Não pude deixar de rir. As duas não se suportavam.

— Ela só esta com inveja de você ter conseguido algo que ela perdeu.

— Sei lá. Não entendo essa mimada. – Falou cruzando os braços.

— Vamos fazer assim. Agora eu vou ficar o resto da tarde olhando vocês ensaiarem. Caso ela te interrompa novamente vou ter uma conversinha com ela. – Dudis sorriu e descruzou os braços.

— Já te falaram que você é muito legal? Porque você é. E muito. – Ela veio e me deu um beijo na bochecha em seguida me abraçando.

Joyce prestava mais atenção em mim do que na aula. Sendo que eu estava em um canto bem escondida de todos para não atrapalhar. E Dudis apresentava a aula tão bem e animada que me dava até vontade de dançar. Mesmo essa dança sendo só para menininhas.

Como que em dois dias alguém pode me cativar desse jeito? “Será que estou gostando dela?”, me perguntava. Por que existe amor a primeira vista. Mesmo que eu nunca tenha sentido até hoje, mas sempre existe uma primeira vez. E depois surgiam-me mais perguntas “Será que ela esta gostando de mim?”.

Meus pensamentos confusos e talvez absurdos foram atrapalhados quando ouço algumas garotas gritando.

— Por que você adora me atrapalhar? – Berrava Dudis para Joyce. Acho que ela devia ter falado algo muito sério, pois estava lagrimejando.

— Tanto faz! Me recuso ficar nessa aula enquanto a professora ser você. – Falou Joyce indo embora da sala. Dudis me olhou e eu já fui indo atrás de Joyce. Teríamos uma conversinha bem séria. Ninguém mexe com minha amiga a ponto de fazer ela lagrimejar.

— Joyce! – Gritei enquanto corria atrás dela até o banheiro. – O que você falou para ela?

— Devia estar babando tanto enquanto olhava para ela que nem ouvia nada. – Falou em um tom bravo. – E eu falei que o ensino dela é uma porcaria. Sério! Ela não sabe explicar direito.

— Fica quieta! – Falei furiosa e Joyce me olhou triste. A bipolaridade dela me confunde a todo momento mesmo.

— Desculpa... É que eu gosto tanto de você. É isso que eu ia falar ontem quando a diretora nos atrapalhou. – Ela foi falando de uma vez. – Eu te amo, Luca! – Gelei na hora. Ela me amava há anos? E nunca demonstrou ou falou nada para mim ou alguém.

Fiquei a olhando sem reação. Ela deu um sorrisinho de lado e foi na minha direção. Em poucos segundos a boca dela estava grudada na minha. Um frio percorreu o meu corpo e senti minhas pernas bambas. Ela botou a mão na minha nuca e intensificou o beijo. Enquanto eu simplesmente obedecia aos comandos dela. Admito ter sentido até um pouco de desejo no toque dela.

Depois de longos segundos se beijando nos separamos para buscar ar. Ela me olhou com um olhar de desejo misturado com satisfação. Ela começou a acariciar o meu rosto com a palma da mão em seguida depositou um selinho na minha boca.

— Você beija melhor do que eu pensava. – E começou a mexer em uma mecha de cabelo castanho escuro meu. – Eu te amo, Luca. E vou fazer de tudo para nos duas darmos certo.

E ela saiu de lá discretamente. Pela primeira vez até hoje admito estar confusa sobre o que sinto. “Eu gosto da Joyce ou da Dudis?”, essa perguntava ficava atormentando.