Se acontecer com a gente escrita por ComS


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Batatinha.
calcante é pezão



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Outra noite;

Enquanto desafivelava o cinto, Augusto já escancarava a porta do banheiro. Abandonou a calça no cesto e, como um rei, se aconchegou no trono. Apanhou a revista rural, a página já marcada, e deu sequência à leitura. Um Álvaro aquático, que mantinha o rosto parcialmente submerso na banheira de cobre meio enferrujada, ressabiou. Seus grandes olhos estavam em alerta, duas jabuticabas brilhantes, escuras e desconfiadas. Eles captavam cada movimento do outro. Análise de território. Sua voz grossa ecoou:

"Você está seminu. Pretende fazer cocô?"

Augusto limitou-se a levantar a blusa, só o suficiente para que o elástico frouxo da cueca azul aparecesse. Trajado de dignidade.

"Não. Só faço isso pela manhã."

Súbito Álvaro ergueu o tronco da água, admirado com a nova informação.

"Regular?" Intrigou-se.

"Regular."

Certo orgulho pairou no ar.

"Seu sistema excretor é fantástico." 

Augusto lhe ofereceu um meio sorriso. Esticou o braço só um pouquinho, já que o banheiro era tão minúsculo quanto o restante do apartamento, e afagou-lhe os cabelos úmidos. Usavam a mesma marca de shampoo, mas o cheiro de Álvaro era único. Fresco.

Álvaro ronronou grave. Seus pés agora se apoiavam no azulejo da parede, espreguiçava-se como um gato. Augusto apreciou os calcantes longos e delicados. Bonitos demais. Largou a revista em cima da pia, repentino, e o suporte para escovas tombou; há muito sua escova de dentes também já estava ali.

"Há alguns apartamentos vagos num condomínio bem próximo ao meu, aquele com a quadra. Vamos pesquisar. Aqui é muito longe, só um ônibus passa."

Álvaro deu uma gargalhada arrastada.

"Quer que eu seja seu vizinho então?"

"Ou podemos morar juntos."

Algo rolou da pia e caiu no chão. O barulho soou mais alto do que realmente era.

Ficaram se olhando por um longo tempo; tempo o suficiente para a água da banheira amornar; tempo o suficiente para os dedos de Augusto desembaraçarem cada cacho de Álvaro, bagunçando-os mais e mais; tempo o suficiente para travarem e concluirem uma discussão silenciosa, olho no olho, coração e coração. Almas vibrantes. Ansiosidade. 

"Me dê espaço. Quero entrar aí também"

A blusa de Augusto foi de encontro ao chão. A cueca, puf, sumiu. Manchas brancas e simétricas tomavam-lhe ambas as cochas, uma partia da virilha e subia até o umbigo, outra, o ombro esquerdo e a lateral do pescoço. O contorno dos lábios já clareava também. Essas formas Álvaro decorara, já havia traçado todas elas até mesmo com o palato. Amava cada uma. Charme em vitiligo.

Álvaro contemplou a nudez. Depois, repreendeu:

"A água esfriou, você demorou demais." Mas já cedia um espaço para o outro. Quando Augusto entrou, lábios quentes tocaram-lhe a nuca. Para acolher mais um corpo, um pouco da água da banheira entornou. "Como foi seu dia?"

Um suspiro cansado.

"Você não sabe o que aconteceu...

O diálogo e as promessas reverberam pelos azulejos.


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Notas finais do capítulo

Batatão
Sou manchadinha tbm. Orgulho ♥
Vocês conhecem alguém assim tbm?



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