Se acontecer com a gente escrita por ComS
Notas iniciais do capítulo
Batatinha.
calcante é pezão
Outra noite;
Enquanto desafivelava o cinto, Augusto já escancarava a porta do banheiro. Abandonou a calça no cesto e, como um rei, se aconchegou no trono. Apanhou a revista rural, a página já marcada, e deu sequência à leitura. Um Álvaro aquático, que mantinha o rosto parcialmente submerso na banheira de cobre meio enferrujada, ressabiou. Seus grandes olhos estavam em alerta, duas jabuticabas brilhantes, escuras e desconfiadas. Eles captavam cada movimento do outro. Análise de território. Sua voz grossa ecoou:
"Você está seminu. Pretende fazer cocô?"
Augusto limitou-se a levantar a blusa, só o suficiente para que o elástico frouxo da cueca azul aparecesse. Trajado de dignidade.
"Não. Só faço isso pela manhã."
Súbito Álvaro ergueu o tronco da água, admirado com a nova informação.
"Regular?" Intrigou-se.
"Regular."
Certo orgulho pairou no ar.
"Seu sistema excretor é fantástico."
Augusto lhe ofereceu um meio sorriso. Esticou o braço só um pouquinho, já que o banheiro era tão minúsculo quanto o restante do apartamento, e afagou-lhe os cabelos úmidos. Usavam a mesma marca de shampoo, mas o cheiro de Álvaro era único. Fresco.
Álvaro ronronou grave. Seus pés agora se apoiavam no azulejo da parede, espreguiçava-se como um gato. Augusto apreciou os calcantes longos e delicados. Bonitos demais. Largou a revista em cima da pia, repentino, e o suporte para escovas tombou; há muito sua escova de dentes também já estava ali.
"Há alguns apartamentos vagos num condomínio bem próximo ao meu, aquele com a quadra. Vamos pesquisar. Aqui é muito longe, só um ônibus passa."
Álvaro deu uma gargalhada arrastada.
"Quer que eu seja seu vizinho então?"
"Ou podemos morar juntos."
Algo rolou da pia e caiu no chão. O barulho soou mais alto do que realmente era.
Ficaram se olhando por um longo tempo; tempo o suficiente para a água da banheira amornar; tempo o suficiente para os dedos de Augusto desembaraçarem cada cacho de Álvaro, bagunçando-os mais e mais; tempo o suficiente para travarem e concluirem uma discussão silenciosa, olho no olho, coração e coração. Almas vibrantes. Ansiosidade.
"Me dê espaço. Quero entrar aí também"
A blusa de Augusto foi de encontro ao chão. A cueca, puf, sumiu. Manchas brancas e simétricas tomavam-lhe ambas as cochas, uma partia da virilha e subia até o umbigo, outra, o ombro esquerdo e a lateral do pescoço. O contorno dos lábios já clareava também. Essas formas Álvaro decorara, já havia traçado todas elas até mesmo com o palato. Amava cada uma. Charme em vitiligo.
Álvaro contemplou a nudez. Depois, repreendeu:
"A água esfriou, você demorou demais." Mas já cedia um espaço para o outro. Quando Augusto entrou, lábios quentes tocaram-lhe a nuca. Para acolher mais um corpo, um pouco da água da banheira entornou. "Como foi seu dia?"
Um suspiro cansado.
"Você não sabe o que aconteceu...
O diálogo e as promessas reverberam pelos azulejos.
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Batatão
Sou manchadinha tbm. Orgulho ♥
Vocês conhecem alguém assim tbm?