Elementar escrita por Pandora


Capítulo 2
Capítulo 2 ― A Study in Pink


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, quero muito agradecer a todos que resolveram dar uma chance a minha fanfiction. Muito obrigada, de todo o coração. Espero que apreciem esse capítulo que está bem comprido. Boa leitura a todos ♥



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Desde que aprendeu a andar e a falar, Dominique Hudson possuía o sonho de se tornar policial um dia. A adrenalina do trabalho, as correrias, os casos que solucionaria junto a equipe, tudo a encantava. Quando criança costumava bancar a justiceira tanto dentro quanto fora da escola, mania que possuí até hoje. Sua forma correta de agir sempre lhe rendeu alguns hematomas, dias de castigo e principalmente ódio de certas crianças e pessoas.

Na pequena cidade que habitava ela possuía dois apelidos principais. A Justiceira, que havia sido dado pelas pessoas que se beneficiaram com seu modo de agir e Pentelhos Flamejantes, o mais popular deles e que havia sido dado pela parte da cidade que a detestava. Mas ela nunca se deixou abalar pelas ameaças e pelo apelido medonho, estando sempre determinada a conseguir justiça e fazer desse mundo um lugar melhor para viver.

Ao terminar o colégio, Dominique ingressou na faculdade de ciência da computação devido a muita insistência de sua tia. A senhora Hudson insistia para que a sobrinha fizesse um curso superior, para que assim pudesse ter uma base caso o plano de ser policial fosse um completo fiasco. Como era a tia que estava bancando os seus estudos, ela não poderia recusar, principalmente depois de tudo que a senhora Hudson costumava fazer por ela desde que a acolhera em sua casa na infância. Infelizmente a faculdade obrigou Dominique a adiar o sonho de ser policial por alguns anos. Mas pelo menos ela estava estudando sobre a sua segunda paixão, a qual tenta aprimorar sempre que possível.

Para a ruiva, a faculdade foi a melhor época de sua vida. Além de reaproximar da velha amiga de infância Beladonna Sherwood, a qual fazia faculdade de pedagogia, a ruiva também aprimorou os conhecimentos em tecnologia e os utilizou para seus próprios interesses. No segundo ano ela já conseguia hackear o sistema operacional do portal da faculdade e modificar as suas notas, para que assim não tomasse bomba. Sabia que aquilo era ilegal, mas recompensava aumentando a nota dos colegas e ajudando Beladonna no serviço comunitário aos domingos, ensinando as crianças carentes a mexerem no computador e a protegerem suas redes sociais contra hackers.

Quando terminou a faculdade, Dominique se inscreveu para a academia de polícia. Durante um ano ela foi sinônimo de garra, força e persistência. De cabeça erguida, a ruiva treinava incansavelmente dando o melhor de si. Nunca perdeu uma oportunidade de aparecer, tentando estar sempre afrente dos colegas. Ela não via aquilo como uma escola para formar policiais, ela via a academia como uma verdadeira competição, o que fez com que vários colegas pegassem raiva dela como havia acontecido na escola e algumas vezes na faculdade. Após intenso treinamento ela se formou com honras, sendo uma das melhores da turma. Para sua alegria e também a de sua tia, Dominique foi designada como oficial para uma das delegacias de Londres.

― Aí caralho, nem acredito que estou realizando um sonho! ― Comentou Dominique empolgada enquanto vestia o uniforme de policial.

― Pois é, isso é maravilhoso. ― Murmurou Beladonna repreendendo um bocejo e se ajeitando na cama. ― Boa sorte em seu primeiro dia.

― Sortuda do caralho, vai ficar dormindo enquanto estou caçando bandidos. ― Dominique ergueu os braços para cima e chutou o ar, como se estivesse fazendo um golpe de karatê.

― Prefere caçar bandidos ou enfrentar uma sala com trinta crianças de seis anos? ― Perguntou Beladonna puxando a coberta até o pescoço e abrindo apenas um dos olhos.

― Bandidos, com certeza! ― Dominique aproximou até a cama da amiga e beijou a têmpora da Bela com carinho. ― Enfim, tenha um bom dia de descanso enquanto pode.

― Isso é uma ameaça? ― Beladonna sorriu sem mostrar os dentes.

― Somos vizinhas do Sherlock, isso é um aviso. ― Rindo baixo, Dominique pegou o capacete e a bolsa de cima da estante, deixando o quarto logo em seguida.

A ruiva rumou empolgada para a cozinha, onde deparou com o sorriso carismático da tia e a mesa farta com o melhor café da manhã que a senhora Hudson pode preparar. A senhora queria que o dia de sua neta fosse perfeito, começando pelo café da manhã.

― Bom dia, tia! ― Dominique a cumprimentou com um beijo na bochecha, em seguida jogou o capacete e a bolsa sobre a cadeira vazia. ―Estou tão animada!

― Imagino, querida! Está realizando um sonho de infância, morar com a melhor amiga e ser policial. ― A senhora Hudson serviu a sobrinha com uma boa xícara de chá e biscoitos de gengibre. ― Estou orgulhosa de você.

― Obrigada tia, nada disso seria possível sem a senhora. ― Domi segurou na mão da tia com uma das mãos, enquanto com a outra segurava a xícara de chá.

― Eu sei! ― Assentiu a sra. Hudson convicta. ― Querida, Sherlock pediu para que passasse em seus aposentos antes de sair.

― Ah, não! ― Resmungou Dominique fazendo careta. A sra. Hudson semicerrou os olhos a repreendendo. ― Tia, ele vai começar a falar aquele monte de asneira e vai estragar meu dia.

― Querida, não custa nada. ― Falou a sra. Hudson. ― Ele só precisa de um favor.

― Não vou dar carona para ele. ― Domi cruzou os braços sobre o peito, estando determinada a recusar qualquer proposta.

― Dominique Giofensa Hudson, seja uma boa anfitriã para Sherlock Holmes. Ele gosta de você. ― Repreendeu a senhora com um olhar severo, Dominique riu sarcástica. ― Estou falando sério, todos devemos ser amigos.

― Argh! Está bem! ― Irritada, Dominique levantou sem ao menos terminar seu café da manhã. ― Mas só dessa vez, não vou ficar fazendo favores a Sherlock Holmes.

Revirando os olhos, Domi pegou os pertences e beijou o topo da cabeça da tia. Saindo do apartamento ás pressas. Quanto antes descobrisse o que Sherlock queria, mais rápido poderia chegar no serviço e impressionar os superiores. Bufando com a boca, ela subiu as escadas e entrou no quarto do Holmes sem ao menos bater na porta.

― O que você quer? Seja rápido, tenho trabalho a fazer. ― Ela cruzou os braços sobre o peito enquanto admirava o homem deitado de barriga para cima no sofá.

― Bom dia, Nick! Preciso que desbloqueie um computador para mim. ― Disse Sherlock sem olhar para a garota e apontando para o notebook negro sobre a mesa.

― Só isso? ―Perguntou Dominique arqueando uma das sobrancelhas. ― Porque não fez? Não é o expert em dedução? Poderia ter adivinhado a senha.

― E qual seria a graça? ― Ele arqueou uma das sobrancelhas e olhou divertido para Domi. ― Vai ser fichinha para você.

― Qualquer pessoa com conhecimento básico faz essa bosta. ― Ela aproximou do computador, puxando uma cadeira e sentando ao contrário. Antes de começar estralou os dedos e o pescoço. ― Pois bem, vamos começar. ― Rapidamente ela digitou alguns códigos, mas o aparelho apenas apitou, continuando bloqueado. ― Que bosta, vai demorar mais tempo que pretendia, agora entendi o motivo de não ter conseguido desbloquear.

― Não tenho muito tempo, Domi. A vida de um homem depende do que está aí dentro. ― Sherlock levantou do sofá e aproximou dela abruptamente. Ela podia sentir a respiração quente do detetive em seu cangote. ― Lavanda e banana, uma mistura excêntrica de odores.

― Se afasta, pelo amor de Odin. ― Pediu Dominique ameaçando soca-lo. Ela olhou para o pulso, consultando o relógio. ― Droga, se eu me atrasar vou dar na sua cara quando voltar.

― Relaxa, apenas faça seu serviço. ― Sherlock apontou para a tela do computador.

― Não sei o motivo de aceitar suas ordens. ― Bufando, ela retirou um pequeno pendrive da bolsa e plugou no computador. ― Agora vai funcionar, ou não me chamo Dominique Giofensa Hudson.

― Nome feio. ― Comentou Sherlock franzindo o nariz.

― Vai se foder! ― Ordenou Dominique sem tirar os olhos da linguagem binaria. ― Puta que pariu, vou me atrasar por causa dessa bosta! Que raiva, Sherlock.

― Sei que no fundo não está com raiva. ― Ele sorriu orgulhoso sem mostrar os dentes e pegou o violino.

― Ah, não! Vai começar a tocar agora? ― Ela murmurou olhando por breves segundos na direção do detetive. ― O que eu fiz para merecer isso? Será que o dia pode piorar? Não responda, é retórico.

Sherlock ignorou as lamúrias da ruiva e com um sorriso na face começou a tocar a doce melodia de “La vie en Rose” no instrumento. Ao perceber a canção, ela piscou fortemente os olhos e suspirou, aquela era a sua segunda música favorita. Enquanto digitava os códigos binários o mais rápido que podia, Dominique cantarolava baixo a letra da canção enquanto Sherlock a tocava com maestria. Ela tentava soar a mais silenciosa possível, afinal não queria que o detetive percebesse que estava gostando da música.

― Seu francês é péssimo! ― Falou Sherlock ao finalizar a música.

― E você é um péssimo violinista. ― Dominique revirou os olhos e levantou da cadeira. ― Como sabia que eu gostava de “La vie em Rose”?

― Gostava? Pensei que fosse sua canção favorita. ― Ele baixou o violino.

― Agora odeio, você arruinou ela, Sherlock. ― Dominique empinou o nariz enquanto esperava o programa carregar. ― E se me der licença, estou tentando te ajudar aqui.

― Vai demorar? ― Ele aproximou, ficando mais uma vez parado atrás dela.

― Na verdade estou quase terminando, espero que meu programa funcione. ― Murmurou Dominique concentrada. ― Ah há! Falei que ia dar certo, sou um gênio da computação.

Com um sobressalto animado, ela levantou da cadeira recolhendo o pen drive do computador e pegou os seus pertences jogados. Em seguida olhou no relógio de pulso, definitivamente ela precisaria correr se não quisesse chegar atrasada no seu primeiro dia no novo emprego.

― Merda, tenho que correr! ― Resmungou a mulher roubando um elástico de cima da mesa do Sherlock e prendendo o cabelo com ele. ― Depois quero detalhes desse caso! Até mais, Sher.

Com o dedo indicador, Dominique apontou para o computador recém desbloqueado que Sherlock havia começado a fuçar. De modo automático, a ruiva se despediu do detetive lhe dando um beijo carinhoso na bochecha, como costuma fazer com todas as pessoas que tem certa afinidade. Ele arregalou os olhos ficando surpreso com o ato, mas sorriu logo em seguida, no mesmo intervalo de tempo que Dominique havia saído dos aposentos.

― Querida, pensei que já tivesse saído. ― Disse a Sra. Hudson quando viu a sobrinha estando prestes a sair. ― Vai se atrasar!

― Eu sei tia, estava ajudando a praga! ― Ela apontou com o queixo para o andar superior enquanto afivelava o capacete. ― Enfim, tenho de correr. Por favor cuida bem da Tinker Bell e não deixa ela sair sozinha, tenho medo dela se perder em Londres.

Ao sair, Dominique rapidamente subiu na vespa azul pastel que estava estacionada bem em frete da casa. Ela havia comprado o meio de transporte faziam dois meses, era de segunda mão, mas estava em bom estado aparentando ser novinha.

Ela dirigiu feio uma bala pelas ruas Londrinas, descumprindo algumas regras de transito e pegando alguns atalhos. Em poucos minutos e quase em cima da hora, finalmente alcançou o departamento de polícia. Suspirando aliviada, Dominique estacionou a motocicleta em uma das vagas que encontrou.

― Essa vaga é minha! ― Repreendeu um homem de aparentemente quarenta anos, ele possuía os cabelos grisalhos e estava dentro de um prisma.

― Está com o seu nome? ― Perguntou Dominique guardando o capacete dentro do compartimento embaixo do banco.

― Não, mas...

― Tem estacionamento para moto? ― Perguntou Dominique arqueando uma das sobrancelhas e colocando as mãos na cintura.

― Não, mas...

― Então, foda-se meu irmão. ― Ela deu com os ombros o interrompendo.

Ignorando os resmungos do homem, Dominique caminhou com ar imponente em direção a delegacia. Sorrindo orgulhosa e sem mostrar os dentes, ela desviou de alguns colegas de serviço com quem possivelmente faria amizade no futuro, atravessou a porta giratória e foi direto se apresentar no balcão de informações.

― Ah! Bom dia. ― Cumprimentou Dominique quando o oficial do balcão olhou em sua direção. Ele era um rapaz loiro e magrinho, no crachá constava oficial P. Jhonson. ― Senhor Jhonson. Eu sou nova aqui e falaram que eu deveria me apresentar...

― A sargento Donavan te espera na sala dela, quarta porta no fim do corredor. ― Ele apontou na direção da sala e voltou a prestar atenção na tela do computador.

― Obrigada pela informação. ― Agradeceu Domi dando as costas para o balcão e indo em direção a sala indicada.

Dominique cruzou os corredores e cumprimentou dois oficiais que estavam conversando próximo ao bebedouro. Suas expressões eram sérias e eles apenas menearam com a cabeça quando a mesma os cumprimentou. “O que será que está acontecendo” Dominique se perguntou ao passar por eles. Quando aproximou da porta, ela deu duas batidas rápidas e entrou.

― Com licença, sargento Donavan! ― Dando o melhor sorriso simpático, ela olhou em direção a sargento.

A sargento estava sentada atrás da mesa e conversava no telefone, ela gesticulou para que Dominique aproximasse e lhe entregou uma pasta contendo algumas fichas.

― Espere um segundo! ― Pediu Donavan para a pessoa do outro lado da linha. ― Seja bem-vinda oficial Hudson. Dentro da pasta está a senha do seu armário e as planilhas com ruas que irá trabalha hoje.

―Oba, vou sair para campo! ― Comemorou Hudson em voz alta antes de abrir a pasta, ao ver a função designada o sorriso murchou.

― Algum problema, senhorita? ― Perguntou a Sargento com um sorriso maldoso nos lábios.

― Guarda de trânsito? É isso mesmo? ― Dominique perguntou sem tirar os olhos da tabela das ruas.

― É o que está aí, não é? ― Donavan sorriu sem mostrar os dentes.

― Ah! Claro, pois era meu sonho trabalhar como guarda de trânsito. ― Ironizou a ruiva fechando a pasta com tudo.

― Então é melhor começar, as multas não se aplicam sozinhas. ― A sargento sorriu e gesticulou para que ela deixasse sua sala.

Se segurando ao máximo para não falar algum palavrão e desacatar uma das autoridades superioras, Dominique saiu irritada da sala da sargento. Quem olhasse em sua face poderia ver sua frustração por não ter pego a função dos sonhos, ela havia dado o melhor nos treinamentos, estudou durante anos para que quando chegasse a hora pudesse fazer a diferença na vida das pessoas. Mas infelizmente, seus sonhos foram por água a baixo quando recebeu a função de aplicar multas e ajudar idosos a atravessar a rua.

― Vai para a puta que pariu, viu! ― Bufou a ruiva irritada enquanto caminhava com passos pesados até a mesa do oficial Jhonson pela segunda vez. ― Hey, P. Jhonson! Preciso saber onde devo pegar as chaves da moto e aquele colete amarelo maldito do capeta.

― Guarda de trânsito? ― Perguntou Jhonson segurando o riso.

― Uau! Como adivinhou? Tomar no cú, viu. ― Murmurou sarcástica e encostando as costas no balcão. ― Não me matei na academia para isso.

― Oficial Jhonson! ― O homem com quem Dominique havia discutido por causa da vaga havia acabado de entrar na delegacia e parar no balcão ao lado dela. ― Preciso dos relatórios do Anderson, ele disse que deixou com você. ― Ele olhou em direção a Dominique sorrindo sem mostrar os dentes. ― Se quer saber, encontrei outro lugar para estacionar.

― Toma meu foda-se. ― Ela revirou os olhos e voltou a encarar o oficial Jhonson. ― O boy, vai demorar? As multas não se aplicam sozinhas. ― Dominique imitou a sargento Donavan com voz débil. ― Só o que me faltava, primeiro Sherlock me enchendo o saco de manhã, agora isso. Meu dia não pode piorar.

― Calma, oficial Hudson! ― Jhonson riu baixo e saiu debaixo do balcão com uma pasta nas mãos, além da chave e do colete amarelo. ― Inspetor Lestrade, aqui estão os relatórios.

Os olhos da Dominique arregalaram quando ela ouviu o nome do oficial com quem havia brigado. Ele não era alguém qualquer dentro da delegacia, ele era um dos maiorais, responsável por conduzir todas as investigações que a ruiva tanto queria conseguir participar. Com expressões assustadiças na face, ela deu um passo para trás e congelou no lugar. Definitivamente aquele dia poderia piorar.

― Obrigado, oficial Jhonson. ― Agradeceu Lestrade pegando os documentos, em seguida virou para Dominique sorrindo vitorioso. ― Tenha um bom dia aplicando multas, oficial Hudson.

― Mas que monte de merda... ― Resmungou Dominique tomando as chaves e o colete da mão do oficial Jhonson. ― Puta que pariu, deve ser praga!

✱✱✱✱✱✱✱✱

As nove horas da manhã em ponto, a senhora Hudson entrou sorrateiramente no quarto das garotas, de maneira carinhosa ela chamou a adormecida Beladonna Sherwood enquanto abria as janelas do quarto, iluminando todo o recinto e fazendo com que o ar gélido de Londres ventilasse o local.

Aos poucos Beladonna despertava de seu maravilhoso sono, no fundo adoraria permanecer embaixo das cobertas por mais alguns segundos. Mas como aquela não era apenas sua casa, seguiria as ordens da senhoria que lhe recebeu de bom grado.

― Bom dia, senhora Hudson! ― Cumprimentou a jovem mulher enquanto espreguiçava ainda deitada.

― Espero que tenha dormido bem, querida! ― Falou a senhora enquanto ajeitava a cama vazia da Dominique. A ruiva havia largado a cama bagunçada quando saiu apressada pela manhã para seu primeiro dia de trabalho. ― Dominique não aprende.

― Dormi maravilhosamente bem, obrigada. ― Bela abriu um simpático sorriso torto enquanto sentava na cama. ― Sonhei com violinos, alguém tocando “La vie en rose”. ― Ela repreendeu um sorriso e coçou o olho direito com as costas das mãos. ― Deve ser porque Dominique escutou essa música umas quinze vezes ontem enquanto organizávamos tudo. Mas foi estranho ouvir a versão de violino.

― Sherlock tocou de manhã, querida. Ele costuma fazer isso as vezes. ― A senhora Hudson afofou os travesseiros da Dominique.  ― Chega a ser irritante em alguns dias.

― Faz tempo que ele mora com a senhora? ― Perguntou Beladonna franzindo o cenho confusa.

― Algumas semanas, mas ele passa a maior parte do tempo fora de casa. ― Explicou a senhora Hudson aproximando da cama da Bela, sutilmente ela passou o indicador sobre o nariz da nova moradora. ― Agora troque de roupa e venha tomar o desjejum, fiz biscoitos de nata.

― Com certeza, biscoito de nata são os meus favoritos. ― Beladonna riu baixo com o comportamento que lembrava de sua avó e assentiu com a cabeça.

Quando a senhora Hudson deixou o aposento, Bela levantou da cama e começou a fazer o seu alongamento matinal, ato costumeiro que havia adquirido em sua infância. Quando criança acreditava que se alongasse o corpo todas as manhãs poderia ficar tão grande quanto Dominique, mas infelizmente manteve a altura de um metro e cinquenta e sete desde que atingiu a puberdade, sendo obrigada a ver a melhor amiga e as irmãs mais novas continuarem crescendo ultrapassando sua altura. Por ser a menor de sua casa, ela é sempre o alvo das piadas e brincadeiras, no princípio ficava chateada, mas com o tempo aprendeu a gostar e zombar de si mesma.

Ao findar o alongamento, Beladonna sentia mais desperta e animada para enfrentar seu primeiro dia em Londres. Não que tivesse feito planos, na verdade não fazia a mínima ideia por onde começar a explorar a cidade grande. Londres sempre fora tão bonita e harmoniosa, cheia de edifícios bem cuidados, mesclando em sua arquitetura o moderno e o vintage. Lojas de todos os tipos enchiam os quarteirões, a vida noturna oferecia um leque de opções divertidas e pessoas de todo o mundo apareciam para visitar. Durante anos Bela imaginou como seria viver na capital, e agora que se mudou sente que realizou um sonho de infância.

Cantarolando uma das suas músicas favoritas do grupo Londrino The Beatles, Beladonna retirou o pijama e o dobrou com todo o cuidado, guardando o mesmo dentro da gaveta do armário junto com os outros pijamas. Se havia algo que lhe tirava do sério, era ver tanto seus pertences quanto anotações bagunçadas. Desde criança gosta de deixar seus pertences limpos e organizados, Dominique havia lhe apelidado como a louca dos post-it na época do colégio, mas não hesitava em pedir ajuda na hora dos estudos. Infelizmente, Bela estava dividindo o quarto com a pessoa mais bagunceira que conhecia.

Com medo de que pudesse encontrar com o outro inquilino no meio do corredor e ele a avaliasse de maneira errônea. Decidiu colocar uma roupa apresentável e ao mesmo tempo confortável, algo que pudesse sair na rua sem que parecesse estar com vestes de ficar em casa. Penteou os cabelos, desembaraçando todos os fios com óleo próprio de cheiro adocicado, e os deixou solto. Passou um batom cor de boca, apenas para não ficar com “cara de doente”, como sua mãe costumava dizer e foi tomar o café da manhã na companhia da adorável senhora Hudson.

― Espero que com você aqui a Dominique seja mais organizada. ― Falou a senhora Hudson estendendo a xícara de chá da nova moradora.

― Não espere milagres, senhora Hudson. ― Brincou Bela aceitando a xícara de chá. ― Obrigada.

― Vocês são tão diferentes! Desde criança tento fazer a Domi se comportar como uma dama, mas ela acaba sendo um dos macacos voadores de o mágico de Oz. ― Comentou a senhora com pesar, o comentário fez com que Bela se afogasse no chá enquanto ria. ― Pelo menos com você aqui eu sei que ela não vai cometer nenhuma loucura.

― Que tipo de loucura? ― Perguntou Bela franzindo o cenho confusa. ― Ela foi do tipo de adolescente problemática?

― Não, disso não posso reclamar. Mas agora com vocês e o Sherlock aqui, tenho medo dela se envolver com o que não deveria. ― A sra. Hudson suspirou.

― Duvido que ela se meta nos assuntos do Sherlock. Afinal, eles se odeiam. ― Bela pegou alguns biscoitos e os molhou no chá com leite. ― Pelo menos é o que ela me disse.

― Ela não o odeia, apenas fica frustrada por ele sempre descobrir as coisas sobre ela e falar em voz alta. ― A senhora Hudson fez fuinha. ― Tirando você, ele é o mais próximo de um amigo que ela teve por aqui. Domi nunca foi uma garota muito sociável, principalmente com esse jeito extravagante de falar o que pensa.

― O pessoal da igreja gostava dela, pelo menos as crianças. ― Bela sorriu divertida ao lembrar dos velhos tempos. ― Mas meus pais sempre acharam que ela era mal exemplo, só me deixaram vir para a Londres pois falamos muito bem da senhora.

― Se o irmão do meu ex-marido fosse mais parecido com seus pais, com certeza Dominique não seria do jeito que é. ― A senhora suspirou. ― Mas no fundo é uma boa garota, só precisa controlar os palavrões. Sabia que ela ajudou o Sherlock hoje cedo?

― Milagres acontecem e nem é natal. ― Brincou Bela risonha. ― Falando nele, o que ele é exatamente?

― Detetive consultor, único no mundo. ― A voz grossa do homem ecoou por toda a pequena cozinha da senhora Hudson, ele estava parado na porta e observava as duas mulheres conversando. ― Bom dia, sra. Hudson! Bom dia, srta. Sherwood.

― Pode me chamar apenas pelo primeiro nome, ou por apelidos. ― Ela baixou a xícara de chá, colocando sutilmente sobre a mesa.

― Okay, Bela. ― Ele assentiu. ― Dominique disse que eu poderia pegar o notebook dela.

― Sério? ― Perguntou Beladona olhando estranho para o detetive. ― Ela não empresta nem para mim.

― Pode perguntar a ela se quiser, ela disse que eu poderia pegar. Preciso dele, é para um trabalho. ― Mentiu Sherlock com convicção.

Beladonna o avaliou da cabeça aos pés, achando estranho aquele pedido. Pois Dominique nunca emprestou seu computador para outra pessoa, nem mesmo para ela. A ruiva vivia dizendo que dentro dos arquivos continham informações sigilosas, principalmente sobre as pessoas que ela odiava e a inteligência britânica. A última parte Bela desconfiava que fosse mentira, mas nunca pediu para ver tais arquivos, não queria ser cumplice das porcarias que Domi hackeava quando estava entediada, caso a amiga fosse presa, ela seria presa sozinha.

― Hum! Não quer o meu? ― Perguntou Bela hesitante em entregar o aparelho.

― Pode ser então, mas você não tem um livro para criar? ― Sherlock a olhou desconfiado. ― Esquece, você usa máquina de escrever, é tradicionalista.

― Puxa vida! Como soube? ― Perguntou Bela ficando em pé e gesticulando para que ele a seguisse.

― Mancha de tinta em sua roupa. Quase imperceptível. ― Ele a seguiu até o pequeno quarto e parou encostando o ombro no batente da porta. ― Não importa se eu ficar a tarde toda com ele?

― Na verdade não. ― Bela balançou a cabeça em negação. Ela agachou no chão, puxando debaixo da cama uma maleta pesada com a foto de dois cachorrinhos estampada em sua lateral. Com cuidado ela entregou o objeto para o detetive. ― Por favor, tenha todo o cuidado do mundo, ele foi um...

― Presente dos seus pais, assim como seu celular. ― Falou Sherlock a interrompendo e pegando a maleta com cuidado. ― Não se preocupe, devolverei quando voltar.

― Você quer saber a senha ou posso deixa-lo adivinhar? ― Perguntou Beladonna cruzando os braços sobre o peito e o admirando de maneira desafiadora.

― E se eu disser que já sei a senha? ― Ele sorriu divertido, achando graça nos pequenos desafios que Bela lhe lançava.

― Sério? ― Perguntou a mulher alargando o sorriso e relaxando os braços.

― Sempre falo sério, Bela. ― Ele sentou na cama da Dominique, abriu a maleta do notebook e apertou o botão de ligar do aparelho. Esperaram alguns segundos até o computador funcionar por completo.

― Me explique como. ― Empolgada, ela sentou ao lado dele na cama da melhor amiga.

― As dicas estão espalhadas pelo quarto. Você não é o tipo de pessoa que colocaria uma data especifica para o desbloqueio, principalmente por ser péssima em guardar datas, a menos que seja seu aniversário ou algum feriado importante. Você também não é o tipo de pessoa que decora números grandes ou letras aleatórias, nem mesmo sabe os números dos seus próprios documentos. Teria de ser algo fácil, algo que ama e que Dominique jamais pudesse descobrir. Você não gosta quando ela mexa nas suas coisas, não que haja segredo entre vocês, algo que realmente não tem, mas é a desorganização dela que te incomoda. ― Sherlock manteve o olhar sobre a tela do computar. ― Então a senha teria de ser algo óbvio e ao mesmo tempo não tão obvio assim...

― Tudo bem e qual seria a senha? ― Perguntou Beladonna tentando não sorrir feito idiota, estava encantada com aquele homem que mal conhecia. Como ele conseguia saber tanto sobre uma pessoa sem a conhece-la.

― Fácil, senhorita Sherwood. JaneAusten2010 ― Com os dedos ágeis ele digitou a senha, desbloqueando o computador ao dar Enter. ― Não podia faltar o ano, o qual é a única coisa que você muda.

― Bravo! Incrível! ― Beladonna bateu palmas algumas vezes. ― Sherlock, isso é impressionante.

― Sério? ― Ele olhou descrente para ela enquanto colocava o notebook para hibernar. ― Não é isso que costumo ouvir.

― E o que você costuma ouvir? ― Perguntou a mulher curiosa e voltando a cruzar os braços sobre o peito.

― Vai se foder, Sherlock! ― Sherlock imitou Dominique enquanto guardava o notebook de volta na maleta e ficou em pé. ― Obrigado, o trarei de volta em segurança e inteiro.

― De nada! Bom serviço! ― Baladonna o acompanhou até a saída dos aposentos da senhora Hudson. Quando o mesmo já havia atravessado o Hall de entrada e ido para a rua, ela virou em direção a anfitriã. ― Escreva o que estou dizendo, meu livro vai ser sobre esse cara e farei sucesso. Ele é incrível, incrível.

O restante do dia foi um tanto que tedioso para Beladonna, todos os planos que havia feito para conhecer a cidade foram por água a baixo quando a sra. Hudson a proibiu de sair sozinha, ela estava com medo de que Bela se perdesse pelas ruas e nunca mais encontrasse o caminho de volta. Bela passou o tempo inteiro trancada dentro de casa.

Para aproveitar o tempo obsoleto e transforma-lo em algo útil, Bela tentou manter-se ocupada da melhor maneira que pode durante todo o dia. Primeiro auxiliou a senhora Hudson durante a limpeza geral de todo o apartamento 221b, incluindo os aposentos dos novos inquilinos. Após findar a limpeza, ela tentou iniciar os primeiros rascunhos do seu futuro livro, mas como faltava vivência e um enredo interessante, acabou por abandonar os papeis sobre a escrivaninha do quarto. Decidiu então colocar a leitura em dia pegando o celular, os fones de ouvido, o seu velho exemplar de “Orgulho e Preconceito” e sentou nas escadas, embarcando assim em seu conto de amor preferido.

Durante horas Beladonna ficou imersa em seu romance, degustando cada palavra escrita por sua autora favorita e sonhando com seu futuro Mrs. Darcy. Desde que atingiu a puberdade e começou a se interessar por rapazes, Bela sempre imaginou que um dia conheceria o SEU Mr. Darcy. Alguém misterioso, mas que daria apenas a ela a chave do seu coração e a chance de o conhecer verdadeiramente. Alguém que a faria se sentir especial, que a faria se sentir única. Ela já havia tido relacionamentos anteriores, mas nenhum deles a cativou como ela desejava. Dominique costumava dizer que era bobagem, que homens como Mr. Darcy existiam apenas nos livros e eram um porre, que a vida não era um conto de fadas e por isso deveria aproveitar. Mas Bela nunca parou de sonhar com seu príncipe encantado.

― Querida, os rapazes chegaram! ― Avisou a senhora Hudson caminhando sorridente até a porta, retirando a morena do transe.

― Desculpa, que rapazes? ―Perguntou Bela fechando o livro e olhando confusa para a senhoria da casa.

― Sherlock e o colega de quarto dele. ― Explicou a senhora abrindo a porta para os rapazes poderem entrar. Esticando os braços, ela cumprimentou o maior com um abraço carinhoso. ― Sherlock!

― Sra. Hudson, Dr. John Watson. ― Sherlock apresentou os dois e entrou, carregava nas mãos a maleta do notebook da Bela. Ao entrar ele sorriu simpático para a mulher sentada nas escadas, a qual rapidamente levantou batendo o pó das roupas. ― Pelo visto passou a tarde inteira lendo, senhorita Sherwood. Espero que não se importe, precisarei ficar mais tempo com seu notebook.

― Pois é. ― Timidamente, Bela abraçou o exemplar de “Orgulho e preconceito” sobre o peito e deu com os ombros. ― Ah! Não se preocupe, pode ficar o tempo que for necessário.

― Obrigado, a senhorita é muito gentil. ― Cordialmente, ele aproximou da baixinha e beijou sua bochecha. Em seguida apontou para o homem que o acompanhava. ― Esse é o Dr. John Watson. Dr. Watson, essa é a senhorita Beladonna Sherwood.

― É um prazer conhece-lo. ― Com um sorriso carismático na face, Bela esticou a mão apertando a do futuro inquilino.

― O prazer é todo meu! ― Disse John retribuindo o sorriso.

Em poucos segundos, ela foi a primeira a findar o aperto de mão forte. Ao soltar da mão da mulher, John continuou a subir as escadas em direção aos aposentos que dividiria com Sherlock. A morena suspirou ao perceber certa dificuldade do mesmo ao subir as escadas, ficando com dó do médico militar. Ela e a senhora Hudson acompanharam os rapazes em silêncio, estando curiosas para saber as impressões que o Dr. Watson teria do apartamento simples que futuramente alugaria.

― Bom, até que pode ser muito bom! ― Elogiou John ainda avaliando o local. ― Muito bom mesmo.

― Sim, é o que eu acho. Exatamente o que eu acho. ― Concordou Sherlock como se estivesse vendo o apartamento pela primeira vez. ― Já me adiantei...

― Assim que limparmos toda essa bagunça. ― Interrompeu John apontando com a muleta para as bagunças do Sr. Holmes.

― É claro que posso arrumar as coisas... ― Começou Sherlock tentando ajeitar os papéis espalhados. Bela riu discretamente, se divertindo com a cena.

― E esse crânio? ― Perguntou John apontando com a muleta para o crânio que Sherlock mantinha sobre a lareira.

― É humano. ― Comentou Beladonna animada enquanto tentava ajudar Sherlock disfarçar a bagunça. Ela acreditava que apenas uma faxina geral resolveria aquele problema, algo que levaria em torno de quase uma semana.

― É um amigo. ― Sherlock falou rapidamente, sem dar tempo que John comentasse algo sobre ser ou não um crânio humano.

― Então, o que achou Dr. Watson? ― Perguntou a senhora Hudson educadamente. ― Tem outro quarto lá em cima se precisarem de dois quartos.

― É claro que precisaremos de dois quartos. ― John fez careta, ficando ofendido com a insinuação.

― Não se preocupe, tem de tudo aqui. A Sra. Turner ao lado, ela tem vários maridos. ― Explicou a senhora Hudson com naturalidade e diminuindo o tom de voz para citar a vizinha como exemplo.

― Meu Thor! ― Comentou Dominique rindo, ela havia acabado de chegar e aparentava estar exausta. Beladonna estava tão absorta ajudando Sherlock a ajeitar a bagunça que não sabia dizer a quanto tempo a ruiva estava parada ali. ― Quem é o aleijado?

― Dominique... ― Repreendeu Beladonna batendo com um punhado de revista cientifica na cabeça da melhor amiga assim que passou por ela. ― Olha a educação.

― Ai, porra! ― Resmungou Domi levando a mão até o local atingido. Abrindo um sorriso maroto ela virou na direção do detetive. ― É o seu namorado, Sherlock?

― Não, eu não sou namorado do Sherlock. ― Retrucou John Watson olhando irritado para a ruiva, a qual deu com os ombros sem deixar de sorrir. ― Eu sou Dr. Watson, John Watson.

― Hum. ― Dominique o avaliou dos pés à cabeça e moveu as sobrancelhas. ― Sou oficial Hudson, Dominique Hudson.

― Querida, como foi o seu primeiro dia no serviço? ―Perguntou a Senhora Hudson toda empolgada enquanto organizava a cozinha do Sherlock.

― Uma merda, tia. Mais tarde conto os detalhes. ― Ela gesticulou para que a tia esquecesse o assunto, em seguida voltou a olhar na direção do Sherlock, ela cruzou os braços sobre o peito e falou em tom desafiador. ― Isso se o Sherlock não fizer as honras.

― Olá, Domi! ― Sherlock a olhou com o canto dos olhos e sorriu sem mostrar os dentes. ―Pelo visto andou muito ocupada organizando o trânsito. Suponho que tenha feito uma pequena pausa, para o lanche talvez.

― Guarda de trânsito? ― Perguntou Beladonna arregalando os olhos surpresa, sabia o quanto aquilo devia estar irritando a melhor amiga. ― Dominique, isso é...

― Temporário, bem temporário. ― Interrompeu Dominique antes que Bela começasse com um discurso de motivação. ― E vá se foder, Sherlock.  ― Ordenou Dominique se jogando em uma das poltronas vazias. ― Ou eu dou uma multa de transito para você.

― Mas eu não tenho um... ― Sherlock começou a falar, mas logo parou. Compreendendo o que Dominique queria dizer com aquele comentário. ― Você é bem vingativa, gosto disso.

― Dominique, o que você aprontou? ― Perguntou Beladonna preocupada, conhecia as possíveis reações negativas que o jeito imprudente da ruiva causava nas pessoas. Tanto que protegeu Domi durante muitos momentos na infância, livrando-a de enrascadas feitas por brigas desnecessárias. ― Pelo amor de deus, é seu primeiro dia no emprego.

― Apenas dei uma multa de transito para a praga da sargento Donavan e outra para o detetive Lestrade. Ele estacionou em faixa dupla. ― Domi sorriu marota e arqueou as sobrancelhas por duas vezes consecutivas. ― Sher, um velho amigo seu veio me procurar.

― E como foi? ― Perguntou o detetive religando o computador que havia pegado emprestado.

― O de sempre... ― Ela deu com os ombros. ― Sabe como ele é.

― Meio a meio? ― Sherlock a olhou por cima dos ombros.

― Nem ferrando. No máximo quarenta e sessenta. ― Dominique apontou dele para ela ao citar os números.

― É melhor do que nada. ― Sherlock deu com os ombros, voltando a atenção para o computador da Beladonna;

― Sabe, eu pesquisei sobre você na internet. ― Contou John após sentar na poltrona em frente a Dominique.

― Algo interessante? ― Perguntou Sherlock curioso.

― Encontrei seu site. ― Revelou John sem tirar os olhos do futuro colega de quarto. ― A ciência da dedução.

― Aquela porcaria? ― Dominique arqueou uma das sobrancelhas e sorriu sarcástica.

― Ontem você elogiou o site. ― Reclamou Sherlock desfazendo o sorriso.

― Isso é verdade, Domi. ― Bela aproximou da poltrona onde a melhor amiga estava sentada e sentou no braço do móvel, tomando cuidado para não danificar o couro.

― Eu sou de lua. ― Dominique deu com os ombros e apoiou um dos braços sobre as pernas da amiga. ― Mas e você, John? O que achou do site?

― Sherlock disse que poderia identificar um programador pela gravata e um piloto pelo polegar esquerdo. ― Falou John em tom duvidoso, Bela e Domi trocaram olhares divertidos pois conheciam o poder de dedução do detetive.

― Sim. E posso ler sua carreira militar em seu rosto e pernas e os problemas alcoólicos do seu irmão pelo seu celular. ― Contou Sherlock olhando diretamente para John.

― Incrível! ― Elogiou Beladonna em alto e bom som, estando encantada com os “dons” daquele estranho que lhe serviria como inspiração.

― Aham! ― Assentiu Dominique irônica. ― Até ele começar a fazer isso com você todas as vezes que se encontram.

― E quanto a esses suicídios, Sherlock? ―A senhora Hudson regressou à sala, carregando nas mãos o jornal da manhã. ― Pensei que viriam direto até você. Três exatamente iguais.

― Quatro. ― Corrigiu Sherlock olhando para fora pela janela. ― Aconteceram quatro e dessa vez tem algo diferente.

― Quatro? Como sabe disso? ― Perguntou Dominique confusa e se aprumando na poltrona. Até o momento que havia saído da delegacia no final do expediente, ninguém havia comentado sobre um quarto suicídio e as coisas pareciam calmas.

A ruiva mal havia terminado de fazer a pergunta quando o inspetor Lestrade apareceu dentro do apartamento, ele estava esbaforido como se tivesse corrido para alcançar Sherlock. Mas o que chamou sua atenção não fora Sherlock e sim a presença da Dominique no apartamento, estava descrente de que nova recruta conhecia Sherlock Holmes, mesmo ela tendo citado seu nome.

― O que faz aqui? ― Perguntou Lestrade olhando na direção da ruiva.

― Eu moro aqui. ― Respondeu Dominique fazendo careta com a pergunta estupida.

― Depois vocês discutem. ― Retrucou Sherlock olhando na direção do detetive. ― Onde ocorreu?

― Brixton, Lauriston Gardens. ― Respondeu o inspetor regressando ao assunto de suma importância.

― O que há de novo nesse? Não viria aqui se não houvesse algo. ― Falou Sherlock mantendo o tom de voz suave.

― Nunca haviam deixado um bilhete, dessa vez deixaram. ― Contou Lestrade olhando para os movimentos do detetive. ― Você vai?

― Quem é o perito? ― Perguntou Sherlock sem hesitar.

― Anderson. ― Respondeu o inspetor.

― Não trabalha muito bem comigo. ― Sherlock fez careta.

― Ele não vai ser seu assistente. ― Disse Lestrade.

― Eu preciso de um assistente. ― Reclamou Sherlock. ― Por hora tenho a Dominique, mas ela não é médica. Sua função é outra.

― Viu, eu sou mais importante que uma guarda de trânsito. ― Dominique estufou o peito e gesticulou enquanto sorria orgulhosa.

― Enfim, você vem ou não vem? ― Perguntou Lestrade começando a se irritar com a demora da decisão.

― Não num carro de polícia, sigo logo. ― Falou Sherlock mantendo a postura séria.

― Obrigado. ― Agradeceu Lestrade fazendo uma breve mesura. ― Oficial Hudson.

― Detetive Lestrade. ― Dominique piscou para ele, mantinha o sorriso orgulhoso na face, como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

Os remanescentes no apartamento permaneceram em silêncio até a saída do detetive. Sherlock olhava para fora da janela, esperando o momento exato que o Detetive partisse com a viatura e ele pudesse comemorar. Assim que o Inspetor deixou Baker Street, Sherlock saltou empolgado enquanto comemorava por ter conseguido finalmente pegar o caso.

― Brilhante! Isso! ― Comemorou o detetive gesticulando animado. ― Quatro suicídios em série e agora um bilhete! Ah, é Natal! ― Sherlock pegou o cachecol de cima da mesa e o colocou no pescoço. ― Sra. Hudson, chegarei tarde. Posso precisar comer algo.

― Sou sua senhoria, querido, não sua emprega. ― Repreendeu a sra. Hudson irritadiça.

― Algo frio servirá. ― Ele deu com os ombros enquanto colocava o sobretudo na cozinha. ― John, tome um chá, sinta-se em casa. Vamos, Dominique! Creio que precisarei dos seus serviços e de sua moto também.

― Trabalhei a tarde inteira no sol, acha que irei deixar de descansar para ir atrás de você? ― Perguntou Dominique continuando estirada na poltrona.

― É claro que você vem, não banque a difícil. ― Ordenou Sherlock gesticulando para ela o seguir.

― Com toda a certeza, não perco isso por nada. Não mesmo. ― Empolgada, Dominique retirou o chapéu da cabeça e lançou em qualquer direção, fazendo os cabelos caírem em cascata nos ombros enquanto levantava. Empolgada, ela acompanhou Sherlock escada abaixo. ― Não nos espere acordados!

― Olha só para eles saindo desse jeito, ela nem ao menos falou direito com você, Bela! ― Disse a senhora Hudson assim que os dois saíram como balas do apartamento. ― Vou ter uma conversa séria com a Dominique.

― Está tudo bem, senhora Hudson. Ela só está animada. ― Disse Beladonna gentilmente enquanto sentava no lugar antes ocupado por Dominique.

― Vocês parecem ser mais sossegados, vou fazer um chazinho para vocês. ― Disse a senhora Hudson bondosa aos dois que sobraram. ― Descanse sua perna, John!

― Que se dane a perna! ― Gritou John irritado, pegando tanto Bela quanto a sra. Hudson desprevenidas. Ao perceber o que fez, não tardou a pedir desculpas. ― Desculpe, desculpe. É que as vezes, essa coisa maldita...

― Tudo bem, querido. Eu tenho um quadril. ― A senhora Hudson colocou as mãos no quadril e os balançou.

― Eu adoraria um chá, seria ótimo. ― Falou John pegando o jornal largado em cima da mesinha para ler.

― Só dessa vez, não sou sua emprega. ― Avisou a Sra. Hudson indo até a cozinha.

― E biscoitos, se tiver. ― Pediu John.

― Não sou sua empregada! ― Repreendeu a Sra. Hudson pela segunda vez enquanto deixava o apartamento.

― Acho que já vou também! Ver se escrevo algo! ― Beladonna levantou da poltrona e caminhou em direção a porta, estava prestes a sair quando deu de cara com Sherlock. ― Opa, desculpe!

― Espere! ― Pediu Sherlock colocando a mão sobre seu ombro. ― Dominique está te esperando lá embaixo, disse que precisa falar com você.

― Comigo? ― Perguntou Bela surpresa.

― Sim, rápido! ― Sherlock fez sinal para ela seguir.

Sem compreender ao certo o que estava acontecendo. Beladonna desceu as escadas correndo, pulando dois degraus de uma vez, afinal não queria que a amiga e nem Sherlock se atrasassem para seja lá o que estivessem aprontando. Ela apertou os passos quando ouviu a melhor amiga tocando a buzina da vespa com frequência irritante.

― Calma! ― Pediu Bela quando saiu para a rua.

― Anda, Thinker Bell! ― Ordenou Dominique entregando um capacete a ela. ― Sobe! Você tem um livro para escrever.

― O que quer dizer com isso? ― Perguntou Bela aproximando confusa da amiga.

― Não faça pergunta, apenas sobe na moto. ― Ordenou Dominique empurrando o capacete com aflição. ― Estamos tendo uma chance única.

― Espera, você quer que eu vá junto numa cena de crime? Com você e o Sherlock? ― Perguntou Bela arregalando os olhos e pegando o capacete. ― O mais perto que cheguei de um morto foi no velório do meu tio avô.

― Tem sempre uma primeira vez. ― Resmungou Dominique ligando a moto. ― Além de que sua função é apenas observar. O médico é o John, a Hacker e a motorista sou eu. Digamos que você seja a trovadora do Sherlock, ou sabe-se lá o nome de quem escrevia sobre os cavaleiros.

― É trovador mesmo. ― Assentiu Bela colocando o capacete.

― Enfim, você vem ou não? ― Perguntou Dominique começando a se irritar com o atraso da amiga.

― Com toda certeza. ― Bela alargou o sorriso e subiu na garupa da moto, abraçando Dominique apertada pela cintura.

― Como diz Sherlock, o jogo começou. ― Dominique mantinha o sorriso orgulhoso enquanto dava a partida. Finalmente algo bom e  interessante estava acontecendo em seu dia.


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Notas finais do capítulo

Quero desejar os parabéns a minha nova leitora Candy Warhol, pois hoje é aniversário dela. Parabéns, que todos seu sonhos se realizem ♥
Espero que tenham apreciado a fanfiction, em breve postarei o próximo capítulo. Muito obrigada por estarem acompanhando. Mil beijos, com todo o amor do mundo, Pandora ♥