Feliz Aniversário escrita por LizAAguiar


Capítulo 2
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Hey guys! Olha eu aqui outra vez o/

Eis aqui o segundo capítulo e, provavelmente penúltimo, da fic.

Tenham uma boa leitura ^^



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Reyna sempre soube que seu dedo era podre.

Seu primeiro namorado, ainda no começo da adolescência, tinha se descoberto gay, seu último namoro antes da vida adulta, — que agora estava com sua atual paixão, — acabara da pior forma possível e todas as vezes que Jason entrava em seu campo de visão aquela última noite no acampamento de verão do colégio militar onde haviam se conhecido vinha a sua cabeça.

"Acho que nunca xinguei tanto alguém na vida."

A retórica talvez fosse verdadeira.

Ela preferia não se lembrar da primeira vez que estivera com outra garota, — aquilo tinha sido traumático, — quando descobrira que cantara o namorado de sua primeira amiga na faculdade, — ainda bem que Percy era lerdo, — Reyna jurou a si mesma que não poderia ficar pior.

Isso até conhecer Piper McLean.

— Você vai sair? — Ouviu o motivo de seu celibato indagar quando colocou a jaqueta preta, a julgar pela distância diria que ela se encontrava na porta de seu quarto, a poucos minutos quando passou pelo corredor a porta do banheiro estava fechava e o som inconfundível do chuveiro ligado lhe deram os indícios necessários para saber qual era o cenário em que se encontrava.

Belona sempre lhe dissera que rezar para um deus era hipocrisia, se era realmente imprescindível a ajuda de um ser místico que ninguém sabia se existia, era melhor que pedisse a ajuda de Lucifer, Rá, Amaterasu e todos os outros que se lembrasse, talvez um deles existisse.

A estudante de veterinária daria um rim para ter seu carma amoroso dizimado por um deles.

— Vou. — Sua voz saiu um tanto baixa e rouca, pigarreou para limpar as cordas vocais enquanto fingia procurar o celular na escrivaninha, tentando se preparar psicologicamente para ver Piper apenas de toalha. — Com um pessoal da minha sala. — O riso suave que preencheu o recinto gelou sua espinha, será que ela sabia que era mentira?

— Depois de tantos anos de faculdade você quer deixar de ser CDF agora? — Quando já não tinha mais como fingir que não encontrara o aparelho ao lado de uma montanha de livros, colocou-o no bolso da calça jeans e passou a procurar pelas chaves.

— Não estudar como uma doida um dia antes da prova é ser CDF? — Ela era uma pessoa organizada, escolas militares ensinavam aquilo muito bem.

— Reyna, você estuda nas férias. — A graça na voz dela indicava que a conversa estava agradável.

"O que significa que ela não vai sair daqui rápido."

Deus, por que?

— E você leu a biografia do Chaplin cinco vezes. — Ela riu outra vez, o que acendeu um sorriso singelo em seus lábios.

— O que você está procurando tanto?

"Minha sanidade."

— As chaves. — Ouvir o tilintar característico do metal se chocando a fez apertar os lábios.

"Pense em algo técnico."

Virou 180° respirando fundo.

"A hematose que acontece nos pulmões é levada pelas artérias pulmonares até o átrio esquerdo do coração..."

A toalha azul bebê poderia fazer um bom trabalho em esconder o corpo de sua colega de apartamento, caso ela ligasse para isso, havia uma fenda muito convidativa onde se encontrava a coxa quase toda desnuda, ela apertava um nó frouxo com uma das mãos enquanto a outra segurava as chaves, Piper tinha um sorriso confiante nos lábios, sorriso que se policiava em encarar, embora as gotículas de água escorrendo em seu pescoço fossem tentadoras em demasia.

Por que ela nunca se secava direito?

"O sangue arterial passa pela válvula mitral e adentra o ventrículo esquerdo..."

— Essas aqui? — Ela sussurrou enquanto as balançava outra vez, em um claro indício de que não as entregaria de bom grado.

Deuses, demônios e criaturas folclóricas: por que?

"Assim há a sístole, que lança o sangue rico em oxigênio para a Aorta ascendente, que se bifurca em tronco braquiocefálico, Artéria carótida comum esquerda e Artéria subclávia esquerda..."

— É... — Sacou o celular do bolso para conferir o horário. — E eu já estou encima da hora. — Desbloqueou a tela e fingiu procurar algo nele, apenas para não encara-la.

Não ter nenhuma resposta vindo de sua direção fez seu coração apertar, não queria chateá-la, Piper era sua amiga e sabia que trata-la com toda aquela indiferença estava machucando, entretanto Reyna não se via mais capaz de suprimir sua paixão o suficiente para que ela não notasse, já era humilhante esse sentimento estar exposto para todos os seus amigos.

A única pessoa que estava alheia a situação era Piper e, gostaria que continuasse assim.

"Eu gosto do meu orgulho e adoraria que ele continuasse a existir."

Carma maldito.

— Ok, divirta-se. — O murmúrio desanimado fez com que seus olhos fossem até ela, não que Piper tivesse notado, já que jogara as chaves na cama e se dirigiu a porta, só permitiu que o suspiro saísse quando ouviu o som da madeira batendo.

***

O frescor de alguém que nunca havia passado por um final de semestre, a animação do primeiro dia de faculdade, Reyna tinha achado aquilo engraçado.

E só, apenas um momento de divertimento, nunca havia pensado que ser legal com uma caloura que nem de seu curso era poderia causar um reboliço em sua vida.

Sem que notasse, — ou talvez fosse apenas o dedo podre agindo, — o divertimento que sentia ao observar a animação de Piper foi se expandindo para outras áreas, ela tinha um bom gosto para filmes, por um motivo desconhecido tinha a fixação de não deixa-la estudar e a arrastava para algum lugar que os amigos estavam esperando e, mesmo com personalidades tão destoantes elas conseguiam conversar, pela primeira vez em anos Reyna se viu capaz de falar sobre os traumas de guerra do pai, Piper não lhe dissera nada a princípio, mas narrara toda a complicação que era ter dois pais famosos e estar em tabloides de fofoca desde sempre por motivos idiotas.

Só entendeu que babar quando olhava para ela por tempo demais ou se sentir tão bem com sua presença era paixão quando elas junto ao restante de seus amigos foram a um parque de diversões.

O Jason não vai vir, o professor idiota dele não colabora...Hoje é nosso aniversário.

Vê-la triste naquela forma a fez ignorar todas as luzes multicoloridas e a chance de pegar uma fila menos imensa para a montanha russa, sem que notasse os próprios passos andou pelas barracas procurando por fichas, — segundo o senhor da barraca de tiro seu recorde seria lembrado por décadas, — depois ficou o restante da noite fazendo-a gastar tudo, a princípio Piper se mostrou resistente, mas como era impossível resistir a maçãs do amor e alguém mais forte que você empurrando suas costas, não precisou de muito para que seu objetivo fosse alcançado.

No momento em que vira o sorriso dela acender quando lhe dera um gato de pelúcia, — que ela insistia em chamar de Bagheera, — Reyna soube que estava perdida.

— Sabe, Freud diz que todos os problemas que temos são resultado de traumas nas fases de desenvolvimento. — A estudante de veterinária continuou mordendo o canudo do drink enquanto Nico limpava o balcão. — Acho que você tem uma fixação na fase oral. — Rolou os olhos, por que ela não poderia simplesmente beber em companhia de um amigo sem ter uma análise forçada?

— Me dá outra coisa, esse aqui acabou. — Escorreu o copo na direção do estudante de psicologia, Nico a fitou por alguns segundos, escolhendo o próximo drink, por fim recolheu o copo e se virou para a estante cheia de vários tipos de bebidas, deixando-a com seus próprios pensamentos, o que a salvou deles foi o celular vibrar no bolso da jaqueta.

Eu consegui a fazenda e o avô dela diz que vem.

A mensagem de Annabeth fez um sorriso animado surgir em seus lábios, era verdade que parte de seu afastamento de Piper vinha do amor platônico, — que simplesmente se recusava a ir embora, sequer parar de crescer, — mas não era o único motivo.

Do tempo em que a conhecia Piper nunca comemorou um aniversário, apenas a alguns meses descobrira a data que a ela parecia ser incômoda.

Meus pais sempre fizeram um circo, aprendi a não gostar, é só um dia mesmo.

Desde aquele momento a ideia da festa surpresa não a deixara em paz, o mais fácil foi reunir a todos naquela missão, o mais difícil era fazê-la não notar, quase enfartara quando ouviu a voz de Piper, justo no momento em que provava os doces veganos de uma confeitaria de Nova York que Drew dissera ser a melhor daquele país no ramo, tinha ficado em choque, sua sorte fora o simples fato de que a irmã mais nova de sua colega de apartamento tinha a habilidade de irrita-la ao ponto mais extremo de cegueira.

"Não era para você estar em casa antes das oito."

Era melhor que aqueles encontros fossem feitos em outro lugar.

Alguma ideia de como fazer a Piper ir para lá sem perguntar? Aquilo é no meio do nada.

Era um ponto a se considerar, mas Reyna tinha um plano.

Não se preocupe com isso, só ajude o avô dela com os marshmallows.

Por que tinha que ser tão difícil achar produtos sem procedência animal?

Um emoji irritado foi sua única resposta, mas sabia que poderia contar com Annabeth.

Piper lhe dissera que a única coisa que sempre quis de uma festa de aniversário foi a presença dos amigos, — os de verdade, não bajuladores dos pais, — na fazenda de seu avô, algo simples e ao menos tempo singular, sorriu olhando para a tela do celular, ela era filha de duas estrelas de Hollywood, mas odiava tanto a futilidade daquele lugar, escolhera uma faculdade que lhe daria livre acesso ao estrelato, mas só a ideia a deixava possessa, a única carreira que apreciava era nos bastidores, sempre estava disposta a tira-la de casa quando estava enfurnada no sofá vendo algum episódio de Black Mirror, — mas nunca dispensava uma maratona de Breaking Bad, — fora a primeira pessoa com quem se abrira sobre as constantes crises do pai, ela não lhe julgara por não conseguir visita-lo naqueles momentos, apenas partilhara seus próprios problemas, Piper era tão...

"Ok, ok. Chega, não?"

Já era o bastante ter um amor fadado ao fracasso, não precisava ficar suspirando e sorrindo como uma idiota.

— Vai ignorar seu celular? — A voz de Nico deveria ter a assustado, mas depois de meses vindo aquele bar a aproximação sutil do bartender não era mais problema, o drink estava a sua frente.

— Você colocou muito cachaça nisso. — Disse depois de bebericar o líquido vermelho, gostoso e bem doce, mas forte.

— Foi de propósito, a maioria das pessoas fica bêbada porque não sentem o gosto do álcool. — O fitou com indignação no olhar, nunca tinha ficado bêbada ali.

"Não de verdade."

Antes que pudesse verbalizar o pensamento, Nico saiu para atender outro cliente, suspirou, voltando-se para o celular esquecido no balcão.

Você vai na festa?

"Droga, Annabeth!"

Respirou fundo, pensando seriamente em não responder, assim não teria que ouvir xingamentos por parte da amiga.

Responde, Arellano: eu sei que você está aí.

Annabeth era assustadora.

Eu tenho prova no dia seguinte.

Não era mentira.

Bebeu um gole generoso do drink, procurando por coragem e fitou a tela do celular, receosa.

Eu só não termino com essa merda de vocês porque respeito decisões alheias.

Suspirou de alívio, — mesmo que seu orgulho tivesse tomado um soco, — nunca entenderia porque a loira insistia tanto para que dissesse como se sentia a Piper.

"Isso vai me ajudar no que?"

Perderia sua colega de apartamento, — provavelmente teria que se mudar, — sua melhor amiga se tornaria uma estranha, deixaria de ter contato com os amigos que fez por causa dela, — seria muito constrangedor, — como a encararia quando se encontrassem por acaso na faculdade?

Era melhor que tudo continuasse como estava, faltavam só três semestres para que realmente tivesse que deixar de morar com ela, talvez em sua formatura estivesse bêbada o suficiente para falar com Piper sobre o assunto.

"Você está planejando continuar gostando dela?"

Aquilo era tão decadente.

— Reyna. — Ouviu a voz calma de Will as suas costas, afastou os pensamentos negativos de sua cabeça, aquela noite não era para ficar chorando as pitangas: estava ali para bancar o Cupido. — Oi. — Ele se sentou no banco ao seu lado.

— Oi, foi difícil achar? — Indagou enquanto bebericava seu copo, o loiro olhava o local com curiosidade, foi esquisito descobrir que alguém que parecia um anjinho gostava de Slipknot e Black Sabbath, olhou para o estudante de psicologia que no momento passava o polegar arqueado pela garganta, a fitando com raiva palpável no olhar.

"Pode fugir dele o quanto quiser na faculdade, mas não no trabalho."

Só soubera da queda do amigo pelo futuro médico quando o conheceu por coincidência na biblioteca e acabara por falar do bar gótico com um poster enorme do Metallica na parede, Nico quase a matou quando convidara Will, desde então tentava ajudar o amigo.

"Qual é? Você nem tem motivo para ficar escondendo isso."

Ao menos para ele tentar só resultaria em um toco, isso se o pior acontecesse.

— Não, o taxi sabia onde era. — Ele continuava a olhar para a decoração toda em preto com detalhes em azul, roxo e vermelho, por fim parando na parede apinhada de quadros de bandas famosas. — Como é que eu não sabia desse lugar? — Deu de ombros, olhando para o bartender se aproximando.

— Boa noite. — Cumprimentou, passando o pano no balcão. — O que vai querer? — Will virou-se de supetão, assustado com a aproximação sutil.

"Um dia você se acostuma."

— Nico? — Ele pareceu um tanto receoso a princípio, mas não o culparia, com a cabeça abaixada era difícil ver o rosto dele, o estudante de psicologia apenas acenou. — Nossa, não sabia que você trabalhava aqui, como não me contou isso? — Mesmo que o tom soasse acusador, o rosto do loiro demonstrava graça, algo que para Nico foi impossível de pegar, riu internamente.

"Essa noite vai ser divertida."

***

— Qual é, Piper? Pare de reclamar, é só um favorzinho. — Reyna fez o máximo para deixar sua voz o mais tediosa e monótona possível enquanto tentava não rir.

— Eu me meto em um lugar isolado só para pegar um livrinho idiota que você esqueceu, é bom que você tire um dez nessa prova. — Tapou a boca para não rir, ela tentava fazer piada, mas seu tom dizia que estava irritada. Folheou o livro de ética em sua escrivaninha, tentando adivinhar sua expressão quando todos gritassem surpresa. — Tem certeza que é aqui? Não estou vendo nenhuma galinha. — Murmurou de forma acusadora, Piper deveria estar do lado de fora da casa.

— Porque são mais de oito da noite, elas estão dormindo. — A obviedade que impôs na voz a fez bufar de irritação, o riso foi contido com dificuldade.

— Vou jogar seu livrinho caro na lama! Não desconte suas urticárias de preocupação em mim! — Dessa vez o riso saiu, ela suspirou do outro lado da linha, sabendo que estava brincado.

Mesmo por telefone, sem ter uma pista de sua expressão, Piper sabia exatamente como interpretar seu tom de voz, a recíproca era verdadeira.

— Você sabe que dia é hoje? — Ouviu o ranger da madeira, deveria ser a porta da frente.

Ela sempre sabia quando havia brigado com Hylla, tirando uma nota ruim, quando estava cansada, precisava ficar sozinha, de companhia ou desabafar.

A recíproca continuava sendo verdadeira.

— A véspera da sua provinha idiota? — Murmurou, simplesmente tentando uma pequena chantagem emocional, quase conseguia ver o bico em seu rosto.

Ela provavelmente ficaria irritada por não ter ido, mas isso não duraria por muito tempo.

— É sim. — Drew estaria lá para irrita-la, Léo faria suas palhaçadas, Annabeth e Hazel poderiam colocar juízo em sua cabeça e se mesmo assim não desse certo: Jason sempre conseguia distrai-la de seus aborrecimentos. — Feliz aniversário.

— Hã? — Os passos ecoaram pelo recinto, deveria estar no corredor de entrada.

— Eu não vou poder estar aí hoje, mas espero que aproveite a noite, demoramos semanas para organizar isso tudo. — Embora tivesse que admitir que o cartão sem limites de Drew fora quase um presente dos céus.

— O que? — Ouvir o coro de seus amigos foi a deixa para desligar a ligação, procurou os fones de ouvido na escrivaninha, ética era um saco, precisava de algo que a mantivesse acordada.

Reyna poderia ter escolhido muita coisa, de Metallica até U2, mas fora justamente em Sucker for Pain: porque ela era uma idiota.

"Carma maldito, eu odeio você dedo-podre."

Sempre o odiaria.


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Notas finais do capítulo

Pra quem não teve infância, ou não lembra mesmo, Bagheera é o nome da pantera que achou o Mogli, aquele do O Livro da Selva.

Sucker for Pain é uma musica que faz parte da trilha sonora de Esquadrão Suicida, mas a unica coisa que vocês precisam saber é o nome dela, já traduz muito bem a fossa da Reyna.

Podem comentar, gente, eu não mordo não u.u

Até a semana que vem com continuação o/



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