Precisamos um do outro escrita por Moon


Capítulo 46
Semana Hospitalar - Parte 2




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POV Liam

Era quarta-feira. O que significa que seria minha vez de ficar com a Riley no turno da noite. Topanga estava lá com ela desde cedo quando Cory a deixou e buscou Maya para levá-la à escola. 

Eu estava sentado num banco mexendo no celular quando Maya chegou na escola. A notei por causa dos olhares e sussurros. Aconteceu a mesma coisa quando eu entrei por aquelas portas. As pessoas estavam curiosas e nós éramos, parte da curiosidade e o caminho para as respostas. 

Escutei fofocas por todo o caminho até os armários, até o banheiro e então até o banco onde estava sentado. Escutei as coisas mais absurdas, desde pessoas dizendo que o sequestro foi encenado e que nada havia acontecido até pessoas dizendo que os pais da Riley eram criminosos e que a coisa toda foi uma tentativa de assassinato. As fofocas variavam entre ela está escondida em casa para não levantar suspeitas até ela está em coma

— Como ela está? - Perguntei assim que Maya parou ao meu lado.

— Ela está bem. - Ela disse com um sorriso no rosto. - Ela é a Riley, é claro que ela estaria bem.

— Como foi a noite de vocês? - Perguntei enquanto a acompanhava até seu armário tentando ignorar os olhares nos acompanhando.

— O Peter, o enfermeiro-chefe no turno de ontem, foi super legal e nos deixou pedir fast-food para acompanhar nossa sessão netflix. - Ela estava visivelmente mais leve desde quando a vi antes de ir encontrar com Stiles para poder visitar seu pai.

— E como foi com seu pai? - Perguntei inseguro sem saber se eu já era próximo o bastante para poder perguntar sobre algo tão pessoal.

— Nada que um tempo com a minha melhor amiga já não tenha consertado. - Ela disse sorrindo ainda enquanto abria o armário e então virou para mim. - Eu estou bem agora. Obrigada por se importar.

— Fico feliz que esteja bem. - Ela me abraçou repentinamente.

Fiquei surpreso, mas a abracei de volta. Eu e Maya não éramos muito próximos. Nunca havíamos convivido ou nos conhecido profundamente. E Maya era muito reservada. Ao contrário de Riley, ela não costumava demonstrar intensa, pública e fisicamente seu amor por nenhum dos amigos além de Riley.

— Eu só precisava de um tempo com a minha melhor amiga. Eu já estou é pronta para a próxima. - Ela disse se afastando do abraço e rindo enquanto fechava novamente o armário, já que havia guardado na mochila os materiais que precisaria para as próximas aulas. - E eu ainda tenho aula de artes hoje. Nem esses abutres vão me tirar meu bom humor.

Ela disse e ela fez. Maya manteve-se num bom humor digno de Riley Matthews durante todo o dia, mesmo ao ser incomodada pelos curiosos e fofoqueiros. Aliás todos estavam intensamente tranquilos com tudo. Estávamos incomodados, é claro, afinal haviam olhos em nós por toda a parte e o tempo todo. Mas isso não foi o suficiente para tirar de nós a sensação quase eufórica de saber que a Riley estava bem e em segurança depois de tudo o que aconteceu.

— Eu vou ter que jogar na partida de hoje. O treinador acabou de me avisar. - Disse no almoço ao chegar à mesa que estava todos os amigos da Riley. - Alguém tem o número da Topanga para eu poder avisar.

Maya prontamente tirou o celular do bolso e me mostrou o número. O digitei no meu celular e chamei. Me afastei da mesa para conseguir falar com ela com mais tranquilidade. O barulho no refeitório era significativo. 

Foi uma ligação rápida. Topanga compreendeu perfeitamente e pareceu até feliz de ficar mais algum tempo com a filha. E disse também que Cory queria passar algum tempo com a Riley antes de ir para casa e trabalhar. 

Quando voltei para a mesa, eles estavam falando sobre o jogo. Combinando de ir assistir e depois comer alguma coisa. Eles precisavam mesmo daquele tempo de descontração. Não fiquei com eles para fazer minha refeição. Peguei o sanduíche que havia deixado na mesa pouco antes e me despedi.

Eu almocei sozinho na frente da escola enquanto conversava com Parrish. Eu não falava com ele há muito tempo, mas ele era uma criatura do fogo e eu sabia que ele estava estudando sobre essas coisas desde que descobriu que era o hellhound e sobre toda a possibilidade de controlar quando se transformar e manter-se consciente sobre o que fazia na forma de cão do inferno.

Ele disse que havia lido sobre a fênix. E que eram muito raras, mas que era possível que fossem reais. Haviam relatos em histórias antigas que seriam, supostamente, evidência da existência dessas criaturas. Mas não há muito sob o conhecimento público sobre o assunto. Ele afirmou que iria conversar com alguns amigos - não disse quem - e me retornaria se descobrisse algo de interessante ou relevante que ele não tenha me informado.

Depois disso tive mais três aulas nas quais fiquei quieto e em silêncio, na tentativa de fazer com que as pessoas não viessem me fazer perguntas sobre tudo o que havia acontecido com a Riley para confirmar suas teorias e fofocas. Minha quietude foi bem sucedida. Mantive-me distante dos curiosos e não fui incomodado por ninguém.

Encontrei com Maya e Farkle nos corredores enquanto me encaminhava para a quadra. Os cumprimentei e segui meu caminho. Eu tinha pressa. Estava quase atrasado. Mas consegui chegar em tempo de colocar o uniforme no vestiário e sair com o resto do time depois de um discurso tímido do treinador que não sabia ao certo se era errado que a escola mantivesse sua agenda extracurricular e esportiva logo após um incidente de dimensões como um sequestro.

O jogo foi tranquilo. Mas diante do dobro de atenção que os jogos comuns atraiam. Tinha imprensa ali para mostrar que a escola onde aconteceu um sequestro na segunda-feira retoma suas atividades normais. Eu estava ganhando atenção especial por causa disso. Eu e os amigos de Riley estávamos nas filmagens amadoras compartilhadas com os jornais locais sobre o sequestro, nas filmagens do resgate e na saída do hospital depois da noite em que Riley foi internada. 

Era desconfortante. E pela primeira vez no dia, vi todo mundo perder aquela leveza que estava sendo mantida. Maya e Farkle foram embora sem assistir o jogo depois de serem abordados por um repórter. Lucas e Zay estavam com o treinador, no banco de reserva, e não seriam abordados por ninguém ali. Mas percebi Smackle fugindo da atenção antes mesmo de entrar na quadra e então partindo também.

Tentei concentrar-me no jogo e ignorar tudo que estava acontecendo ao redor. Era só mais um jogo de basquete. Correr, mirar, arremessar, cesta, passe. Só isso. Não existe nada além dessa quadra. Foquei nisso e encerrei o jogo com louvor. Durante os intervalos eu sempre ia para o vestiário. Não ficava na quadra. Não queria deixar aberta a possibilidade de ser abordado pelos jornalistas. 

O treinador entendeu e me acompanhou todos os intervalos, para impedir qualquer um que tentasse entrar na área que deveria ser restrita para os jogadores. Estávamos esperando pelo último intervalo acabar, para entrar em quadra e acabar com a partida.

— Obrigado. - O professor disse sem graça enquanto encarava o chão. - Por ter aceitado jogar depois de tudo o que aconteceu, e com todos esses olhos em você.

— Tranquilo. - Eu respondi me sentindo mal pelo professor que foi, pela escola, colocado naquela posição tão desconfortável. - Eu acho até que precisava disso para espairecer.

Não era verdade, mas achei que aquilo fosse confortá-lo de alguma maneira.

E então tivemos que voltar em quadra e repetir o bom jogo que foi desenvolvido desde o início. Sempre ignorando o que estava fora da quadra. Era só fazer passes e cestas. Olhos na bola. Concentração. Não existe nada além dessa quadra. E fui repetindo isso na minha cabeça, vezes o suficiente para chegarmos ao fim do jogo com uma vitória. As pessoas comemoraram timidamente e o outro time teve cautela ao expressar seu desgosto com o resultado.

Assim que acabou, antes mesmo de iniciarem as comemorações, fui para o vestiário pegar minha mochila - que estava equipada para passar a noite no hospital - e então sai apressadamente, tentando não chamar atenção. Saí discretamente pela saída do refeitório e andei tranquilamente até o metrô para chegar rapidamente ao hospital.

Cheguei no horário que previ com Topanga e ela elogiou minha pontualidade. Ela e Cory hesitaram para deixar Riley, mas o fizeram. E Riley sorriu sonolenta para os pais e os acenou enquanto eles deixavam o quarto.

— Como foi o jogo? - Ela perguntou assim que eles fecharam a porta do quarto.

— Ganhamos. - Respondi feliz enquanto deixava a mochila sobre o sofá-cama.

— Ninguém tentou te entrevistar? - Ela perguntou tímida.

— Não. Ninguém. - Eu respondi sabendo que ela estava temendo a atenção exacerbada que teria quando voltasse à rotina.

Ela pareceu satisfeita com minha resposta e logo voltou sua atenção para a televisão, onde passava algum filme que a mantinha entretida. Aproveitei que ela estava distraída com o filme e fui ao banheiro tomar um banho. Vim direto de um jogo e estava estupidamente suado. Se minha mãe me visse agora me daria um beijo na testa e depois reclamaria que estou “salgado”. Ri com a lembrança enquanto tirava a toalha da minha mochila.

Tomei um banho rápido. Era só para tirar o suor. Assim que terminei fechei o chuveiro e sai do box encarando o banheiro enevoado por causa da água quente. Me sequei com a toalha que eu havia deixado pendurada e coloquei uma calça de moletom cinza e uma blusa branca.

A roupa tinha cara de pijama, mas eu estava ali para dormir mesmo. Coloquei meu uniforme do time na mochila e a fechei, deixei a toalha pendurada no suporte do banheiro e passei a mão no espelho limpando-o antes de escovar os dentes na pia. Saí rapidamente com a mochila que eu joguei na cadeira.

— Já está pronto para dormir? - Ela perguntou rindo quando me viu saindo do banheiro.

— Por que? Você tá querendo dar rolê? - Perguntei irônico e ela riu.

Eu e Riley conversamos, jantamos e assistimos um filme de Harry Potter. Riley já havia caído no sono quando Chris apareceu para verificar se estávamos bem. Perguntei como ela estava - já que ele a estava observando constantemente.

— Ela é forte, mas ela é só uma menina. - Ele disse enigmático.

— O que isso significa? - Ele apenas deu de ombros e deixou o quarto, mas eu não demorei muito até descobrir do que ele estava falando.

Eu não consegui dormir e fiquei no sofá-cama escutando músicas no fone de ouvido, encarando o teto e mexendo no celular. E logo no início da madrugada Riley agitou-se. Ela parecia estar em um pesadelo, movia-se bruscamente e falando. Até que ela gritou desesperadamente, se sentou na cama despertando do que eu imagino que fosse um pesadelo. Fui até ela e toquei suas costas enquanto ela parecia identificar onde estava.

Riley desmoronou em lágrimas. Seu corpo tremia enquanto ela chorava. Eu não sabia o que fazer. Não tinha ideia do que ela estava sentindo ou do que eu poderia fazer para que ela se sentisse melhor. Mas fiquei ali em pé ao lado dela, com o braço em suas costas oferecendo apoio. 

O choro diminuiu enquanto eu tocava seus obros esperando que ela se sentisse melhor, ela me encarou com os olhos marejados e hesitou para falar.

— Eu não aguento mais esses pesadelos. - Ela sussurrou meio sem graça enquanto secava as lágrimas. 

— Eles vão passar. - Afirmei meio sem ter certeza. - E você está segura. São apenas pesadelos. Ninguém vai te machucar.

Ela pareceu se convencer e secou as lágrimas com o dorso da mão.

— Você pode ficar comigo? - Ela perguntou sem certeza.

Eu apenas assenti com a cabeça. Riley se afastou para o lado deixando o espaço livre para que eu me deitasse ao seu lado. Deitei ali e Riley se aninhou em meu peito, onde chorou até cair no sono. Pouco depois eu também caí no sono também e não acordamos mais durante aquela noite.

Acordei na quinta-feira com o sol batendo na minha cara pela brecha na cortina. Riley ainda dormia. Ela tinha a cabeça em meu peito e o corpo encolhido ao meu lado. Seu sono estava pesado, e seu rosto sereno estava completamente diferente da figura de olhos inchados que me encarou na noite anterior.

Tentei me levantar, mas acabei acordando-a. Ela sorriu tímida e deitou a cabeça no travesseiro. Iria perguntar se ela estava bem, mas antes que eu o fizesse ela já havia caído no sono outra vez. Me levantei tentando não acordá-la novamente.

Sai da cama cuidadosamente, a cobri com o lençol e fui para o banheiro - onde tomei um banho rápido, escovei os dentes e penteei o cabelo. Ainda no banheiro me vesti com a calça jeans que havia usado no dia anterior e uma blusa preta de mangas longas que eu havia deixado na mochila. 

Coloquei o uniforme do time numa sacola plástica antes de devolvê-la à mochila. Em outra sacola coloquei a toalha que eu havia usado. Arrumei para que as sacolas não atrapalhassem de pegar meu caderno ou o estojo - que eu havia esquecido de deixar no armário.

Quando saí do banheiro Riley já havia acordado outra vez e estava entretida com o celular. 

— Bom dia! - A cumprimentei e ela sorriu.

— Desculpa por ontem. - Ela disse sem graça. 

Me sentei ao seu lado e segurei a sua mão. 

— Você não tem nada pelo que se desculpar, Riley.

— Eu não te deixei dormir. - Ela respondeu encarando as próprias mãos.

— Eu dormi como um bebê. - Ela me encarou duvidando e eu segurei suas mãos. - É sério, Riley, eu até acho que nunca dormi tão bem.

Era verdade, mas ela me abraçou ainda sem acreditar em mim.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, batidas na porta nos interromperam.

Riley disse que entrasse e então a voz de Cory soou dando bom dia enquanto ele abria a porta.

— Bom dia, bom dia, bom dia. - Cory entrou sorridente seguido por Katy e Shawn.

— Bom dia, Riley! - A voz melódica e animada de Katy soou e Shawn apenas lhe acenou com a cabeça sorrindo. - Bom dia, Liam.

— Eu vim te dar carona pra escola. - Cory anunciou e me deu dois tapas leves nas costas antes de me abraçar. 

Caminhou até a filha e a abraçou com força.

— O Liam cuidou direitinho de você? - Ele perguntou com tom zombeteiro.

— Como se estivesse sendo pago pra isso. - Riley respondeu rindo. 

Eu joguei o travesseiro em seu rosto e ela o pegou rindo. Cory também riu antes de se despedir da filha com um beijo na testa.

— Se o Shawn e a Katy não estiverem cuidando direitinho de você é só me ligar que eu mando o Liam de volta. 


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