365 dias escrita por Cardisplicente


Capítulo 1
Cinco quilômetros


Notas iniciais do capítulo

São cinco quilômetros a mais ou menos para longe de seu amor?



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Eu estava exausto da aula de Direito Civil. Só queria chegar em casa, jogar a mochila no sofá e ligar para a segunda mulher mais incrível que já conheci. Isso porque se eu disser que é a primeira, minha mãe ficaria sem atender minhas ligações por mais de uma semana. Mariana tinha a única voz que eu precisava ouvir no final do dia. Era doce e sonhadora. Ela parecia um pouco louca, às vezes. Era como se ficasse viajando no mundo da lua. No entanto, eu não me importava; eu sentia o mesmo quando olhava em seus olhos.

 Finalmente, depois de dois ônibus, cheguei em casa. Joguei a mochila no sofá, como de costume. Abri a geladeira, só para fingir que não moro sozinho e alguém poderia ter feito compras. Nessas horas, sinto saudade de dividir apartamento com outra pessoa. Eram mais de onze da noite e eu precisava ligar para minha namorada antes que ela dormisse. Liguei. Liguei duas vezes. Na terceira também não atendeu. Acho que não conseguiu me esperar para dormir.

Então, liguei a televisão. O estranho de morar sozinho é a necessidade de querer ouvir alguma coisa. Eu fico ouvindo música o tempo todo quando estou no ônibus, ou escondido no trabalho e até mesmo numa aula entediante. Antes de me mudar, eu gostava de fazer barulho com minha bateria e fingir que era músico. Mariana achava fofo. Pelo menos não tocar bem a fazia sorrir. Eu era mesmo um cara de sorte.

Quando estava prestes a sentar e pedir uma pizza quando a campainha, de repente, toca. Era Tiago, o meu melhor amigo. Não que ele fosse espetacular nem pisasse na bola. Acho que era o meu único amigo de faculdade.

— É sexta-feira e você não vai ficar em casa hoje, não é, Lelê? — Ele disse sem precisar convite para entrar e pular no meu sofá.

— Para onde mais eu iria, Tiago? — Questionei certo de que ele me sugeriria algum bar qualquer. Aliás, eu era o melhor companheiro dele para ir ao bar. Ele bebia todas e eu sabia dirigir. Uma parceria justa. Muito justa. Na verdade, seria injusta, se eu fosse solteiro.

— Adivinha onde terá uma vigília maneira com muita oração e louvor? — Começou a sorrir como se fosse muito óbvio. — Na igreja dos meus pais!

— Eles já se conformaram que você é a ovelha negra da família? — Perguntei sabendo que Tiago não jamais seria convencido a se converter por um pedaço no céu. Ele não levava punições a sério.

— Longe disso, você sabe que eu sou um bom filho. Estou me formando, só bebo aos finais de semana e ainda lavo a louça. — Afirmou bastante sério.

— Caramba! Você já pode até casar. — Ironizei sua conclusão madura sobre ser um bom filho.

— Ah, Leandro! — Ficou chateado, mas em seguida entrou no clima da brincadeira. — Para casar comigo, são muitos critérios, você nem imagina.

— Precisa ter maratonado “Vikings”?

— É um bom começo. Sim, vamos sair ou não vamos? — Mudou de assunto insistindo a me tirar de casa.

— Eu preciso começar o meu TCC.

— Você tem o final de semana todo pra isso, Leandro. Vamos aproveitar a vigília e amanhecer em qualquer lugar.

— Não dá! Marquei de almoçar com a Mariana amanhã.

— Eu não acredito que você vai preferir ela! Quem te acolheu primeiro nessa cidade? — Ele começou com o mesmo discurso de chantagem de sempre.

— Obrigado por me acolher nessa cidade, mas não será você quem tomará conta dos meus filhos enquanto eu estiver numa audiência...

— Ela está grávida? — Ele gritou assustado.

— Provavelmente não — eu ri do espanto dele — mas ela disse que precisa me dizer algo importante.

— Se ela te pedir em casamento, nem pense duas vezes e fala que está geneticamente condicionado a ter alzheimer aos trinta. Aposto que ela não vai pedir de novo.

— Casar com a Mariana é tudo o que mais quero! — Falei rindo daquela desculpa que ele inventou. — Definitivamente, eu não vou sair de casa hoje. Mas vou pedir uma pizza. Vai ficar?

— Só porque você implorou para que eu ficasse. Você sabe que essa não é uma programação que dois caras heterossexuais fariam numa madrugada de sábado com gasolina no carro, sabe? — Indagou.

— Eu sou heterossexual. Você não?

— Só não conte a ninguém.

A pizza de quatro queijos mal chegou e Tiago já tinha um encontro marcado pela internet com uma garota que conhecera há duas horas. Fiquei sozinho em casa, de novo. Era um pouco mais de duas da manhã e eu só pensava em Mariana. Três anos de namoro e ela ainda me deixava com insônia quando lembrava do seu sorriso, do seu olhar provocador, do seu silêncio que me deixava nervoso.

Acordei e já eram nove da manhã. Estava nublado e provavelmente choveria. Um péssimo dia para ir a um encontro importante de ônibus. Chequei minha caixa de mensagens e havia uma de Mariana decidindo que almoçaríamos no aeroporto. Só havia um problema: nenhum ônibus passa no aeroporto! Eu precisaria andar uns cinco quilômetros do ponto até lá para encontrá-la. O que são cinco quilômetros para quem está apaixonado?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Fico tão feliz. Pode deixar sua opinião aqui também; afinal, pode acabar me ajudando para escrever o próximo. Abraço de urso. ;) https://cronicasdagaveta.wordpress.com/



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