Cidade da Escuridão escrita por Heloise Carvalho


Capítulo 10
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Os joelhos dela doíam de tanto ficar nas pedras. Observava atentamente a janela do seu quarto no quinto andar do Motel, graças a ajuda de duas runas. Jace, no seu lado, tinha acabado de tirar sua lâmina da bainha da calça e se levantava devagar. Clary pôs a mão no seu ombro, o impedindo.

   —Melhor não. Eles não encontraram nada.

Assim que voltaram da Igreja dos Fantasmas, Clary e Jace encontraram agentes da Clave vasculhando o quarto. Concordaram naquele momento que seria melhor observa-los e ver se descobririam algo sobre o paradeiro deles. Mas nada fora encontrado.
Jace olhou para ela incrédulo.

   —Eles vão continuar nos procurando se não os impedimos.
   —Em outras palavras, você quer mata-los. –sussurrou.
   —Sim. –respondeu Jace como se fosse a coisa mais óbvia.

Clary olhou nos olhos do namorado, não acreditando no que estava vendo.

   —O que aconteceu com você? Não era tão impulsivo assim. Pelo menos era menos que eu e agora parece que invertemos os papeis. Se os matar, a Clave mandará mais para esse exato lugar. Mas se os deixarmos, eles iram embora e não vou no encontrar.
   —Eu sei. Normalmente não gosto disso, mas caso contrário, eles nos rastrearão, Clary. Eles vão achar algo. É só questão de tempo.

Ela ia retrucar, porém um barulho alto de alumínio a deixou em estado de alerta. Jace a encarou e sinalizou para ela ficar quieta e imóvel.
Jace foi com sua lâmina em mãos até a origem do barulho. Depois Clary só conseguiu ouvir o som de luta. Ela correu com sua própria arma e encontrou Jace lutando com um Caçador e mais dois no chão.

   —Corre! –disse puxando-a pela mão.
   —O que...

Ela olhou para trás e viu vários Caçadores correndo também. Dois deles com arcos e flechas. Ela corria o mais rápido que conseguia e ao mesmo tempo tentava acompanhar o passo de Jace. O chão enlameado não facilitava muita coisa.

   —Merda... –disse Jace quando uma flecha passou raspando em seu braço. Virou-se rapidamente e lançou uma adaga. —Abra um Portal!

E assim fez. Abriu o Portal atrás de um prédio abandonado, proporcionando uma segurança momentânea.

   —Me dê sua mão. –gritou Clary.

Ela sentiu a mão quente de Jace na sua, e depois, o som alto de dor vindo de Jace. Ela olhou para trás rápido e viu que uma mulher havia jogado de volta a adaga de Jace. Enquanto eles corriam para alcança-los, Clary puxou Jace em direção ao Portal.
Dessa vez, ambos caíram de cara no chão.

Ela se levantou com pressa e fechou o Portal bem na hora que a mulher que lançara a adaga atravessou. Ela olhou para Jace e riu.

   —Não queria acerta-lo. Meu alvo era você, Clarissa. Mas isso também serve.
   —Não entendo qual o problema. Já disse que não fiz o que me acusam. –disse com sua arma girando em sua mão.
   —Realmente não entende? Sim, há Caçadores que querem vingança pelo Consul. Mas não se trata mais disso, você é um mistério para a Clave. Sua porcentagem adicional de sangue de anjo a torna inconstante aos olhos deles, e no meu também. Claro. Seu namorado também tem, mas você recebeu por mais tempo e ainda tem essa coisa de conversa com anjo... –disse a Caçadora com um olhar de desdém, mas segurando firmemente suas lâminas.
   —Não, eu....

Ela não deu tempo. Partiu para cima de Clary com duas adagas apontadas para seu peito. Facilmente, conseguiu desviar para mais perto de Jace. Com um olhar rápido, ela notou que ele não se mexia.

   —Jace... O que fez com ele?

Clary suava e escorregava pelo piso do prédio com suas botas cheias de lama da rua de Lukova. Mesmo assim, com sua lâmina, cortou fundo o tornozelo da outra Caçadora, fazendo com que ela fosse ao chão.

   —Vou repetir. O que fez com Jace? –disse com a ponta da lâmina encostada no meio de sua clavícula.
   —Eu disse que ele servia. Era para você ficar no estado dele. Um simples paralisante. Se vier comigo e eu o curo.

Clary ponderou a oferta dela, mas as coisas não se tratavam mais da ameaça da Clave sobre ela e Jace. E sim sobre o que o anjo caído poderia e queria fazer com ela.
Ela olhou para a Caçadora e uma raiva que não era dela fez-se presente. Ela poderia cortar a garganta dela com um simples mover do pulso e essa raiva não deixaria espaço para remorso. O sentimento destrutivo que de certo modo era uma herança da família Morgenstern.

Mas depois de um segundo de reflexão, Clary percebeu que aquela raiva era sim dela. E não porque era seu lado paterno gritando ou uma simples insanidade. Sua raiva era resultado de anos lutando sem parar por mais de meio ano, por sempre sentir medo das lutas e suas consequências e por sempre ter alguém que ela amava no meio do fogo cruzado ou ela própria. Toda aquela raiva pertencia sim a ela.

   —Não. Você não está em posição de negociar comigo. –disse com a boca rente a orelha da caçadora. E nem seu olhar de suplica parou Clary

Ela pegou a adaga da mulher e prendeu seu corpo debaixo do dela. E com um único movimento, cortou a garganta. E o seu próprio pescoço ficou ensanguentado.
Ela retirou a adaga, jogou-a longe e correu para Jace.

   —Droga... Jace?  Está me escutando? Pisque se estiver. –Ele piscou. —Ah graças ao Anjo. Espero que você seja menos pesado do que imagino.

Clary agarrou os pés dele e o arrastou até um canto mais escuro. Não antes de pôr uma runa de invisibilidade neles.

   —Droga Jace. –disse com a voz falha pelo cansaço. —Você é muito pesado sabia? –Jace rolou os olhos presunçosamente. —Nem quero imaginar o que você quer dizer. Vamos ter que ficar aqui por um tempo.

Clary runou os dois com discrição e ilusão e entrou no prédio. Aparentemente era um prédio executivo, com todo aquele ar sério. Ela tinha que levar Jace para um lugar seguro e sem ninguém para ouvi-los. O único problema era que já estava cansada de puxar Jace pelos corredores.
Ela largou os pés dele e suas botas fizeram um barulho alto o suficiente para chamar a atenção de alguns executivos por perto. Olhou para o namorado e viu ele a olhar com repreensão. Cansada, Clary pôs uma runa na palma de sua mão e levantou Jace no ar e seguiu para as escadas até o terceiro andar do prédio. Quando finalmente acharam um armarinho, ela soltou Jace.

   —Sinto muito por isso Jace. Não queria que nada disso acontecesse. –Clary escorregou pela parede e se sentou ao lado de Jace, que murmurou. —O que? Então o efeito é passageiro! Que bom por que eu já ficar maluca para resolver isso. –disse com uma risada. Porém Jace a olhava com compreensão. —Vamos dormir. Amanhã temos que continuar.

Clary se deitou no peito de Jace e colocou sua mão apoiada nas costas dela. Sussurrou um boa noite e ambos dormiram.

 

****

Clary acordou com uma mão mexendo em seu cabelo. Tentou ignorar, mas quando se deu conta do que poderia ser ela sentou rapidamente, quase rindo de alivio.

   —Jace!
   —Bom dia. Desculpa, sei que deveria ter te acordado quando finalmente voltei a me mexer, mas você parecia tão tranquila...
   —Está tudo bem. Temos que achar algo para comer e depois temos que ir para...?
   —Primeiro, temos que descobrir onde estamos para depois irmos para Normandia.

Clary deu um beijo rápido no namorado e se virou para sair do pequeno deposito. No entanto, Jace a puxou de volta pelo ombro. Ela notou o olhar desconfortável de Jace.

   —O que foi?
   —Eu vi. Estava paralisado, mas vi.
   —Viu o que exatamente?

Jace pôs sua mão nos ombros de Clary e escorregou até sua cintura.

   —Você precisa desacelerar um pouco Clary. O jeito que matou aquela mulher... Ela era só um peão. Sei que está cansada d...
   —Não. Não estou cansada. Pelo menos fisicamente. –mentiu. —Aquela Caçadora teria me matado, ou pior, teria matado você. Não podia deixar.
   —Eu vi o jeito que ela te olhou e reparei o jeito que você retribuiu. Estava ardendo em raiva.
   —Claro que estava com raiva! –exasperou afastando-se um pouco de Jace. —O que esperava? Que ficasse com pena? Compaixão?
   —Clary...
   —Não! Fiz o que qualquer Caçadora de Sombras faria. Fiz o que você faria! E nem tente me convencer de que agir assim por causa do qual demônio...
   —Clary. Se acalme um pouco e me escute. A única pessoa que vi com um olhar com tanta raiva foi Sebastian. Por isso digo que você tem que ir devagar. Se acalmar.

Ouvir aquilo foi um choque para Clary. Ela se afastou até encostar na parede, no lado oposto a Jace.

   —Está querendo dizer que em algum momento, ficarei igual a ele? –perguntou
   —Nunca ficará igual a ele. Te garanto isso. Só quero que perceba a magnitude disso. Você está piorando. Não sabemos o que vai acontecer e quero que me deixe tomar as rédeas da situação.
   —Eu...
   —Sei que não gosta disso. Sei que gosta de lutar pelo que acredita, já provou para todos mesmo quando não precisava. E não estou dizendo que não suporta tudo isso, acredito que você aguenta tudo e por isso não me deixará a par das suas... reações. Só quero que deixe-me cuidar de você para que não repita o que aconteceu ontem à noite, ou coisa pior. Confia em mim?

Clary não gostava da ideia de Jace lutando por ela enquanto vomitava sangue pelos quatro cantos, mas ela realmente precisava descansar e não se deixa levar como da última vez. Não que esteja arrependida de ter matado a mulher. Sabia que tinha feito a coisa certa e nem Jace poderia tirar isso da cabeça dela. Mas a ideia de descansar um pouco era tentadora.

   —Tudo bem. Mas não pense que ficarei de fora. Posso até deixar você fazer a parte pesada por mim, mas se eu ver que você precisa de ajuda...
   —Eu entendi. –disse Jace com um sorriso de lado, que acabou fazendo Clary sorrir minimamente.
   —E... Vai me deixar por dentro das coisas. Nada de esconder de mim.
   —Digo o mesmo. Não quero esconda suas dores de mim. A menor dor você tem que me contar. Combinado então.

Jace puxou Clary para um beijo para selar o acordo, que foi interrompido por um zelador.

   —Vocês jovens não têm jeito. Onde já se viu sair às escondidas para beijar em um deposito.

Clary olhou para o senhor surpresa pelo fato dele conseguir enxerga-los. Jace pegou a mão dela  e a puxou para fora.

   —Nos desculpe senhor, já vamos sair e deixar você fazer o seu trabalho. –disse Clary sem olhar para o velho.

Ambos reforçaram suas runas e foram procurar algo que indicasse sua localização.

Clary não evitou reparar a beleza de onde estavam. Por mais que fosse algo executivo, tudo era branco e prata, com moveis pretos e brancos e quadros abstratos colorido que sua mãe ficaria horas analisando.

Passando despercebidos, eles chegaram no lado de fora do prédio.

   —Jace olha. A caçadora...

A mulher que atacou os dois não estava mais no lugar onde Clary a matara. Não havia nem sangue mais.

   —O que aconteceu aqui?
   —Não sei. Mais temos que sair daqui o quanto antes.

Jace a segurou pela mão e puxou até uma praça pública abarrotada de pessoas que nem olhavam para onde iam. Ele levantou de leve a blusa da namorada e ativou a Runa do metamorfo. Repetiu o mesmo com a Runa em seu ombro.

   —Sempre odiei essa Runa. –reclamou Clary.
   —Para com isso. Você nem está tão ruim assim. Mas prefiro ruivas.

Clary sorriu e agarrou a mão de Jace. Mesmo estando com outra aparência, nem um dos dois relaxou. E esse constante estado de alerta estava cansando os dois.

   —Ali! –Jace apontou para uma placa em um poste. —Paris. Serio Clary?
   —Foi mal. Fortes lembranças.
   —Pelo menos já estamos na França. Precisamos ir para Normandia. Consegue abrir um Portal?

Clary pegou a estela de Jace e sentiu sua mão formigar, mas ignorou completamente. Encostou a ponta da estela em uma parede de pedras próxima a eles e desenhou a runa que criara. Ambos se afastaram da parede e Jace olhou para Clary. Ela franzia a testa e apertava fortemente a estela, até que caiu de joelhos no chão.

   —Me desculpe. Tentei ficar firme, mas estou meio fraca pelo jeito. –disse se apoiando na mão dele e levantando.
   —Tudo bem. Vamos ter que achar outro jeito.

Clary limpou as mãos e voltou a andar com Jace, procurando qualquer coisa que poderia leva-los a Normandia.

Porém, como ambos estavam concentrados em seus pensamentos, não notaram que eram seguidos.


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Notas finais do capítulo

Gente!!! Ultimo episodio da segunda temporada de Shadowhunters.... Jace morreu e voltou... Lilith apareceu... Só fortes emoções. O que acharam?