Mágoas do Passado escrita por Liudi


Capítulo 5
Capítulo 5




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Pov. Jane.

     Parei em frente do espelho enquanto observava minha expressão cansada, reflexo da minha noite mal dormida.

     Passei a noite toda tendo pesadelos, nos quais eu vi minha família morrer das mais variadas formas sem que eu pudesse impedir. A única diferença dos pesadelos dessa noite para os que eu tinha sempre era uma pessoa.

     Weller estava lá dessa vez, ele via tudo o que acontecia e mesmo eu implorando pela ajuda dele, ele apenas ficava lá me olhando e sorrindo com escárnio. Kurt me negava ajuda e ainda jogava na minha cara que eu era uma traidora, uma assassina treinada e que aquilo era tudo o que eu merecia.

    Como resultado disso não consegui dormir nem uma hora direito. Então depois de levantar 4 vezes desesperada, eu decidi não dormir mais.

    Era 4:45 de uma quarta feira, terminei de me arrumar no banheiro e fui fazer o café da manhã pra mim e pro Ian, antes que ele levantasse. Eu queria retribuir por ele ter deixado tudo pronto pra mim e para as crianças ontem.

    Terminei o café um pouco antes dele vir pra cozinha.

       - Nossa maninha caiu da cama hoje? - Perguntou fazendo graça.

       - Mais ou menos maninho. - Disse enquanto lhe servia café.

       - Pesadelos de novo? - Perguntou preocupado. E sinceramente, odiava quando ele ficava preocupado com meus pesadelos. Odiava deixá-lo preocupado, ele já vivia praticamente pra mim e as crianças. Ele se culpava por tudo que aconteceu com a CIA, ele se culpava por não estar lá pra me proteger quando eu precisei, por não poder me proteger como eu o protegia.

       - Mas não precisa se preocupar não foram como os de ontem, então eu estou bem. - Acrescentei rapidamente.

   Ele apenas arqueou a sobrancelha e eu dei de ombros.

       - Jane eu te liguei ontem na hora da sua saída da psicóloga, queria te avisar que eu e as crianças íamos comer pizza e perguntar se você queria vir com a gente, mas seu telefone deu desligado. – Disse com cara de culpado, afinal as crianças só podiam comer pizza aos fins de semana. E ele sabia muito bem disso.

       - Ah, eu tinha esquecido de carregar o celular e minha bateria acabou. – Menti, já que eu tinha desligado meu celular depois da ligação do Kurt.

   Por um momento cogitei lhe contar sobre o telefonema do Weller, mas sabia que Ian provavelmente iria querer tirar satisfações com ele. Ian culpava o FBI e principalmente o Kurt por toda a bagunça com a CIA. E eu sabia que se não fosse por mim Ian já tinha ensinado uma “lição” pro Kurt. Então resolvi não expor esse acontecimento, por mais que eu precisasse falar sobre ele com alguém. Então eu aguentaria mais um dia e falaria sobre isso com a Dra. Jamerson.

       - Aliás, por que você e as crianças foram comer pizza em plena terça feira? – Perguntei fazendo minha melhor cara de braba. Você sabe que eles têm uma dieta a seguir, nada de ficar se empanturrando de besteiras a semana toda.

       - Bom é que...- Ian gaguejou. – A qual é Jane, o Ben tava louco pra comer pizza e tomar sorvete. E eu não consegui deixa-lo com vontade, por que eu me lembrei da época que estávamos no orfanato e mal tínhamos comida pra comer, quem dirá sorvete. Não quero que eles passem vontade de comer algo como nós passávamos, não quero que eles passem o que passávamos.

   Assim que ele terminou de desabafar eu segurei minhas lagrimas enquanto acariciava suas mão gentilmente.

       - Olha Ian, eu te entendo. Assim que descobri que estava grávida eu prometi pra mim mesma que daria tudo o que não tivemos à eles.  Também não quero que eles fiquem com vontade de algo e não tenham, mas da próxima vez diz que leva eles no final de semana. Se você deixar eles vão se aproveitar disso e comer pizza todo dia e você sabe o quanto é importante eles seguirem a dieta à risca, principalmente o Ben.

   Ben e Amy nasceram prematuros de 6 meses e meio. Tentamos de tudo mais meu corpo não conseguiu levar a gestação ao final. Os três meses que passei sendo torturada me deixou totalmente debilitada, e ainda para ajudar eu tive um descolamento na placenta. Por causa disso Ben nasceu com asma severa.

  Depois disso tomamos nosso café sossegadamente, já era 6:18 e logo Ian teria que sair pra ir abrir o café.

   Ele saiu de casa 6:30 e como ainda estava muito cedo pra acordar as crianças eu fui fazer alguns orçamentos com nossos fornecedores, até que me lembrei que não ligava o celular desde ontem. Respirei fundo e olhei para as minhas mãos que tremiam só de pensar no telefonema de ontem.

   Reuni toda a minha coragem e fui até meu carro buscar o celular e a bateria que eu tinha jogado no porta luvas. Religuei o celular e milhares de mensagens pipocaram na tela, todas de Patterson. Respirei aliviada. Nada de Weller, confesso que não teria estabilidade para lidar com ele agora.

   Fiquei olhando os orçamentos até às 7:15 quando decidi ir acordar as crianças. Fui primeiro acordar o Ben, já que ele dava muito mais trabalho e como sempre o encontrei todo esparramado na cama, não sei quem ele tinha puxado já que Ian e eu tínhamos o sono muito leve e qualquer barulho nos acordava.

       - Ben, levanta meu amor. Tá na hora de ir pra escolinha. – Falei enquanto mexia carinhosamente em seus cabelos castanhos escuros.  Ben nem se mexeu, então mudei minha tática. Agora além de mexer nos seus cabelos eu também alisava suas costas suavemente. – Vamos Ben, levanta filho senão a gente vai se atrasar. – Dessa vez ele se mexeu um pouco, mas ainda não tinha acordado. Então usei minha técnica infalível. Comecei a fazer cócegas nele e assim que toquei no seu pé ele acordou assustado.

       - Para mamãe!! – Ele disse irritado e depois fez bico, que junto com sua voz infantil só serviu pra deixar a cena ainda mais fofa.

       - Tudo bem senhor estressadinho. – eu disse enquanto tentava não rir. – Desculpa, você não queria acordar. Vem. – Estendi a mão pra ele. – Me ajuda a acordar a Amy pra gente ir tomar café e depois se aprontar pra creche.

   Ben em vez de pegar minha mão se grudou no meu pescoço e como ele ainda estava meio grogue o peguei no colo e fomos em direção do quarto de Amy.

   Para a minha surpresa, minha anjinha já estava acordada. Sentei ao seu lado na cama e tirei Ben do meu colo, que tratou logo de ir abraçar a irmã.

       - Bom dia meu amor, que bom que já está acordada. Tá com fome?

       - Bom dia mamãe. – Disse balançando a cabeça em concordância enquanto bocejava e eu me derreti toda com a cena. Meus filhos extrapolavam quando o assunto era fofura.

   Acariciei seus longos cabelos escuros e a peguei no colo encaixando-a de um lado na cintura para depois colocar Ben do outro. Apesar deles estarem um pouco grandinhos pra isso eu adorava tê-los junto a mim e também no período da manhã eles sempre são mais manhosos por causa do sonho e tem preguiça de andar, então eu os levava no colo e não via nenhum problema nisso, eu continuaria os pegando no colo até que eles estivessem grandes demais pra isso. Tomamos nosso café normalmente, administrei a bombinha no Ben,  coloquei as crianças no carro e nós saímos.

   A manhã até agora estava normal, a única coisa suspeita era um homem estranho perto da entrada da creche das crianças. E apesar das minhas paranoias eu deixei ele pra lá e levei-os para sala. Me despedi com um beijo e um eu te amo pra cada e voltei pro carro.

   Eu já estava quase na metade do caminho da cafeteria quando vi a bombinha de asma da Ben em cima do painel do carro. Imediatamente fiz o retorno, era perigoso deixar a Ben sem uma bombinha por perto. Da última vez que isso aconteceu ele foi parar no hospital, então preferi não arriscar dessa vez.

   Parei o carro um pouco antes do portão da creche e uma coisa me chamou a atenção. O mesmo homem estranho ainda estava lá, no mesmo lugar e agora falava no telefone. Mexi na porta pra poder sair do carro e quando olhei novamente vi uma arma na cintura dele e um broche de pássaro no casaco.

   Tranquei minha respiração, mil e uma coisas me passaram na cabeça. Por fim consegui me mexer e aproveitei que o homem não tinha me visto e entrei novamente na creche.

   Só deu tempo de eu avisar os seguranças que ele estava armado e quando eu já estava na porta da sala dos meus filhos os barulhos de tiro começaram e junto com eles os gritos.

   Entrei rápido na sala e expliquei brevemente pra professora e as outras moças que a ajudavam o que estava acontecendo. Pedi que elas me ajudassem a puxar os armários e fazer uma espécie de barreira na frente da porta. Enquanto eu chamava a polícia.

  As crianças estavam muito assustadas e assim que Amy e Ben me viram vieram em minha direção pedindo colo.

       - Mamãe, mamãe. Eu to com medo. – Confessou Ben enquanto escondia o rosto no meu pescoço e mexia no meu cabelo.

       - Tá tudo bem bear, mamãe tá aqui. Prometo que vai ficar tudo bem, mas pra isso eu preciso que você e sua irmã me ajudem. – Os desci do meu colo e me agachei pra poder ficar mais perto do tamanho deles. – Eu quero que vocês fiquem aqui e obedeçam a professora de vocês. Vocês conseguem fazer isso pra mim?

   Assim que eles acenaram que sim, peguei suas mãozinhas e os levei até a professora. Beijei suas testas e pedi que a obedecessem. Esperei as outras duas moças empurrarem a estante novamente e sai.

   Andei até a diretoria e de lá vi um rastro de destruição, o chão coberto de sangue e três seguranças caídos. Chequei o pulso deles e vi apenas dois estavam vivos, sendo que um deles respirava com dificuldade.         

   Peguei meu celular e enquanto eu discava o número da ambulância, o segurança que ainda respirava direito acordou. O tiro tinha sido de raspão, mas ele desmaiou com o impacto da bala. Dei meu celular a ele para que pedisse ajuda enquanto eu ia atrás do atirador, ele até tentou me parar mas expliquei que já fui do FBI e sai.

   Segui os respingos de sangue no chão por três corredores até achar o atirador. Ele estava de costas e procurava algo. Passava na frente das salas e olhava pra um papel, como se estivesse comparando algo. Foi então que eu entendi, ele procurava uma sala em específico.

   Ele tinha mais alguns papeis na mão além do com o número da sala. O celular dele tocou alto o assustando e fazendo com que ele derrubasse os papéis. Me escondi no cruzamento do corredor e olhei cautelosamente pros papéis no chão. Minhas pernas falharam quando vi as fotos da ficha escolar da Amy e do Ben no chão. Meu sangue ferveu, algum desgraçado mandou um psicopata atrás dos meus filhos. Me escondi novamente bem a tempo de não ser vista pelo atirador que tinha desligado o telefone e se empenhava em juntar os papéis do chão.

   Tomei um último fôlego e ataquei, o derrubei chutando suas pernas e aproveitei para desarma-lo enquanto ainda tinha o elemento surpresa. E assim que a surpresa passou nós entramos em uma luta corpo a corpo. Consegui bater a cabeça dele na parede e derrubá-lo novamente mas quando ia dar o golpe final e desmaia-lo ele reagiu e me derrubou. Fui mais rápida e quando ele tentou me acertar com os punhos eu já tinha rolado e me levantado novamente,

   Usei todas as minhas habilidades e mesmo assim não foi o suficiente, ele era tão bem treinado quanto eu. Sabia que minha única chance seria armada, me xinguei mentalmente por ter sido tão imprudente ao ponto de não me armar antes de lutar.

   Comecei uma nova sequência de golpes e fui levando-o em direção da arma, pegando-a na primeira chance que tive. Infelizmente ele percebeu no último minuto o que eu tentava fazer e tentou me desarmar. Agora brigávamos pela arma, que estava no nosso meio. Botei meu cérebro pra pensar e quando estava bolando um plano tudo o que consegui registrar foi o barulho do tiro.


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