Amandil - A Senhora da Luz escrita por Elvish Song, LadyAristana


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores, estrelas do meu céu e flores do meu jardim! Aqui estou eu com a última história da saga de Amandil!
Nossa história começa cinco mil anos após A Filha das Estrelas, num mundo mudado pelo tempo e mantido em paz e segurança pela atuação dos Filhos das Estrelas. Espero realmente que gostem! Estou muito feliz em voltar!



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Um homem envolto em capuz e capa cinzentos como o crepúsculo e a aurora apioava-se num bastão de madeira; seu rosto era bondoso e sábio, emoldurado por uma espessa e ainda curta barba castanha, cabelos longos soltos pelas costas enquanto o cristal em seu cajado se acendia, iluminando os rostos das crianças diante de si, as quais se acotovelavam para ouvir as histórias do sábio bardo Anárion.

Ante os sorrisos ansiosos da crianças, e os olhares levemente desconfiados dos adultos da vila, o contador de histórias se acomodou sobre uma pedra alta e apoiou a lira sobre os joelhos; assim que as primeiras notas ecoaram todo o barulho ao redor cessou, e as chamas da fogueira começaram a crepitar, como se acompanhando a melodia do bardo. Finalmente, a voz dele se elevou, grave e sonora, pura como água corrente:

— From de East she appeared (Do Leste ela veio)

Sunlight and stars in her hair (luz de sol e estrelas em seus cabelos)

In her eyes an undying  (em seus olhos uma immortal)

Memory of home, (memória do lar)

A land that is magical and fair (uma terra de magia e beleza)

 

When her feet come to rest, (quando seus pés descansaram)

Deep in a canopied glade (profundamente em uma clareira coberta)

She lifted her face, (ela ergueu seu rosto)

And there as she danced (e então, enquanto dançava)

The City of Elenië she made. (A cidade de Elenië ela criou)

 

Gaze on me, lady of gold, (olhe por mim, senhora de ouro)

Reawaken my slumbering soul. (redespertando minha alma adormecida)

Beacon of courage, summon me home, (sinal luminoso de bravura, leve-me para casa)

To your haven of wonders untold. (para seu paraíso de maravilhas secretas)

 

Lórien laurë, A laiga alcar (sonho dourado, glórias verdejantes)

O Ehtele lisse Nimrodel A Nyére auta (doces primaveras de Nimrodel, passos de melancolia)

A Lórien laurë (Oh, sonho dourado)

Lórien Laurë (sonho dourado)

A laiga alcar

Orë áro (coração da aurora)

Elenië (cidade-estrela) – ele encarou todos os rostinhos maravilhados, e finalmente perguntou:

— Sabem a quem se refere esta música, pequeninos? – uma mãozinha se elevou rápida no ar, e sua dona respondeu:

— A Lady Amandil, a Senhora da Luz e Mãe dos Elenië!

— Muito bom, Peregrina! – elogiou o homem, antes de voltar a sua história – é exatamente isso, senhores e senhoritas. A canção fala sobre como Amandil, a Filha das Estrelas e Senhora da Luz, criou a bela cidade de Elenië. Mas isso, como sabem, é apenas uma lenda.

— Mas ela não dançou e, com sua magia, fez a pedra e as árvores se moldarem à sua vontade, crescendo para formar o Palácio da Luz?

O bardo riu: aquela de fato era a crença disseminada, da qual Amandil não gostava nem um pouco.

— Não, não, crianças. De fato, foi ela quem escolheu o lugar: o ponto em que a planície, as Florestas Cinzentas e os sopés das Montanhas da Névoa se encontravam, união entre os reinos de anões, elfos e homens. Ali ela dançou para o Sol, a Lua e as Estrelas, criando um grande círculo de magia e proteção, onde nenhum mal poderia adentrar. E sabem por que ela criou esse círculo?

— Para ser um refúgio onde ela cuidaria dos Filhos das Estrelas que eram crianças! – respondeu outra voz infantil.

— Exato. E ali, com a ajuda dos Povos Antigos e dos Povos Jovens, a Cidade das Estrelas e o Palácio da Luz foram construídos, em cristal e madeira viva das árvores, cujos galhos se erguem centenas de metros acima dos céus, sustentando as paredes de cristal que captam todas as luzes e as transformam em pura magia, que alimenta a força dos Elenië. Jardins de beleza nunca vista, cavernas escavadas nas profundezas, árvores cujos galhos se elevam até os céus... Todas as maravilhas das cidades de elfos, homens e anões foram incutidas na beleza da cidade das estrelas. – outra mãozinha se ergueu, logo seguida pela pergunta:

— Há quem diga que ela crio este lugar para poder controlar a Terra-Média. – não era a primeira vez que Anárion ouvia aquilo, então respirou fundo e explicou:

— Lady Amandil é a Senhora da Luz, a Dama da Justiça. Ela é a luz de Varda e a justiça de Manwë, e por eles foi escolhida não para controlar, mas para proteger nosso mundo. Ela não intervém nos governos, mas age quando alguém ameaça a paz, a liberdade e o equilíbrio. Nunca duvide disso, pequeno, pois se um dia Idril Amandil puder ser corrompida, então não haverá mais ser realmente puro sobre a terra.

A noite de histórias continuou, mas a dúvida que o pequeno levantara permaneceu na mente do contador de histórias... Após tantos séculos de paz, os povos começavam a questionar a necessidade da existência de Amandil; afinal, ela jamais fizera questão de revelar os próprios poderes em sua total extensão, a fim de evitar que os Elenië fossem reverenciados e temidos, mas... Agora começavam a vê-la apenas como uma maga poderosa demais, que interferia como desejava nos assunto de Ëa. Ah, tão logo voltasse para casa, trataria de falar a sua mentora. Havia algo de muito errado acontecendo ultimamente.

 

 

***

 

Uma jovem de rara beleza dormia no quarto do palácio de cristal; pelo teto de vidro entrava a luz branca e imortal das estrelas, banhando-a durante o sono, tornando prateados os cabelos louros e fazendo cintilar a tez ebúrnea. Quem a visse pensaria ter ela por volta de vinte anos, mas os olhos cerrados já haviam visto muitos e muitos séculos. Ao seu lado, uma mulher igualmente bela e muito parecia com a dama estava sentada, acariciando os longuíssimos cabelos da outra com a ternura e carinho próprios das mães para com seus filhos. Eram ambas muito similares em feições, não obstante a mãe – cuja aparência parecia congelada na mesma época de juventude da filha – tivesse cabelos cor de avelã com uma única mecha branca a nascer na têmpora direita. Amandil, a Senhora da Luz, velava o sono de sua primogênita como fizera por todos aqueles séculos, cantando a música com a qual embalara o sono de cada um dos Filhos das Estrelas:

— Oh child of my heart, (oh, criança de meu  coração)

Born of a never ending dream (nascida de um sonho sem fim)

You were cradled in light, (foi embalada em luz)

Bathed in an ever flowing stream (banhada num rio que flui eternamente)

 

Flourish and grown, my mystical world (florescido e crescido, meu mágico mundo)

Here you will ever belong. (Aqui sera sempre seu lugar)

Son of my yearning, daughter of hope, (Filho de meus anseios, filha da esperança)

Beautiful child of my song. (linda criança de minha canção)

 

Although storms may descend, (embora tempestades possam cair)

Mountain and valley may quake, (montanhas e vales talvez estremeçam)

Of the days that remain, (pelos dias que restam)

This is the promise I make: (esta é minha promessa:)

 

No shadow fall across this land, (nenhuma sombra cairá sobre esta terra)

Before the wind and fire I stand, (ante o vento e o fogo eu permanecerei)

And you, my child, will know no harm, (e você, minha criança, não conhecerá nenhum mal)

Enfolded in my arms, Elenië! (envolvida em meus braços, criança-estrela!)

golden of wonder (maravilhas douradas)

Haven of starlight (paraíso da luz estelar)

forest of light (floresta de luz)

Elenië (cidade das estrelas)

Gardens of light, (jardins da luz)

Haven of sun, (paraíso do sol)

Forest of light! (florestas da luz!)

Child of my heart! (criança de meu coração!)

Após algumas horas durante as quais a senhora observou o sono de sua criança, a mulher adormecida se moveu levemente, e seus olhos se abriram: estes, quais os de sua mãe, refletiam o céu estrelado – azuis, com milhares de pontos prateados – e refletiam o doce sorriso em seus lábios quando falou:

— olá, Nana. – estendendo o braço, tocou com carinho o rosto da mãe – não esperava você aqui...

— Vim assim que soube de sua chegada, minha filha – respondeu a Rainha da Luz – estava com saudades.

— Eu também, mãe. – a jovem se espreguiçou e sentou no leito – mas deu tudo certo.

— Já não me preocupo quanto a isso, quando deixo algo a seu encargo. Já faz três mil anos que você não precisa mais de minha vigilância em seu trabalho – e beijando a fronte da moça – Estë e Oromë sorriem ao ver como deixaram digna sucessora na Terra-Média. – Ela ergueu os olhos para as estrelas acima, e eles se preencheram de uma suave névoa branca, que ela tratou de dissipar meneando a cabeça. Percebendo aquilo Alassë, a moça de cabelos dourados, declarou:

— Nana, estou preocupada... Você passa cada vez mais tempo no mundo da luz, e menos tempo em sua forma física...

— Não vou ficar presa no mundo da luz, meu amor. O grande perigo, para um dos nossos, é ser aprisionado em sua forma carnal, e não privado dela.

— Mesmo assim... Ada também está preocupado. Ele teme que você o deixe para se tornar uma Etérea.

— Etérea? Seu pai continua com essa história? – Amandil deixou-se cair sentada na cadeira ao lado da cama – Ah, como Legolas consegue ser tão idiota, em alguns momentos, e tão inteligente, em outros?!

— Nana... Apenas pense. Não tem sido a mesma quando está em sua forma física... É como se apenas sonhasse com o próximo momento em que vai se desvanecer.

A mãe segurou a mão da filha contra seu ombro, e suspirou... Alassë era, depois de Legolas, a criatura em quem mais confiava. E como Elenië, uma Filha das Estrelas, talvez fosse a única que a entendesse. Não devia mais guardar segredo.

— Não é que eu anseie por me desvanecer, querida. Eu pressinto um grande perigo no ar, mas as estrelas são incapazes de me dizer o que está havendo. Desvaneço-me no desespero por encontrar o que está errado, antes que outro grande mal se erga sob nossos olhos.

— Ah, Nana... É isso? – a Ainur sabia bem que até hoje sua mãe tinha pesadelos com Sauron e a Montanha da Perdição, e o quanto ela temia que outra Sombra se erguesse sem que ela percebesse – Você não é Lady Galadriel, nem Lorde Elrond. Não vai cometer os erros deles.

— Você me superestima, filha, mas é bom saber que tem tal confiança em sua mãe. – ela foi até a porta da varanda do quarto, onde cachos de campânulas caíam à guisa de cortina – vai amanhecer logo, e os outros sentiram sua falta. Até mesmo Barahir e Celebrían assumirão forma física para vê-la, após quase dez anos!

— Barahir e Celebrían? – a jovem se animou ao ouvir os nomes dos dois amigos que haviam optado por viver em forma não-física para melhor cumprir sua função como Ainur. Ele era o herdeiro de irmo-Lórien, senhor dos sonhos e visões, e ela ocupara o lugar de Ulmo, senhor das águas. O terceiro Etéreo, que não mais assumia forma física, era Imrahil, filho dos há muito falecidos Faramir e Éowin, Regentes de Gondor, e escolhido para receber os poderes de Aulë, senhor da terra, da forja e de todos os metais preciosos que existiam no subsolo, criador dos anões. – isso é inusitado!

— Bastante, então trate de se aprontar, pois ao amanhecer estarão todos aqui! Inclusive os magos! – sorridente, a rainha deu um último beijo na fronte da filha e deixou o quarto. E quando se viu sozinha, sem ninguém para ver o que fazia, seus olhos se turvaram em névoa prateada e seu corpo se desfez em luz.


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Notas finais do capítulo

Reviews, para matar a saudade?