Kara no Kokoro escrita por Xokiihs


Capítulo 1
Shining through the clouds


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Era o dia.

O dia em que sua vida mudaria completamente, mais uma vez; o dia em que deixaria de ser apenas ele. O dia que escolhera depois de muito tempo. O dia de seu casamento.

Tinha acordado no meio da noite, suado, sentindo calafrios por todo o seu corpo. A casa estava silenciosa, e a única coisa audível era sua própria respiração. Pesada e fora do ritmo.

Fazia muito tempo desde que tivera seu último pesadelo. Antigamente, eram tão frequentes que raramente conseguia dormir a noite inteira. Desde sua família, após Itachi, tudo o que não conseguia guardar em um canto escuro em sua mente, vinha à tona durante a noite. E, então, todas as suas memórias de infância, de tempos em que tudo era mais fácil e mais feliz, transformavam-se em um cenário sangrento. O sangue de sua família.

Sentou-se, passando a mão sobre a tez úmida. A noite estava quente, abafada, típico do verão. Olhou para a janela aberta, com as cortinas voando lentamente. O céu estava limpo e as estrelas brilhavam por toda sua extensão. Gostava de estrelas; sua luz lhe lembrava de que ainda existia bondade no mundo, apesar de tudo.

Foi até o banheiro, tirando as roupas escuras pelo caminho, e entrou debaixo da água fria do chuveiro. Por um momento, levou um choque com o contraste de temperatura, mas logo relaxou.

Era estranho. Tudo era absurdamente estranho. Quem diria que um dia viria a se casar. Quer dizer, quando era criança, há muitos anos, via seu pai e mãe juntos – naqueles poucos momentos íntimos em que todo o amor que sentiam um pelo outro era demonstrado -, e pensava que gostaria de algo assim quando ficasse mais velho. Uma companheira com quem dividir os momentos bons e os ruins, alegrias e tristezas, e nunca se sentir só. Era confortante pensar assim.

Contudo, depois da morte de seus pais, e de todos da sua família, esse sonho ficou em algum plano perdido em seu futuro; cresceu pensando no que faria, tinha tudo em sua mente, o meio e o fim. Mataria Itachi e reconstruiria seu clã. Jamais passara em sua mente como faria aquilo, mas faria. Então, uma parte de seu plano concretizou, depois de muita luta e anos de dedicação. Finalmente matara seu irmão. A única família que ainda tinha no mundo, o ultimo fio de lembrança de sua vida antiga, e o único que o amara o suficiente para abdicar de tudo. Inclusive uma esposa e uma família.

Após descobrir a verdade sobre Itachi, ser feliz não fazia mais sentido; sua vida inteira tinha sido dedicada a matar uma das pessoas que mais se importaram consigo. A vingança veio com um pesar e dor incríveis, dos quais nunca conseguiria se livrar. Ainda hoje sentia aquele vazio no coração, que não se deixava ser preenchido. E nunca seria.

Depois de tudo isso, veio a Guerra e mais ódio. Cada vez mais ódio, ódio, ódio. Queria que todos pagassem, que todos sentissem na pele o que ele sentiu. Queria que todos assumissem a culpa por algo que ele fez. Eles mataram Itachi, não eu, repetia para si mesmo, tanto que, um dia, chegou a acreditar. Tentou matar o melhor amigo, Naruto. Aquele que também desistiu de tudo para alcança-lo. E, novamente, aquela confusão e raiva de quando era apenas um menino tomaram conta de si, e sentiu-se um estupido.

Por que, Sasuke, está repetindo os mesmos erros? Por que está fazendo a mesma coisa? Já não sentiu dor o suficiente? Por que continua? Já chega, já chega. Chega.

Caiu e achou que, finalmente, morreria. Ele merecia a morte e, acima de tudo, desejava-a. Um fim para todo o seu sofrimento, para aquela solidão que teimava em deixa-lo, de toda a raiva que sentia por tudo.

Entretanto, novamente o destino brincou consigo. E, então, ela voltou à cena.

Sakura.

A companheira de time, e, agora, futura esposa, era uma memoria constante em sua mente. Desde o momento em que a vira pela primeira vez, há muito tempo, quando sequer eram gennins. Estava sentada abaixo de uma árvore, sozinha, comendo o almoço; ela não parecia ter amigos, mas com certeza gostaria de ter. Olhava para as outras crianças com aquele brilho no olhar, o mesmo que ele próprio tinha. Ela queria, mas algo impedia.

Naquele dia, quis se aproximar daquela miúda menina de cabelos cor-de-rosa e uma testa desproporcional. No entanto, o seu orgulho o impediu; era um Uchiha, e Uchihas não iam atrás de ninguém.

Anos mais tarde, Sakura, diferente dele, evoluiu e, finalmente, conseguiu os almejados amigos. Começou a andar com a Yamanaka, criou mais confiança, e, um dia, estava gritando seu nome e dizendo o quanto o amava. A partir daquele momento, em que ela fez o mesmo que as outras, Sakura começou a irritá-lo. Principalmente porque ela não estava mais sozinha, mas ele sim.

Observava-a de longe, em segredo, enquanto ela se divertia e ria com as amigas; assistiu todo o seu desenvolvimento, de menina calada e tímida, para uma falante e animada. De repente, ela começou a reluzir, a brilhar. E é assim desde então.

Sakura tinha um brilho próprio, que envolvia a todos ao seu redor; ela era contagiante. Seu sorriso era um dos mais bonitos que ele já tinha visto, e adorava ouvir sua risada. Nunca admitiria isso, claro. Em algum ponto de sua vida, passou a considera-la uma pretendente em potencial. Não por causa de sua beleza, ou sua alegria, ou de sua inteligência, claro que não. Simplesmente porque ela era do seu time, e confiava nela.

Um dia, tinha feito sua mente. Quando tudo estivesse acabado, Sakura seria a responsável por reconstruir seu clã.

Era estranho como as coisas funcionavam. Tempos depois, conheceu Orochimaru e sua vida, de novo, mudou totalmente. Foi embora de Konoha, e deixou tudo para trás. Inclusive os amigos. Inclusive Sakura.

Desligou o chuveiro e voltou para o quarto, resolvendo sair para caminhar um pouco. Não conseguiria voltar a dormir, de qualquer forma.

Caminhou sem rumo por Konoha, sua vila natal. Há muito tempo, considerara aquele lugar o seu lar. Mas, agora, era esquisito andar pelas ruas sem que uma memoria dolorosa despertasse. Tinha nascido ali, tinha vivido bons momentos, tinha perdido toda a sua família, tinha feito amigos. E foi embora.

As ruas estavam desertas, com exceção de um guarda aqui ou ali, patrulhando as ruas. Cumprimentava a quem passasse com um aceno de cabeça, tentando ser o mais educado possível – Kakashi o tinha instruído a fazer isso, como parte de sua reintegração a vila. A principio, achou a ideia absurda. Ele não era obrigado a cumprimentar pessoas estranhas apenas por ser socialmente aceitável. Não demorou muito para que se lembrasse de tudo o que fez contra aquelas mesmas pessoas, e, então, cumprimentar se tornou uma obrigação.

Passou pelo Ichiraku, já fechado, pelas várias lojas que Konoha possuía, até chegar naquele lugar especial; a rua era a mesma, assim como o banco. Sentou-se e mirou o céu.

Foi ali que se despediu de Konoha e que teve um encontro cheio de emoções com Sakura. Ela tinha se declarado, novamente, embora aquela tivesse sido a mais sincera que já tinha ouvido. Tentou o fazer ficar e, se fosse honesto, diria que hesitou. Ela demonstrou que ainda existiam pessoas que se importavam com ele; ela, Naruto e Kakashi tinham se tornado sua família. De repente, ir embora pareceu uma ideia ruim.

Entretanto, lembrar-se de sua verdadeira família logo lhe fez decidir de vez; ele iria embora, e ninguém o impediria. Pensando naquele tempo agora, se não tivesse saído aquele dia, muitas coisas poderiam ter sido evitadas. Itachi ainda estaria vivo. Mas e ele? Como estaria? Será que estaria feliz? Teria mudado?

Eram perguntas que sempre se fazia, mas que nunca eram respondidas. E nunca seriam. Foi embora e deixou a todos. Inclusive a Sakura.

Agora, anos depois, estava de volta no mesmo lugar. Sakura deveria estar em casa, dormindo, enquanto ele estava ali, insone, lembrando-se do passado.

O destino era realmente estranho. Casar-se-ia com a mesma menina que deixara naquele banco gelado, no meio da noite. E o faria com uma alegria que há muito não sentia. Finalmente não estaria mais sozinho.

Sorriu, vendo as estrelas brilharem no céu escuro. Assim como o céu, a partir daquele dia, teria uma estrela iluminando sua escuridão.


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