Você é meu mundo escrita por Blue Butterfly


Capítulo 9
Um mundo onde podíamos voar


Notas iniciais do capítulo

Esse mundo se divide em duas partes, a primeira é a de hoje, a segunda será postada quinta ^^



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—Espere, não vá escolhendo mundos por conta própria!

—Ahh, parece que alguém parou de reclamar. Bem, já era hora. Que mundo vai escolher dessa vez?

—Poderia ser um mundo com dragões?

—Isso é um desejo?

—Turca! Mão de vaca! Muquirana! Não vai parar até que eu venda minha alma, não é mesmo?

—Watanuki, não seja tolo. Eu já comprei a sua alma.

—O QUÊ? SUA BRUXA MALUCA, EU NÃO FIZ NENHUM ACORDO COM A MINHA ALMA, EU QUERO MINHA ALMA DE VOL…

—Eu gostei dessa luz.

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—Touya, Kurogane, venham até aqui agora.

—Sim sensei!

Os dois adolescentes se encararam, a voz do sensei estava elevada além do normal, o que nunca era um bom sinal. Sem perder tempo, ergueram seus braços, um dragão azul e outro marrom, ambos ainda filhotes, voaram até eles, subindo por seus peitos e se aninhando em seus ombros.

—O que você fez Suwa? – Touya resmungou chateado.

—Nada, eu juro. Dessa vez não fui eu. Eu fiquei o dia todo treinando com Ginryu.

Touya acreditou, não era do feitio do adolescente mentir, mesmo assim ele gostaria de saber de antemão o que estava deixando seu sensei bravo antes de se aventurar e chegar perto do homem, nunca se sabia quando a data de sua morte podia ser antecipada, ainda mais quando seu sensei era um homem como Seichiro.

Correram até onde o homem estava, perto dele o sensei mais adorável do mundo sorria com tranquilidade, Subaru era o sonho de consumo de todo estudante, calmo, bondoso, incrivelmente habilidoso e cheio de histórias incríveis sobre os domadores de dragões iniciais, somente os melhores tinham aulas com ele. Perto de Subaru estavam dois rapazes, um era seu mais brilhante aluno em cuidados com dragões, um garoto tímido, com pele de marfim e cabelos prateados que regulava a idade com os adolescentes, o outro era desconhecido, com uma pele clara, quase rosada, cabelos dourados que, quando expostos ao sol, resplandeciam tanto que chegava a cegar, e assustadores olhos azuis.

Os dois adolescentes nunca tinham vistos olhos azuis antes, era um evento muito raro que estava mais presente nas lendas do que na vida real. O dragão no ombro de Kurogane se inquietou, cravando suas garras no ombro do rapaz e assumindo uma posição submissa revoltante. Já o dragão no ombro de Touya voou até o garoto de cabelos pálidos com desespero, sem vergonha ou pudor algum, fazendo rir tanto o menino quanto Subaru.

Os dois adolescentes gemeram por dentro, tanto trabalha duro para cuidar de seu dragão e torná-lo um animal feroz e valente para dar nisso: Ginryu estava morrendo de medo e Sakura não podia ficar num raio de dez metros perto do Cuidador sem voar desesperado para ele.

—Olá, Sakura – o menino pálido chamou com carinho, acariciando a cabeça do dragão – Como você está hoje?

O dragão gemeu e grunhiu loucamente, suas asas balançando em pura agitação. De todas as loucuras que sua adorável fera marrom fazia, ser apaixonado pelo Cuidador era a mais bizarra.

—Sakura, volte aqui. Você não está ferida!

O dragãozinho teve a audácia de soltar uma baforada de fogo em direção ao seu mestre, antes de se esconder dentro das roupas do garoto pálido. Claro, se era para ser desobediente Sakura faria questão de o fazer na frente de seu sensei. Seishiro bateu na própria testa, incapaz de esconder sua frustração com a cena, Subaru apenas riu ainda mais, sua mão batendo delicadamente na cabeça do seu aluno, satisfeito com o que acabara de presenciar.

—Antes que eu mande vocês dois para dar comida para o meu dragão, quero lhes apresentar nosso visitante. E Subaru, diga ao seu aluno para devolver o dragão do Kinomoto.

—Yukito-kun, por favor, peça para a Sakura ficar com seu mestre por enquanto, tenho certeza que você poderá cuidar dele mais tarde.

O menino obedeceu entregando o dragãozinho, mas não sem antes ter a coragem de piscar para o adolescente humilhado.

—Bem, pelo menos Ginryu ainda está com você Suwa – o sensei grunhiu mal-humorado – Deixe que lhes apresente nosso convidado. Este – e apontou para o garoto loiro – É Fay, ele veio até nossa academia para aprender tanto sobre cura quanto sobre a luta com dragões, ele passará as manhãs com Subaru e a tarde com vocês, quero que respondam todas as perguntas que ele fizer e permitam que ele use seus dragões se ele assim o pedir. As mesmas regras que vocês seguem ele também seguirá, o que significa que se eu sonhar que você está pensando em sair da academia e levá-lo junto, Suwa, eu vou fazer você limpar a caverna do meu dragão por um mês inteiro.

Kurogane engoliu em seco. Só ele sabia o que era a caverna daquela fera.

—Como é evidente – Subaru começou com tranquilidade – Nosso convidado é um tanto especial. Por favor, tratem-no com educação e o protejam enquanto ele estiver com vocês. Eu deixarei que Yukito acompanhe vocês durante a tarde, assim ele também aprenderá mais sobre a luta, além de ajudar a responder as perguntas de Fay. A partir de amanhã a nova rotina começará.

Os adolescentes concordaram, não eram malucos de não o fazer. Em todo o tempo, o garoto loiro permaneceu quieto, olhando com cuidado para os dois dragões presentes, seus olhos azuis levemente alargados. Era a primeira vez que ele via filhotes de dragões, em sua família ele estava acostumado com feras já crescidas e assustadoras, temperamentais e mal-humoradas, prontas para consumir tudo em fogo. Aqueles dois filhotes pareciam adoráveis, ele quase pediu para tocá-los.

—Caiam fora – Seichiro ordenou para seus alunos – Eu não quero ver suas caras feias até o jantar.

Subaru riu novamente, Seichiro era tão malvado com seus alunos que mal parecia que ele se importava com eles, quando a verdade era outra. A chegada do garoto tinha mostrado isso, por trás de toda raiva e tratamento mal, Subaru enxergava além e via os ombros tensos e a preocupação afundando nos olhos do sensei. Tinha sido um pedido inesperado, a família Fluorita limitava ao máximo seu contato com outros pessoas, reinando no norte, eles eram uma das três famílias D., um título raro e supremo usado para os que tinham uma conexão sobrenatural com os dragões. Para aquelas pessoas, a fera não voava no céu e estava sob seu comando, a fera estava dentro da pessoa, acorrentada a seu coração, mais poderosa do que qualquer outra criatura. Desde cedo os D. eram treinados para manter o equilíbrio e controle absoluto sobre si, mantinham uma rotina rigorosa que adestrava seu corpo e sua mente para lidar com seu dragão sem se render ao seu poder e se tornar presa da fera. Quando um D. não conseguia ter o controle sobre seu dragão interior, cabia a um membro das três famílias matá-lo.

Vendo os adolescentes correndo para longe o mais rápido que podiam, Sakura berrando a plenos pulmões dragonianos para voltar aos cuidados de Yukito, os senseis trocaram um longo olhar. Seichiro não tinha certeza se aqueles dois moleques eram a melhor escolha, Kinomoto tinha dificuldades em controlar Sakura e Suwa era indisciplinado demais para ser totalmente confiável. Entretanto, eles não eram curiosos, não fariam perguntas embaraçosas nem indagariam o porquê se uma ordem direta fosse dada. E para aquela situação, eles precisavam exatamente disso.

—Vou levar Fay até o quarto que lhe foi oferecido – Subaru contou se afastando e levando os dois meninos com ele – Nos vemos no jantar. A propósito, Kamui queria falar com você. Algo relacionado a te esquartejar e te dar de comida para o dragão dele por causa de certo compromisso que você quebrou de última hora. Se fosse você, eu tomaria cuidado por onde ando.

E se foi, rindo e conversando animadamente com os dois meninos. Uma veia prometeu estourar na testa do sensei malvado. Ele deveria saber, Kamui era o louco-possessivo-sádico-deturpado-irmão mais velho de Subaru, e uma vez que o sensei tinha decidido ser mais do que amigável com o irmão mais novo de Kamui, os portais do inferno pareciam mais próximos a cada dia, ainda mais depois que ele acidentalmente deixara Subaru esperando por ele na chuva por quase uma tarde inteira. Engolindo seco, o sensei olhou ao redor, preocupado. Talvez ele devesse dormir com seu dragão aquela noite. Só por garantia.

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Kurogane não ia socar a árvore mais próxima. Ele não ia. Sua mão estava a ponto de quebrar. Ele controlaria sua frustração. Inspire. Expire.

—Que merda, Ginryu, é apenas uma lagartixa. Vocês são quase parentes, seu pedaço de carne medroso.

Para ajudar, Touya rolava no chão, rindo desesperadamente, o valente dragão azul de Suwa permaneceu em cima da árvore, tremendo com medo da lagartixa no chão. Kurogane estava prestes a voltar a praguejar quando o som de passos se aproximando atraiu a atenção dos dois adolescentes. Não foi preciso muito para saber quem chegava, Sakura desesperada era um anúncio suficiente.

—Boa tarde – Yukito cumprimentou, já erguendo a mão para segurar o filhote de dragão manhoso – Espero não tê-los feito esperar, houve uma pequena confusão essa manhã e alguns dragões precisaram de cuidados. Subaru-sensei pediu para informar que o sensei de vocês foi afastado por dois dias por causa de um ferimento.

—Seus ferimentos são graves? – Touya pediu se aproximando do garoto pálido.

Fazia três semanas que eles treinavam juntos todas as tardes, Kinomoto já desistira de prender Sakura sempre que Yukito estava por perto, o melhor era deixar seu dragão se afogar no amor com o Cuidador até que ela resolvesse voltar para seu domínio.

—Não, Subaru-sensei conseguiu convencer Kamui-sensei a parar antes que algum órgão vital fosse arrancado.

Os adolescentes estremeceram. Seichirou podia ser mau, mas quando queria, Kamui levava a palavra vingança um nível inacreditavelmente superior. O garoto loiro se afastou deixando o par conversando, seus olhos azuis fixos no dragãozinho em cima da árvore. Naquelas três semanas ele tinha observado tudo com atenção, fazendo inúmeras anotações. Ele perguntaria algo sempre de forma indireta, um cochicho inaudível para Yukito que repassaria a pergunta para um dos dois Lutadores, era evidente sua vontade de tocar em um dos três filhotes – Yukito vez ou outra traria seu próprio dragão, Shoran, para passar a tarde com eles. Não era preciso acrescentar que Shoran era corajoso, disciplinado, quieto, obediente e inegavelmente poderoso.

Mas até aquele dia ele não fizera nenhum movimento de aproximação além de olhar atentamente cada criatura.

—Hey, se quiser pode tocá-lo, não é como se ele fosse te atacar ou coisa parecida – Kurogane ofereceu irritado, nem para manter uma pose feroz seu dragão servia.

O garoto loiro o encarou surpreso, olhos azuis arregalados. Por reflexo ele olhou para o lado, esperando que Yukito estivesse lá para intermediar a conversa, até se lembrar que ele tinha sido quem se afastara. Sem paciência, o moreno pulou erguendo a mão e agarrando seu dragão de qualquer jeito, além de ter medo de tudo que respirava, Ginryu também tinha medo de altura, por isso o máximo que o ousava subir era no primeiro galho.

—Aqui, pode tocá-lo – mandou estendendo o filhote trêmulo em direção ao loiro.

Com cuidado, Fay estendeu as mãos, recebendo com cuidado a criatura, seus olhos azuis enterneceram como nunca tinham feito até então, um sorriso bobo e aconchegante brincando em seus lábios.

—É tão quente – murmurou para si mesmo.

Mesmo assim Kurogane ouviu. A voz do loiro era doce e melodiosa, lembrava um rio fazendo seu curso, o sol aquecendo a terra pela manhã, flores se abrindo na primeira semana de primavera, um pequeno dragão saindo do ovo…

Ginryu se aquietou naquelas mãos, parando de tremer, o dragãozinho chegou a erguer as asas, se ajustando melhor no formato pequeno das mãos pálidas, antes de erguer sua cabeça e olhar atentamente o garoto loiro, hipnotizado por aqueles olhos azuis.

—Ele gosta muito de você – Fay comentou olhando com encanto a pequena fera – Suas lembranças estão repletas de você, ele se lembra do primeiro encontro, quando você o abraçou tão forte que quase o sufocou, ele se lembra de todas as vezes que o mandou ser corajoso e o protegeu quando ele estava com medo, lembra quando ficou doente e você cuidou dele, não saindo de seu lado até que ele melhorasse.

—O que você está fazendo? – Kurogane exigiu espantado.

Fay o encarou, havia um estranho brilho prateado naqueles olhos azuis que era arrepiante.

—Desculpe, eu esqueci de lhe contar, como um D. eu posso ler a mente de um dragão se ele o permitir.

—Ah. Tudo bem. Não é como se… O QUÊ??????????

Touya foi atraído pelo grito nada discreto do moreno, Yukito manteve a compostura, cedo ou tarde ele sabia que aquilo aconteceria, só não esperaria que de todos os dragões, seria Ginryu quem primeiro confiaria a Fay suas memórias.

—D.s podem ler a mente de um dragão se o dragão permitir – o Cuidador explicou em alta voz indo para perto da dupla com Touya ao seu lado, Sakura firmemente agarrada em sua camisa – Embora seja uma capacidade rara até mesmo entre os D.s, a maioria deles não consegue fazer isso sem causar ciúmes em seu dragão interior.

—Eu não tenho esse problema – Fay comentou baixinho, acariciando com delicadeza o pequeno filhote.

—Seu dragão é tão bem controlado assim? – Touya pediu com descrença.

—Eu não tenho um dragão.

Os três garotos congelaram, chocados demais com a informação. Aquilo não podia ser verdade. Um D. sem seu dragão interior não era uma existência possível, a menos que…

—Eu não sou um Assassino – Fay garantiu, um sorriso suave e tranquilo nos lábios.

Assassino.

Era o termo usado para aqueles que tinham a capacidade de matar dragões. As três famílias D. tinham seus próprios, eram eles que mantinham o controle sobre feras que destruíam vilas e matavam sem piedade. Naquele mundo havia cinco categorias: Lutadores, Cuidadores, Assassinos, Terrenos e, a mais rara de todas, Dominadores.

Os Lutadores como Touya e Kurogane ganhavam um dragão quando eram muito jovens, sua função era acompanhar o crescimento do filhote e ensiná-lo a ter controle e obedecer ordens, quando o dragão se tornava um adulto, mais ou menos quando o Lutador completava vinte anos,  tanto o dragão quanto quem o acompanhara eram incumbidos para guardar uma vila ou alguém importante. Assim como esses, o Cuidador também recebia um dragão desde pequeno, entretanto seu ensinamento era apenas sobre controle e velocidade, já que a principal função de um Cuidador era garantir a saúde das feras. Era o que Yukito pretendia se tornar.

Terrenos era o nome dado àqueles que não tinham habilidade para comandar dragões, eram as pessoas comuns que dedicavam sua vida a outras funções não relacionadas com as feras.

Os Assassinos eram uma categoria a parte, formados apenas dentro das três famílias de D. num processo longo e tortuoso, eles podiam ser contados nos dedos e eram fundamentais para manter a ordem, ainda mais quando um D. perdia o controle e seu dragão interior assumia. Quando aquilo acontecia, era preciso que tanto o D. quanto seu dragão fossem destruídos e somente um Assassino poderia fazer isso.

Entretanto, não havia uma academia que formasse aquela categoria, Assassinos não eram educados para isso, e sim criados para isso. Através de um longo ritual que matava a maior parte de quem dele participava, o escolhido para o cargo deveria ter seu dragão interior destruído. O ritual consistia em deixar o D. no delicado limiar entre a vida e a morte por cinco dias, nesse período o dragão interior do D. surgia para proteger seu hospedeiro, como o ritual era feito com crianças, o dragão interior ainda era um filhote e era fraco, assim que ele aparecia o dragão mais forte da família, normalmente o do patriarca, lutava e devorava o filhote, destruindo-o. O sangue do filhote era recolhido e depois transfundido no escolhido. Se ele sobrevivesse ao sangue do dragão em seu organismo, nascia um Assassino.

—Minha família precisava de um Assassino – Fay contou com sinceridade, seus olhos focados em Kurogane – Eles tentaram primeiro com meu irmão, nós éramos gêmeos e eles tinham grandes expectativas em relação à ele. Infelizmente meu irmão não resistiu ao ritual e morreu. Minha família não esperava que o aconteceu fosse acontecer, nunca antes havia existido gêmeos na nossa linhagem, tampouco nas outras famílias, então ninguém sabia qual efeito teria para mim destruir o dragão interior do meu irmão.

Fay se calou, respirou fundo, como se organizando os pensamentos dentro de sua cabeça, Kurogane franziu a testa, já prevendo onde aquela história levaria.

—Irmãos gêmeos não tem um dragão interior para si, eles dividem o mesmo dragão, pelo menos foi o que nosso patriarca concluiu – Fay murmurou, seu olhar recaindo de volta para Ginryu.

—Quer dizer que, tentando criar um Assassino, sua família destruiu o seu dragão? – Touya pediu, zonzo com a informação, ele sempre tinha sido um pouco mais lento para aceitar novidades.

A única resposta que recebeu foi um sorriso bobo e um dar de ombros. Yukito ajustou os óculos, olhos de âmbar estudando o garoto a sua frente como se fosse a primeira vez que o visse na vida. Foi Kurogane quem finalmente quebrou o silêncio, andando decidido para perto do garoto loiro, não era justo perder um dragão assim, sem poder lutar por sua fera. Perder seu irmão também não devia ter sido fácil, o moreno tinha uma irmã mais nova e mesmo que ela fosse absurda na maior parte das vezes que estavam juntos, insistindo em usá-lo como capacho e modelo pessoal para suas roupas, ele a amava profundamente. Perder aquilo que se ama era triste, porém pior ainda era perder e chafurdar em autopiedade para sempre, coisas ruins aconteciam o tempo todo, se você não estivesse pronto para seguir em frente e superar, então você não era digno de sobreviver.

—Eu não vou ser idiota e dizer que você deveria pedir um dragão filhote para criar, acho que ter um dragão interior é uma experiência que não se compara a nada deste mundo. Mas, se vai ficar com Ginryu enquanto estiver aqui, é melhor treiná-lo um pouco, ele já é mimado demais sem você fazendo carinho nele o tempo todo.

Fay riu de leve, encarando olhos de sangue com cuidado. Havia algo naquele tom azul que realmente arrepiou o moreno, uma sensação estranha que ele nunca tinha sentido antes fazendo coisas engraçadas com seu estômago. Aquelas palavras eram justamente o que o loiro tinha desejado ouvir, ele queria tanto que alguém o olhasse como uma pessoa comum, sem formalidades desnecessárias que só indicavam um respeito vazio de significado, sem piedade falsa e palavras de consolo que de nada adiantavam, sem lamentar o destino do pobre garotinho como se a vida tivesse acabado para ele.

Fay tinha tido perdas, mas ele ainda estava vivo, ainda respirava e achava a vida um máximo. Ele ainda tinha sonhos e queria se tornar alguém importante, ele tinha quase onze anos e já sabia que o mundo era imenso e a vida muito curta, seu irmão tinha pedido que ele fosse feliz um pouco antes de ir para o ritual e Fay pretendia cumprir esse pedido. Foi por isso que ele soltou numa respiração só:

—Tudo bem, Kuro-pi.

E antes que qualquer um dos três compreendesse realmente o que o loiro dissera, ele já tinha partido, correndo para longe e levando Ginryu junto. Meio segundo depois um moreno o seguia xingando metade do inferno. Ninguém dava apelidos para Kurogane Suwa e vivia para ver o sol se pôr.

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—Isso foi… Diferente

—Este é um mundo bem otimista, acho que conviver com dragões fez com que as pessoas dele se tornassem mais fortes e resistentes às perdas, Watanuki.

—Mesmo assim, tenho a impressão que nele Fay perdeu muito também.

—Nem sempre você pode escolher o que acontece em sua vida, algumas coisas simplesmente vão ocorrer e você tem que lidar com elas. O que está decidido não pode ser mudado, Watanuki. Fay não ofereceu o irmão para ser o próximo Assassino de sua família, ainda assim ele sofreu as consequências dessa escolha.

—O que vai acontecer a partir daqui? Eu não entendi muito bem, Fay ainda é um D.? E se ele não for, porque ele pode ler a mente dos dragões?

—Ele ainda é um D., Watanuki.

—Mas sem um dragão interior? Ele não deveria ter morrido quando seu dragão morreu?

—A história deles não termina aí, há coisas que precisam ser descobertas e explicadas, encontros que precisam ser feitos e relações que devem florescer. O que posso adiantar é que Fay ficará muito mais tempo na academia do que ele imaginou. Mas isso já é outra luz, quase outro mundo que precisa ser tocado.

—Eu quero ver a continuação desse mundo.

—Mais um desejo?

—Já levou minha alma, quer levar o que agora? Minhas calças???

—Credo, Watanuki, por que eu ia querer algo tão aterrorizante quanto uma visão de você sem calça? Embora eu tenha certeza que é um ótimo artigo de troca, Doumeki-kun tem um saque especial em que eu estou de olho faz tempo, talvez, com a motivação certa…

—NUNCA, SUA BRUXA PERVERTIDA!!! Eu odeio você. Eu realmente odeio você.

—Claro, Wa-ta-nu-ki. Claro.


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Notas finais do capítulo

Vendendo as calças do Watanuki em 5, 4, 3, 2, 1....
(Doumeki aparece do nada e as rouba primeiro)
E ai, o que acharam do capítulo?



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