Ela sentia o vento agitar seus longos cabelos castanhos enquanto corria. Eles eram muito mais belos do que os sedosos cabelos negros de sua irmã mais velha, embora para ela, a irmã é que era a mais bela. Mesmo que seu irmão mais velho, seu melhor amigo e muitos rapazes do reino afirmassem o contrário, ela não acreditava, e talvez nunca fosse acreditar. Quem poderia culpá-la por pensar assim? A irmã mais velha poderia provocar guerras com sua beleza. Ela se contentava em ser a serena portadora da paz, a jovem rainha que aconselhava os irmãos. Que, no momento, não estavam ali.

Ela sentia suas faces queimarem, e o coração latejando no seu ouvido. Tinha atravessado toda a Cair Paravel em uma corrida, e agora estava empolgada. Quase podia ver a "linha de chegada": o seu melhor amigo, que passou o dia fugindo dela. E ela estava se divertindo muito com isso! Ela se agaixou perto de uma mureta, e ficou à espreita.

O fauno saiu de trás do grande carvalho, que ficava no centro do jardim particular. Ele se apoiou nos joelhos, respirando com dificuldade, e passou a mão em seus cabelos castanhos salpicados com pequenas mechas grisalhas. Tirou um lenço de seu cachecol vermelho, e com ele enxugou o suor de sua testa. Ele estava exausto.

Ela tomou fôlego, e disparou de seu esconderijo, derrubando-o no chão. O fauno gritou com o susto, fazendo a rainha gargalhar.

— Ganhei de novo! - ela gritou, enquanto se levantava.

O fauno não se levantou, apenas se arrastou no chão até sentar-se com as costas apoiadas no grande carvalho. Ela sorriu e sentou do lado dele.

— Minhas costas doem... - ele suspirou - Acho que já não tenho mais idade para brincar com você...

— Ora, Sr Tumnus, não fale assim! - ela o consolou - Ainda é um fauno jovem! Tem centenas de anos pela frente!

— Ora!... - Tumnus riu, passando a mão em seus cabelos - A idade chega para todos, minha pequena! Olhe só para você. Já é uma moça, quase adulta. Logo vai se casar e ter um monte de filhos...

— Corta essa, não quero ouvir esse papo de velho! - ela cruzou os braços, irritada.

— Tudo bem, Lúcia. - ele suspirou, encarando os olhos azuis da amiga - Você me venceu cinco vezes hoje. O que você quer como recompensa?

A garota sorriu, seus olhos brilhando.

— Quero uma de suas histórias!

— Ah! Mas já te contei todas... - ele suspirou.

— Pois deve ter alguma que eu ainda não ouvi! Faça um esforço! Você viveu muitas aventuras! - ela insistiu - Por favor!

— Aventuras... - ele riu, enquanto coçava a cabeça, e media o tamanho de seus chifres com a ponta dos dedos. - Acho que tem uma sim, que eu ainda não contei. Mas eu era ainda um fauno muito jovem, nem chifres eu tinha... E o meu pai ainda estava vivo...

— Oba! Vou ouvir uma história da sua infância! - ela disse, animada.

Tirou o cachecol do amigo de seu pescoço, dobrou-o em formato de travesseiro, e o colocou na relva. Ela deitou sua cabeça nele, e permitindo que o fauno trançasse seus cabelos como quisesse, ela fechou os olhos, esperando para ouvir a história.

— Eu ainda era um fauno muito jovem, quando tudo aconteceu...