I Give It A Year. escrita por Julia Brito


Capítulo 2
II. Distance Between Colors.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725978/chapter/2

Gostaria de dizer que o que senti, quando sai do consultório fora alivio, mas na verdade foi algo bem diferente.  Não podia negar que era uma sensação um tanto quanto boa, mas a ideia de Mark me fazia sentir, um pouquinho, ridícula demais.

Assim que botei os pés para fora do prédio, senti meu celular vibrar indicando uma mensagem de uma Sophia histérica com a minha demora para a prova de vestido de madrinha para seu casamento.

Isso me fez pensar se eu devia ou não contar a ideia de Mark para ela. Analisando que sempre fomos muito próximas e que ela me conhecia melhor do que ninguém e visa e versa, eu sabia exatamente qual seria sua reação á história e dessa forma, também sabia o quão nervosa ela ficaria se eu não lhe contasse. Entre a opção de ser zoada ou odiada pela minha irmã, cheguei ao veredito que a primeira era mais satisfatória.

Para ela.

Por isso, meu próximo destino era a Starbucks no centro da cidade, para onde eu marchava apressada e a qual seria minha penúltima parada antes de me atirar no meio dos lençóis da minha cama.

Depois de alguns minutos e algumas esbarradas, em pessoas que pareciam mais apressadas que eu, abri a porta do lugar, ouvindo o sininho irritante soar em cima da cabeça e atrair atenções desnecessárias. Se existiam momentos em que eu queria me enfiar em um buraco e nunca mais sair, aquele com certeza encabeçava a lista.

Após o pequeno momento pseudo-constrangedor, ergui minha cabeça, equilibrando meus livros nas mãos, e segui até Soph, que segurava um risinho frouxo no canto dos lábios.

— Vai, pode rir. - Murmurei irritada, jogando os livros na cadeira ao lado, sentando-me em sua frente. - Tive um péssimo dia, sis. Parece que todo mundo olha para mim e quer rir! Tem alguma placa em néon na minha testa exigindo esse tipo de atenção?

— Seu problema, sis. — Sophia riu baixinho, tocando minhas mãos por cima da mesa. - É que você usa palavras demais, quando podia simplificar as coisas e não uma placa na sua testa.

— Você é bem sincera. - Murchei. - Librianos não são sinceros.

— E você é muito antissocial, geminianos não são assim.

— Eu sou de sagitário. - Rolei meus olhos, fazendo a bufar e dar de ombros. - Mas esse não é o ponto aqui, o que você queria?

— Ai Emily, você é muito lerda. - Bateu na própria testa, demonstrando estar indignada comigo e também consigo mesma, quase como se tivesse se esquecido do que tínhamos de fazer. Em seguida, levantou-se da mesa, deixando a gorjeta embaixo de seu copo vazio. - Eu te disse na mensagem! - Continuou antes mesmo de esperar uma resposta, pegando um pouco dos meus livros com os braços e indicando os outros com a cabeça para que eu fizesse o mesmo. - Rose decidiu que não gosta de vermelho e eu quero tudo combinando.

Ergui-me do meu lugar, imitando seus movimentos anteriores e depois seguindo-a até a porta, esperando que estivéssemos do lado de fora para poder responde-la.

— Vermelho não é uma cor muito legal para madrinhas mesmo. - Murmurei pensativa, recebendo um olhar que ordenava que eu consertasse o que disse. - Que tal azul?

— Não. - Abanou o ar com a mão livre, apressando o passo. - Pensei em salmão. Você ficaria linda de salmão!

Neguei, quase como se fizesse diferença o que eu achava sobre aquilo. Mas não custava tentar.

— Salmão é rosa. - Constatei, olhando-a de lado. - Você sabe que eu não gosto de rosa.

Sophia riu, parando de andar abruptamente, me assustando antes que eu notasse que já havíamos chegado.

— É por causa das suas fotos constrangedoras de família, onde tudo é rosa em você, menos o seu cabelo? - Perguntou brincalhona, me fazendo fechar a cara. - Por falar em cabelo, já passou da hora de tirar esse preto, você parece uma gótica semimorta.

— Não vou pintar o cabelo. - Decretei, seguindo-a loja a dentro. - E não vou usar rosa.

— É salmão! - Soph grunhiu irritada, jogando meus livros sob a poltrona. - Você vai usar sim ou vai usar amarelo!

Aquelas quatro ultimas palavrinhas, faziam salmão me parece uma ótima opção. Mas eu não a deixaria saber disso. Jamais.

— Oi Sasha! - Sophia saiu saltitante, quase como se soubesse que não precisava esperar minha resposta, que já tinha me convencido. - Essa é minha irmã mais nova. Emily, essa é a Sasha. - Apontou para mim, chamando-me para perto. Fui relutante, mesmo que sustentando um sorriso no rosto. - Eu estava falando para Emily, como ela ficaria linda com aquele vestido salmão que você me mostrou semana passada! - Revirei meus olhos ao ouvir a palavra "salmão". Acho que nunca mais ia comer peixe na vida. - Pode pegar para ela experimentar? Acho que não vamos nem mesmo precisar ajustar. Emily emagreceu muito no último mês.

Abri a boca em descrença, assistindo a moça se afastar, provavelmente indo procurar o tal vestido.

Aproveitei o momento a sós e puxei Sophia pelo braço. Quando minha irmã começava a falar, parecia que não havia nada no mundo que a fizesse parar. Éramos muito parecidas nisso. O que me fazia querer dar uma bofetada na cara dela. Soph era mestra em me fazer passar vergonha, principalmente quando já tínhamos discutido por algo no dia, por mais bobo que tivesse sido, aquele era seu gatilho.

— Não gostei desse lance de "Emily emagreceu muito e blah blah". Ela vai achar que eu estava muito mais gorda do que já estou!

— Sis, usar 40 não é vergonhoso. - Sophia deu de ombros. - Além do mais, com esse par de peitos e de coxas, você não ia entrar em um 36.

— O quê? - Enruguei minha testa, um tanto quanto confusa. As coxas eu entendia, mas... - O que meus peitos tem haver com isso?

— Academia três vezes por semana têm te feito bem. - Deu de ombros. - O que era grande ficou ainda maior.

— Isso está ficando muito incesto-lésbico, Soph. - Repreendi. - Obrigada pelos elogios, mas sua amiga está voltando com meu vestido de dama do horror.

— Você é madrinha, não dama de honra. - Minha irmã corrigiu contra gosto, batendo palminhas quando a tal Sasha se aproximou. - Era esse mesmo!

Eu não podia negar que era bonito. Na verdade, era maravilhoso. Mas nunca, nem mesmo sob tortura eu admitiria isso em voz alta, por isso amarrei a cara e caminhei até o provador, com Sophia em meu encalço.

— Eu acho que você deveria deixar suas madrinhas escolherem a cor do próprio vestido. - Alfinetei, entrando no cubículo, começando a tirar meu jeans e camiseta.

Ela me ignorou, ficando em silêncio por alguns minutos, fazendo com que eu pressentisse que ela queria me perguntar algo, mas não sabia como.

— Vai levar alguém para o casamento? - Indagou, após alguns instantes.
Congelei em frente ao espelho, com o vestido torto sob meu corpo. Depois de um longo suspiro, terminei de ajeita-lo e me encarei. É, ela estava certa.

Aquele vestido salmão era bonito e eu tinha ficado bonita.

— Por que eu levaria? - Disfarcei meu desconforto rindo, saindo do provador receosa. - O casamento é seu, você quem tem que estar acompanhada.

Sophia pareceu não se abater com meu comentário um tanto quanto amargo, e se aproximou sorrindo largamente. Eu podia jurar que seus olhos brilhavam ao ver que eu usava um vestido que não era preto. Revirei os olhos.

— Primeiramente, você está deslumbrante. - Segurou-me pelos ombros, parecendo com uma mãe orgulhosa pela filha. Esbocei um sorriso, mamãe nunca havia exercido aquele gesto conosco. - E, eu gostaria sim de ver minha amada irmã caçula acompanhada e feliz.

— Posso ser feliz sozinha. - Dei de ombros, fazendo-a rir baixinho. Em seguida, baixei meus olhos envergonhada. - Me desculpe reclamar do vestido antes mesmo de experimenta-lo.

— Você é minha irmã mais nova, Ems. - Ergueu os pés para beijar minha testa. Mesmo com um salto de uns 10 centímetros, Sophia ainda era bem menor que eu. - É sua obrigação discordar de mim só para me irritar.

Ri baixo, tentando fazer com que soasse forçado, impedindo-me de demonstrar minha gratidão pelas suas palavras. Não importava o que acontecesse, eu sabia que poderia contar com ela no final do dia. E foi por isso que eu criei coragem para entrar no assunto da ideia de Mark, totalmente segura de que ela me apoiaria, claro, depois de algumas risadas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I Give It A Year." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.