Três Anos escrita por Mia Lehoi


Capítulo 4
Insônia


Notas iniciais do capítulo

Dei uma editada na sinopse e na capa da fanfic!
Boa leitura, ladies and gents



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Denise bufou, encarando irritada a janela do carro de Sofia. Estavam a caminho do prédio de Aninha para a noite do pijama e a ruiva já se arrependera umas mil vezes de ter pego aquela carona.

— Sério mesmo, Denise? – Sofia murmurou, sem desviar os olhos do caminho – Elas merecem saber, afinal o Xavecão mesmo disse que todos vocês corr...

— Não! – interrompeu – Eu não quero contar! Olha Sofia, eu sei que você quer me ajudar, mas eu aposto que essa carta é só drama do Xavecão. Vai ver ele só quer se aproximar da gente, sei lá. Não vou estressar as meninas com isso!

— Você só pode estar brincando com a minha cara, né? – a outra rebateu, indignada – Você acha mesmo que depois de cinco anos ele ia aparecer só pra fazer charme? Tá na cara que a coisa é séria!

— Eu... – a garota tentou argumentar, mas não sabia o que falar – O que você quer que eu diga? Oi meninas, o Xavecão mandou dizer que estamos em perigo e provavelmente vamos morrer, mas enquanto isso não acontece vamos ficar aqui de boa tomando champanhe!

— Tá, tá! Eu sei que ele não deu informações suficientes... – deu uma pausa – Mas eu acho que pelo menos para a Mônica você devia dizer. – deu de ombros – Pra a Magali também. Ainda acho sacanagem vocês esconderem dela aquele lance dos poderes...

— É mais seguro se ela não souber. – Denise girou os olhos, ao mesmo tempo em que o carro parou na calçada – Eu prometo que vou pensar em falar pelo menos com a Mônica, mas não hoje.

— Bom, já é um avanço. – Sofia sorriu – Prometo que não dou um pio. Pelo menos hoje não.

As duas deram a discussão por encerrada ao ver o portão automático do condomínio abrindo. Sabiam que mesmo que continuassem falando por horas, nunca chegariam a um consenso.

Aninha já as esperava, junto com Mônica, Magali e Marina. As quatro conversavam sobre bobagens e faziam uma bagunça enorme na cozinha, preparando um par de pizzas. O apartamento era pequeno, mas aconchegante e muito bem decorado com coisas que a anfitriã acumulara nas muitas viagens que fizera os últimos anos. Na parede da sala havia um grande mapa-múndi onde ela marcava com alfinetes coloridos os lugares que já visitara e os que ainda queria ver. Era impressionante como ela se tornara uma mulher decidida e cheia de vida.

— Chegaram as atrasadas! – Mônica cumprimentou, sorridente. Todas se cumprimentaram rapidamente, fazendo comentários sobre como estavam com saudades e tudo mais. Era bem difícil se encontrarem durante os semestres letivos, por isso momentos assim se tornaram muito importantes entre elas.

Denise se apressou para vestir seu pijama e dar um jeito nos cabelos. Quando voltou as outras já haviam colocado uma seleção de músicas animadas para tocar e batiam um papo divertido sobre as últimas novidades.

— Nossa, eu fiquei de cara quando soube que ele tinha feito isso! – comentou Marina – Mamãe disse que viu ele e o Nimbus no aeroporto no dia que foi me buscar... – continuou, fazendo a ruiva entender sobre quem falavam.

— Se vocês vissem como ele está... – Magali deu uma pausa, tentando pensar num adjetivo. – Diferente... – completou, arriscando uma olhadela para Mônica. Todas as meninas encararam a dentucinha, curiosas por sua reação.

— Ah Magali, pode desembuchar o que você realmente tá pensando! – ela girou os olhos, aborrecida com o fato de que até hoje as amigas ficavam tensas quando falavam de seu ex.

— Ok, ok... Tá um gato. Todo tatuado, roqueiro, diferentão... Enfim, vocês podem imaginar! – a comilona deu de ombros, fazendo pouco caso.

— Sempre foi, né. – Denise deu uma risadinha – Mônica se fazia de santa, mas aposto que fez bom uso do equipamento...

— Credo Denise! – a menina corou – Talvez eu tenha feito, mas isso foi há eras né...

— E o Cebola, hein? Já chegou? – Ana perguntou, apoiando-se no balcão onde Magali picotava alguns morangos para a sobremesa.

— Ainda não. Ele vem amanhã cedo. Viajou pra São Paulo por causa de um projeto de software que ele e uns colegas da faculdade desenvolveram com o... – se interrompeu, o olhar viajando em direção à Marina. Finalmente ela entendeu porque as amigas ficavam tão constrangidas ao mencionar seu ex perto dela.

— Franja? – a morena completou, arqueando as sobrancelhas. – Não precisa começar a chama-lo de Você Sabe Quem. — deu uma risadinha sem graça.

— Ai mona, a gente nunca ia imaginar que logo o casal perfeição ia se separar, né... – continuou Denise.

— Casal perfeição... – Marina riu ironicamente – Ele mudou muito, gente. Eu também, lógico! Mas ele... – suspirou pesadamente.

— Como assim? – Sofia perguntou, curiosa.

— Ah, vocês sabem... O Franklin sempre foi um cara bem ambicioso, mas acho que isso começou a ficar entre nós.

— E não rola mais nada entre vocês, Mari? – perguntou Aninha.

— Sinceramente eu não sei. Faz tanto tempo que a gente não se vê... Confesso que tô um pouco nervosa com isso.

— Tem gente que nunca deixa de causar uma faisquinha na gente... – Denise deu uma risadinha sem graça. Até pensou em mencionar Xavecão, mas preferiu não dizer nada naquele momento.

— Não vou nem perguntar o que essa frase enigmática quis dizer. – Mônica riu.

— Aposto que depois ela mesma vai contar! – continuou Magali, fazendo as outras rirem e Denise fechar a cara.

— O Cascão também só chega amanhã, né? – Sofia desviou o assunto, porque sabia que o risco de Denise dizer coisas das quais se arrependeria depois era bem grande, a amiga a agradeceu com o olhar pela intervenção.

— Na verdade... – Magali mordeu o lábio inferior tentando não parecer triste. – Eu não sei exatamente quando ele vem. Ele ainda tem algumas obrigações com o time antes de ficar de férias. – sorriu sem graça.

— Bom, agora ele é um astro do basquete! – Marina sorriu, tentando passar um pouco de conforto à amiga. Ela vivera algumas situações parecidas com aquela nos anos em que namorara à distância. – Tenho certeza de que ele vai ter muitas coisas legais pra contar quando chegar! – comentou, antes que prosseguissem para o próximo assunto.

Denise levantou-se do colchão onde se remexia há um bom tempo tentando adormecer. Desde a maldita carta ela não conseguia ter uma única noite de sono saudável. Se debatera por um bom tempo sobre o que devia fazer e até agora não chegara à nenhuma conclusão. Queria contar ao namorado sobre o conteúdo, mas temia que isso fosse gerar novas discussões. Então recorreu à sua boa e velha amiga Sofia, que como sempre a recheara de conselhos. Até hoje a ruiva se esforçava para ser mais aberta sobre seus próprios sentimentos, embora não fosse tarefa fácil.

Falar sobre os outros era sempre menos comprometedor.

Mônica estava sentada na varanda do apartamento, igualmente insone. Lia alguma coisa no celular, obviamente entediada e sorriu quando viu a amiga chegando, feliz por ter companhia.

— Também com insônia? – Denise puxou assunto, embora a resposta fosse óbvia.

— Nem sei quando foi a última vez que dormi bem, Dê. – ela riu – Acho que depois de tantas coisas que eu passei na vida é impossível ter um sono regular...

— Sempre me orgulhei de dormir igual uma pedra, mas... – sorriu – É difícil dormir quando tem algo me preocupando.

— Xavequinho ou Xavecão? – a dentucinha tentou, sabendo só pela cara espantada da outra que adivinhara a razão. – Aquele papo de faisquinha não enganou ninguém.

— Ah. – murmurou, sentando-se ao lado da outra no chão. – Xavecão. Um pouco o Xavequinho também, mas... Ele me mandou uma carta. Sabe, o Xavecão.

— Uma carta? – Mônica arqueou as sobrancelhas – Pra alguém que veio do futuro isso é bem inusitado.

— Acho que aquele futuro sem celular deixou ele meio doido da cabeça. – a outra girou os olhos, abrindo um sorrisinho – Ele disse que tem um grande mal de aproximando da gente.

— Novidade... – Mônica riu. – Deu mais algum detalhe?

— Espera aí! – a menina respondeu, indo nas pontas dos pés até a mesa onde estava sua bolsa. Sabia que havia jurado para si que não ia falar sobre aquilo hoje, mas sua intuição a mandara trazer aquele envelope consigo. Levou o papel até Mônica, que usou a iluminação da rua para ler as letras miúdas.

— Uau... – disse, assim que terminou de ler, obviamente assustada – Faz tanto tempo que nada estranho acontece, pensei até que a gente fosse finalmente ter uma vida comum! – arregalou os olhos.

Não pôde evitar se perguntar o que aquilo significava. Ele falara sobre os laços que eles tinham... Estava tudo tão diferente agora. Pensou em Cebola, no estudante bem sucedido que ele estava se tornando. Ambição... Fora esse o sentimento que os enfiara numa enrascada da última vez. Mas haviam aprendido a lição. Estavam mais fortes dessa vez.

Denise por sua vez pensou no Xaveco do presente e no do futuro. Dois homens adultos, que dividiam a mesma alma, mas se tornaram pessoas bastante distintas. Ainda assim, tudo o que mais amava estava presente nos dois. A coragem, o senso de humor, os olhos castanhos. Era confuso demais ter dois dele em sua vida.

As duas garotas permaneceram em silêncio por um bom tempo, pensativas. Foi só quando ouviram um pigarro atrás de si que acordaram, ambas tomando um susto tremendo. Magali deu uma risadinha baixa e se desculpou por ter assustado as amigas.

— Achei que só eu ia estar acordada! – comentou, sentando-se junto à elas. Não percebeu quando Mônica rapidamente escondeu a folha de papel debaixo de sua própria perna.

— Logo você? – continuou Mônica – Lá na faculdade eu só falto ter que puxar ela da cama pelos pés! – sorriu.

— É só chegar aqui que eu fico assim... – Magali fez bico, tristonha. – Tenho o mesmo pesadelo toda noite, vocês acreditam?

— Pesadelo? – Denise arqueou as sobrancelhas. Magali fez que sim com a cabeça e começou a narrar as cenas que se passavam em seus sonhos. Enquanto ela falava, as outras se entreolharam, ambas se dando conta de que era o exato cenário do castelo glacial onde a garota se isolara na realidade alternativa.

— Mas sei lá, é só um sonho idiota. – a comilona deu de ombros, embora não parecesse muito segura do que dizia.

— É só isso mesmo... – Mônica mordeu o lábio inferior, igualmente sem convicção.

Aquilo tudo só podia significar que algo ruim estava mesmo por vir mas ainda assim elas tentaram acreditar que teriam um bom mês de férias e que no fim tudo se ajeitaria.

Não cometeriam os mesmos erros novamente.


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Notas finais do capítulo

HEEEEEY PEOPLE
Vai começar a discórdia! Será?
Bom, o que começou como uma festinha tranquila terminou com algumas revelações... Eu acho que o ritmo da fic está um pouco lento no começo, mas aos poucos tudo está se encaixando. Sou péssima com planejamentos, então o que vou dizer agora pode acabar nem acontecendo, mas acho que Três Anos talvez fique um pouco mais longa do que Dois Verões, porque certas coisas que quero desenvolver aqui carecem de um pouco de lentidão. :P
Eu achei bem engraçado vocês chateadas que o DC não é chamado assim na faculdade! Hahahah Mas eu sempre tive esse headcanon na cabeça. Acho que em parte porque os veteranos normalmente tem a tradição de inventar apelidos pra todos os calouros e, bem, se todo mundo tinha apelido o Do Contra, como o bom diferentão que é, decidiu que não queria mais ter um! Mas não se esqueçam de que no Limoeiro ele vai ser sempre o Do Contra, no matter what.
Já tem muitas coisinhas aqui na fic que são um presságio dos perigos que aguardam a turma. Algumas delas são bem óbvias (como os sonhos da Magali) e outras estão enterradas nos detalhes e entrelinhas (como... Não vou falar pra não dar spoiler!)
Enfim, por enquanto é isso ♥
Muchos besos



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