Meiko

—Então vocês querem juntar-se ao clube? Mas ainda não aconteceu a Cerimónia de Recessão, porque vieram tão cedo?

—Porque sabia que era aqui queria jogar jogar, por isso vim antes de qualquer um. Levaria um grande desgosto se o clube já estivesse cheio.

—Eu vim cedo porque queria dar uma volta pela escola antes de começar a Cerimónia.- Não entendi o porquê de se terem rido. Suspirei- E sim, porque queria apanhar uma vaga na equipa de futebol. Sei que desde o tempo da minha mãe que as vagas femininas também passaram a existir. Uma rapariga por equipa, certo?

—Exatamente.

—A sério? Não sabia disso.

—Claro que não. És um rapaz, não tens que te preocupar com isto.

—É... Talvez.- Riu-se.

—Bem, vocês gostam realmente de futebol, não é?

—Sim! Gosto imenso!

—Claro que sim.- Olhei para a enorme sede do clube. Seria ali que passaria a jogar futebol durante os próximos três anos- Tinha definido desde sempre que me juntaria ao clube de futebol quando chegasse à Raimon.- Encarei novamente a Haruna.

—Sei bem o que isso é.- Fixei o Tenma- Estava desejoso de chegar à Raimon para poder jogar aqui futebol. Estou muito feliz por me poder juntar à Raimon porque a admiro imenso.- Assenti com um sorriso. Eu não podia ter dito melhor.

—Está bem!- após hesitar um pouco, pareceu ter-se decidido- Meiko...- assenti- E Tenma, certo? Pois bem, boa sorte aos dois!

—Muito obrigado!

—Obrigada!

—Realmente te pareces com ela.

—O quê?- Olhei para o Tenma antes de ver a Haruna rir-se.

—A tua mãe.

—A minha... A minha mãe?

—Pareces-te muito com ela.- Forcei-me a sorrir.

—Não concordo.- Ela pareceu ficar admirada, mas eu continuei- Eu não tenho nada a ver com a minha mãe.

Não achava muita piada a que me dissesse algo assim. Adoro a minha mãe e tenho poucas mas belas memórias da minha mãe antes do acidente. Lembro-me da sua doce voz, do seu cheiro, carinho e das suas mãos a passarem pelo meu cabelo, assim como recordo, sobretudo, o seu sorriso e a sua força. Desde cedo o meu tio me deixou ver gravações do vários jogos em que a minha mãe esteve. Conheço cada um dos passes, cada jogada, cada golo e vitória. Em todos eles havia algo que se destacava nela... O sorriso que representava o seu incondicional amor pelo futebol. Eu já mais podia ser comparada a ela, não depois do que fiz.

—Ah! Já agora, poderíamos ver a equipa a jogar?- o pedido do tema fez-me logo acordar- Eles devem estar a fazer o treino da manhã, não?

—Ah, sim! Se não me engano, o treino já deve ter começado no segundo campo.

—Queremos vê-lo! Por favor, deixe-nos ver o treino!- porque razão ele falava no plural?

—Também o queres ver?

—S-Sim...- óbvio que também queria.

Pusemo-nos a caminhar após o Tenma se rir e me deixar envergonhada. Realmente não tínhamos perdido alguns dos hábitos de criança.

—Vejam, já chegamos.- De repente parou- O quê?- começou a correr logo a seguir deixando-nos sem perceber o que se passava.

—O que se passa?

Mal olhamos para o campo, vimos um cenário tudo menos futebolístico. Os jogadores estavam todos no chão, com feridas e a queixarem-se de dor. As ajudantes do clube tentavam que eles se levantassem. Sobravam apenas três pessoas de pé: dois professores e um rapaz com uma roupa roxa extremamente estranha. Aquilo era horrível. E após recuperar do choque, a Haruna desceu até ao campo. Não resistimos a segui-la.

—Treinador Kudou.

—Kudou?- murmurei. Aquele nome era-me familiar.

—Ouve lá, a lutas são proibidas!

—Lutas? Mas eu não lutei com ninguém, não foi?- mais parecia que tinha espancado, porque numa luta ambos os lados saem magoados.

—É verdade. Não nos deu um só golpe.- Aquele parecia ser o capitão da Raimon- Apenas chutou aquela bola.- Deveria referir-se àquela junto aos meus pés.

—A bola que chutou...- continuou o goleiro.

—Um só rapaz derroto-nos.- Aquele tipo devia ter uma força absurda.

—Mas porquê?

—Por que razão fizeste isto?

—Porque o futebol é inútil. Por isso destruí-o, nada mais.- Que louco! Dizia aquilo como se fosse algo completamente normal- Desde hoje, o clube de futebol está fechado.

—Fechado?!- o Tenma não era o único que tinha ficado pasmo com aquela declaração.

—Achas realmente que podes fazer isso?

—Se alguém pode, esse sou eu.- Ele parecia estar a falar a sério.

—Porque odeias o futebol, oh revoltado?- fixou logo os olhos alaranjados em mim após a minha pergunta. O seu sorriso trocista não diminuiu nada.

—Odiar o futebol?- caminhou até mim parando à mesma distância que eu da bola- Só vou dizer uma coisa, loirinha.

—Como?- agora sim! Definitivamente odiava aquele tipo. Estava a testar a minha paciência, e eu já tinha pouca- Para tua informação, tenho um nome, Meiko.

—Muito bem, Meiko.- Disse o meu nome de uma maneira... Só me apetecia bater-lhe- O futebol é uma grande parvoíce...- Puxou a bola para si e deu de seguida dois passos atrás- De que não precisamos.

A bola passou rente à minha face. Não me mexi. Sabia bem que aquilo era apenas uma provocação e mantive-me firme. Se ele me quisesse acertar não teria dado aqueles passos para trás. A bola voou bem alto e quando olhei por cima do ombro, tinha ido direita ao caixote do lixo. Todos ficaram pasmados e eu não podia dizer que também não o tinha ficado

—Por-Porque insultas assim o futebol?

—Insulta-lo? Não se emocione tanto, professora.

—O quê? Como dizes?- ele começava a passar das marcas.

—Ouve lá...

—Alto.- Olhei para o Tenma. Estava cabisbaixo e tremia por todos os lados.

—Tenma...

—O futebol... O futebol não é nenhuma parvoíce. O futebol tão pouco é uma estupidez inútil.

—O quê?- com o chamar daquele idiota, o Tenma parecia ter despertado. Parou de tremer e endireitou-se.

—Bem... Não... É que...

—E quem és tu?

—Eu chamo-me Matsukaze Tenma, e vou entrar no clube de futebol.- O parvo só se riu.

—Sinto muito por ti, mas isso já não existe. Por isso vai para outro clube.

—Mas eu... Eu...

—Nós viemos aqui para jogar futebol. Quem pensas tu que és para não o permitir?- se ele pensava que seria tão branda como o Tenma nas palavras, estava muito enganado.

—Seria uma desgraça se desaparecesse o clube.- Acrescentou.

—Uma desgraça? Está bem, parece que vocês acreditam muito no futebol. Pois bem, vamos ver esse vosso futebol.- Repentinamente, a bola voou na direção do Tenma com imensa força, derrubando-o.

—Tenma!- voltei-me logo para ele. Não ia permitir aquilo- Seu...- antes de poder continuar, também fui acertada pela bola na barriga, fazendo-me cair também no chão.

—Tenma! Estás bem? Meiko!- vi a Haruna correr até ao Tenma, fixando-me.

—Estou... Estou bem.- Que força absurda que ele tinha.

—Como pudeste fazer isso?- ainda que com dores, comecei a levantar-me.

—Porque me irritaram.- Caminhei até ao Tenma e dei-lhe a mão para que se levantasse- Dá-me nervos os que são como eles, que falam do futebol sem saber como é.

—Mas eu sei como ele é.- O Tenma baixou-se e pegou na bola que nos acertou- Sei muito bem como é o futebol.

—Nasci e cresci rodeada de futebol, quem és tu para me dizer que não o conheço?

—Ai sim? Está bem. Então vão ensinar-me, os dois, o que sabem.- Repreendi-me. Talvez tenha falado de mais- Mais... O que vos parece se temos um pequeno duelo?

—Um duelo?

—O que foi loirinha? Não me digas que agora retiras o que disseste?

—Não retiro. Está bem! Tenma!- encarei-o e assentiu com a mesma determinação no olhar. O outro idiota só se riu.

—Muito bem. Então enfrentem-me.

Não ia deixar que ele ganhasse. De maneira nenhuma aquele idiota ia vencer.