A Última Guerra de Percy Jackson escrita por Avassalador


Capítulo 2
O uniforme está sujo


Notas iniciais do capítulo

A continuação. Eu ainda não sei se será um capítulo diário ou não...



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2.

 

O Acampamento Júpiter era muito mais perto de Nova Roma, praticamente ao lado. No entanto, se dirigir a Quíron sempre que uma dúvida surgia já era quase um ritual. Mas não fariam isso agora. Anoiteceu e o Acampamento Meio-Sangue estava do outro lado do país, não seria tarefa fácil. Iriam primeiro para o acampamento romano e descansariam por lá naquela noite. Usaram o carro de Jason para se deslocarem, um Impala de cor roxa. Percy foi sentado no banco de carona e as três garotas ficaram atrás. Foi ideia do próprio Frank que ele fosse sozinho, na forma de falcão, para evitar que fossem em carros separados.  Isso fez com que Percy se perguntasse o porquê de Jason ter um carro se o semideus loiro também conseguia voar. Imaginou que fosse por conta de Piper. Não importava, afinal foi Annabeth quem disse que quanto mais juntos ficassem, melhor. Todos estavam ansiosos e preocupados com a possibilidade de um novo ataque. Hazel, que se sentou ao lado da janela direita, não parava de observar as coisas lá fora. Às vezes olhava para o céu e tentava encontrar Frank para acompanha-lo com a visão. Seu longo cabelo enrolado esvoaçava conforme Jason dirigia. Seu coração pesava como chumbo. Por algum motivo ela estava muito insegura, desde antes do ataque na casa de Percy. Como se um mau agouro a estivesse perseguindo e procurando o momento certo para dar um bote. Ela afastou os pensamentos e abraçou o próprio corpo, coisa que estava sendo muito frequente naquele dia em particular. Já Percy, por algum motivo, não se sentia preocupado. De acordo com o que entendeu aquele homem era uma espécie de mensageiro. A destruição em sua casa foi apenas uma cortesia para que se lembrasse de seguir o que foi dito. Mas não interferir no quê exatamente? Ainda não estava entendendo. Não poderia ser literalmente uma festa, poderia? Descobririam depois, chegaram ao túnel que levava ao acampamento. Decidiram dar a volta por fora, não arriscariam encarar Término nervoso e terem que dar explicações. Seriam mais fácil usar uma das pequenas pontes sobre o rio. Já estavam em Oakland Hills quando ouviram uma grande explosão. Jason freou o carro bruscamente. O veículo deslizou algumas vezes na terra e parou de maneira abrupta. A lua ainda brilhava fortemente no céu.

— Estão todos bem?! – perguntou ele se virando para checar os amigos.

Percy, que estava ao seu lado, saiu do carro e olhou por cima do teto, para a direção do acampamento. Altas chamas cobriam as árvores e os edifícios próximos a Principia, altos o bastante para serem vistos antes mesmo de cruzarem o rio. A Principia era o equivalente a Casa Grande no Acampamento Meio-Sangue. Perto dela ficam os quartéis, mas não podiam ter certeza olhando apenas dali se também pegavam fogo. Era possível sentir tremores abaixo dos pés. Demorou um pouco até cair a ficha: o Acampamento Júpiter estava sofrendo um ataque. Era nítido que as explosões vinham lá de dentro. Vários estrondos ocorriam em diferentes pontos e campistas corriam de um lado para o outro, empunhando armas e gritando táticas. Mesmo um pouco afastados aquela imagem era devastadora. Após todos saírem e se recomporem Frank desceu voltando para sua forma humana.  Ele estava ofegante e com um olhar de desespero no rosto.

— Dei uma olhada lá na frente! – falou rapidamente, se apoiando nos joelhos – estão atacando e parece ser só uma pessoa.

Todos se entreolharam.

— Só uma pessoa? – questionou Annabeth nervosa.

Percy ficou com raiva ao se lembrar do homem que o atacou. Mesmo assim a hipótese de ser a mesma pessoa atacando o acampamento o alegrou um pouco. Poderia dar o troco agora. Annabeth pareceu perceber seus pensamentos e segurou sua mão como sinal de aviso.

— Precisamos ter calma! – disse firmemente – Se apenas uma pessoa está sendo capaz de dar conta de todo o acampamento é porque ele deve ser um sujeito muito poderoso.

Jason estava morrendo de raiva. Cerrou os punhos enquanto olhava seu lar ser destruído. Seus companheiros da Quinta Coorte se esforçando para formarem posições e correndo de um ponto à outro. Queria sacar sua espada e atacar, usar tudo o que sabia para exterminar seja lá quem for o idiota. Mas sabia que Annabeth tinha razão, o inimigo deve ser poderoso. Já não era mais pretor no acampamento, Frank é quem tinha o posto. E a julgar pela expressão do grandalhão ele não estava muito contente também. Entretanto, seu senso de liderança era provavelmente uma das coisas que sempre iriam permanecer com ele. Entraram todos juntos no meio do caos. Correram para atravessarem uma das duas pequenas pontes de pedras sobre o Pequeno Tibre. Adentraram de frente para os estábulos pegando fogo, com a forte fumaça negra subindo até ao céu. Percy tentou telepatia com algum unicórnio. Sem resposta. Na melhor das hipóteses eles conseguiram sair correndo.

— Droga! - sussurrou.

Ouviram estrondos e passaram a correr para leste dali, tinham que entender a posição. Viam destroços por toda parte enquanto passavam por campistas desesperados. As legiões tentavam se reagrupar mas se dispersavam sempre que outro tremor acontecia.  Frank reconheceu algumas partes das mesas do refeitório estraçalhadas pelo chão. Perguntou-se se o senado e os outros edifícios da Linha Pomeriana no outro lado estariam igualmente prejudicados. Bem mais à frente, no meio do acampamento, viram um aglomerado de semideuses romanos que estavam mais organizados. A Primeira Coorte e a Segunda Coorte tinham espadas, lanças e dardos apontados para algum lugar acima de suas cabeças.

— Olhem! – gritou Hazel apontando para lá – É a Reyna!

Era verdade, Reyna estava ali no meio deles. Estava dando ordens e gesticulava muito, gritando com as Coortes algo que não conseguiam ouvir. Jason correu na frente para lá e o restante o seguiu. Os tremores continuavam como se um bomba explodisse em intervalos curtos de tempo em cada parte do acampamento.

— Reyna! – chamou ele abrindo caminho entre os legionários.

Reyna estava completamente coberta por uma armadura clara e reluzente de ouro com uma longa bainha de couro na cintura. Seu manto roxo de pretora dava a ela um ar de graciosidade em contraste com seu olhar feroz. Seu cabelo trançado caía por um ombro e por debaixo de um típico elmo da guarda pretoriana. Ela estava alterada e teve de parar um pouco para reconhecer quem a chamava. Mal podia acreditar no que seus olhos a mostravam. Viu os outros chegarem e arfou com surpresa.

— Jason! O que estão fazendo aqui?

Jason iria responder, mas Annabeth o interrompeu.

— Viemos ajudar – avisou ela – o que está acontecendo?

Nesse momento outra explosão aconteceu, dessa vez mais ao sul. O chão tremeu mais forte e Piper cairia se não fosse segurada por Frank. Os semideuses que estavam ali reunidos começaram a correr para diferentes pontos, provavelmente para aplicarem as instruções de Reyna. Por Roma! - eles gritavam. A pretora se recompôs preocupadamente e apontou para cima, no céu escuro.

— Aquilo está acontecendo!

Levantaram a cabeça para seguirem a direção e avistaram algo branco no céu. Foi aí que entenderam porque estavam apontando as armas para cima. Lá tinha um homem. Era de se impressionar pois ele estava simplesmente em pé, como se houvesse um chão invisível no ar. Percy reconheceu a vestimenta branca sendo a mesma do homem de antes, mas a luz da lua o permitiu notar também que não era o mesmo cara. Esse tinha o rosto bruto e olhos fundos, com um cabelo preto em corte militar. Ele mexia os braços de um lado pro outro como se estivesse tentando matar um mosquito. Sempre que fazia esse movimento surgia uma onda azul em forma de arco que era disparada na direção de onde ele balançava seus braços. Sua expressão demonstrava que estava entediado. Parecia que destruir acampamentos secretos era algo que fazia todo dia no trabalho de manhã.

— Não é ele – falou Percy para que todos entendessem que não se tratava do mesmo inimigo. Reyna não entendeu.

— Ele quem, Percy? – tratou de questionar.

— Depois falamos disso – apressou-se Annabeth novamente – precisamos detê-lo.

Reyna assentiu concordando, um pouco frustrada por não estar a par no assunto. Jason usou seus poderes para levantar voo e foi em direção ao homem. Seus amigos protestaram mas ele não deu ouvidos. Agora que sabia quem estava destruindo seu lar estava na hora de cobrar explicações.

— Frank, dê suporte a ele! – exclamou Annabeth olhando para o amigo, quase em tom de ordem.

Frank prontamente se transformou em uma águia e foi em direção aos dois para rodeá-los de uma distância satisfatoriamente segura. O homem de branco, notando a presença de Jason, fingiu um falso interesse.

— Ah, mas o que é isso? – questionou enquanto o olhava de lado e apoiava seus braços atrás das costas – Seria um adversário?

Jason jogou sua moeda de ouro imperial para cima transformando-a em sua famigerada espada.

— Parece que sim! – respondeu o semideus com forte imposição.

Era possível notar a ira no olhar de Jason. Frank voava em círculos torcia para que seu amigo não fizesse nada comprometedor ao ponto de se ferir ou coisa pior. O inimigo levou uma mão até o queixo, enquanto a outra ele manteve atrás das costas. Demonstrava estar intrigado.

— Creio ser a primeira vez que vejo um do seu tipo voar – observou curioso – e ainda por cima carrega um artefato bem interessante aí, não é? Permita-me perguntar seu nome.

Jason sorriu mas por dentro seu sangue fervia. Ele levantou a espada e a abaixou rapidamente apontando para o homem. Assim, um grande raio descontrolado desceu de cima dele rasgando o céu em uma velocidade assustadora e acertou seu oponente em cheio. O impacto causou um barulho ferrenho e fez com que ele caísse com tudo no chão, gerando algumas descargas elétricas. Estava na hora de devolver exatamente todos os danos que o acampamento tinha sofrido até então.

— Caraca! – comentou Percy vendo o golpe do primo lá de baixo.

Os outros também encaravam surpresos. Piper até sentiu uma pitada de orgulho do namorado. Ficaram mais surpresos ainda quando o homem se levantou de onde havia caído. A queda foi ainda mais assustadora já que a terra foi substituída por uma pequena cratera. Foi semelhante a um míssil sem a parte da explosão. Ele, porém, apresentava no máximo alguns arranhões e agora estava sorrindo. Passou as mãos cobertas por luvas pelo manto branco, certificando-se de que não estivesse sujo.

— Peço-lhe que tenha cuidado com meu uniforme, rapaz – pediu enquanto voltava a olhar para Jason acima – Vossa Majestade é bem rígida com limpeza.

Jason estava de olhos arregalados. Aquele ataque seria o suficiente para matar qualquer monstro que o recebesse.

— Mas o q...

Num piscar de olhos o homem já estava novamente no ar, poucos centímetros na frente de Jason. Antes que o semideus completasse a fala, seu inimigo o golpeou fortemente com um soco no estômago. Seus amigos lá embaixo arfaram. Jason, sem demonstrar qualquer emoção além de incredulidade, passou a cair lentamente. Felizmente Frank, que estivera voando com prontidão ali por perto, foi rápido e o pegou com suas grandes garras pouco antes que caísse no chão. Voltando ao normal, trouxe-o para o grupo de amigos para que ele recebesse os devidos cuidados.

— Pelos deuses, Jason! – exclamou Piper enquanto se agachava para cuidar do namorado caído. Os outros ficaram em volta, temerosos.

— Ele está bem? – perguntou Hazel.

— Já estive melhor – sussurrou Jason dando um sorrisinho. Um filete de sangue escorria pelo canto de sua boca.

Piper o abraçou levemente. Percy notou que o homem no céu agora enfrentava uma saraivada de flechas, os campistas voltaram a atacar. Sabia que mesmo um ataque em conjunto dos arqueiros não seria o suficiente para pará-lo e deveria lutar. Aproveitando seu momento de distração, sacou contracorrente e avançou lentamente. Não poderia voar como seu primo, o que dificultava as coisas. Quando chegou perto o bastante precisava fazer com que descesse.

— Ei! – chamou – Cara de fuinha!

O homem estava prestes a atacar os arqueiros mas se virou procurando por quem o estava provocando e o avistou logo abaixo.

— O que é que ele está pensando em fazer? – quis saber Hazel.

Annabeth balançou a cabeça sem saber. Seus olhos cinzentos analisavam todo o espaço. Aquela área era aberta, como se fosse uma rua sem saída no meio de uma floresta. Os campistas corriam para se posicionarem em diferentes locações em volta dali. Percy tinha bastante espaço aberto para lutar.

— Fuinha? Mas que deselegante – comentou descendo lentamente.

— Você vai lutar comigo! – exclamou o semideus.

O homem arqueou a sobrancelha fina. Era engraçado, pois seu rosto dava uma impressão brutal, feroz, e o ato não combinava com ele.

— E por que eu deveria me importar com mais uma formiga? – perguntou fazendo pouco caso.

Antes que Percy pudesse responder seu inimigo levantou um braço. Reconhecendo o movimento, sabia que o homem usaria a mesma técnica que destruiu seu quarto e o acampamento. E dessa vez seria um ataque certeiro para matar. O filho de Poseidon já se preparava para desviar quando um rinoceronte brevíssimo veio de um lado e atacou seu adversário. O homem foi arrastado por alguns metros pendurado no chifre do animal. Percy estava surpreso, estático. Só então percebeu que se tratava de Frank e chacoalhou a cabeça. Frank depois de alguns segundos jogou o homem em um canto do chão e se afastou, indo para perto do amigo. Ele estava com o chifre e o rosto animalesco cobertos de sangue mas não parecia se importar. Percy se sentia assustado pela atitude de Frank mas também agradecido. O inimigo, ferido, se levantou com dificuldade e cuspindo sangue. Realmente não teria hora mais oportuna para esse ataque surpresa.

— Arg! – gemeu – Malditos! Agora meu uniforme está sujo... – falou enquanto procurava por uma árvore que não tivesse destruído para se apoiar.

— Sério que você só está preocupado com sua roupa? – Percy não parava de se surpreender.

Annabeth, Hazel, e Piper se aproximaram um pouco mais da batalha. Jason, que já estava se sentindo um pouco melhor, vinha logo atrás. Pararam para verem o que o homem faria agora que estava à beira da morte. Ele, já sem maiores opções, retirou um pingente de um dos bolsos. Tinha a forma de uma estrela e era platinado. Logo depois de pegá-lo o esmagou apertando-o com a mão. Tendo feito isso seu corpo começou a brilhar. Todos tamparam os olhos por alguns segundos, o clarão era forte. Percy por um momento ficou com muito medo dele ser realmente um deus e estivesse assumindo sua verdadeira forma. Que chances teriam se fosse esse o caso? E quando o olharam novamente, se surpreenderam mais uma vez naquela noite.

— Mas que vergonha! É a primeira vez que uso essa forma contra sua espécie. Agora vocês irão contemplar – anunciou ele – me chamo Jacques Tzvetan, cavaleiro de letra “O” do exército de Vossa Majestade!

Sua forma agora era semelhante a de uma criatura. Quatro longas asas surgiram em suas costas e suas pernas se tornaram como a de um boi. Seus braços estavam mais compridos e seu corpo mais esguio. E a única coisa em si que não permanecia branca era seu cabelo que continuava negro. Era, provavelmente, uma das coisas mais bizarras que já tivessem visto. Mesmo com o histórico de estranheza sendo bem extenso. Jacques sorriu e levantou seus braços teatralmente, brilhando ainda mais sob a luz da lua.

— Minha vez de espalhar o sangue de vocês pelo chão!


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Notas finais do capítulo

É isso!



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