No Time For Love escrita por Unhas Roxas


Capítulo 33
Segunda Prova - parte 2




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  Olhando para cima eu ainda poderia avistar o céu cinza e cheio de nuvens pesadas por cima do milharal, porém se olhasse em qualquer direção só seria capaz de ver até uns dois palmos a minha frente, e depois disso apenas espigas douradas de milho.

   Caminhei durante alguns momentos, o único som que poderia ser ouvido eram meus próprios passos, Percy, Thalia e Robert pareciam ser fantasmas considerando que eles estavam a no máximo três metros cada um de mim. Puxei minha espada, estava um pouco mais aliviado por estar com a armadura e o elmo que meu pai havia me dado.

   Continuei andando, comecei a ficar irritado por não conseguir escutar nada. Arrisquei chamar Percy, minha voz ecoou como se eu estivesse em uma sala fechada, nenhum sinal de vida além de mim.

   Pensava estar indo sempre em frente, mas acabei encontrando as mesmas plantas que eu havia marcado logo quando entrei nesse labirinto maldito, o que me indicava que deveria voltar (ou virar, sei lá qual era a direção) caso não quisesse desistir da prova.

   Estava mudando de direção e havia parado para marcar com minha espada algumas das plantas para eu poder me localizar, quando de repente escutei um grito cortante, eu não fazia ideia de quem era e estava em parte angustiado em parte feliz por ter ouvido outra coisa que não era o som dos meus próprios pés.

  Obviamente com o tolo espírito de querer ajudar os outros, corri em direção ao grito e acabei encontrando um garotinho, deveria ter em torno de 7 ou 8 anos, ele tinha olhos cor de âmbar e cabelos vermelhos, reconheci-o na hora.

   -Menino, o que aconteceu? –Perguntei ao suposto filho de Anna e Robert, chamado Nico.

   O garoto apontou em uma direção, segurei-lhe o braço e andei com ele naquela direção sempre com minha espada na mão e atento a qualquer coisa que pudesse chegar até nós.

   Mais alguns passos e chegamos ao final do milharal, parei, olhei para o garoto, seria aquilo algo para me fazer desistir? Não vejo o porquê eu ficaria com medo de um menino de 7 anos. Os olhos do menino estavam marejados, eu não estava entendendo nada.

   -Nico! Nico! Cadê você? –Eu conhecia aquela voz, ah como conhecia.

   -Estou aqui. –Eu e o meleque respondemos ao mesmo tempo, nos entreolhamos.

   A voz vinha de fora do milharal, o garoto largou minha mão e deu um passo a frente, eu também.

   -Nico! Eu preciso de você! Onde você está?! –A voz, como na primeira vez era chorosa e angustiada. Deixava-me louco.

   -Você não vem? –O garoto perguntou e antes que pudesse ouvir minha resposta correu para onde a voz de Anna vinha.

   Meu primeiro impulso foi correr também. Não podia. Fiquei encarando o nada com um nó na garganta. Tinha total certeza absoluta de que o tal Nico não era real, mas e se Anna me chamando fosse, se tivesse acontecido alguma coisa enquanto eu estivesse aqui dentro desse labirinto? E logo me veio outra pergunta a cabeça, quando seria o suficiente? Quando seria à hora de sair do milharal sabendo que já havia ganhado a prova?

   Dei alguns passos para trás. Ouvi gritos, vários deles, não havia ninguém passando na frente do meu campo de visão, “acho que agora estou começando a entender essa prova.” Angustia, eu transpirava isso. A cada segundo eu olhava para um lago diferente tentando entender o que se passava.

   Dei mais alguns passos para trás, sabia que se eu escutasse a voz de algum conhecido correria sem pensar para saber do que se tratava.

   -Nico! –Olhei para trás de pressa empunhando minha espada.

   -Que susto Robert!

   O ruivo havia chegado ofegante até mim, estava suando horrores e parecia que ia vomitar. Ele me olhava com medo, não imagino até hoje o que aquele garoto estava vendo. Apontou suas facas de ouro para mim da maneira mais errada possível... e tremendo. Murmurou alguma coisa que não consegui entender. Os gritos desesperados continuavam a me perseguir.

   -Você não está bem cara! Senta. –Ele balançou a cabeça atordoado e se sentou no chão.

   -Você... já, já viu alguma coisa?

   -Já, mas nem de longe era o suficiente. Esses gritos são piores....

   -Ah... Eu, eu acho que não dá mais pra mim. E, e seria melhor pra todos mesmo que eu desistisse. –Sua expressão era desespero, angustia, tristeza e raiva.

   -Foi tão ruim assim?

   -Vai ser Nico... –Ele me encarou macabro. –Esses gritos são só o inicio, você pensa que não estou escutando também? Vai ser uma chacina, e ele vai começar por vocês...

   “Socorro... por favor não! Alguém nos ajude!” Ouvimos a voz grossa de um homem, mais gritos e mais correria. O pior era que não podíamos ver nada.

   -Ele vai pegar todos eles, torturá-los e matá-los um por um em frente de seus entes mais queridos e depois jogá-los em uma pilha para o seu cuidar. –Robert continuava.

   Eu agora estava de pé, olhando receoso para aquele menino que havia passado de bebe chorão a vidente maligno em menos de dois segundos.

   -E o pior, é que ele só está usando essa “trégua” para se reposicionar e atacá-los por trás. –Ele terminou e se pôs a minha frente.

   -O que?

   -Francamente di Ângelo, você entendeu não foi?

   -Por que você pensa que sabe disso?

   -Não penso que sei. –Ele abaixou a cabeça.

   “Desse ângulo até parece mais com o Robert de sempre.” Os gritos eram incessantes, lancei mais um olhar para a fenda entre a plantação que nos permitia ver o que se passava do lado de fora, dei um passo naquela direção.

   -Eu sei. Por que você acha que estou na maioria das vezes com mau humor ou brigando com a Thalia? Eu não durmo, por que se isso acontecer, ele vem falar comigo, me torturar com palavras. Ele é o senhor do tempo sabe tudo o que vai acontecer, e me conta.

   -Por que você não contou para nós?

   -Ninguém pode me ajudar.

   -Temos que avisar aos outros!

   -Você vai sair? Com tudo o que está acontecendo ai fora? Tem mais, quer perder a prova? Porque se eu ainda estou aqui significa que ninguém saiu.

   Por um segundo eu hesitei. Mas e Anna? Eu não poderia deixar que ela fosse ferida, já havia me prolongado demais naquela conversa com Robert, e os gritos não paravam. E mais, eu já havia a escutado pedir por ajuda.

   “Esse pode ser o seu medo.” A voz mais inesperada surgiu em minha cabeça, Bianca minha irmã estava falando comigo, trouxe com ela um segundo para eu refletir. Ela tinha razão, como sempre teve enquanto viva. Assim como no sonho, a coisa que eu mais tinha medo era que acontecesse algo com Anna, algo que eu chegasse tarde demais para impedir, como aconteceu com Bianca.

   -Sanders, com que estávamos lutando quando você nos encontrou? –Perguntei encarando-o.

   -É,... Claro que foram, harpias. –Percebi que ele estava mentindo, ele não sabia o que eram, fora um chute, bom, mas não o suficiente para me enganar..

   Em uma fração de segundo pulei para o lado de Robert e o empurrei com toda força recém adquirida para fora do milharal e como o garoto Nico havia feito e eu nem sequer percebi desapareceu em pleno ar.

   “Eu sabia! Aquele Robert estava muito seguro de si e confiante para ser o nosso Robert.” Eu pensei com um meio sorriso no rosto. “E os gritos. Também pararam! Acho que acabei de enfrentar o meu primeiro medo. Obrigada irmãzinha.” Pensei em especial.

   E então eu fiquei sem saber o que fazer. Poderia começar a caminhar de novo, mais só iria me irritar de novo com o silêncio, poderia continuar aqui, mas a probabilidades de me encontrarem seria maior... Fiz para mim um banquinho e me sentei para avaliar minhas possibilidades, mas como todo bom preguiçoso, preferi continuar sentado mesmo pra me poupar o esforço. Escolhi a bela vista de uma fenda com vista para fora do milharal e uma grande construção bem distante.

   Olhei para o céu, ficava difícil saber que horas eram já que desde que eu havia entrado ali o céu não havia mudado. O que era bem estranho por que ele realmente não havia mudado, a mesma nuvem com formato de pônei ainda estava lá...  Me levantei e peguei uma pedra do chão, atirei-a com toda força que eu tinha para cima. A pedra subiu, três, quatro, cinco, seis e pow, a pedra bateu em um teto falso fazendo uma rachadura e quando desceu quase me atingiu.

   “Uau.” Peguei a mesma pedra idiota e arremessei para fora da plantação. Mesmo resultado, a pedra quebrou a parede, que não estava, na verdade, muito distante do final do milharal.

   Pensei que se havia uma parede e um teto, talvez eu estivesse dentro de uma caixa ou algo do tipo. Peguei um caule de milho (N/A: gente não faço ideia de como se chama um daqueles pés de milho da onde dão as espigas, então vai ser caule, mas vocês sabem o que é  não é mesmo?) e encostei-o na parede e fui andando paralelo a ela. Depois de uns 30 minutos andando calculei que deveria ter percorrido mais ou menos 3 km até que cheguei ao fim do milharal novamente, digamos que eu estava na esquina do milharal.

   Na espiga mais alta amarrei um pedaço da minha camisa, eu esperava que ela fosse visível de mais longe. Continuei andando, eu estava indeciso quanto ao que sentir, não sabia se ficava feliz por ter alguma coisa útil para fazer ou se ficava com raiva por estar aprisionado como um hamster.

   Mais 3km, e considerando que eu não estava na esquina do quadrado quando comecei a contar anteriormente essa sala tinha sérios erros. Novamente quando alcancei a esquina amarrei mais um pedaço da minha camisa em uma espiga mais alta. Recomecei a andar dessa vez não consegui passar de um quilometro, algo estava muito errado.

   Eu parei e olhei para o falso céu, a rachadura havia desaparecido, mas o pônei-nuvem estava pela metade. Continuei encarando-o por alguns segundos até a ficha cair. A sala não era errada, ela estava era diminuindo.

   Comecei instantaneamente a ter claustrofobia e a ofegar, mas aquilo não foi o pior por que eu obviamente não tinha claustrofobia, o pior foi o que eu ouvi em seguida:

   -Socorro! Alguém me tira dessa merda! Pai se você me deixar morrer você não vai conseguir salvar o Olimpo ta me entendendo?! Que caralho, alguém me tira dessa porra agora, cacete!

   -Thalia! –Eu gritei em resposta.

   Sua voz estava rouca, provavelmente de tanto gritar e abafada provavelmente por estar também em uma sala de hamister como a minha.

   -Nico?!

   -Sou eu, sua sala também está se encolhendo?

   -Está, e a mais de vinte minutos. Quanto espaço você têm?

   -Acho que estou em uma sala de 1km2 e você?

   -Caralho eu só tenho um cubículo de cinco por cinco!

   -Thalia, você tem claustrofobia? –Perguntei pensando que isso poderia ser o medo dela.

   -Só muito, cacete! Di Ângelo se eu não te conhecesse a mais tempo não pediria isso, mas me tira daqui!

   -Thalia concentra, eles estão testando nossos medos não querem que nós, e principalmente você, morra.

   -Três por três.

   -Se acalma!

   -Puta que pariu, nunca mande uma mulher se acalmar ouviu?!

   -O que você quer que eu faça?!

   -Me tira daqui!

   Essas foram as ultimas palavras que eu ouvi da filha de Zeus, a partir dali ela só ficou gritando e aparentemente lançando raios nas paredes. Tentei falar para ela se acalmar mas não deu certo, de novo. Ela gritou ainda mais forte, e então comecei a ouvi-la sendo esmagada e aquilo para mim foi um basta.

   Apontei minha espada na direção da parede tomei um impulso e comecei a correr na direção dela na esperança de que a minha parede e a dela (ou pelo menos só a minha para depois eu poder ajudá-la) se quebrassem e então minha amiga seria livre de morrer esmagada.


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Notas finais do capítulo

Gostei bastante deste capitulo em especial espero que gostem!
Bjux

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