Lost escrita por Gabs


Capítulo 22
XXII


Notas iniciais do capítulo

De volta depois de uma pequena pausa e adianto que o próximo capítulo já está no forno!
Agradecendo as fofas que me disseram que estão gostando da história, isso é muito importante pra mim e vocês não tem noção do quanto isso me motiva, muito obrigada!
Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723469/chapter/22

 

—O seu apartamento é bem diferente do que eu imaginava, tenho que admitir. -murmurou no que tentava ignorar que Leviathan havia acabado de dizer “mi casa és tu casa”.

—Não tenho certeza de que quero saber o que você esperava, mas bem, o banheiro é para aquele lado e hm… Eu posso te arranjar roupas, se quiser.

—Não precisa, eu cuido delas. -agradeceu indo em direção ao banheiro, a janela do lado direito da sala de estar era familiar de uma forma desagradável, a parede completamente feita de vidro era exatamente igual às da sala de treinamento onde havia passado tantos dias e noites, a simples memória trazia o gosto do suor à sua boca. 

O banheiro era exatamente igual ao que ela havia visto em filmes tantas vezes antes, espelhos gigantescos, uma quantidade anormal de decorações perfumadas e uma banheira grande o suficiente para oito pessoas, e com hidromassagem.

Leviathan realmente gostava de coisas caras.

Apesar das críticas à decoração que ela planejava fazer, estava grata por ele tê-la deixado tomar banho em sua casa, ela nunca havia se sentido tão suja antes, especialmente sabendo que o último banho que havia tomado tinha sido em território vampiro.

Tomou um banho rápido e muito perfumado imaginando o tempo todo o que iriam comer em seguida, os cachorros quentes de mais cedo não haviam ajudado em quase nada.

Saiu do banheiro e encontrou o garoto com roupas limpas e ao julgar pelo aroma, também muito perfumado, que a esperava encostado no sofá com o celular na mão.

—Um celular? Pelos Deuses, há quanto tempo eu não via um desses! Posso ver? 

—Onde você estava esse tempo todo garota? Presa debaixo da terra? -questionou fazendo careta, mas entregou o celular mesmo assim.

—Nossa! Esse é muito melhor do que o que eu tinha antes, mas não importa porque eu não podia usar em Santa Marcelina, lá não tinha uma merda de sinal, era horrível.

—Você veio de lá? —tinha se empolgado e não tinha percebido a informação crucial que havia acabado de revelar. -Como diabos você conseguiu fugir? Aquele lugar é uma fortaleza!

—Eu tive ajuda. -murmurou.

—De quem? Dos Deuses?

—Será que podemos conversar sobre isso depois? Eu realmente sou capaz de comer seu celular agora. -avisou balançando o aparelho em mãos.

—Você não vai fugir do assunto. -avisou abrindo a porta.

—Tudo bem.

Não conversaram muito no que caminhavam até o restaurante, a garota não gostava nem de imaginar que tipo de coisas estavam passando na cabeça de Leviathan sobre ela naquele momento.

Ela não se incomodaria se ele pensasse qualquer coisa sobre si, mas a informação que ele tinha era grande demais. Imaginava que ele provavelmente conhecesse Santa Marcelina por ser um famoso colégio interno para jovens do mundo mágico, e se conhecia, sabia que não era tão fácil assim entrar e sair, então saberia que ela precisava de uma ajuda e tanto pra sair.

O restaurante não era longe e pelo que pôde constatar aquele era um bairro muito luxuoso, todos os prédios e pequenos restaurantes e bistrôs da rua estavam cheios de pessoas que bebiam seus champagnes e vinhos devagar, todos vestidos com roupas caras da cabeça aos pés, sem nada além daquele momento para se preocupar.

O interior do restaurante no qual iriam comer era deslumbrante, luzes douradas e velas decoravam as mesas e todo o ambiente ao seu redor, mas de tudo ali o cheiro de comida era de longe, o mais satisfatório.

—Vamos ficar aqui. -ele indicou uma mesa e assim que se sentaram foram atendidos e então acima do silêncio dos dois a pergunta pairava, e ele não parecia disposto a esquecer o assunto a julgar a forma que ele a encarava.

—Sabe, eu estava lá. -começou.

—Pra ser treinada. -interrompeu.

—Isso.

—O que você é? -semicerrou os olhos na direção da garota, e ela não gostou de ser analisada.

Ações mostram mais do que palavras, então usou o pouco de sua energia que havia recuperado para elevar a chama da vela a sua frente, e ela queimava com tanta força que todas as pessoas das mesas ao lado se assustaram, então num segundo, a vela se apagou.

—Feiticeira, entendi. -ele assentiu.

—Pedimos perdão, não sabemos o que aconteceu, iremos trocar a vela de vocês, e mais uma vez pedimos desculpas. -o garçom estava desesperado pelo que havia acabado de acontecer e tentar acalmá-lo não adiantou de nada, ele se retirou com pressa indo buscar outra vela sem dá-los a chance de dizer qualquer coisa.

—Eu estava lá para ser treinada, sim. Mas algo aconteceu e eu não estava mais segura lá, então tive que sair. -tentou explicar, dando o máximo de si para contar apenas as partes crucialmente importantes.

—E você quer que eu acredite que eles simplesmente abriram a porta pra você sair?

—Eu não quero que você acredite em nada, você quem quis saber da minha história. -sibilou, deixando explícito que não estava gostando do tom que ele estava usando.

Não gostava que ele pensasse que tinha o direito de exigir algo dela, ela estava contando sua história porque queria e contava as partes que julgava necessário, ele não estava em posição para julgar ou exigir nenhum tipo de confirmação de que sua história era verdadeira.

—Tudo bem, olha… Foi mal. -balançou as mãos a frente do rosto e respirou fundo. -É só que isso é muito difícil de acreditar, aquele lugar é muito especial por uma razão: ser impenetrável. E ouvir você dizendo que simplesmente saiu por algum motivo obscuro… É muito surreal.

A comida chegou à mesa e o garçom parecia suar, ela não gostava nem de pensar em que tipo de coisas ele ouviria do chefe mais tarde por causa do incidente com a vela, teve vontade de se desculpar com ele. Mas não havia nenhuma forma de se desculpar sem deixar explícito que ela havia feito aquilo, e além disso, nada que ela dissesse iria mudar o fato de que ele ainda seria culpado por aquilo, então decidiu que manteria a boca fechada.

A comida estava ótima, mas chegou a conclusão de que nenhuma comida humana jamais se igualaria a comida do mundo mágico, nenhum sabor era tão intenso, tão saboroso e tão satisfatório quanto a comida que havia comido lá, mesmo o pão de Santa Marcelina era dez vezes mais gostoso que o prato de camarão que comia agora.

—Gostou? Você comeu bem rápido. -ele ria. -Sei que não é tão bom quanto o que você comia lá, mas você se acostuma.

—Tudo lá é tão deslumbrante e intenso. -comentou bebericando seu vinho.

Sentiu que se referia mais a pessoas do que coisas naquela frase.

—Imagino que tenha ficado menos intenso depois que fui embora. Eu era a alma de Fortress, sinceramente. -gabou-se.

—Fortress?

—É, o reino dos vampiros, governado pelo rei Teagan e pela rainha Earyn.

Então o monstro e a rainha tinham nomes afinal, aquilo lhes deu um ar de humanos, de repente. Não havia percebido antes como odiava não saber os nomes deles, soava tão impessoal chamá-los apenas pelos títulos.

—Ah, eu não sabia o nome.

—Tem certeza de que você estava mesmo em Santa Marcelina? O que diabos eles te ensinavam lá afinal? -indagou o garoto absolutamente incrédulo.

—Eu aprendia a me defender, essencialmente. -não conseguiu segurar a risada devido ao tom do garoto a sua frente, para ele era absolutamente impossível que ela não soubesse esse tipo de coisa se tinha mesmo estudado lá.

Andavam em direção ao caixa com calma e tudo parecia completamente humano, sair para comer, morar num apartamento, usar um celular. Tudo tão puramente humano.

—Quando chegarmos em casa eu vou pessoalmente te ensinar, já que ninguém lá conseguiu fazer o trabalho direito. -declarou terminando de pagar pela comida e indo em direção a rua.

—Obrigada pela comida, e pelo banho… E por ter me levado para conhecer o Dex, foi bem legal. -sentiu-se obrigada a agradecer, quer dizer, ele nem a conhecia e estava sendo tão gentil.

—Não foi nada, eu que agradeço por sabe… Deixar eu me aproximar.

—Não é como se você tivesse me dado escolha, parecia uma criança me enchendo de perguntas.

—E tudo bem porque você não me respondeu e mesmo assim conseguiu me deixar ficar ao seu lado, com uma faca nas costas, é verdade, mas eu não me importo.

De volta ao apartamento recebeu instruções de Leviathan para se sentar no carpete da sala enquanto ele pegava alguns livros que ainda tinha.

Passaram incontáveis horas ali no que Leviathan discursava sobre a divisão do território, como a terra a qual ela antes se referia como “mundo mágico” na verdade se chamava Ellarya, que era um território gigantesco dividido em várias partes, uma para cada povo específico, nas quais eles podiam fazer o que bem entendessem contanto que não afetasse os outros reinos ou revelasse os seus segredos aos humanos.

—Não é meio egoísta ter todo esse poder e não compartilhar com os humanos? 

—A maioria do povo de Ellarya detesta humanos pelo que fizeram durante a Inquisição, sabe… Vou te contar uma história.

“Nós costumávamos conviver com os humanos normalmente, escondíamos menos nossos poderes e usávamos nossas habilidades de forma contida para ajudá-los da forma que podíamos, mas os humanos são criaturas muito gananciosas, e digo isso sendo um vampiro, somos conhecidos por sermos gananciosos, mas os humanos estão muito acima disso, então quando começaram a achar que não estávamos dando tanto quanto podíamos, o que era verdade, começaram a nos caçar, e muitos de nós foram mortos na cama, dormindo, por aqueles que diziam os amar. As bruxas mortas na Inquisição eram realmente feiticeiras, dopadas por poções que elas mesmo haviam ensinado, e queimadas até a morte.

Nossos soberanos começaram a nos recolher e selaram Ellarya com os mais poderosos feitiços e encantamentos que existem para que nenhum humano jamais consiga chegar perto de nós mais uma vez.”

—E como existem tantos de vocês aqui? -indaguei, sentindo um aperto no peito ao lembrar de tudo que havia aprendido na escola sobre aquele período da história.

—A maioria são vampiros, os poucos que conseguem escapar das garras do rei Teagan vem para cá, onde podem ter uma vida melhor ao redor de criaturas inferiores. Dex é um dos poucos feiticeiros que existe aqui, a rainha Fleur e o rei Allerick são bons o suficiente para que ninguém queira sair de lá, ou foi o que eu ouvi. Ás vezes acho que os povos antigos não usavam todo seu poder para não mostrar aos humanos toda sua capacidade numa tentativa de não instigar a ganância, mas não conseguiram.

Um arrepio gelado percorreu as costas da garota, quis fazer tantas perguntas, mas eram específicas demais e Leviathan não sabia que ela já havia estado em Fortress, e gostaria que ele continuasse sem esse conhecimento.

Foram dormir por volta das quatro da manhã, e o sofá de Leviathan era extremamente confortável, mas nem mesmo aquilo e a sensação de segurança foi o suficiente para espantar os pesadelos.

Sua marca queimava no braço e sentia algo felpudo roçar seu pescoço quando um par de olhos rosa de tom pastel e um sorriso com caninos protuberantes lhe cumprimentava.

Você é minha, e vai fazer o que eu disser.

 Saltou no sofá, sua respiração estava descompassada e ela suava como se tivesse acabado de caminhar para fora de um vulcão, olhou ao redor e não havia nenhum sinal de Leviathan.

Levantou-se e lavou o rosto encarando o céu do lado de fora, o horizonte repleto de prédios e antenas de rádio, tão estranhamente acolhedor.

Abriu a geladeira e se deparou com algo que não esperava: estava abarrotada.

O que abria espaço para a pergunta: porque ele tinha levado-a para comer fora se tinha tanta comida em sua geladeira?

Fez ovos mexidos e uma bebida proteica que Max havia lhe ensinado a fazer e sentou-se no sofá e pegou um dos livros que Leviathan tinha lhe deixado ao alcance e ficou até quando o garoto acordou, cerca de três horas depois.

—Você é demais, valeu. -ele se arrastou até a cozinha pegando o prato onde estavam os ovos e indo sentar-se ao junto a ela no sofá, ele possuía marcas no rosto e seu cabelo não podia estar mais bagunçado, seus fios pretos formavam uma coroa para cima em sua cabeça e Katherine quase riu da cena.

—Não foi nada, você tinha tantas coisas na geladeira que eu podia muito bem ter feito um banquete. -ele riu. -Porque me levou lá ontem se tinha tudo isso aí?

—Primeiro: eu não ia cozinhar e com certeza não ia pedir pra você fazer isso. Segundo: um homem sempre pode tentar impressionar uma mulher. -declarou com o indicador erguido.

—Você não precisa tentar me impressionar quando eu já devo tanto a você, Leviathan. -murmurou levando as louças de ambos para a cozinha.

—Você não me deve nada, e por favor me chame de Levi.

Era divertido estar na companhia dele, ele era leve, não a incomodava quando ela queria ficar em silêncio e não exigia respostas a perguntas que ela não queria responder. Haviam andado muito pela cidade juntos e começaram a visitar Dex com alguma frequência depois que Levi contou a Dex (que gentilmente fingiu que não sabia) que Katherine era uma feiticeira.

Dex ajudava Katherine com poções e misturas de ervas de todos os tipos enquanto cuidava dos próprios assuntos, nesse meio tempo em que Leviathan e Katherine passavam tanto tempo na companhia de Dex Katherine acabou descobrindo que Leviathan trabalhava para Dex fazendo entregas e resolvendo alguns tipos específicos de problemas, mas não era sempre que Dex precisava de seus serviços então quando ele não estava em missão ele gostava de ficar junto da garota na varanda do apartamento pessoal de Dex, Leviathan se resumia em comentários curiosos e alguém que gostava de ficar enchendo seu saco enquanto ela tentava tirar notas de seu progresso, mas tê-lo ali também era legal porque tudo que ela fazia, mesmo quando as coisas não saíam como o planejado, ele comemorava como se ela tivesse feito a coisa mais impressionante que ele já havia visto na vida.

Naquele dia ela e o homem espalhafatoso ao seu lado estavam tentando lidar com mandrágoras, retirar os frutos era uma tarefa extremamente difícil uma vez que as raízes da planta se envolviam em si e apertavam com uma força sobrenatural quando se tentava chegar perto dos frutos.

Leviathan estava fora naquele dia, fazendo sabe se lá o quê.

—A coisa com as mandrágoras é que elas nunca vão deixar você vencer. -ele explicou arrumando seu óculos de lentes amarelas no rosto. -Então você quem tem que se transformar para conseguir algo com elas. Tente usar aquele fogo que você já sabe usar, mas tente de uma forma que queime onde a planta te tocar, lembre-se que o poder é seu e você consegue transformá-lo em qualquer coisa que queira. -ele sempre a olhava nos olhos quando falava, e nunca falhava em fazê-la se sentir confiante. -Vamos, eu estou com você.

Segurou a planta em uma das mãos com firmeza, então com a outra tentou agarrar o fruto mais uma vez, e mais uma vez uma de suas raízes a agarrou e a apertou como se ela fosse feita de gelatina, a dor embaçava seus sentidos, mas conseguiu usar sua energia para projetar o fogo, mas a mandrágora apertava demais e sentia que ela estava muito próxima de quebrar seu braço então soltou suas chamas com pressa antes que isso acontecesse, mas seu poder era forte demais.

Quando abriu os olhos a mandrágora estava em cinzas no chão, junto com o pote onde ela estava e todas as outras coisas ao seu redor, Dex estava tentando desesperadamente apagar o fogo de seu kimono.

—Me desculpe, eu não consegui controlar, doía muito… -tentou ajudá-lo e viu quando ele se sentou mais uma vez no chão e devagar segurou seu rosto nas mãos, estava se sentindo tão culpada que poderia chorar.

—Querida, nunca se desculpe por ter esse poder. Não conseguir controlá-lo é comum quando se tem um poder muito forte, e leva tempo. Estou vivo a centenas de anos e ainda existem coisas que não me arrisco a fazer, e você tem dez vezes mais poder que eu, não vai ser um processo agradável, mas você vai conseguir. Só não me queime vivo no processo, amor. Eu não sobrevivi a Inquisição para acabar dessa forma. -ele beijou sua testa e a garota se permitiu chorar um pouquinho, para aliviar a tensão que mantinha nos ombros.

—Obrigada.

—De nada, acho que devemos trabalhar um pouco no seu controle de poder, colocar umas amarras na sua energia pode ser uma boa, só até você conseguir controlá-lo melhor. -ponderou.

—Isso aqui tá fedendo. -comentou Leviathan ao entrar.

Leviathan não sabia ao certo porque Dex e Katherine começaram a rir tanto, mas ficou feliz que estivessem se dando tão bem.

Em mais um dos dias em que treinaria seu controle de poder, segurando seu poder em uma das amarras que Dex havia a ensinado como fazer, por algum motivo não conseguia se concentrar direito. 

—Kate, querida pode vir aqui na frente, por favor? -ouviu Dex chamando-a na boate e quase o agradeceu por tirá-la de lá.

—O que foi?

Dex tinha uma expressão no rosto que ela nunca tinha visto antes, ele estava tenso, nervoso com algo.

O fato de que ele não descontava aquilo nela a fez gostar ainda mais dele.

—Enviei Levi para uma missão hoje de manhã, mas ele não voltou ainda, esse cavalheiro vai te levar até lá e quero que você veja se ele está bem, ok? 

—Você não pode mandar mais ninguém? -questionou com uma pontada de receio.

Não é que ela não quisesse ver se ele estava bem, mas se Leviathan não conseguia lidar com a situação, porque ela conseguiria?

—Não confio em mais ninguém para isso.

Assentiu com a cabeça e engoliu em seco, seguiu o homem para fora da boate e ouviu quando Dex disse que se ela não ligasse em uma hora ele tomaria medidas drásticas, ela não sabia quão drásticas elas seriam, levando em conta de que era de Dex que estavam falando.

Foram de carro para um bairro afastado cheio de bares e pubs, saltou do carro e o motorista lhe disse para procurar pelo Joe’s, era onde Leviathan estaria.

A calçada longa e decorada estava vazia uma vez que ainda faltava cerca de uma hora para o horário do rush começar, quando todos sairiam de seus empregos.

—Sabíamos que viria até nós. -ouviu o murmuro, seu sangue parou de correr nas veias.

Encarou o espaço ao seu redor e não viu nada a princípio, então dois homens saíram de um beco em sua direção, eles vestiam roupas completamente pretas com um único brasão de lua cheia nele, a lua era vermelha como sangue.

—Quem são vocês? -perguntou levando as mãos às facas que estavam presas em suas costas.

—Taegan quer você de volta.

Aquele maldito não desistia mesmo, ele devia ter passado os últimos meses rastreando-a, uma vez que ela não havia saído da cidade nenhuma vez e mantinha uma rotina estável com Leviathan e Dex devia ter sido fácil demais para seus homens armarem uma emboscada.

—Onde está Leviathan? Se tocarem nele…

—Infelizmente precisamos acertá-lo várias vezes, princesa. Traidores como ele não merecem misericórdia.

Ele tinha fugido de Fortress, escapado das garras de Teagan, era um fato que não fazia nenhuma diferença para ela, muito pelo contrário, dormia muito melhor a noite sabendo que ele não teria que se sujeitar às vontades daquele tirano maldito, mas como um vampiro, criaturas tão hierárquicas, ele era menos que um lixo traidor.

Leviathan tinha passado por aquilo por culpa sua, ela sabia disso, eles não teriam ido até ali para castigá-lo se ele não fosse amigo dela, então eles pagariam por cada centímetro de pele dele que haviam tocado.

Tentou acertar um deles com sua maior faca, mas eles eram rápidos demais, logo um deles estava atrás de si agarrando-a pelos braços. Eletrocutou-os e observou quando um deles quase a acertou no rosto, eles pareciam se segurar… Como se não pudessem bater nela.

Era claro, Teagan queria ter a honra de fazer isso ele mesmo.

—Vocês nunca vão nos levar. -grunhiu apontando a espada no rosto de um deles.

—Não queremos ele, só você. -ele sacou o que parecia um cassetete e bateu em suas costelas com força arrebatadora, caiu no chão um segundo depois.

Precisava de alguns segundos para se recuperar, mas sabia que não teria esse tipo de vantagem, não quando eles já tentavam amarrar suas mãos.

Congelou o chão e usou sua faca menor para cortar o tornozelo de um deles e com essa janela saiu correndo em direção ao beco, eram quatro contra um, ela precisava achar Levi logo.

—Levi! Cadê você? Precisamos ir! -chamava o garoto aos berros pelo beco, as costelas doíam como o inferno debaixo de sua camisa e conseguia ouvi-los vindo cada vez mais rápido em sua direção, vampiros são caçadores natos, ela ia precisar de mais que bons golpes para vencê-los.

Viu o garoto jogado ao lado do lixo ao redor de uma dezena de soldados mortos, ele tinha lutado muito antes de ela chegar.

Outros dois homens vieram dos fundos do beco e então estava cercada por seis homens e duvidava muito que conseguisse despistá-los e carregar Leviathan naquele estado.

—Você só precisa vir conosco, sabe que ele não te tratará mal. -um deles tentava se aproximar usando palavras vazias e promessas de segurança.

—Quanto mais tempo você passar longe, mais o garoto vai sofrer.

Não era de Leviathan que eles estavam falando, sabia disso em seu coração. De repente não conseguia mais mover as pernas e não se lembrava mais porque estava ali, sentiu suas amarras se soltando lentamente, tudo estava fora de foco.

—Você não quer que Thomas se machuque, quer?

Era verdade que ela tinha tentado machucá-lo e teria até mesmo matado o garoto naquele dia, mas ela sabia que os ferimentos causados pelo pai causavam muito mais dor do que o que ela podia fazer, sem mencionar a humilhação, e não o odiava mais como já havia odiado um dia.

Já haviam se passado tantos meses sem ter que se lembrar, sem ouvir seus nomes, sem reviver aquelas memórias. Sem se lembrar das pessoas que já havia amado.

—Leviathan, se proteja. -sussurrou e viu o garoto rapidamente se jogar dentro da lata de lixo.

Ela não podia se deixar ser capturada, sabia no que seria transformada, o que fariam com ela e todas as coisas que ela seria proibida de fazer e as pessoas que ela seria proibida de ver, perderia toda a liberdade e autonomia que havia acabado de recuperar.

Tinha acabado de conquistar sua liberdade, mal fazia um ano. Não queria perder aquilo, não daquela forma, contra sua vontade.

Fechou os olhos e sentiu-se ser agarrada na mesma hora em que soltou as amarras de sua energia e decidiu que queimaria todos aqueles malditos vivos.

Sua energia fluiu por seu corpo rápido logo se tornando chamas quentes saindo por cada poro de seu corpo, intensificou para que ficasse ainda mais forte do que o acidente com a mandrágora e ouviu-os gritar, ouviu o fogo consumindo suas roupas, suas peles e sentiu a energia deixá-los um por um e o cheiro forte de carne queimada invadiu suas narinas de uma vez só.

Quando conseguiu reestabelecer as amarras mais uma vez estava fraca, caiu no chão de joelhos e mal conseguia respirar. Ainda não tinha conseguido dominar quanto de sua energia usava para um feitiço forte daqueles sem que acabasse sem força alguma no final.

—Tudo bem? Consegue andar? -ouviu a voz de Leviathan baixa em seu ouvido e um tecido pesado ser jogado em seus ombros.

—Acho que sim.

Seu corpo não estava tão exausto quanto pensou que ficaria, conseguiria até correr se precisasse muito, e demorou cerca de três segundos para entender porque Leviathan havia tirado a camisa para colocar em si, havia queimado as próprias roupas e a camisa preta de Leviathan era a única coisa que a cobria.

Examinou o cenário ao seu redor, as cinzas rodopiando ao seu redor e a fumaça intensa estavam suas pernas, abdômen e braços nus estavam salpicados de cinzas e em seu braço esquerdo haviam marcas roxas onde o soldado a havia agarrado.

Andavam para fora do beco no que Leviathan ligava pedindo para Dex enviar alguém para buscá-los e em poucos minutos aquele pesadelo estava para trás deixando um rastro de sujeira e podridão.

 E ela estava seminua num carro com Leviathan e um homem desconhecido.

—Fico feliz que você esteja bem. -murmurou já incomodada com o silêncio do amigo, ele evitava olhar para a garota ao seu lado a todo custo, levando em conta seu corpo parcialmente desnudo e como aquilo devia ser incômodo, e não sabia como perguntar se ela estava bem, mas soube que sim ao ouvir a pergunta, era tão ela se preocupar mais com ele quando ela havia se tornado uma supernova cinco minutos atrás.

Ele estava machucado, seu supercílio sangrava, seu lábio estava cortado e sua maçã do rosto estava roxa, mas seu orgulho parecia mais ferido do que qualquer outra parte de seu corpo.

—Você foi muito poderosa lá atrás. 

Era embaraçoso falar com ele daquela maneira, ele evitava olhar para ela uma vez que a única coisa que ainda mantinha sua dignidade intacta era uma camisa  que deixava suas pernas completamente expostas, entraram num consenso silencioso de que conversariam quando ambos estivessem em melhores condições.

Quando chegaram no prédio Dex os recepcionou e logo tratou de colocar um de seus kimonos no corpo da garota e subiram para checarem se tudo estava bem e foi assim que Katherine descobriu que Dex era dono de muito mais que só um andar do prédio.

Dois dos seguranças de Dex que estavam no elevador desceram em um andar onde parecia ser a “inteligência” do feiticeiro, o lugar misterioso guardado com feitiços fortes de proteção para que ninguém jamais invadisse, ouviu o feiticeiro ordenar que seus homens fossem para um lugar chamado de “escritório” e esperá-lo lá até que ele terminasse de resolver aquilo.

Leviathan estava sendo examinado contra sua vontade na enfermaria ao lado de onde ela e Dex conversavam e Katherine se esforçava para contar tudo em detalhes sobre quem eram aquelas pessoas e porque elas estavam aqui, Dex prestava total atenção nas palavras que Katherine dizia, tomando todo o cuidado para não interrompê-la mesmo que ele estivesse morrendo de vontade de fazer perguntas.

—E você os queimou vivos?

—Sim.

—Bom, acho que foi pra isso que eu te ensinei, garota. Bem feito. Mas você tem uma grande história pra me contar, começando porque os homens de Teagan querem você. -se encostou na parede e apoiou as mãos no topo da cabeça já parecendo cansado.

—Podemos não falar sobre isso na frente dele? -se referia a Levi que protestava sem parar a cada movimento dos enfermeiros.

O feiticeiro fez um meneio com a cabeça e chamou-a com um movimento de seus dedos longos para que ele a seguisse, subiram para a sala privada de Dex nos fundos da boate cheia como de costume e Katherine contou todas as partes de sua história para o amigo, cada pedaço, cada pensamento, consideração e devaneio de tudo que tinha acontecido naquele ano.

—Você está me dizendo que eu estou abrigando e ensinando a filha da minha rainha, que é namorada de um dos príncipes mais poderosos de Ellarya e que está sendo procurada pelo maior tirano que já habitou Ellarya? É isso que você está me dizendo? -ele andava pela sala e bagunçava os cabelos a cada palavra que saía de sua boca, seus olhos pareciam que iam saltar das órbitas.

—Não estamos mais juntos, ele mentiu pra mim, lembra? Mas o resto é verdade. -encolheu-se na cadeira quando o feiticeiro a encarou, esperando uma reação explosiva.

—Isso é só um detalhe, ele provavelmente também está procurando por você. Mas isso acabou de ficar mais difícil, preciso pensar um pouco. -ele batia os dedos na ponta de seu queixo bem angulado e parecia concentrado.

—Vou deixar você sozinho então. -murmurou saindo de fininho da sala.

—Obrigada por ter me contado. -foi o que ouviu antes de fechar a porta voltando para checar se Leviathan estava bem.

Não esperava entrar na sala e vê-lo apontando uma arma para a enfermeira e três seguranças.

—O que é isso?! 

—Eu já disse que não preciso de atendimento, me deixem em paz.

—Solta essa arma, Levi. -ele a encarou, surpreso por vê-la, mas hesitando em obedecê-la. -Eu ainda consigo queimar você com o pouco de energia que tenho. -avisou aquecendo as pontas dos dedos e colocando na pele nua das costas do garoto.

Foi o suficiente para que ele a deixasse pegar a arma da mão dele e devolver para o segurança.

—Não sabia que você era tão sensível a ponto de rejeitar tratamento. -provocou.

—E o que você e o meu chefe estavam conversando esse tempo todo?

—Ele queria que eu dissesse o que aconteceu, só fiz um relatório. -observou o rosto do garoto e viu que sua sobrancelha continuava a sangrar. -Deita aqui, vou ver o que posso fazer pelo seu rostinho bonitinho.

Ele fez um barulho de protesto com a língua mas não fez nenhum comentário e deitou-se como o garoto obediente que era.

—O que vai fazer? Sabe dar pontos? -seus olhos brilhavam contra a luz no que ele a encarava com um misto de receio e confiança.

—Não, eu ia limpar.

—Então essa é uma boa hora pra aprender. -revirou os olhos. -Não estou dizendo que você tem que fazer pontos em si mesma, boba. Você se cura rápido o suficiente, eu presumo. Mas caso algum amigo seu, tipo eu, se machucar, você vai ser de alguma utilidade. -ele riu no que a garota ameaçou derrubá-lo da maca. -Eu vou te ensinar, vai.

Aquilo exigiu muito de ambos uma vez que ela estava enfiando uma agulha na pele do amigo, ela tinha que aguentar a cena e engolir o sentimentalismo e ele tinha que engolir a dor para continuar instruindo os movimentos da amiga.

—Terminei. -declarou no mesmo segundo em que cortou a linha que os mantinha ali.

—Foi bem. -ele murmurou fazendo cara feia ao se sentar, ficaram se encarando em silêncio por alguns minutos.

—Não vai morrer né?

—Receio que não.

Ficaram em silêncio por alguns segundos no que ele a encarou intensamente.

—Você ainda tá sem roupa, né?

—Vá cuidar da sua vida! -gritou antes de empurrá-lo para longe no que o garoto se acabava de rir, quase foi o próximo a ser queimado vivo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

sem muito que acrescentar, só repetindo que eu amo o Levi :(((



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lost" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.