Foclore Oculto. escrita por Júlia Riber


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Estavam com saudades de ação, correria e monstros? Pois é hoje que eu resolvo isso.



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Cissa e Núbia estavam andando de mãos dadas, mas em silêncio pensativo, logo, porém ouviram um barulho estranho na mata, algo os espreitava.

— Ouviu isso? — disse Núbia imediatamente.

Cissa assentiu e em seguida cheirou o ar e estreitou os olhos.

— Senti esse odor? — perguntou ele.

Núbia assentiu e fez cara feia.

— Me lembra torresmo queimado.

— Que comparação — disse Cissa em uma risadinha, porém logo sua expressão ficou sombria. — Mas isso não é um porco é... um javali.

Ele arregalou os olhos lembrando-se que da ultima vez que viu Curupira, este mesmo disse que alguém pretendia vir conhecer a tal descendente de Edgar, mas que tal pessoa não seria tão racional ou paciente. Dando-se conta de quem seria, ele agarrou o braço de Núbia, puxando-a para perto. Núbia iria questionar, mas logo notou que ele agira daquela forma para protegê-la de algo.

Um berro ecoou pela floresta, como um grito furioso de guerra.

— Corre! — disse Cissa de repente.

Cissa simplesmente correu lado contrário ao som e Núbia não teve tempo de fazer perguntas, somente o seguiu.

Os sentidos da Cabrall então aguçaram e ela ouviu quatro patas duras correrem em alta velocidade atrás dela; duas respirações, a ofegante do animal, e a raivosa de alguém que montava o bicho. As pernas de Núbia então pareceram mais fortes e ela correu em uma velocidade que sequer sabia poder e Cissa com certo esforço, a alcançou.

— Temos que nos esconder — gritou ela ofegante.

Cissa assentiu concordando.

— Mas onde?

Núbia ouviu os galopes do animal mais próximo e cometeu o erro de olhar para trás. Viu um javali marrom avermelhado, com presas de quase quarenta centímetros e o próprio animal em si era enorme para a espécie, com o tamanho de um cavalo. Os olhos e a calda do animal ardiam em chamas e agora a garota entendia o odor de torresmo. Mas como se o javali monstro não fosse o suficiente, a criatura que o montava era pior. Uma índia gorducha com penas de várias cores e tamanhos enroscadas no cabelo emaranhado e duro, maior parte do corpo coberto por trepadeiras e os dentes amarelos. Ela vestia na parte de baixo uma pele de onça parda mal amarrada e na mão direita segurava uma lança artesanal, pronta para espetar a cabeça de Núbia.

— Ah caramba, o que é aquilo? — exclamou Núbia voltando a olhar para frente e correndo mais de pressa.

Cissa não se virou, continuava com o olhar reto, porém:

— É uma índia feiosa montada no javali mais feioso ainda? — perguntou.

— Sim! — respondeu Núbia. — Mas creio que a índia que seja mais feiosa.

Cissa conseguiu rir, mesmo na situação atual.

— Te apresento a Caipora. O Curupira disse que ela poderia aparecer e também disse que não seria muito gentil.

O javali pegou mais velocidade, a índia Caipora gritou agudo e jogou a lança na direção de Núbia, porém por extinto, esta conseguiu se esquivar, todavia isso a desacelerou e logo a Caipora a alcançou, pegando-a pelo cabelo e a jogando no chão.

Caipora desmontou do javali e foi em direção de Núbia. Cissa não pode ajudar, pois o javali aparentemente teimou com ele, e mesmo sem a dona nas costas o comandando, continuou correndo a trás do rapaz.

Núbia se levantou rapidamente, mas Caipora foi mais rápida e pegou um pedaço de madeira que tentou acertar a cabeça de Núbia, mas a menina se esquivou novamente. Como ela queria seu facão de prata naquele momento! Desde que matara o lobisomem com aquela arma, sentia-se forte ao segurar o objeto. Mas agora o jeito era esquivar e tentar ganhar tempo.

...

O javali perseguiu Cissa, mas não notou quando o garoto pegou a lança que Caipora jogara em vão. Ele apanhou a lança com agilidade e correu mais um pouco e ao avistar um galho baixo da árvore, agarrou e subiu no galho, como um ginasta na Barra fixa, fazendo o javali passar reto, mas não muito longe, logo o animal parou se dando conta que não havia mais vítima a sua frente, e antes que voltasse Cissa pulou nas costas do javali e fincou a lança no animal. O javali berrou, Cissa tirou a lança e assobiou chamando reforços (tradução: Curupira). Logo ele deixou o javali caído no chão, porém ainda não sucumbido e foi atrás de Núbia.

Quando chegou e visualizou a cena, ficou estupefato. Lá estava Núbia e Caipora travando uma batalha de madeira, uma nova modalidade que ambas inventaram naquele momento, Caipora com um pedaço de pau grosso, mas seco e Núbia com um gralho também grosso, mas que até continha algumas folhas verdes ainda, o que significava que a menina tinha acabado de arrancar o galho de uma árvore. O que o desespero não faz.

Cissa correu até a briga, mas um tanto tarde de mais, Caipora era bem mais forte e experiente que Núbia, conseguiu tirar o tronco das mãos da garota e em seguida chocou seu pedaço de madeira contra a cabeça de Núbia com tamanha força, que a garota caiu desacordada no mesmo instante.

— Núbia! — bradou Cissa e Caipora o fitou e levantou o pedaço de madeira pronta para mais uma batalha. — Sua índia maldita! — Cissa a fuzilou com os olhos. — Vai se arrepender do que fez com minha menina!

Cissa, tendo anos de treinamento, conseguiu lutar com Caipora de forma quase equilibrada, esquivou-se de todos os golpes violentos, mas irracionais da índia monstra, e com um chute tirou a “arma” dela. Depois com mais um chute no ar, derrubou Caipora e em seguida apontou-lhe a própria lança. Visualizando a inimiga caída no chão, refletiu o quanto vantajoso fora aprender capoeira nos velhos tempos e nos atuais. Entretanto antes que matasse Caipora, Curupira chegou agindo de forma menos impulsiva. Ele arrastava o Javali gigante pelas presas de marfim.

— Oi Caipora, desgraça — disse Curupira com sua voz irritante e como sempre, nada paciente. — Falei para você ficar no norte não falei?

A índia medonha estava deitada no chão com expressão de pânico, enquanto Cissa apontava-lhe a lança. Ele fervia em raiva, mas lembrou-se que mata-la seria mais que desnecessário, seria também a quebra de uma promessa feita a si mesmo anos atrás. Ele então fincou a lança no chão e acenou com a cabeça para o Curupira, um oi e um agradecimento pelo “amigo” ter chegado e o impedindo de fazer uma besteira.

— Não vou te matar — avisou Cissa, ele então fitou Núbia caída inconsciente no chão e respirou fundo —, mesmo você merecendo muito.

Ele foi até Núbia ajoelhando-se ao lado dela, enquanto Curupira falava em uma antiga língua indígena com Caipora, negociando a cura do javali em troca dela ir embora para nunca mais voltar.

Cissa verificou o batimento cardíaco de Núbia e pareciam normais, mas a testa da garota possuía um grande ferimento que sangrava deveras.

— E aí? — perguntou Cissa voltando-se para Caipora.

— Aceita ou não aceita? — disse Curupira que logo apontou sua lança, aliás parecida com a de Caipora, para a garganta do javali. — Ele não é uma criatura natural, é das trevas, não tenho que proteger essa coisa, posso muito bem....

— Não! Não machuca ele — Caipora dizia as palavras com dificuldade, como uma criança que ainda aprendia a falar, porém em tom mais grave.

— Vá embora então, índia maldita — disse Cissa enquanto segurava Núbia no colo. — Sua vingança com Edgar não é valida com a menina.

— E-d-gar... — disse Caipora rangendo os dentes.

— É, esse desgraçado. — disse Curupira, — Olha, entendo esse raciocínio de se vingar daquele bruxo maldito pela descendente do mal, mas confie em mim, isso não vai resolver nada.

— Ele não quer ajudar _ disse Caipora apontando para Cissa _ temos que matar ele, ele disse que ia ajudar e não vai!

Cissa fitou Curupira pasmo.

— Contou para ela do nosso plano?

Curupira deu de ombros.

— É do interesse dela também acabar com Edgar _ ele então voltou-se para Caipora _. Caipora, Cissa vai ajudar, se ele não for eu mesmo o mato, não precisava ter vindo até aqui.

— Eu ajudo a matar _ disse Caipora com um sorriso de orelha a orelha e Curupira somente revirou os olhos.

Cissa observou os dois monstrengos tentando entender a relação de Caipora e Curupira, ele sempre pensou que houvesse uma rixa entre os dois já que ambos tinham o mesmo papel de proteger a natureza, porém faziam isso de formas diferentes. Curupira era mais pacifico (mas não tanto) e Caipora era sempre violenta, não é a toa que seu nome é um praguejo entre os sertanejos e na maioria do país. Porém, as semelhanças pareciam causar certo laço entre os dois e Caipora tinha o um respeito grandíssimo por Curupira, quem sabe por alguma história antiga, que Cissa poderia saber mais tarde, agora tinha outras prioridades.

Cícero levantou Núbia no colo com delicadeza.

— Vou cuidar dela.

— Ótimo, morta ela não serve pra muita coisa _ disse Curupira e Cissa somente rosnou.

— Serve de comida _ opinou Caipora e Curupira balançou a cabeça considerando a ideia.

— Vocês dois são doentes, mais até do que eu _ reclamou Cissa _ vou levar a menina para longe de vocês.

— Faz bem _ disse Caipora com uma risada malvada. _ Eu tô com fome.

— Cala a boca Caipora _ disse Curupira como sempre muito gentil _ Melhor você saber até onde pode protegê-la Cícero Akilah, se quiser cuidar de mais dela, pode estragar tudo.

Cissa suspirou.

— Eu sei _ dizendo isso ele se foi.

Cícero caminhou pela mata em direção a sua casa onde teria material para cuidar do ferimento de Núbia. Não tirou os olhos da garota o caminho todo, estava preocupado e destruído, algo dentro de si dizia que definitivamente ele iria estragar tudo, porque cuidaria sim de Núbia, agora e sempre.

Ele já havia descido o relevo próximo a sua cabana e entre as árvores já observava seu quintal, logo, porém, parou bruscamente.

Na frente da cabana estava Edgar Cabrall, com o corvo Noite em seu ombro e fitando Cissa com um olhar indecifrável.

— E-edgar _ disse Cissa com o coração acelerado.

Edgar fitou Núbia com o rosto ensanguentado e seus olhos ficaram negros.

— O que fez com ela?

Cissa pegou Núbia com mais força.

— Não fiz nada, foi a Caipora, que como a maioria das criaturas, vem descontar na Núbia a raiva que tem de você.

— Eu soube desses incidentes que certamente estão lhe sendo muito apropriados. Quantas oportunidades incríveis de posar de herói, não é?

— Eu ajudo sua neta porque eu quero ajuda-la, porque ela é diferente de você.

— Não me venha com essa conversa Tchê _ disse Edgar agora mais nervoso e começando a caminhar em direção a Cissa _. Ela não te conhece, não sabe quem tu és, não sabe o que já fez! Mas eu sei. E agora entendo o que tu quer, o que sempre quis e como poderia usar Núbia para conseguir.

Cissa levantou a cabeça.

— Eu mudei _ falou ele com firmeza _ acredite você ou não, eu mudei.

Edgar franziu os olhos, depois sorriu cínico.

— Tu podes até ter mudado e o outro?

— Demônio, demônio _ disse o corvo batendo as asas e encarando Cissa com maldade.

Cícero engoliu seco, mas não conseguiu responder aquela pergunta.

— Entregue-me Núbia _ prosseguiu Edgar _ os moradores da vila vão atacar meu sítio, preciso mantê-la em segurança.

— Por que os moradores fariam isso? _ perguntou Cissa.

— Não é da sua conta, mas se realmente se importa com a guria, ou se quer continuar sendo um bom ator, vai deixar que eu a proteja.

Antes que Cissa cogitasse a ideia, uma fumaça negra saiu no cajado de Edgar, cercou-o e cobrindo Núbia.

Cissa tentou pegar a garota com mais força, mas ela pareceu de dissolver em fumaça, quando ele se deu conta, Edgar, o corvo, e Núbia não estavam mais lá.

...

Núbia De Elis Cabrall acordou com a luz da tarde e seus olhos, gritarias, batidas e rojões, inicialmente pensou que estava rolando alguma festa na rua o que era costumeiro no bairro que ela vivia em São Paulo, logo se deu conta que não morava mais em São Paul e que aquilo não era rojões.

— Tiros! _ disse ela levantando em um sobressalto da cama.

Ela olhou em volta, notou que estava em seu quarto, mas como? E a Caipora? E o Cissa? Núbia correu para o espelho e viu que em sua testa havia um grande hematoma vermelho com um corte amplo no centro, mas já limpo e cicatrizando. Lembrava-se vagamente de um pedaço de pau enorme indo em sua direção, o que explicava muita coisa.

Ela foi até a janela e viu um amontoado de gente no quintal, alguns com tochas, outros com enxadas e foices e até pessoas com espingardas e revolver atirando contra a casa, porém, nem um dos tiros chegavam ao casarão, era como se uma parede invisível protegesse todo o arredor da casa, algo bem parecida com a magia que impediu Edgar de salvar Thayna décadas antes.

— Mas que droga é essa? _ murmurou Núbia pasma.

Núbia fitou tudo aquilo bestificada, esperava realmente que ainda estivesse desmaiada e tudo aquilo fosse um sonho, ou quem sabe tivesse morrido na luta com Caipora e agora estava no inferno, por que não?

Seja como for, ela decidiu achar respostas nem que fosse com o próprio diabo. Saiu do quarto e desceu as escadas encontrando Edgar sentado no sofá, bebendo chimarrão tranquilamente, e fitando o corvo Noite que brincava com um rato morto, o jogando para cima e o pegando no ar.

— Edgar _ chamou Núbia já no fim das escadas.

— Bah, guria, achei que não acordaria hoje. Veja, o Noite aprendeu um novo truque.

Núbia fez cara feia.

— Ele brinca com cadáveres, que encantador _ ironizou Núbia _ é sério, Edgar, como pode estar tão tranquilo? Tem um povo lá fora tentando destruir essa casa, sabia?

— É claro que sei, não sou surdo_ disse ele natural _. E o que quer que eu faça? Já coloquei proteção envolta da casa, uma hora eles cansam, não se preocupe.

Núbia bufou e Edgar deu a mínima ao nervosismo dela somente prosseguiu com seu chimarrão e voltou-se ao Noite.

— Muito bem meu caro, tu é um artista, agora se puder sumir com o corpo eu agradeço.

O Corvo muito obediente engoliu ratinho por inteiro.

Núbia não vendo muitas opções sentou-se no sofá ao lado de Edgar, algo que, aliás, jamais fez antes, mas por algum motivo, já não se sentia tão incomodada em ficar perto do tataravô, mesmo ele sendo um cínico sociopata.

Ela apoiou-se nos joelhos e o Corvo se próximo dos pés dela. Núbia apesar de estar brava e magoada pela ave ser um espião de Edgar, não resistiu em dar um carinho no animal.

— Onde me encontrou? _ perguntou ela em tom baixo.

Edgar a fitou.

— Nas redondezas. Estava desmaiada e junto com aquele rapaz— disse ele esperando uma reação, mas Núbia tentou demonstrar indiferença.

— Só preciso saber se... Fez algo contra ele.

Edgar soltou sua risada roca e sem humor.

— Para sorte sua e de Cícero, eu tinha mais o que fazer.

Núbia pensou em perguntar se Edgar estava bravo por saber da relação dela com Cissa, mas decidiu não tocar mais naquele assunto, o que interessava era que Edgar não havia feito nada contra o rapaz, ao menos ainda não.

— Quem são aquelas pessoas lá fora? _ disse Núbia já mais calma.

— Moradores da vila Fim do Mundo, os seguidores de Jorge Montes provavelmente.

Núbia franziu os olhos.

— Vocês são amigos, por que os seguidores do prefeito iriam querer nos matar?

— Digamos que nossa amizade pode ter se fragilizado.

— Por quê?

Edgar fitou Núbia por um tempo.

— Pelo pouco que te conheço, creio que poderá dar chiliques se eu lhe responder com verdade.

Núbia cruzou os braços

— Quem o senhor matou?

Edgar desvirou o olhar e mexeu cuia.

— Acabou o chimarrão _ disse ele se levantando. _ Vou pegar mais, e tu guria, por que não bebe um suco de maracujá? Vai te fazer bem.

Ele já estava indo em direção á cozinha quando Núbia se levantou e foi atrás já nervosa novamente.

— Não fuja do assunto Edgar.

Edgar revirou os olhos.

— Veja bem, foi um acidente, mais culpa dele do que minha. André jamais morreria se não fosse tão fraco, tirei uma quantia miserável de sangue, era só um susto, a culpa não é minha se esse garoto não lutou pela vida como devia.

Edgar deu de ombros, despreocupado, já Nubia o fitava pasma.

— Você matou o André?

— Já disse, a fraqueza dele o matou.

Dizendo isso Edgar foi para cozinha, enquanto Núbia ficou ali, paralisada e pasma. Obviamente ela não sentia nada por André que a fizesse ter luto, nada disso, ela tinha mais pena do prefeito que perdeu o filho do que do falecido em si, mas ela também sabia que tudo era sua culpa. André estava fraco porque apanhou de Cissa mais cedo e o ataque do chupa-cabra foi o empurrãozinho que falta para o abismo. E pior, era que ambos, Cissa e Edgar vingaram-se por ela, mesmo sem ter pedido nada. A grande diferença, porém, é que Cissa ficou arrependido do que fez, diferente de Edgar que estava bebendo e brincando o passarinho de estimação como se nada tivesse acontecido. Outra coisa que Núbia não conseguia entender, era, desde quando Edgar se preocupava com a neta?

A garota balançou a cabeça tentando não pensar em tudo aquilo, sentir-se culpada não traria André de volta, sem contar que ela nem queria isso, a ideia de André estar morto a fazia sentir-se satisfeita.

— Pare de pensar besteira _ disse ela a si mesmo _. Pare de pensar como uma vilã, como Edgar pensaria.

Ela respirou fundo, mas seu estado zen não durou muito, pois logo ela ouviu batidas na parede da casa.

Núbia imediatamente correu até a cozinha.

— Edgar seu feitiço...

— Falhou _ disse Edgar saindo da cozinha já não tão tranquilo quanto antes _ eu sei.

As paredes começaram a ser perfuradas por balas de espingardas e a porta recebeu várias machadadas.

—_ Eles devem ter alguém do lado deles que também entende de magia _ disse Edgar _, mas isso não os faz mais forte.

Edgar pegou o cajado com mais firmeza e sorriu maldoso.

— O que vai fazer? _ disse Núbia já preocupada.

— Nada, só suba para seu quarto e fique lá _ ordenou Edgar.

— Não, eu posso ajudar _ disse Núbia fechando os punhos.

— Você teve coragem de matar um lobisomem, faria igual com uma pessoa? _ perguntou Edgar e Núbia negou com a cabeça _ Então não, não poderá me ajudar, suba.

Núbia o encarou, pasma.

— Não faça nada com eles Edgar, por favor, essa gente acha que está fazendo justiça, estão na verdade _ argumentou ela. _ se você matar mais alguém...

Os olhos de Edgar ficaram negros.

— Suba para seu quarto, Núbia! Eu seu exatamente o que fazer, tu só tem que ficar quieta e não se intrometer, está me ouvindo?

Edgar estava a fitando como se a qualquer momento pudesse lhe pegar pelo braço e leva-la a força, ou, a colocasse novamente em estado de desmaio.

Núbia fungou igualmente raivosa, pensando nas mesmas hipóteses, definitivamente os dois eram muito parecidos e isso era um grande problema.

Pessoas tentavam arrombar a porta da casa com toda força, balas perdidas passavam pela sala e Núbia sabia que discutir com Edgar não serviria de nada, além do mais, ele  era mais forte e se ela não o obedecesse por bem, ele faria por mal.

A garota então só rosnou de raiva e marchou para o quarto.

— Te odeio Edgar! _ bradou ela enquanto subia as escadas.

— Tente não levar um tiro _ disse Edgar indiferente.

As próximas duas horas foram perturbadoras, Núbia somente ficou olhando pela a janela do quarto os moradores de Fim do Mundo sendo empurrados por forças invisíveis enquanto tentavam invadir a casa. Ela pensava apreensiva se aquela multidão revoltada chegaria a cabana humilde e sem proteção alguma em que Cissa morava. Esperava realmente que não.

Logo algo lhe tirou de seus devaneios e colocou um fim na baderna lá fora. Um rosnado grave e horrendo foi emitido da sala. Núbia estremeceu, mas continuou na janela. Viu da porta do casarão sair uma criatura horrenda. Pele escura sem muitos pelos, com orelhas pontudas, presas afiadas, duas com quase trinta centímetros e espinhos na costa curvada. Ele vestia uma camiseta rasgada e uma calça esticada ao máximo, tudo negro, o que confirmou as suspeitas de Núbia.

— Edgar — murmurou ela.

A criatura rosnou e andou lentamente até a multidão que amedrontou e perdeu qualquer pingo de coragem que mostravam até então. Três homens tentaram atacar, mas ao avançarem, Edgar em sua forma Chupa-Cabra pegou dois pelo pescoço e os jogou para longe. Já o terceiro, ele simplesmente pegou pelo cabelo, colocou sua presas no pescoço deste e sugou-lhe um pouco do sangue, o jogando fraco, pálido, mas vivo no chão. Edgar fitou os outros, como se escolhesse a próxima vitima. Em seguida, “pernas pare que te quero”, todos os moradores fugiram, atropelando uns aos outros.

Edgar voltou para dentro do casarão. Núbia sentiu seu coração acelerar. Como aquela criatura podia ter o mesmo sangue que ela?!

Engoliu o medo.

Saiu cautelosa do quarto e foi até o corrimão do segundo andar, onde pode ver Edgar lá em baixo já na forma humana. Ele ainda estava com as roupas rasgadas e o pior, com a boca ensanguentada.

— Esse sangue podia ser seu — comentou Núbia segurando a fúria e desgosto.

— Mas não é — retrucou Edgar frio.

Núbia prosseguiu o fitando com nojo. Mas Edgar somente revirou os olhos com aquilo.

— Pare de me olhar dessa forma, tchê. Durma um pouco, amanhã teremos muito o que conversar.

Mesmo com má vontade, Núbia obedeceu, entrou e bateu a porta de seu quarto. Preferia tentar dormir e esquecer tudo, do que olhar mais um segundo para o monstro de seu tataravô.


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Notas finais do capítulo

Perguntinha. O que acham de uma página no Facebook do Folclore Oculto? Para interagir, postar imagens dos personagens e tals.
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