Castelo de Cartas escrita por Clove Flor


Capítulo 2
Capítulo 2 - wiped out


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Eu escrevi bastante esses dias, tô bem orgulhosa de mim mesma. Eu acho que vou colocar um trecho das músicas dos capítulos como introdução em cada um, que tal?
Esse capítulo ficou meio massante, já que os parágrafos são longos e por enquanto não tem exatamente muito com quem o JK falar em um quarto sozinho, né?

música do cap: wiped out - the neighbourhood
espero que gostem~~



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Lost and afraid
Young and innocent but getting older
I don't wanna be alone

[...]

I need a moment
I don't know what to believe
All I wanna do is leave
What can I say that would make you see?
Make you need me?

O sol da manhã acordou Jungkook antes do horário que ele preferia. Havia esquecido as cortinas abertas e a luz infringia diretamente sobre seu rosto, o fazendo apertar os olhos para esquivar-se. Continuava vestindo o jeans da noite passada e toda sua bochecha direita estava marcada pelas linhas das cobertas. Jungkook poderia estar muito bem aproveitando todo o tempo livre e das milagrosas horas de sono infinitas, mas sentia-se pior do que quando estava em Seoul. Apesar do ambiente muito mais calmo e tranquilo em Maryland, não conseguia relaxar. Talvez seu corpo não fosse permitir isso até que ele estivesse resolvido com os meninos e produtores – ou seja, por um tempo indefinido.

Obrigou seu corpo a levantar, sentindo uma dor aguda nas costas. Nunca mais iria dormir naquela posição, com aquela calça. Eram seis da manhã de uma quarta feira. Havia feito uma compra rápida no Walmart no dia em que chegara para suprir razoavelmente as refeições que faria dentro daquele apartamento e se agradeceu mentalmente por isso ao sentir seu estômago roncar.

Buscou pelo celular ao lado da cama, desbloqueando-o. Nenhuma mensagem. Ótimo. Ele não queria que tivesse, mesmo.

— Hyung, faltam quantos dias para acabar a promoção?

Namjoon olhou surpreso para o menino sentado ao seu lado no sofá. Seu corpo estava curvado para frente, suor escorrendo pelas laterais do rosto – mas o mais velho não sabia dizer se era pela pós-apresentação ou pelo calor do camarim–. Jungkook parecia extremamente exausto, tanto física quanto mentalmente.

— Por que, quer que acabe logo, Kook-ah?

O moreno esfregou a mão nos cabelos, apertando com força os fios.

— Eu não sei. É errado, se eu quiser?

Namjoon se endireitou, olhando ao redor para saber se mais alguém estava prestando atenção na conversa. Não. Ele deveria saber que Jungkook, por ser o mais novo, uma hora ou outra iria se sentir... limitado. Sufocado – assim como todos os membros se sentiram no início–. Era seu dever, como líder, incentivá-lo e apoiá-lo naquele momento.

— Há momentos difíceis na vida, Jungkook, que com o tempo passamos a saber lidar com mais sabedoria. Maturidade. Mas quando nos deparamos com eles, não podemos cair. Você tem todo o direito de estar cansado, estressado e chateado com todo esse tempo fora de casa, mas não pode deixar isso falar mais alto que sua vontade de estar nos palcos. De cantar, dançar, fazer o que te faz feliz. Essas duas semanas vão passar e você vai sobreviver a elas.

A cabeça de Jungkook doía. Sentia-se tonto e com um pouco de ânsia. Já havia dito tantas vezes que não iria mais pensar nisso, mas como poderia? A culpa estava diluída em seu sangue.

Respirou fundo, indo até o pequeno banheiro no corredor. Lavou com força o rosto, tentando acordar do pesadelo que estava a sua vida. Está tudo bem, repetiu para si mesmo, como um mantra que carregava para tentar se acalmar. O coração batia forte no peito, o sangue palpitando nas têmporas. Pegou de uma prateleira de vidro seu frasco de remédio quando sentiu o ar lhe faltar nos pulmões. Havia começado a tomá-lo um ano atrás, quando teve seu primeiro ataque de pânico antes de uma apresentação em Paris. As crises sempre vinham junto de lembranças e uma avalanche de sentimentos que esquentavam seu corpo – mas aquelas pequenas pílulas, com um pouco de água da torneira, ajudavam-no se estabilizar após poucos minutos. Apoiou as mãos na pia, esperando sua pressão sanguínea se normalizar. Estava tentando tanto manter a cabeça erguida, lutando contra seus demônios, mas talvez... talvez não fosse possível ganhar sempre. Era uma presa prestes a ser devorada.

Foi até a cozinha. Em sua geladeira havia comida para ao menos os próximos dois dias. Encontrou em um supermercado pequeno em frente à uma faculdade alguns snacks e produtos que estava acostumado a comer/usar na Coréia.

Encheu um copo de leite frio e pegou alguns cookies, se encostando na bancada. O silêncio do apartamento enchia seus ouvidos e era muito diferente de tudo que já havia vivido. Era tão bom ter... tempo livre.

Jungkook de repente sentiu ansiedade em sair dali. Já havia se perdido algumas vezes na cidade desde o começo da semana, mas queria buscar por mais, conhecer mais. Andou depressa para o quarto, pegando um boné preto com argolas – que havia miseravelmente pego de Jimin sem pedir –, trocou a blusa amassada por uma branca de mangas compridas e enganchou no ombro sua mochila.

O dia estava mais ensolarado que ontem, mas ainda ventava forte. Antes de colocar seus óculos escuros, olhou para o céu rosado da manhã, lentamente se tornando um azul forte. Sentiu o calor do sol recém erguido em seu rosto, esquentando sua pele gelada. Ah, é claro, Jungkook suspirou, fechando os olhos. Ouvia o som de passarinhos piando próximos de uma árvore. Esqueci que havia vida aqui fora.

As ruas largas estavam adquirindo a movimentação dos carros conforme os minutos passavam. Apesar de ser uma cidade pequena, haviam vários – vários— estabelecimentos comerciais que ainda estavam sendo abertos devido o horário. Ele não sabia para onde estava indo, mas queria ir para algum lugar. Seus pés o arrastavam pela calçada e Jungkook sentia-se um tanto livre ao poder dar cada passo sem medo de ser reconhecido.

Já beirava nove horas da manhã quando uma loja chamou sua atenção. Era pequena e em sua vitrine havia vários instrumentos musicais.

Não tinha problema em apenas dar uma olhada, certo?

Tocava um rock antigo que Jungkook não conhecia. As prateleiras cheiravam a lustra-móveis e o ambiente tinha essa áurea confortável de loja americana. Seus dígitos relaram levemente as cordas de um violão branco pendurado na parede. Alguns meses atrás, quando o mais novo demonstrou visivelmente sinais de seu estresse, Seokjin ia até seu dormitório e sentava na beira da cama, dedilhando alguma música para Jeon dormir. Se fechasse seus olhos, ainda conseguia ouvir a melodia calma que Jin hyung tocava, seu instinto de proteção acalentando. Todos fizeram o possível para que ele se sentisse confortável, acolhido e amparado. E aqui estava.

— Procurando algo específico? – um homem alto e acima do peso, com uma blusa cheia de bottons de bandas, abordou-o.

— Não, eu, hm... só estou olhando. – respondeu baixinho, ainda inseguro de seu inglês. Voltou a atenção para as curtas fileiras de violões em sua frente. Havia dois saxofones logo ao lado, brilhantes, e Jungkook sentiu o corpo formigar em nostalgia ao lembrar-se de Taehyung ensinando-o brevemente uma nota em uma entrevista. Deixou seus lábios se erguerem ao ver o rosto do melhor amigo surpreso por ter se saído razoavelmente bem de primeira.

— Você toca? – o atendente perguntou, observando o olhar dele sobre os instrumentos.

— Eu? – o olhou surpreso. – Não, um amigo... bem, mais ou menos. Ele já foi bom.

— Você se interessa por algum instrumento? Temos aulas de violino agora. Bem legal. Terça e quinta, 30 dólares por semana.

— Hm, na verdade, eu canto. – Jungkook tentou se esquivar da proposta, coçando a nuca e sorrindo sem graça.

— Oh – o homem arqueou as sobrancelhas, surpreso. – isso é interessante. Não temos aulas de canto, deveríamos ter. Mas tem um karaokê do outro lado da rua.

— Uh, obrigado. Talvez eu vá lá.

O homem assentiu e acenou, se afastando. Kookie suspirou, deixando sua mão cair ao lado do corpo. O que estava fazendo naquela loja? Quis chorar.  Estava com tanta raiva de si mesmo, da fama, dos meninos. Não sabia para onde deveria ir, se deveria ficar. Não é como se a música não fizesse mais parte dele – impossível! –, mas será que queria fazer dela sua carreira definitiva? Ou na verdade, tudo sempre foi um hobby?

Jungkook queria mais do que nunca saber.

Só fazia 6 dias, também. Ainda iria se acostumar.

Decidiu passar no supermercado que havia ido na primeira vez para abastecer um pouco sua geladeira. Lembrava-se vagamente onde ele estava localizado e depois disso poderia pegar um taxi de volta para o apartamento.

Passaram-se longos minutos até avistar a fachada do local. A faculdade que encontrava-se do outro lado da rua tinha os portões brancos abertos enquanto os universitários saiam, conversando alto e apressados. Talvez já fosse o intervalo do almoço e precisassem se locomover para os restaurantes mais próximos antes das aulas iniciarem novamente.

Jungkook parou de andar na calçada, observando o enorme pátio verde logo atrás dos portões. Como seria sua vida se tivesse optado por Direito? Ou Psicologia? Matemática nem pensar, nunca havia aprendido certo. Ele estaria mais feliz agora? Insatisfeito? Ou ficaria sonhando com a música todas as noites?

— Kook?

O corpo do mais novo gelou ao ouvir uma voz doce ao seu lado. Savannah carregava uma mochila em um dos ombros, seus braços fechados ao redor dos livros que segurava no peito. Ela estava acompanhada de mais outras duas amigas, uma delas sendo loira e a outra morena com tinta azul nas pontas dos fios.

— Ah, oi! – ele cumprimentou, surpreso e um tanto nervoso - por vários motivos.

— O que faz nesse lugar? Não me diga que também estuda aqui! – a garota sorriu animada, seus dentes branquinhos aparecendo.

— Eu, hm, na verdade não. Só ia comprar algumas coisas pro apartamento – Jungkook disse, apontando com o polegar para o supermercado atrás de si.

— Ah, claro – Savannah assentiu, sem querer afirmar para si mesma que estava um tanto desapontada. O fato de ter encontrado Kook novamente já era fantástico para ela. Depois do não-tão-recente-término com seu ex namorado - Thomas—, Savannah sentia dificuldade em pensar em qualquer menino senão ele. E agora, por pelo menos uma madrugada, a garota pôde encher seus pensamentos com o estrangeiro perdido. – Muito bom te ver de novo, Kook. Espero que continuemos nos esbarrando por aí! – ela sorriu, acenando e voltando para suas duas amigas que a esperavam um pouco mais afastadas.

Jungkook acenou de volta, seu coração martelando forte no peito. Quando estava prestes a seguir seu caminho para a loja, a mais baixa se virou de súbito. Jungkook percebera que a amiga loira estava tentando sinalizar algo para Savannah.

— Quer saber, você já almoçou, Kook? Minhas amigas e eu temos só uma hora, mas pode vir com a gente. Claro, – acrescentou – se não tiver nada agora.

As engrenagens na cabeça do Jeon começaram a se movimentar. Ela estava mesmo o chamando para acompanhá-la? Certo, isso era legal. Seria uma experiência nova. Talvez fosse bom ele tentar relaxar ou pensar em qualquer outra coisa senão seu fracasso emocional.

— Yeah, e-eu adoraria. – sorriu, ajeitando a mochila que também levava nas costas. Passou a andar ao lado de Savannah, que assentiu feliz. Ambas as amigas se apresentaram – a de cabelos com pontas coloridas se chamava Katie e a loira, Maya. Pareciam ser divertidas e fofas.

O restaurante em que iriam comer não passava de pratos fast-foods que Jungkook adorou ter ajuda da mais nova amiga para entender o cardápio, mesmo que se sentisse patético ao admitir.

Durante as conversas na mesa, Kook recebera elogios por seu inglês (por mais que ainda estivesse se esforçando bastante para acompanhar as falas) e descobrira que Savannah fazia Fotografia e suas outras duas amigas – desde o fundamental! – cursavam Arquitetura.

— Como assim você nunca comeu crab cakes? – Maya indagou, abismada. – Com certeza vamos ter que sair de novo para você experimentar. É, tipo, a marca registrada de Maryland. E muito gostoso.

Jungkook riu do choque da loira, que engolia rapidamente pedaços de seu hambúrguer.

— Já fez vários amigos, Kook? – Katie perguntou, brincando com o canudo do seu suco entre os dedos. O garoto terminou tomar seu gole do refrigerante de maçã antes de responder.

— Não muitos – disse, seu olhar se encontrando rapidamente com o de Savannah. – Mas não tem problema.

— Ah! – Katie abanou as mãos, empolgada. – Vamos em uma festa nesse final de semana. Coisa da faculdade e etc. Você poderia vir junto, vai conhecer pessoas novas!

Jungkook olhou instintivamente para Savannah, meio duvidoso. Ela pareceu se animar com a ideia e balançou a cabeça, sorrindo, os olhos verdes dela brilhando.

— Ia ser muito divertido, Kook! Só precisa levar quinze dólares ou coisa assim pra bebida.

— Espera, você bebe, não bebe? – Maya interrompeu, a sobrancelha arqueada.

— Às vezes – respondeu, mesmo que fosse quase nada com seus hyungs.

— Vamos lá, Kookie... – Savannah atravessou o braço pela mesa, apertando de leve os dedos de Jungkook. Ele se encontrou um pouco surpreso com o ato, mas os cantos de seus lábios se ergueram, ainda que estivesse um pouco nervoso com a ideia.

— Ah, parece legal. Você m-me manda mensagem passando o endereço?

— Sim! – sorriu, afastando seu toque do garoto, que sentiu sua pele formigar onde ela havia segurado.

Estava se sentindo mais solto conforme os minutos passavam na companhia das três meninas – por mais que seus olhos ainda focavam curiosos em Savannah, ainda que tentasse evitar – quando sentiu seu celular vibrar no bolso da calça. Retirou-o disfarçadamente sob a mesa para encontrar o nome de Kim Taehyung piscando na tela bloqueada. Relutante, negou a ligação. Não agora. Não quando estava interagindo e sendo tão bem recebido. V iria saber que Jungkook havia recusado a chamada e o mais novo rezou internamente para que o hyung não se chateasse.

— Ai, meu Deus, olha a hora! – Maya soltou um gritinho, observando a tela de seu celular. – Temos cinco minutos para o sinal! Vamos, vamos, vamos! – apressou, levantando-se da cadeira. As meninas, assustadas, se ergueram também e Jeon não soube ao certo como se despedir.

— Tchau Kook, foi ótimo te conhecer! – Katie acenou, sincera, e Maya disse algo parecido enquanto se dirigia até a porta de saída. Savannah enganchou a mochila nas costas e passou ao lado da cadeira do garoto, colocando a mão em seu ombro.

— Sabe o caminho de volta?

Ele assentiu, sorrindo um pouco.

— Então nos falamos em breve! – riu, correndo até as amigas que já haviam saído do estabelecimento.

Jungkook suspirou sobre sua cadeira, arqueando as costas para aliviar seus músculos tensos. Ok, estava tudo bem, nada fora do normal. Apenas três meninas um ano mais velhas o haviam convidado para uma festa de faculdade. Algo que qualquer cara de dezenove/vinte anos já teria vivenciado. Estava tudo bem. Não tinha com o que se preocupar.

Sentiu o celular vibrando novamente na calça. Com o coração voltando a bater forte, viu o nome do melhor amigo no visor. Respirou fundo, não sabendo muito o que fazer. Decidiu deixar o aparelho no mudo, dessa vez sem desculpas para não atender a ligação – não podia, simplesmente. Estava afastado justamente para se descobrir, para pensar, e ter os meninos por perto, principalmente V que exercia uma grande influência no mais novo, o atrapalharia.

Após alguns minutos tentando acalmar seus batimentos, levantou da cadeira. Precisava, agora, fazer suas compras. 


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Notas finais do capítulo



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