Tragédia no Meio da Noite escrita por Goth-Lady


Capítulo 1
Tragédia no Meio da Noite


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer à minha amiga Shiori que me ajudou (e me aturou) na construção dessa fic. Parabéns, Amaranthine, espero que goste.

Nomes:
Inglaterra - Arthur Kirkland
França - Francis Bonnefoy
Escócia - Alistor Scott Kirkland
País de Gales - Casey Kirkland



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Nunca em toda a sua vida pensou que se tornaria o suporte emocional da pessoa que mais o detestava no mundo, pelo menos era o que o outro dizia sobre si. Francis Bonnefoy fora acordado de madrugada pelo toque da campainha e agora, ao abrir a porta, encarava o britânico de olhos verdes e sobrancelhas enormes. Para ele estar ali àquela hora, ensopado pela chuva e com os olhos vermelhos e inchados era porque algo realmente ruim tinha acontecido.

— Entre, irei lhe fazer um chá.

O inglês adentrou na casa e se sentou na poltrona da sala de estar como de costume, esperando que o outro fizesse o chá. Era sempre assim nessas situações, situações essas que Francis apreciava com gosto. Geralmente ele era insultado pelo britânico por alguma coisa ou dizia que o detestava e o odiava, sempre fora assim, mas no fundo sabia que não era verdade e que ele confiava no francês.

Ao retornar à sala com o chá, notou que o outro soluçava com o rosto enterrado nas mãos. Devia ser algo realmente grave para presenciar aquela cena, pois nunca o vira naquele estado, nem mesmo após o divórcio dos pais e a morte dos mesmos, em épocas diferentes.

— Arthur? – Chamou tocando seu ombro, fazendo-o olhar para si. – Mon Dieu! O que houve com o seu olho?!

Apesar do hematoma roxo recente, Arthur limitou-se a pegar a xícara e beber o chá. Francis esperou que ele terminasse a bebida e começasse a falar, pois Arthur nunca entrava em sua casa naquele estado simplesmente para beber o chá alheio.

— Minha... Minha avó...

— Ela piorou?

— Ela morreu.

Novamente enterrou o rosto entre as mãos. Francis estava surpreso. Sabia o quanto Arthur era muito apegado a ela, era a única pessoa que o entendia e para quem ele se abria completamente. Ele a amava tanto que quando ela ficou doente, ele estava ali, em sua casa tarde da noite, sentado na mesma poltrona, cansado de tanto chorar.

O francês se limitou a abraçá-lo de forma terna e reconfortante. Acariciava aqueles cabelos loiros e sentia o cheiro amadeirado que provinha do inglês. Sentira tantas vezes este cheiro e o desejara tantas vezes que perdera a conta. Afastou-se o suficiente para encará-lo. Tocou levemente o arroxeado do hematoma.

— Quem te fez isso?

— Casey.

Por incrível que pareça, Francis não ficou com raiva do agressor. Beijou a testa de Arthur sem se desfazer do abraço.

— Tome um banho. Eu te empresto uma roupa.

— Tenho que...

— Nada disso, mon ami. Hoje você dorme aqui. Não insista, você não me dá trabalho algum.

O inglês não protestou como faria em uma noite comum, ele nunca protestava quando tinha o emocional abalado. Arthur subiu a escada e rumou ao banheiro, onde tomaria um banho e deitaria no quarto de hóspedes, como sempre fazia quando vinha chorando para a casa de Francis.

Francis rumou para a cozinha suspirando pesadamente, a fim de fazer uma compressa de gelo. Sabia o quanto a questão era complicada e isso estava refletido no hematoma do olho de Arthur. Imaginava que os dois tinham discutido feio, caso contrário, o inglês não teria um olho roxo.

Casey era o irmão mais novo de Arthur, mas quem o olhasse imaginava ser o mais velho. O galês sempre fora mais alto que as outras crianças da sua idade, dotado de grande inteligência a ponto de pular algumas séries e ficar à frente do irmão em praticamente tudo, até passara no vestibular enquanto Arthur ainda cursava o ensino médio, um verdadeiro prodígio. Não era segredo para ninguém que eles não se davam bem a ponto de se odiarem, mas agressão física era outra história. Nunca ocorria sem um bom motivo, ou o que os dois julgavam ser um bom motivo.

Francis conhecera Arthur um pouco antes do mais novo entrar em sua escola. Ele era amigo e colega de classe de Alistor Scott Kirkland, um escocês ruivo que fora conhecido por se meter em brigas nos tempos de colégio, ainda mais por ele ser o mais velho de três irmãos, na época, e andar com a prima um ano mais nova. Foi quando conheceu os irmãos mais novos dele, Arthur e Casey. Arthur sempre tivera um temperamento difícil que afastava as pessoas de perto dele e Casey era reservado, sempre se limitando a falar pouco ou ignorá-lo. Qual foi a surpresa de Francis quando descobriu que aquele garoto antissocial de tão pouca idade estava apenas uma série atrás dele e de Scott sendo quatro anos mais novo que os dois? Talvez fosse este o motivo do ódio entre os dois, apesar de Arthur nunca ter lhe dito nada. Arthur nunca falava do irmão mais novo, sempre mudava de assunto.

Terminava de fazer a compressa quando foi atrapalhado pelo som do telefone. Agradeceu mentalmente por sua irmã mais nova ter ido dormir na casa de uma amiga, caso contrário, ela estaria de pé na cozinha com ele, morrendo de sono e preocupada.

— Alô?

Francis, Arthur está aí?

— Scott?

Está ou não?

— Oui.

Imaginei que estivesse. – Francis não deixou de notar certo alívio na voz do velho amigo. – Provavelmente irá dormir por aí.

— Oui. Eu soube de sua perda.

Isso me poupa de dar explicações.

Na verdade não. Arthur está com um olho roxo graças a Casey. O que aconteceu? Normalmente eles só discutem!

Eles brigaram feio. Discutiram em frente a todo o hospital e quando Casey decidiu nos deixar e se afastar das discussões, como sempre faz, Arthur foi atrás dele, ainda discutindo e levou um soco.

Mon Dieu!

Não quero falar sobre isso agora. Estou cansado e ainda não sei como darei a notícia à Emily e Charlie ainda esta noite.

E Casey?

Se trancou na biblioteca.

— Mon Dieu. Se cuida.

Você também.

— Me ligue se precisar de qualquer coisa.

A família de Arthur era um tanto quanto complicada. Seus pais inicialmente tiveram três filhos e brigavam feito dois búfalos. Alguns anos depois veio o divórcio e os três ficaram com o pai e a avó. Francis ouvira de Scott que a mãe havia se mudado para a casa de um dos vários irmãos dela, o que morava na Dinamarca, e algo sobre Arthur lamentar a ausência dela e Casey se trancar na biblioteca. O pai se casou de novo, mas foi com a irmã adotiva, que era a mãe de Emily, a prima deles, que era irlandesa. Dessa união nasceu Charlie. O casamento não durou muito e logo veio outro divórcio, mas este fora comemorado pelos quatro e a mãe de Emily pegou ela e Charlie e voltou para a Irlanda, mas mesmo assim não perderam contato. A mãe morreu doente, depois o pai e agora a avó. Cada um tinha uma forma de lidar com a perda, Scott se isolava e bebia, Casey se trancava na biblioteca e Arthur ia desabafar com Francis, isso quando não ia desabafar com a bebida, arrumando ainda mais problemas.

Com a compressa feita e o telefone de volta no lugar, Francis subiu as escadas, rumando ao quarto de hóspedes. Esperou Arthur sair do banho e sentar na cama para aplicar a compressa sobre o olho. Não iria comentar sobre a briga, só tornaria tudo mais complicado e pioraria a situação, embora ele quisesse muito saber o motivo dos dois irmãos se odiarem.

— Descanse um pouco.

— Como eu posso descansar, frog?! Minha avó está morta!

— Arthur, eu sei que é doloroso perder alguém que ama, mas você precisa descansar.

— O que você sabe sobre perder alguém?!

— Eu perdi alguém. Há muito tempo...

Seu olhar se encontrava distante, mergulhado em uma tristeza nostálgica. Francis também tinha perdido alguém, duas vezes. A primeira foi sua mãe quando era adolescente e se vira sozinho tendo que cuidar da irmã. Fora antes do divórcio dos pais de Arthur. Gilbert, seu amigo, passara por isso e ele e o irmão mais novo foram criados pelo avô, então o ajudara muito, Scott o ajudara a arrumar trabalho e Antonio contribuíra com apoio moral, mas que salvara Francis muitas vezes. O espanhol era da idade de Arthur, tinha um irmão mais velho que estudava com ele, Scott e Gilbert chamado Afonso. Apesar de serem da mesma sala, Francis era mais amigo de Antonio e Afonso era mais amigo de Arthur. Antonio vivia sorrindo, era o palhaço da turma e tão agitado e alegre que era quase impossível ficar deprimido com ele. Quando os irmãos ibéricos passaram pela mesma situação um ano depois, perdendo ambos os pais e eles quase foram viver com o avô paterno no Marrocos. Ele se lembrava que Antonio tinha se escondido de Afonso em sua casa para não entrar em um avião para o Marrocos, gerando confusão e desentendimentos, mas Afonso arrumou trabalho e passou a cuidar do mais novo.

A segunda pessoa que ele perdeu foi Jeanne. Ela era amiga de infância e uma irmã para Francis, tanto que ele ficava enciumado quando algum garoto flertava com ela. Nem mesmo Gilbert escapou dessa lista. Foi no primeiro ano de faculdade que tudo desabou. Jeanne foi diagnosticada com câncer, nenhum deles tinha dinheiro para o tratamento e quando ela se foi, Francis perdeu o tudo, inclusive a vontade de viver. Graças à persistência de seus amigos e por causa de Arthur que ele se recuperou. Era irônico o fato de ter se apaixonado pelo irmão mais novo de um de seus amigos e este mesmo brigava com ele e confiava nele, mas Francis tinha que admitir que o provocava. Era uma relação de amor e ódio e paciência.

— Sinto muito. – Arthur proferiu.

— Isso foi há muito tempo, eu já superei.

Sorriu de forma que o reconfortasse. Diferente de Arthur, ele sabia que tinha pessoas que se importavam com ele, bastava vasculhar suas memórias e encontraria pelo menos uma pessoa a confortá-lo nas situações mais difíceis e a apoiá-lo. Arthur não enxergava isso claramente e Francis iria fazê-lo não importava quanto tempo demorasse.

— Ainda se lembra? – Perguntou o inglês com olhar distante.

— De que?

— Da pessoa que perdeu.

— Tão claramente que poderia jurar que foi ontem, mas eu tive que seguir em frente. Quem cuidaria de Charlotte se eu sucumbisse? Ela só tem a mim.

O silêncio reinou no quarto nos minutos seguintes, que mais pareceram anos. Francis abraçou Arthur e o puxou para o seu colo, acariciando os fios loiros. O inglês se aninhou ainda mais ao corpo do francês, enterrando o rosto na curva do pescoço dele e exalando o odor de rosas tão característico do mais velho. Ficaram dessa forma por um tempo, em silêncio, exalando os perfumes um o outro até Francis segurar delicadamente o queixo do inglês e erguê-lo. Ele o beijou com ternura, sendo correspondido de imediato. Não era incomum que aquilo acontecesse, ainda mais quando Arthur estava triste e necessitava de mais atenção, mas nunca se tornava algo mais sério.

— Arthur... – Sussurrou assim que seus lábios se separaram. – Sabe que estou aqui para você, não sabe?

— Você sempre diz isso.

— Porque eu me importo com você, mon cher. Eu realmente me importo. – Beijou-lhe a bochecha.

— Diz isso porque quer fazer sexo comigo.

— Arthur, eu realmente me importo com você. – Estava sério. – Alguma vez passou pela sua cabeça que eu posso me importar de verdade com você? Talvez mais do que deveria?

O inglês arqueou as sobrancelhas. Tinha pensado sobre isso algumas vezes, até mesmo fantasiava que talvez ele o amasse, mas sempre chegava à mesma conclusão: o francês estava mentindo apenas para obter prazer de seu corpo.

— Eu me importo contigo! De verdade! Você não percebe, mas há pessoas que realmente se importam com você.

Francis o abraçou fortemente, não dando tempo para o inglês reagir.

— Eu te amo, mesmo que você não acredite, eu te amo!

— Fran... Francis...

O inglês não sabia o que dizer, estava sem reação. Aquilo era mentira, tinha que ser mentira! Ninguém se importara com ele a não ser sua avó, mas ela se fora. Não era possível que alguém mais se importasse com ele além dela e talvez a mãe dele. A mãe... Não sabia como, mas ela surgira na discussão mais cedo quando discutiam sobre a avó, a mesma discussão que o deixara com o hematoma roxo no olho. “Você alguma vez já pensou nela?” Casey o tinha indagado no hospital e agora ele parara para pensar se alguma vez tinha pensado na mãe.

Uma ferida antiga se abriu e Arthur chorou no ombro de Francis até o amanhecer. Francis não se importava de ter a camisa molhada pelas lágrimas. Enquanto ele estivesse lá para Arthur, estaria tudo bem. Cuidaria dele e mostraria que ele se importava e o amava, mesmo que durassem mil anos e o inglês estivesse descrente disso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. ♥



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