Preço do Amanhã escrita por Cristabel Fraser, Sany


Capítulo 7
My Sacrifice.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, hoje quem iria postar era a Bel, mas como ela esta viajando vim trazer o capitulo para vocês.
Acho que posso dizer em nome da Bel também o quanto estamos felizes e animadas com o feedback de vocês a fic. E essa semana ficamos ainda mais felizes com nossa primeira recomendação. JotaKah18 muito obrigada, esse capitulo é dedicado a você.



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Olá, meu amigo, nos encontramos de novo,

Já faz algum tempo, por onde devemos começar?

Parece que faz uma eternidade,

Dentro do meu coração existem lembranças...

...Isto traz lágrimas aos meus olhos,

Meu sacrifício

Vimos nossa cota de altos e baixos,

Oh, a rapidez com que a vida pode mudar em um instante,

Parece ser tão bom reunir,

Dentro de si mesmo e dentro de sua mente,

Vamos achar a paz lá,

Quando você está comigo,

Eu sou livre... Eu sou despreocupado... Eu acredito...

...Eu só queria dizer olá novamente,

Eu só queria dizer olá novamente.

(My Sacrifice – Creed)

Mesmo depois de voltar para casa tudo que ainda sentia era o terror dos jogos. Não tinha uma noite que dormia totalmente bem. Para ser sincera, dormir bem, era algo que não fazia há anos talvez, desde que meu pai morreu. Ainda assim depois dos jogos isso passou a ser algo ainda pior. Peeta dormia comigo todas as noites. Não fazia sentido algum dormirmos separados já que, um acalentava o sono do outro. Não vou mentir, dormir ao lado dele deixa as coisas menos nebulosas. Acordar depois de um pesadelo e tê-lo ao meu lado, me acalmava mais rápido.

Eu acordava gritando mais exasperada do que antes. Via claramente a cena de Narah sendo alvejada por um Carreirista do 2. O pânico em seus olhos, vendo ele se aproximar. O olhar de temor ao ver Johan ser atingido covardemente pelas costas, assombravam meus sonhos noite após noite.

— Katniss, acorda... Katniss é só um pesadelo. – novamente escutei sua voz me chamar e com as mãos fincadas no forro da cama acabei impulsionando meu corpo pra frente e sem perceber já me encontrava sentada, sentindo meus batimentos cardíacos a mil. O nó preso na garganta, embora tenha certeza absoluta que estava gritando segundos antes.

Ele já tinha ligado o abajur de cabeceira e me olhava com compaixão.

— Me desculpe... – sei que meus pesadelos eram muito mais intensos que os dele, e acabava atrapalhando.

— Não tem que se desculpar. Você não tem culpa, são os pesadelos... se ao menos eu pudesse tirá-los de você e transferir para mim, quem sabe poderia dormir melhor. – levantei meus olhos para encará-lo e vi toda a ternura que sempre teve por mim. Talvez o pânico ainda estivesse estampando meu rosto, mas sem que esperasse senti os braços dele ao redor do meu corpo e embora tenha estranhado - a princípio - logo me deixei levar por aquele abraço. Meu coração ainda estava acelerado, mas foi se acalmando como se sincronizasse às batidas do coração dele.

— Não, eu não dividiria isso com você nem se pudesse. – me afastei o olhando nos olhos e sem perceber toquei seu rosto com minha mão direita e ele fechou os olhos, talvez, tentasse absorver algo. – Esses pesadelos não são algo que deseje a alguém, muito menos a você. - talvez ao presidente, mas não acho que ele se importaria.

— Sabe, que não precisa carregar tudo sozinha. Estamos juntos agora e não vou deixar que nada de mal aconteça a você, ou a sua família. - seu olhar era intenso, sabia que ele entendia. Peeta tinha sua própria cota de pesadelos. – E, não poderíamos ter feito nada pela Narah ou pelo Johan. Infelizmente não poderíamos ter impedido aquilo. – não havia contado a ele que nas últimas semanas meus pesadelos estavam sendo com os dois tributos, talvez estivesse chamando por eles ou, talvez ele mesmo estivesse sonhando com isso. 

Senti uma sensação diferente em meu coração e com isso me aproximei mais de seu rosto e o beijei. No primeiro momento ele pareceu surpreso, mas entreabriu a boca e nos beijamos como um casal de verdade. Não havia câmeras e nem pessoas, somente Peeta e eu. Suas mãos se encontravam espalmadas uma de cada lado do meu pescoço. Precisei respirar e com isso senti seus lábios em meu queixo. O que estávamos fazendo afinal? Não devíamos...

— Estou com sede, acho que vou descer e beber água. – disse me sentindo estranha.

Ele não proferiu uma palavra e praticamente corri até o andar de baixo. Bebi a água, em seguida fui até a sala e fiquei andando de um lado para o outro tentando organizar meus pensamentos. Se eu subisse nesse exato momento iria me sentir pior do que já me sentia. Comecei a olhar os quadros na parede e em nada me ajudou. Não que não fossem bonitos de se ver, pelo contrário Peeta pintava perfeitamente e fazia com as tintas algum tipo de mágica. Passei um bom tempo analisando os detalhes até sentir minhas pálpebras pesarem. Eu precisava dormir, pois amanhã seria outro dia, aliás era domingo e eu tinha que dar um jeito de evitar ele pelo menos até essa sensação passar. Talvez se eu passasse a manhã na floresta ajudaria minha mente e de repente até encontraria Gale.

Gale.

Fazia tempo que não cassávamos juntos. Ultimamente quase não o via e só sabia notícias dele pela Hazelle que por cuidar da limpeza da casa do Haymitch, passava pela aldeia dos vitoriosos com frequência. Tudo aconteceu muito rápido. Sacudi minha cabeça e respirei fundo antes de subir a escada. Pensei até em dormir em outro quarto, mas não faria sentido algum já que teoricamente somos casados e a parte principal é que, realmente ele me acalma quando tenho um pesadelo.

Ao entrar no quarto noto que está dormindo, ou fingindo. Quase certeza que a segunda opção seja a certa. Puxo o edredom até meu peito e fecho os olhos tentando não pensar em nada.

(...)

Quando acordei ele não se encontrava mais do meu lado. Levantei, ajeitei a cama e fui até o banheiro fazer minha higiene pessoal. Desci a escada tentando afastar o episódio da noite passada da minha mente.

— Ah, já acordou. Bom dia. – me cumprimentou com seu típico sorriso.

— Bom dia. – ele tinha preparado o café e assado pães de queijo, o cheiro estava maravilhoso, mas senti meu estômago protestar.

— Sente-se, o pão-de-queijo acabou de sair do forno.  – a forma com que andava de um lado para o outro preparando nosso café me fez pensar se isso era um sinal de que se sentia tão desconfortável quanto eu, ou se estava tentando fingir que nada tinha acontecido.

Ao invés de me sentar segui até o fogão e comecei a preparar meu chá de ¹Taraxacum. Desde a entrevista do presidente Snow falando sobre minha possível gravidez, senti uma crescente insegurança sobre o que ele poderia fazer ou propor. E, definitivamente não iria gerar filhos apenas para que ele pudesse mostrar, quem tinha poder. Filhos, sem dúvida não entrariam nesse jogo doentio que estávamos sendo obrigados a participar.

O controle de natalidade na Capital e nos Distritos mais ricos eram através pílulas, ou injeções contraceptivas. Contudo os Distritos mais pobres que não tinham a menor condição nem para comprar medicamentos básicos, precisavam recorrer a outros métodos como chás de ervas. No meu caso, mesmo tendo condições de comprar tal medicamento agora, não havia a menor possibilidade de conseguir pedi-lo sem chamar a atenção e obviamente o presidente não aprovaria. Então, pouco antes de voltar para casa me lembrei do livro de plantas da minha mãe e assim que cheguei fui procurar a informação que precisava. 

Taraxacum Officinale estava descrito como uma folha comum, utilizada como contraceptivo se ingerida todos os dias. Segundo as anotações era bem eficiente, entretanto se ingerida demasiadamente, ou incorretamente poderia causar infertilidade. Ler aquilo me trouxe um alívio imediato. Não que tivesse planos de ter qualquer tipo de intimidade com Peeta, mas um chá que poderia acabar com as chances do presidente nos forçar a algo, era mais do que esperava. Era como estar um passo à frente do presidente. Não foi difícil achar as folhas. Muitas mulheres plantavam em casa mesmo e a floresta era cheia delas. Dessa forma todos os dias pela manhã sem falta tomava uma xicara do chá.     

— Peeta, acho que vou caminhar até a floresta. – comentei assim que terminei de beber o chá sem nem ao menos tocar em nada do que tinha feito. Não estava nem um pouco disposta a comer alguma coisa. Ele parou de repente e me encarou sem expressão alguma e logo tentou sorrir. - Ajudo você com o almoço, vou apenas caminhar... tentar...

— Organizar as ideias. – completou.

— É, isso mesmo, organizar minhas ideias.

Sabia que ele não iria cobrar nada de mim. Talvez agiria como se nada tivesse acontecido. Uma das melhores coisas em Peeta era que, ele me conhecia bem, para tão pouco tempo de convívio. Ele era o tipo de pessoa que coloca os outros acima dele mesmo. Ainda assim, precisava ficar longe dele por um tempo. Longe da atmosfera da casa que supostamente era nossa.

Sem tomar café da manhã – agradeço mentalmente por ele não ter me forçado - segui caminhando pelo Distrito em passos lentos. O vento frio já começava a dar sinal. O que indicava que teríamos um inverno rigoroso esse ano, ou seja, famílias passariam ainda mais necessidade. O número de crianças e idosos a não resistirem, ao inverno seria ainda maior e o número de tésseras cresceria ainda mais. Deixei esses pensamentos de lado enquanto passava pela cerca desligada. Por sorte as câmeras tinham dado uma trégua. Com o fim dos Jogos e a vitória do Distrito 2, todas as atenções estavam voltadas para as entrevistas do novo vitorioso e sua turnê da vitória que aconteceria em alguns dias. O que traria novamente as câmeras ao Distrito já que éramos a primeira parada. Só de imaginar que, teria que recepcionar o garoto que matou Narah de forma tão cruel, senti a bile querer sair. “Não é culpa dele, ele foi forçado a isso. É um fantoche, assim como todos nós. Havia sangue nas minhas mãos também. Eu tinha matado na arena, lá era matar ou morrer.” Pensei, tentando não sentir raiva de mais pessoas do que já sentia.

(...)

Assim que cheguei à floresta peguei meu arco e aljava no tronco oco e comecei minha caminhada. Não que, tivesse a intenção de abater algo realmente, já que, estava distraída demais para conseguir me concentrar nisso de qualquer forma.  Acabei passando por algumas armadilhas feitas por Gale. Elas estão desarmadas o que indicava que ele está na floresta, provavelmente recolhendo o que foi pego em cada uma delas. Andei um pouco mais e logo o avistei. Dei um sorriso involuntário enquanto várias lembranças de um tempo não tão longe assim se fizeram presentes.

— Hey, Catnip quanto tempo.

— Muito tempo. – talvez tenha sido minha fisionomia, talvez fosse apenas o tempo longe, mas acabamos seguindo lado a lado em silêncio por um longo tempo enquanto ele verificava suas armadinhas. Entretanto, não era incomodo. De certa forma, estar ao lado dele me trazia um pouco de liberdade, do que fui um dia. Após todas as armadilhas serem verificas e rearmadas subimos a colina em direção ao nosso lugar.

— Parece que faz séculos desde a última vez que estivemos aqui. – comentou minutos depois de nos sentarmos e olhando a vista do vale não pude deixar de pensar em tudo que aconteceu nesse período.

— Mudou tanta coisa nesse tempo.

— É, você agora é uma vitoriosa. – olhei em sua direção tentando entender o que quis dizer com isso.

— Eu ser uma vitoriosa não foi o que mudou as coisas, Gale. – o que tinha feito tudo mudar tinha sido minha atitude em relação as amoras. O desafio ao governo que o presidente insistia em dizer que tinha feito, quando na verdade só queria sobreviver e trazer Peeta vivo para casa.

— Você nem ao menos precisa estar aqui. Você tem tudo, não lhe falta nada agora.

— Você não tem ideia do quanto gostaria que as coisas fossem como antes. Não imagina o inferno que está sendo minha vida. – acabei alterando um pouco minha voz - Estive naquela arena! Eu matei pessoas, Gale. Preparei dois jovens para o abate e os vi morrer sem poder fazer nada. – vi uma sombra de arrependimento em seus olhos.

— Sinto muito Catnip, eu... é muita coisa acontecendo...

— Esquece... as coisas só não são simples. – ficamos em silêncio por um tempo. Como sinal de trégua ele me estende um pedaço de pão de fôrma feito com grãos. Peguei mais por aceitar o pedido silencioso de desculpa, do que por vontade de comer. Mesmo não tendo tomado café, sinto meu estômago ligeiramente embrulhado e acabo observando o pão por alguns minutos.

— É verdade? – Gale me tira dos meus pensamentos e a princípio não entendo a pergunta. - O que estão dizendo por aí.

— O que?

— Que você está... – ele olha em direção a minha cintura ligeiramente sem jeito.

— Não! – a resposta sai rápida e cortante. – São só fofocas.

— Mas vocês pretendem...? Quer dizer, você me disse uma vez que não queria filhos e achava que você e o Mellark... Bem que era mentira, encenação como na arena.

— Minha mente não mudou, se é o que quer saber e... Peeta e eu... – antes que terminasse a frase o beijo da noite passada veio na minha cabeça. Aquilo não tinha sido encenação, mas também não queria dizer que tínhamos um casamento de verdade. – Somos parceiros, aliados. – não tenho ideia do porque usei tais palavras, ainda assim, as usei. – É complicado Gale.

— Tudo isso era para ser diferente. Nossas vidas deviam ser diferentes. Eu devia ter... – ele meneou a cabeça como se espantasse algum pensamento dela.

— Diferente como? - tive que perguntar.

— Não sei, só diferente. De qualquer forma não podemos mudar o que já aconteceu.

Coloco um pedaço do pão na boca e sinto o sabor dos grãos que há muito não sentia. Desde que voltei da arena, de fato tinha o luxo de comer pão da padaria todos os dias se quisesse. Isso e o fato de que Peeta sempre fazia uma variedade de coisas para comermos. Era preciso admitir que nesse ponto, Gale estava certo. Ainda assim, se pudesse voltar a minha vida anterior eu voltaria sem pensar duas vezes. Esse pensamento trouxe a imagem de Peeta à minha cabeça. Voltar a minha vida anterior significava uma vida sem ele, sem seu sorriso, seu jeito único e gentil.

Será que se tivesse de fato uma escolha eu realmente trocaria? Seria tão fácil assim apagar Peeta, da minha vida?

Procurei afastar aqueles pensamentos da cabeça. Até porque não tinha o menor sentido pensar nisso, nunca haveria uma escolha. Eu era uma sobrevivente e não uma vitoriosa como Gale mencionou - ninguém realmente vence, os Jogos, sobreviemos a eles – e nada poderia mudar isso. Nada mudaria o fato de que o presidente estava atento aos meus passos. Que isso colocava minha família e todos aqueles que me importava em perigo. Também não mudaria que estava casada com Peeta e que teríamos que viver juntos para sempre.

Encenação ou não minha realidade atual agora era essa.

 

¹Taraxacum Officinale na realidade não é uma erva com efeitos contraceptivo esse é apenas o nome cientifico do conhecido dente de leão.

 


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Notas finais do capítulo

É isso Gale fez sua pequena aparição indesejada pela maioria rs. Mas tivemos um momento fofo do nosso casal lindo.
Espero que vocês tenham gostado do capitulo.
Esta um pouquinho tarde, mas desejo a todos uma Feliz Pascoa e uma semana cheia de chocolate.
Beijos