Preço do Amanhã escrita por Cristabel Fraser, Sany


Capítulo 4
No Surprises


Notas iniciais do capítulo

Boa noite... A Bel e eu estamos muito felizes com o retorno de vocês sobre a fic, é ótimo receber esse feedback.
Bom Katniss agora é oficialmente a Sra. Peeta Mellark e também mentora da 75º edição dos Jogos Vorazes então vamos a colheita.



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Um coração que está cheio como um aterro,
Um emprego que te mata lentamente,
Feridas que não vão cicatrizar.

Você parece tão cansado e infeliz,
Bote abaixo o governo,
Eles não, eles não falam por nós,
Eu vou levar uma vida tranquila,
Um aperto de mão de monóxido de carbono.

Sem alarmes e sem surpresas,
Sem alarmes e sem surpresas,
Sem alarmes e sem surpresas.
Silencioso, silêncio...

(No Surprises - Regina Spektor)

Alguns dias haviam se passado desde que retornamos da Capital. Peeta tem sido muito bom pra mim. Agora que moramos sob o mesmo teto não estava sendo tão complicado como pensei que seria. Constrangedor? Claro que é, pois depois de tanto fingirmos para as câmeras – os amantes desafortunados do Distrito 12 -, depois de todos os beijos que trocamos, retornamos a vida “normal”. Ele fez a gentileza de preparar a suíte principal da casa para mim, mas suas roupas ainda continuavam guardadas no closet de onde durmo. Fizemos assim para caso alguém da Capital venha ver se estamos “bem”.

Apesar de um pouco constrangedor, conviver com Peeta é algo muito fácil. Ele é sempre gentil e nunca invade meu espaço, muito pelo contrário costuma sempre me dar espaço. Ainda assim, nos momentos que compartilhamos juntos conseguimos manter um diálogo saudável e variado - mesmo quando não falamos sobre nada -, o silêncio não chega ser algo incomodo. Se fosse sincera comigo mesma, aqueles dias sem as câmeras por perto tinham sido um tempo de paz e tranquilidade. Muito bem-vinda depois de tanto fingir estar apaixonada para o público. Mas essa calmaria era temporária e como previsto acabou naquela manhã quando equipes da Capital chegaram ao Distrito.

Havia tentado ao máximo não pensar na colheita, mas não tínhamos escapatória. Ironicamente até o dia amanheceu cinzento e embora não tenha saído de casa ainda sabia que todos no Distrito estavam angustiados de alguma forma. Este ano nós seríamos os mentores do casal que participaria da 75º Edição dos Jogos Vorazes e isso não me animava nem um pouco pelo contrário, já conseguia sentir o peso da responsabilidade de duas vidas. Sem contar que seria no mínimo estranho já que Haymitch não estaria nos acompanhando – algo sobre férias merecidas - foi o que nos disse. Segundo ele, teria uma reunião entre os mentores – uma espécie de reconhecimento – claro que, a maioria já se conhecia, mas Peeta e eu estaríamos completamente perdidos.

— Katniss, cheguei! – havia tentado me acostumar com o frio na barriga em escutar esta frase quase que todos os dias, mas não era simples assim, já que minha mente voltava na lembrança de meu pai chegando de mais um dia de trabalho e fazendo essa mesma saudação antes de beijar carinhosamente minha mãe.

— Estou no quarto! – falei alto para saber que estava na parte superior da casa. Escutei passos na escada e logo sua voz atrás da porta entreaberta.

— Posso entrar? – pergunta com leves batidas.

— Claro, já terminei de me arrumar. – levanto da banqueta frente à penteadeira e dou uma leve desamassada no vestido de estampa leve puxado para a cor pêssego. Cinna o fez antes de retornarmos da Capital.

— Uau! Você está linda. – ele sorri ao me elogiar, mas ao ver que não faço o mesmo muda sua postura – Quero dizer que, apesar de tudo você continua belíssima e...

— Tudo bem, Peeta. – tento entender que apesar de tudo, o que diz é real – Separei a roupa que Portia preparou para você e pedi para Mary passar antes de ir embora. – aponto para a cama, onde seu look completo está esticado, intacto e sem nenhum amassado.

— Muito obrigado. – Peeta pega o cabide com sua roupa e antes de sair me observa mais uma vez – E, como passou a manhã?

— Bem, Mary me passou algumas dicas sobre certos temperos, o que combina com o que... foi uma manhã até certo ponto produtiva.

— Daqui a pouco estará cozinhando melhor do que ela. – sorrimos juntos ao pensar nessa possibilidade, já que na arena fui uma péssima cozinheira.

Enfim, Peeta vai se arrumar em seu quarto. Mary nos ajuda com a casa e com a comida. Ele insistiu em contratarmos alguém para me ajudar com a casa e perguntou se eu tinha em mente uma pessoa. Bem, tinha a Hazelle, mas achei estranho visto que ela tem as crianças pequenas para cuidar e já tinha conseguido que limpasse a casa do Haymitch. Contudo foi ela quem me disse sobre uma mulher da Costura cujo o filho mais velho trabalha com Gale nas minas. Ela tem em torno dos quarenta anos é uma mulher bonita, mas sofrida. Também viúva, é mãe de um casal, Brody de dezenove anos e Judy de treze que está na mesma classe que a Prim.

No começo achei que seria estranho alguém cuidando de tudo, mas não é. Ela vem de três à quatro vezes na semana. É uma pessoa extremamente discreta e gentil. Até agora não questionou nada sobre Peeta e eu, mesmo que deva achar estranho os amantes desafortunados dormindo em quartos separados.

Respiro fundo antes de sair em direção a casa onde minha mãe e Prim ainda estão morando. Um dos motivos para tentar não pensar na Colheita era minha irmã que ainda fazia parte dela. Sei que ela está nervosa e com medo, mas assim que me vê sorri tentando disfarçar. Esse ano ela usava um vestido simples, mas muito bonito e lembranças da colheita do ano anterior se fizeram presentes, embora não estivesse com problemas em manter blusa nas costas esse ano e tudo fosse bem diferente do ano anterior. Saber que o nome dela estaria duas vezes naquele sorteio, me dava náuseas.

Ela elogia minha roupa e faço o mesmo com sinceridade, nos sentamos no sofá tentando parecer que está tudo bem. Não demora para que minha mãe apareça já pronta, trocamos um rápido olhar e com ele uma conversa silenciosa. O medo está nítido em seus olhos, já que esse ano Prim está sozinha. Abraço minha irmã, antes de sairmos pela porta e como se estivesse programado, Peeta já nos espera totalmente pronto e assim que nos aproximamos ele segura minha mão para seguirmos até a praça.

(...)

Como todo ano equipes de filmagem estavam espalhadas pelos telhados enquanto os pacificadores organizavam a população pela praça lotada. Assim que chegamos, pude sentir a maioria das câmeras em nossa direção enquanto seguíamos até o palco em frente ao Edifício da Justiça onde Effie Trinket resplandecia em seu vestido de borboletas coloridas em alto relevo. Peeta soltou minha mão rapidamente para cumprimentar o prefeito Undersee, que se acomodava numa das cinco cadeiras dispostas no palanque, onde as redomas aguardavam em ambas as extremidades para serem retirados os nomes.

Nos sentamos nas cadeiras e não me surpreendo em ver a cadeira do Haymitch vazia. Effie, entretanto continua olhando impaciente para o lugar vago. Tento encontrar Prim em meio à multidão, mas não consigo – os mais jovens sempre ficam no fundo – como se soubesse o que me afligia Peeta segura minha mão e a aperta de leve. Como de costume às 14h em ponto o prefeito dá início a leitura de sempre e a única coisa que muda é o acréscimo do nome do Peeta e do meu na lista dos vencedores do Distrito 12.  Ele passou a palavra para Effie que foi até o microfone com um largo sorriso.

— Feliz Jogos Vorazes! E, que a sorte esteja sempre a seu favor! – a estridente voz sobressaiu-se no microfone disponível. Estava chegando a hora e minhas mãos suavam tanto que volta e meia eu soltava das de Peeta para passar no tecido do meu vestido tentando secá-las um pouco. Ela segue falando sobre a honra de estar ali principalmente após uma turnê da vitória, e em meio ao seu discurso Haymitch sobe no palco como se não estivesse atrasado e ligeiramente bêbado, mas diferente do ano anterior não faz nenhum estardalhaço e se limitou a sentar-se no lugar vazio ao lado do Peeta. – Primeiro as damas! – ela vai em direção a redoma com os nomes femininos e meu coração acelera. A única coisa que consigo desejar é que não seja o nome da Prim outra vez. Flashes passam em minha mente e lembro do ano passado como fui parar nos Jogos Vorazes – E, a tributo feminino do Distrito 12 é... Narah Kess. Onde você está meu bem? – sei que não é certo, mas sinto um grande alivio. Olho dentre a multidão e vejo uma garota bem magra e com a aparência tão frágil, caminhar lentamente até o palco e volto a me sentir mal – Há algum voluntário? – um momento de silêncio e ninguém se voluntaria por ela. Seus olhos demonstram pânico e tento me lembrar de onde é, mas não consigo.

— Você a conhece? – cochicho próximo ao ouvido de Peeta e pelo seu olhar sei que sim.

— Os pais encomendaram um bolo de aniversário de quinze anos para ela na semana passada. – procuro novamente a mão de Peeta e a aperto.

Meu Deus, ela acabou de fazer quinze.

— Muito bem. Agora está na hora de conhecer o rapaz que vai representar o Distrito 12! – Effie vai até a outra redoma e retira mais um nome – O tributo masculino é... Johan Phoenix. – esse nome eu reconheço e quando o garoto vem na direção do palco vejo que é um sobrinho de Greasy Sea. Novamente Effie pergunta se tem algum voluntário e ninguém se manifesta.

O Prefeito se levanta para a leitura do Tratado da Traição e assim que termina apertam as mãos antes do início do hino de Panem.

(...)

— Está tudo pronto? – Peeta pergunta quando estamos dentro de uma sala particular no Edifício da Justiça nos despedindo de nossos familiares.

— Está. – vejo Prim se aproximar de mim, minha patinha que todos os dias vai em minha casa para saber sobre minha adaptação – Pensei que não iria te ver antes de ir. – nos abraçamos dessa vez com uma onda de alivio sobre nós. Nesse ano, não era necessário nenhuma recomendação ou despedida, nos veríamos assim que os Jogos acabassem.  Minha mãe também está lá, da família do Peeta apenas o pai dele veio para uma breve despedida. Não tenho tanta certeza do que a mãe de Peeta acha a meu respeito. O que antes detestava em mim, passou a tolerar já que de certa forma salvei a vida do seu filho - o trazendo sem uma perna -, mas pelo menos com vida. Não que ela parecesse se importar com isso já que eles não pareciam próximos.

Seguimos de carro até a estação e passamos rapidamente de mãos dadas entre os repórteres que estavam reunidos. Assim que entramos no trem, Effie nos recebe nos informando que podemos seguir para nossos aposentos, mas optamos por receber os tributos com ela. Não demora para que consiga escutar o alvoroço dos repórteres indicando que os dois estão na estação, quando enfim embarcam no trem posso ver o medo estampado em seus rostos.

Peeta se encarrega de nos apresentar formalmente, ele é gentil mesmo sabendo que isso não vai aliviar o que aqueles dois estão sentindo. Naquele momento consigo sentir o peso de duas vidas em minhas mãos, de certa forma ambos estão contando comigo para voltar para casa.

(...)

Após jantarmos, conversamos um pouco com os tributos e descobri que Johan tem dezesseis anos, mesma idade que Peeta e eu estávamos quando participamos dos jogos no ano anterior.

— Veremos as reprises desta tarde. – Effie liga a TV animada e o casal de tributos parecem tão tensos como eu na primeira vez.

— Já, já se acostumam com ela. – cochicho próxima a eles e logo a dona das perucas coloridas me olha de forma repreensiva.

— O que quer dizer com isso, mocinha?

— Nada Effie, aliás gostaria de dizer o quanto seu vestido neste ano foi um tanto exótico. – ela torce os lábios em seguida sorri abanando a mão no ar considerando meu comentário um elogio.

— Queria algo alegre. Cheio de vida, afinal o Distrito 12 esse ano está entre os favoritos na Capital.

Peeta senta ao meu lado no sofá e noto o quanto está atento a colheita dos outros Distritos, é como se estivesse analisando os adversários. Depois de ver toda a programação noto que os dois tributos estão exaustos e comento com Effie se não seria bom os atendentes mostrarem os vagões onde irão descansar.

— E, você não quer ir descansar? – Peeta pergunta ao meu lado assim que ficamos sozinhos e observo toda a extensão do seu rosto.

— Não tenho certeza se quero dormir agora.

— Quer discutir alguma tática para apresentarmos aos nossos tributos? – nego lentamente com a cabeça – Ok, então o que quer fazer... – ele também olha detalhadamente para o meu rosto.

— Acho que vou querer mais morangos com chocolate.  – me levanto e vou atrás de algum atendente.

Depois de comer vou para o vagão reservado para mim e Peeta - já que somos casados - temos que dormir juntos. Não que tenha demorado muito, mas Peeta já está dormindo quando entro no aposento, deitado no canto da cama deixando maior parte dela pra mim. Estava cansada então não demoro a dormir, mas assim que o sono chega os pesadelos vem junto carregados por imagens dos tributos Narah e Brody em uma arena como a que estivemos. Minhas mãos agarram firme o lençol, pois observando melhor a garota, não é a Narah e sim Prim.

Prim!

Grito o mais alto que posso, mas não consigo chamar sua atenção.

— Acorde, Katniss... acorde... – sinto alguém me sacudir.

— Prim... não a Prim não... – começo a chorar e finalmente consigo abrir os olhos e em meu campo de visão Peeta aparece com uma aparência preocupada.

— Acalme-se, foi só um pesadelo. – meu peito subia e descia, não conseguia regular minha respiração.

— Peeta... pareceu tão real. Prim, estava na mesma floresta que estivemos e a Clove começou a atirar facas nela... foi horrível... – meu choro quis aumentar, mas Peeta me envolveu em seus braços e suas mãos espalmaram em minhas costas e ali ficou acariciando por um tempo até eu me acalmar.

— Não é real, tá legal? – ele me afastou de seu corpo somente para reafirmar que tudo não passou de um pesadelo – Prim está bem, está em casa e ficará segura.

Ele dizia palavras de conforto para me acalmar e quando fez menção de se retirar para buscar um chá ou qualquer coisa do tipo não permiti.

— Peeta, por favor... não vá... não me deixa... Fica comigo. – pedi e prontamente me atendeu deitando na cama e me puxando para perto de si e quando me aconcheguei em seu peito e consigo ouvir a batida de seu coração em um ritmo regular, de alguma forma aquele som me acalma. Sinto sua mão em meu cabelo e o abraço mais forte. Estou quase pegando no sono quando escuto ele dizer em um sussurro:

— Sempre.


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Notas finais do capítulo

É isso, agora não é mais sobreviver aos jogos e sim ajudar um dos tributos nessa missão.
Nos digam o que acharam do capitulo, a Bel e eu adoramos saber a opinião de vocês.
Uma ótima semana a todos.
Beijos