Dean sentiu o sangue na boca. Tentou levantar-se era inútil. A bala atravessara seu peito. Tentou conter a perda de sangue pressionando a camisa rasgada. O corpo de Duncan estava estirado ao chão, com os olhos esbugalhados encarando seu oponente. Na troca de tiros o rifle que o loiro carregava foi decisivo para derrubar o brutamontes que mesmo ferido mortalmente conseguira disparar uma segunda vez acertando o Winchester. O rapaz sentiu a imediata falta de ar, manteve a calma e sua determinação em sair daquele lugar.

Dean rastejou até a saída. Deixando um rastro de sangue. Tinha que chegar até o impala.

“ O celular do papai... Samm...Sammy”

O som de um veículo se aproximando deixou Dean assustado. Não tinha como se esconder deixando aquele rastro de sangue. Sentou-se e empunhou a arma tremulamente. Seus sentidos estavam enevoados. Teria que ver bem quem se aproximava antes de atirar. E se fosse Sam? Aquele medo, receio e a falta dos sentidos o fizeram vacilar. Em poucos instantes passos cautelosos adentravam o local. Dean ficou imóvel, não conseguia distinguir a silhueta que se aproximava. Mas teve a constatação que precisava, não era seu amado irmão.

— Mas que merda é essa. Esses caras não eram profissionais? — Dizia a voz com alguém no telefone era uma voz rouca de homem de uns 50 anos. Dean sentiu-o aproximar-se e colocar o dedo em sua jugular.

Dean evitou a respiração e pela inexperiência do outro ouviu ele falar ao telefone.

—Tô te falando mulher, estão todos mortos. Uma verdadeira carnificina. É o Winchester também. Sim tenho certeza. Não só o loiro de cabelo espetado. É claro, vou incendiar o lugar. Não acho que não. Só o impala continua lá fora, na garagem. Ok, queimarei ele também. Até mais. — O homem desligou o telefone raivosamente — Vadia dos infernos! — E saiu por onde acabara de entrar.

Dean sabia o que teria que fazer. Esperou o homem de paletó afastar-se, ouviu barulho de porta de carro. Ele estava pegando os galões de gasolina. Dean recarregou o rifle, os dedos deslizavam com o sangue, a dor e a vontade de cerrar os olhos estava cada vez pior. Não conseguiria mirar no homem que já estava de volta. Viu-o colocando a gasolina na mesa, no corpo de Duncan e no de Hanz e seguiu até onde Dean continuava imóvel. O jovem Winchester não venderia sua pele tão facilmente, não tinha forças para erguer e atirar no oponente. Mas apenas apertar o gatilho seria o suficiente para incinerar o desgraçado de olho preto. Era um demônio isso era inquestionável. O telefone do demônio tocou novamente.

— Alô, estou quase lá. Sim eu sei. Claro o Winchester grandão será todo seu, o mais velho já se juntou com os demais no inferno.  O quê? Ele está a caminho? Devo liquidá-lo? Ok, ok. Vou acabar logo com isso. —disse o homem continuando sua trajetória desta vez com mais rapidez.

Dean compreendeu parte da conversa, tudo indicava que seu irmão estava a caminho e que esse desgraçado iria fazer algo contra o mais novo. O manda chuva no telefone sem dúvida era uma mulher. Seria a maldita Lilith? Ele sabia que a desgraçada queria Sam fora de seu caminho, mas algo não fazia sentido. Contratar assassinos ao invés de uma horda de demônios? Lilith continuava rompendo selos e a guerra entre ela e os anjos era algo catastrófico. E esses lixos? Alguém havia pago por essa cilada, e isso não se encaixava direito. Mas não tinha tempo de montar os quebra cabeças, era hora de dar seu último tiro. Isso certamente o mataria também, afinal dada a sua atual condição não conseguiria sair do que estava por vir. Mas não deixaria Sam ser surpreendido por esse canalha.

Dean sorriu, os dentes cobertos por sangue. O homem sentiu o movimento de algo e virou-se para ver o que era e o loiro disparou e a pólvora fez o resto do serviço se espalhando e incendiando todo o local inclusive o homem de terno que segurava o galão de gasolina. Tudo havia sido rápido demais, o homem corria gritando e caiu ao chão perto da pilha de madeira que outrora servira de esconderijo para Dean. O calor infernal, a fumaça estava sufocando o jovem. E o teto começara a desabar, os estrondos e o crepitar aumentavam a intensidade.   Dean rastejou por alguns minutos lentamente, seus dedos estavam em carne viva pelo esforço que fazia ao tentar puxar seu próprio corpo e não suportou lutar por tanto tempo. Deixou a escuridão tomar conta de tudo. E antes de perder o sentido sentiu algo segurando sua perna e sentiu sua pele queimar, sem forças para lutar e nem mesmo gritar deixou os olhos fecharem.

***

Sam Winchester parou abruptamente, Ruby aparecera no meio do seu caminho quase fazendo-o com que ele a atropelasse. Saiu enraivecido do carro e gesticulava com indignação.

— Você está louca? Quase ocasionou um acidente! Agora não posso perder tempo, preciso salvar meu irmão ele está... — O jovem foi interrompido pela voz da jovem.

— Ele está morto, Sam. Eu sinto muito — Disse a mulher aproximando-se do homem que estava prestes a entrar em colapso.

— O quê? Que merda você está dizendo? Como...como sabe disso? — Sam não queria saber, não queria.

— Um informante intercedeu a conversa de um demônio com Lilith. Nessa conversa o outro confirmou a morte de Dean. Eu realmente sinto muito Sammy — O moreno sentiu como se tivesse levado facadas, o chão parecia desaparecer de seus pés.

Ao sentir o toque da mão de Ruby e seu apelido nos lábios da mulher, ele imediatamente contraiu-se.

— Vá para o inferno sua vadia! Me deixa em paz! E nunca mais me chame de Sammy. Você está me entendendo Ruby? — A voz, a pressão de seus dedos no braço da mulher a fizeram estremecer.

— Desculpa Sam. Só quero ajudá-lo. Vou com você, pode precisar de mim e...

— Some da minha frente Ruby! SOME! Ou vou exorcizar você com seus próprios ensinamentos. Saia do meu caminho! AGORA! — Sam gritava. E emanava um poder tão forte que a mulher resolveu baixar a guarda.

—Certo. Sabe onde me procurar. Lilith pagará por toda a maldade que fizera com você e a todos do planeta. — Ruby saiu dando lugar ao moreno.

Sam encarou-a desconfiado. E antes de pensar qualquer outra coisa uma explosão chamou sua atenção e correu para dentro do carro. Disparando para o local indicado no mapa. O mesmo lugar que agora estava em volto a grossas nuvens de fumaça.