You are my Release escrita por 0Haira0


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hello Angels

essa fic eu fiz para uma amiga minha

Boa Leitura~



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Era uma noite fria, mais uma daquelas madrugadas de dezembro onde está frio demais para nevar, e sair de casa é a última das opções.

A lareira queimava, reluzindo as diversas nuances das cores quentes. A música alegre que o violino entoa, era propagada pelo rádio antigo que jazia na sala. As luzes coloridas iluminavam o pinheiro verde que também continham vários enfeites de porcelana. Havia presentes, muito bem embalados, com papeis vibrantes e de estampas coloridas.

Sobre a mesinha de centro, tinham um fundo prato com biscoitos com gotas de chocolate e um belo e grande copo de leite morno.

Junto com a música, que agora tocava baixo, ouvia-se o ressonar baixinho de três gordinhas crianças. Estas dormiam em meio ao tapete fofinho, cobertas com mantas que tinham seu próprio cheiro, e que as reconfortavam. Estas tinham tentado ao máximo ficar em alerta, os pequenos estavam ansiosos para ver as renas, e saber qual o segredo delas e de como poderiam voar tão rápido.

O aparelho de televisão, que antes transmitia um desenho sobre duendes brincado em jardins e sobre fábricas fantásticas de brinquedos, fora desligado pela figura paterna. A mãe deixava um cálido beijinho de boa noite em cada uma das rosadas e rechonchudas bochechas infantis, e como costume naquela noite, juntou-se ao marido ao sofá duplo daquela pequena sala, e juntos foram velar os sonhos infantis...

Se querias ouvir uma doce e bela história de natal, sobre uma acolhedora e alegre família... Ou dos contos que narram sobre a magia natalina, eu sinto muito em lhes informar, mas não é este tipo de história que vou lhes contar.

O que aconteceu naquela noite, foi algo extremamente desagradável.

Se quiser ler sobre beijos debaixo do visco, creio que seja melhor não continuar. Sei que há outros lugares onde possa encontrar.

Entretanto, se quiser saber sobre uma história de sobrevivência de almas esquecidas até mesmo por Deus, e de certo modo, sobre redenção... Sobre demônios, pactos sangrentos e tantas outras coisas que ninguém te conta no natal... Então fique.

Pois eu irei narrar cada passo doloroso da nova, e breve, vida de Cho KyuHyun...

Você pode me ter como uma alma amiga, mas cabe a mim, o infeliz dever de relatar as partes sombrias daquela noite.

[...]

Cho KyuHyun era o mais velho de quatro irmãos, e digam-se de passagem, o mais inteligente de toda sua família.

Crescerá em uma pacata vila ribeirinha do interior, mas todos sabiam que este era diferente.

No mundo de objetos abandonados e jogados fora, o Cho sabia que sempre tem um modo de modificas as coisas e ajustarem-na para ajudá-lo nas diversas situações.

Ele adorava livros... Quero dizer, adorava aprender qualquer coisa com eles, das mais simplórias conotações, sobre teorias, sobre o universo, meditações, até sobre as mais complexas formulas da física, ou sobre a complexidade do organismo...

Naquela pacata vila, havia uma biblioteca enorme, esta se encontrava numa enorme mansão de um bom e velho senhor. Era uma sala com milhares de livros, sobre todos os mais diversos assuntos.

E nada dava mais prazer ao Cho, perde-se no tempo, alimentando aquela voraz fome pelo conhecimento. Cada pequena parte daquele conteúdo absolvido pela sua mente sedenta, era armazenado de modo efetivo e perpetuo.  E isto o fazia diferente.

Os pais do KyuHyun não compreendiam sua criança primogênita, e quando este ainda era criança, tentaram o fazer se interessar sobre o oficio da pescaria, algo que vinha sendo executados por seus ancestrais. Mas o menino não tinha jeito.

O dono da amada biblioteca, era encantado pela fome de conhecimento daquele jovem matuto, se identificava de certo modo, com a paixão que o jovem tinha pelo conhecimento... Por não possuir herdeiros próprios, pensou que seria uma boa ação custear a jornada por conhecimento daquele garoto matuto...

E aquele fora o primeiro erro.

Veja bem, as intenções do velho senhor eram nobres, quase tão nobres quanto a mente inventiva do KyuHyun. E toda esta história teria aquele ar de superação, com uma bela moral e final feliz, se o mundo fosse tão nobre quanto aquele gesto.

Sinto ter que lhes dizer que o mundo é um lugar macabro. Recheado de podridão e de seres que estão à espreita de suas vitimas, para destroçar-lhes. Tenho a infeliz missão de relatar, que o Cho inventor, cairá nas graças das desventuras.

[...]

Tinha sido uma festa enorme a aprovação do Cho na mais conceituada universidade de Seul. Era o primeiro daquele vilarejo a ir cursar medicina, e seria o orgulho local aquele novo doutor.

O dono da mansão fazia questão em pagar cada parcela da cara mensalidade de tal curso, e dizia que queria apenas que KyuHyun voltasse quando se graduasse e ali abrisse sua clinica, que pudesse voltar a comunidade todo o conhecimento que iria receber.

O senhor e a senhora Cho, estavam mais que orgulhosos do primogênito, a mãe, no dia da partida do filho, chorava a ponto de soluçar, buscando, em meio às lágrimas, orientar o filho, além de fazê-lo prometer, inúmeras vezes, que mandaria sempre noticias e que logo que estivesse em férias, faria uma visita ao vilarejo.

Como venho lhes dizendo, a vida é um longo trajeto de desventuras, e estas logo assolaram a vida do Cho.

Estava em meio ao quinto ou sexto período do curso. A demanda das matérias, culminada com a carga horária de estagio obrigatório voluntário, tomava qualquer tempo que KyuHyun dispunha. Saia antes mesmo do sol nascer, e voltava muito depois do crepúsculo. Não tinha descanso nem mesmo aos finais de semana, onde revisava toda a matéria dada.

Estava vestido com seu jaleco branco, andando pelos corredores com a recém-adquirida pilha de livros que pegara na biblioteca da instituição, quando o diretor financeiro tocou em seu ombro.

Uma onda levada por um frio arrepio assolou o jovem, apenas com aquele cálido toque, de certo modo, sabia que algo estava profundamente errado.

Ele acompanhou a figura mais baixa que si, e visualmente mais redonda, que juntamente com os oclinhos redondos davam-lhe um ar bem tedioso.

Eles adentraram ao gabinete de 9x7m, e assim que ouviu o suspiro alheio, o rapaz já sabia que algo ruim lhe acometeria:

— Meu jovem, receio ter de lhe contar um enorme infortúnio. – Seus dedos pequenos e gordos, tocaram a parte metálica entre as lentes, as empurrando de contra o rosto, em um claro sinal de desconforto. – Sinto ter que lhe dizer, mas houve um incêndio em seu vilarejo. Seu benfeitor faleceu junto ao fogo que consumiu toda a residência onde morava sozinho.

O choque era mais que notório no rosto do jovem. Não sabia o que pensar, pois queria muito bem aquele senhor... Além daquele sentimento de perda, sua mente muito ágil, logo soou o alerta de pânico. O que seria se de si? E seus estudos?

Não poderia manter-se sozinho e pagar sua faculdade, com os bicos esporádicos que fazia em uma cafeteria... Tão pouco poderia pedir dinheiro aos genitores, que mal tinha o próprio sustento e de seus irmãos menores.

Então, se você já perdeu alguém, qualquer pessoa que lhe seja importante, você sabe qual foi a sensação... Pois bem, este sentimento é indescritível, se quer é algo que você possa cogitar em imaginar.

E como já previsto, noticias ruins nunca vem sozinhas.

Não se sabia ao certo como aquela tragédia tinha ocorrido, as investigações eram todas inconclusivas e se quer havia qualquer seguro para o imóvel.

— Bem, nós temos o programa de bolsas integrais. – O homem retornou a falar, mas seu tom era tão desesperançoso que nem ao menos provocou qualquer emoção no mais novo. – E mesmo você sendo um dos nossos melhores alunos, não se enquadra no perfil... Veja bem, temos um limite etário, e você esta um ano acima dele... Eu realmente sinto muito. Ainda mais que você só possui um mês de cobertura...

Cho nem mesmo conseguiu ouvir o restante do discurso proletariado. Como tantas empresas, aquela universidade visava o lucro obtido, e até mesmo o sistema que seria um beneficio aos jovens sem condições financeiras para bancar altos cursos, na realidade, é um modo de captura de profissionais de alto nível a baixo custo.

Por isto tinham um limite de idade, precisavam de pessoas jovens, aquém pudessem explorar por mais tempo, e ter assim, maior tempo de vantagem.

Eu avisei que esta não era uma história de bons exemplos.

   [...]

Estava aos últimos dias do mês de cobertura da sua mensalidade, tinha tentado buscar algum emprego, mas sua rigidez de horário e falta de experiência não ajudava. Até tentou alguma vaga mais fixa no café aonde vinha fazendo trabalhos esporádicos, e quase foi efetivado, toda via, o filho do dono acabou por também desempregar-se, e quem iria preterir a própria família em prol de um estranho?

Cho estava sentado em sua carteira, muito tempo depois das aulas terem acabado. Não tinha forças para se mover-se. Estava aquele tempo todo a fitar o nada, e sua mente que antes era tão recheada de idéias, agora, nada jazia ali.

Não sabia o que faria... Você já se imaginou ter todo um sonho em suas mãos, e do dia para a noite tudo escorrer por entre os dedos?

E foi em meio aquele desespero, fragilizado pela sua confusão mental, que o Cho acabou por se tornar um alvo ainda mais vulnerável. Entenda, o jovem não queria ter que voltar a seu vilarejo depois de tantas promessas feitas e ter que encarar os olhos dos genitores cobertos de desilusão.

E foi com estes sentimentos, sendo tão abatidos, que foi a presa perfeita aos abutres. E no caso em questão, de seu professor.

O pedagogo possuía uma rede de contagem de cartas em baralho. Onde um observador fazia pequenas apostas, contando cada carta nas jogadas, e quando estava propenso para lances altos, ele fazia sinal para a “roleta”.

A “roleta”, sempre fazia jogadas de valor alto, tirando o máximo de cada mesa. Tinham duas pontes que deveriam sempre ficar de olho na segurança do cassino, e avisar a “roleta” qualquer movimentação estranha.

KyuHyun passou aquele fatídico dia todo treinando os sinais, memorizando as jogadas e exercitando contas rápidas. Estava nervoso, mas quem não estaria? Era a primeira vez que estava envolvido naquela situação.

Erros ocorreram durante toda a noite. Deixou cartas caírem, tropeçou ao caminhar de uma mesa a outra, e não soube como carregar as inúmeras fichas que ia ganhando a cada partida. Mas as horas iam correndo, e assim que se adaptou ao esquema, sentiu ao sangue fluir quente.

Ficava mais imerso ao jogo, e ganhar estava virando um prazer. Cho estava acostumado a suar a cada centavo que recebia e ter tanto dinheiro e de modo tão fácil, acabou por encobri-lo com uma nevoa estranha. A luxuria domava seus olhos, e aquele tipo de cegueira era algo perigoso.

A cada novo lance, a cada aposta nova podia sentir a adrenalina agitar seu corpo. Não viu os alertas, nem a insistências nos sinais que eram enviados para que fosse embora, que os jogos tinham que acabar e que o perigo estava a avançar.

Os seguranças do salão do Poker, o encurralaram. Sabiam que estava a usar a probabilidade binária ao contar cada carta, e aquilo fazia com quê perdessem dinheiro de modo rápido. E assim, mesmo não sendo algo ilegal, não era tolerado.

 O que aconteceu aquela noite, no porão daquele lugar de puro luxo, e que, diga-se de passagem, era um ambiente repugnante, foram coisas que fariam qualquer um perder o sono.

Ao se tratar de dinheiro, o homem perde a sua humanidade, se tornando algo devastador. E assim, os gritos agonizantes eram abafados em meio a musica alta e moderna, mas seguiam de modo incessante, assim como a cada golpe recebido por uma barra de ferro qualquer.

Os repetidos golpes, com força aplicada por dois homens muito maiores que o Cho, faziam cada vez mais estragos em seu organismo. Não era a intenção dos seguranças dar-lhe nada mais que uma bela lição. Contudo, não conhecemos limites quando estamos em uma situação de superioridade, e acabamos por abusar de qualquer lampejo de poder que recaia em nossas mãos.

E naquela noite de dezembro. Em uma madrugada que estava fria demais para nevar, e que antecedia ao dia natalino. Cho KyuHyun teve sua quarta costela fraturada, e em sequência, consequência de um novo golpe, esta costela perfurou seu pulmão.

Devo lhe garantir que não foi algo agradável aos olhos. Se uma hemorragia interna por causar dores imensuráveis, sufocar com o próprio sangue que fluía sem freios, pode lhes tirar qualquer dimensão do sofrimento.

Tal quadro era tão execrável aos olhos, que um dos seguranças acabou por vomitar em seus próprios pés com a imagem do jovem caído, convulsionando e expelindo o rubro líquido vital. Seu companheiro tentou livrar-se daquele corpo, que tão logo não haveria mais vida.

Largou-o em uma viela qualquer, julgando que ao alvorecer os catadores de lixo o encontrasse, e tomasse apenas como mais um drogado a morrer de overdose... Não seria o primeiro.

Sentia o corpo gelar, enquanto cada vez que buscava uma lufada de ar, de modo involuntário, o peito inflamar em pura chama. Como estudante de medicina, Cho sabia o que viria em sequência. Infelizmente, meu caro, a consciência é a ultima coisa a ser perdida enquanto se estar a morrer.

Em meio à lama, jogado aos pés de um latão de lixo, uma única lágrima escorreu pelo cálido e pálido rosto do rapaz. Estava com medo.

Quando aquela lagrima única, de pura angustia, tocou o imundo chão, um estranho silêncio tomou conta.

Como posso descrever tal coisa, se mesmo quando achamos que estamos em profundo silêncio ainda existe mínimos sons, que apenas nosso sistema auditivo não é capaz de reconhecer?

Toda via, afirmo-lhe, nem mesmo os cães poderiam escutar. Os segundos não corriam mais e uma nevoa densa e negra, como fuligem, espalhava-se naquele beco desconhecido.

O cheiro forte de putrefação tomaria os sentidos do coreano, e até o faria regurgitar, se este pudesse sentir algo além dos tons férricos que inundavam seu canal respiratório.

Uma risada digna dos contos mais tenebrosos de terror quebrou aquele mar de calmaria, e logo se misturam ao ruído de passos, como os de galochas a andas em poças d’ água.

A figura que surgiu, era algo que só poderia ser advindo do mais profundo inferno. O ser em questão tinha uma forma humanóide, cerca de três metros altura e encapuzado era coberto por um manto escuro de pano preto longo e rasgado. Seu corpo era acinzentado e decadente, como uma coisa morta decomposta na água, e sua respiração era longa e lenta, como ele está tentando "sugar mais do que o ar". Suas mãos eram brilhantes, acinzentadas, de aparência viscosa e coberta de feridas. Ele transpirava o próprio frio.

O quadro se completava com órbitas vazias, cobertas com pele e um grande buraco escancarado onde a boca deveria ser.

Flutuava sobre o espaço, logo acima do corpo, quase desfalecido do rapaz. E em um sussurro gélido, em uma baforada mais densa que a própria neblina anômala que ali estava ele proclamou a uma simples, mas perigosa, pergunta:

— Você teme a morte? Você teme a escuridão do abismo?... Ao julgamento final de todos seus pecados...

E ali, o Cho acenou para a figura demoníaca diante de si. Não era difícil e nem conotava muito tempo para responder tais questões, pois por mais que estivesse a recear aquela figura, tinha maior temor ao desconhecido.

O que viria depois da morte?

O que seria de sua alma, se ela existisse?

Seria julgado por aquela sua fraqueza que levou seu fim?

E seus familiares? Como ficariam depois de sua partida?

Estava pronto para abdicar da sua vida?

— Posso lhe oferecer uma fuga deste sofrimento, meu caro... Basta me entregar a sua alma e corpo...

Ao dizer tais palavras, o buraco que jazia no lugar de sua boca, abriu-se, dobrando seu tamanho, já grande. A figura tratou de sugar aquela alma perdida, devorando cada mínimo pedaço puro e agora, sem esperança do então jovem Cho KyuHyun.

Meu caro amigo, há milhares de pessoas no mundo que não conhecem o real sofrimento, e que preferem contos felizes, sobre lindas noites de natal. Mas este conto não é sobre tais pessoas... Esta história sobre a libertação de um demônio. 

[…]

E assim Cho passou a viver após aquela fatídica noite onde todos sempre desejam a paz, o amor e a calmaria. Isso era o que o pobre primogênito da família Cho não tinha. Sua vida agora era tomada por uma tempestade de dor, sofrimento e solidão. Sua vida sempre carregada por seu medo do desconhecido agora vagava como um ser das trevas.

Mas essa história não é tão má ou triste assim. Com a sua “nova vida” ele descobriu alguns talentos úteis, como ser persuasivo e assim conseguir um bom emprego e custear sua faculdade. Ao menos agora ele sabia que iria conseguir terminá-la.

[...]

Mas vale lembrar-lhe, assim como disse antes. Essa não é uma bela história de superação com uma moral no final, não é um desses contos de natal que nos fazem sorrir e nos emocionar com a magia que essa data tão especial pode causar.

Então era de se esperar que aquele ser que devorara a alma do inteligente primogênito da família Cho e o primeiro de seu vilarejo a ir para uma faculdade viesse, em algum momento, saldar sua dívida. E foi assim que naquele fim de tarde de dezembro, em um dia que estava frio demais para nevar, podíamos ver KyuHyun caminhando por um parque com o olhar alheio a pessoa que o observava. Ele caminha ate o lago que ali havia e começa a atirar pedras nas águas calmas causando ondulações enquanto elas pulavam sobre o espelho liquido tirando-lhe a calmaria. O demônio resmungava palavras inaudíveis para seu espectador que o acompanhava a um bom tempo, mais exatamente, desde o momento que ele chegou ao parque.

Curioso, um rapaz observava de um banco próximo, o demônio atirar as pedras cada vez mais fortes, vendo-as dar, cada vez mais, saltos na água.

— Uau. Como alguém consegue fazer isso? Nunca vi a pedra quicar tantas vezes. – Sussurrou o garoto ao ver a pedra ser atirada longe.

O Cho agachou-se na beira do lago vendo seu próprio reflexo e o demônio dentro de si sorrindo com seu rosto.

— Você não pode me negligenciar Kyuhyun, eu sou você. – Seu Reflexo de olhos escarlates e sorriso duvidoso o alertava em sua voz. Ele mesmo falava ou a voz estava só em sua mente? Não saberia responder. E toda vez que via seu reflexo questionava-se se, naquela noite a exatos dois anos, não tivera feito a pior escolha de sua vida.

 Verdade que após o ocorrido ele conseguiu o dinheiro que necessitava para bancar seus estudos, principalmente quando os seguranças que o deixou a beira da morte o viram passar novamente pela porta voltando aos jogos. E agora, no seu primeiro ano de residência medica, questionava-se se não deveria morrer ou quando o ser que o deixara daquele jeito viria saudar sua divida e como viria.

O jovem Cho agitou a água irritando-se e se levantou. Não adiantaria discutir com seu próprio reflexo apenas faria as outras pessoas ali acharem que ele era louco. E talvez fosse.

Mesmo com a vida que tinha nunca imaginou que seria um demônio. Ele não pensou na hora de fazer tal pacto e em momentos assim se arrependia disso, o medo de morrer fez com que ele sucumbisse à proposta recebida e não acreditava que pudesse ter libertação.

Lee SungMin, um jovem que cursa o quarto período de design na renomada faculdade de Seul, observava atentamente cada movimento que o Cho fazia e sabia que estas não eram suas atitudes normais, afinal, há algum tempo que o Lee vinha observando KyuHyun nas imediações do campus, sempre de longe.

KyuHyun, aos olho do Lee, parecia incomodado com algo e SungMin se perguntava se ele precisava de ajuda. Pensou em ir ate o rapaz, mas sua feição não era muito amigável e podia-se ate acreditar que rapaz talvez estivesse drogado.

KyuHyun seguiu a paços largos e um tanto trôpegos para fora do lugar, sabia o que estava por vir, que estava perdendo o controle para aquilo que ocupava seu corpo. SungMin, preocupado, seguiu o rapaz que tanto observava vendo-o ir em direção a saída do parque.

O Cho seguia para a cafeteria do outro lado da rua quando, no segundo que atravessaria a avenida, viu o sorriso infernal que sugara a alma do seu corpo. E nesse mesmo instante um carro em alta velocidade atravessara o sinal vermelho.

E é nesse momento da história que acreditamos que esta talvez seja mais uma história clichê onde alguém é salvo, no ultimo segundo, por uma pessoa que o ama e assim acabam por ficarem felizes juntos. Mas essa não é uma historia feliz.

SungMin, em sua inocente preocupação, evitara a morte daquele que não podia morrer e como consequência foi acertado pelo veículo em movimento.

E nesse instante, numa pequena fração de segundo, o Cho pode ver o sorriso daquela criatura se desfalecer. E assim que viu o garoto que arriscara a vida, sem necessidade para salvar a sua, algo mudou.

KyuHyun pode ver claramente a cena. O garoto ser acertado pelo carro e subir no ar devido à tamanha força do impacto. E então, como um movimento inexplicável para si e invisível para qualquer outro que presenciara a cena, o garoto sorrio por ver KyuHyun bem e nesse sorriso um lampejo de sua vida, o mesmo que vira no momento que estava morrendo e naquele sorriso se percebeu puxando seu “salvador” já que não precisava de tal salvação, para si.

E para todos que assistiram a cena poderiam jurar que o Lee, ao empurrar o Cho, fora puxado pelo mesmo e ambos, como um milagre advindo dos céus, saíram ilesos de uma tragédia que levaria a vida dos dois embora.

Assustado, Lee SungMin apenas perguntava ao Cho se ele saíra ileso de tal acontecimento. Já KyuHyun apenas desejava levar o garoto para longe dali e do ceifador que ele acreditava ser responsável por tal acontecimento, afinal era assim que ele adquiria as almas, e talvez ele visasse a do garoto que, sem importar-se com sua própria vida, tentou salvar a do Cho, sem nem ao menos saber que este era incapaz de correr com algo tão banal quanto um atropelamento.

— Onde moras? Diga-me e te levarei em segurança a sua casa. Estas bem? Te machucaste em algum lugar?

SungMin apenas discordou com a cabeça. O Lee lembrava-se claramente de ter sido acertado pelo veiculo, porem não conseguia entender com, com tamanha velocidade inumana o rapaz o segurou e o trouxe para junto do próprio corpo salvando, com tal ato, sua vida.

Sem dizer palavra alguma, Lee SungMin guiou o Cho para sua casa onde calmamente, assim que passado o susto, tentava entender junto a ele o ocorrido.  

— Eu vi. – SungMin começa a falar assim que adentram sua casa. – O carro me acertou. Tenho certeza disso. Eu deveria subir alguns metros e depois cair no chão, mas como você conseguiu me puxar para si? Como você me salvou? Quem ou o que você é?

E naquela noite de dezembro, fria demais para nevar Cho KyuHyun conta a um estranho desconhecido toda sua história. Desde quando se interessara por aprender ate conhecer seu bem feitor que o ajudou a ingressar na faculdade. Contou-lhe também sobre o incêndio e a morte do homem que fez um bem tão grande a sua vida e com isso o motivo de ter ido ao cassino e participar da rede de contagem de cartas. Assim como contou detalhadamente desde o instante que fora levado pelos seguranças ate seu corpo ser acertado pela barra de ferro que quebra sua costela e perfura seu pulmão. Contou a sensação de afogamento no seu próprio sangue e de ser largado numa viela qualquer. Assim como a proposta que lhe foi feita e o pacto selado.

E durante toda a história, as emoções de SungMin refletiam em seu rosto como um espelho de cristal e nitrato de prata. Tão visíveis que era quase palpável ao Cho e ao demônio dentro de si que desejava alimentar-se do sentimento.

[…]

Você pode achar loucura ou até mesmo precipitação. Pois de fato, quem ficaria confortável diante da figura de um cavaleiro do inferno?

O ser ensinado, desde a mais terna idade, a se temer e que nada mais se merecia a ser rechaçado.  Não importa qual religião, todas tinham um ponto em comum, e aquele ponto era que o Cho deveria ser odiado.

Aquele era o infortúnio da vida que o assolava, tinha que aprender a conviver com a solidão. E por isto, não era de se espantar que o Cho já esperasse o repudio, até ele mesmo tinha aprendido a odiar o que tinha se tornado.

Os segundo que seguiram sem uma ação do outro, traziam ao jovem demônio uma angustia torturante. Não sabia por quais razões, mas a ideia de ser repelido pelo humano abriam em si dores tão agonizantes quanto as que sentira no beco, naquela madrugada de dezembro.

Seu corpo estava travado, como se os músculos estivessem congelados naquela mesma posição, e nem mesmo a respiração alheia poderia o acalmar.

Um toque. A mão cálida que pousou sobre seus fios negros, foi o bastante para fazê-lo sentir um calor, que se quer sentira quando estava vivo.

 A mão que esperava que lhe deflagrasse um golpe, realizava mansos afagos, indo do topo de sua cabeça até o final do comprimento capilar em sua nuca. Fazendo tal movimento por repetidas vezes.

Lee SungMin estava a acalentar, Cho KyuHyun.

E foi ali meu nobre amigo, naquele modesto cômodo, com seres simplórios, em uma noite comum que o fio de esperança surgiu.

Cho levantou-se de modo abrupto. Aos seus olhos, ainda era um monstro, e como tal, como poderia receber qualquer tipo de afeto?

Ele não precisou de palavras para dizer quão repudioso se sentia, somente desviou os olhos de qualquer parte da silhueta do Lee, focando apenas em uma saída daquele lugar.

O rapaz sentia-se a sufocar novamente. Achava que ser odiado lhe causaria sofrimento, mas aquela imaginação nem mesmo se assemelhou a dor que de fato sentiu ao receber afeto. Não era merecedor de tal coisa. Demônios deveriam ser perseguidos, e não acalentados...

Mas não era aquilo que o Lee via diante de si. SungMin via em KyuHyun uma pessoa boa, vítima das desventuras e crueldades do destino. Alguém que merecia mais do que lhe foi dado, e digno de coisas tão nobres quanto seu coração... SungMin via para além dos olhos, pois  estes limitavam de ver o que realmente valia a pena enxergar no mundo.

Foi enxergando com o espírito, que o Lee também se ergueu daquele pequeno móvel. Tinha um sorriso modesto nos lábios, que se quer mostravam os colmilhos.

O corpo daquele simples humano, que conseguia ver além das muralhas daquele demônio a sua frente, começou a reluzir.

Os tons de dourados que resplandeceram da pele deste, a cada passo dado para se aproximar do Cho, não eram nada vibrantes. Absolutamente. Eram tons leves, como as brumas de um alvorecer.

Pois o que pouco se conta, é sobre a essência humana. Venho a lhes dizer algo de suma importância, e que só naquele momento foi de conhecimento àqueles coreanos. Todos nós somos feitos das partes mais sombrias do diabo, e do coração puro dos arcanjos. Temos estes dois polos em nosso âmago, vivendo uma eterna luta, tão importante, mas esquecida por nós mesmos.

E fora esta parte celestial que jazia em Lee SungMin que irradiou em seu esplendor. Acolhendo a figura do demônio em seus braços, para um abraço. Quando ambas as peles opostas tocaram-se, soar de sinos podiam ser ouvidos, se você fechasse os olhos por um instante. A luz do sol que brilhava tão forte, que poderia fazer a qualquer um que visse a cena, tampar os olhos de imediato, advinha do alinhamento do coração do Lee com o coração do Cho.

Como eu havia lhe dito este não é um conto natalino. Não há luzes coloridas, nem biscoitos com leite para o papai Noel... Está é a história do jovem Cho. E a vida nem sempre é justa, ou bela.

Mas uma coisa eu posso lhe dizer, mesmo que o mundo seja um luar hostil e tenebroso, ainda existe bondade nele. E são estes focos de amor puro que trazem luz para a caixa de pandora que é este planeta.

Na mais densa noite, você só precisa ver além do que seus olhos alcançam, para notar que a luz sempre brilhará mais forte que as trevas.

E aquilo que de inicio é tido como uma condenação pode ser, na verdade, a redenção de toda a sua vida.

Sinto ter que lhes dizer que o mundo é um lugar macabro. Recheado de podridão e de seres que estão à espreita de suas vitimas, para lhe destroçar-lhe. Tenho a infeliz missão de relatar, que o Cho inventor, cairá nas graças das desventuras.

Todavia, o que é mais importante de se dizer, é que sempre havia um novo jeito. E fico feliz em dizer que a pessoas que podem ver um novo jeito paras as coisas sempre tinham seus caminhos guiados para pequenos refúgios de felicidade.

Então, um ser sem alma, recebeu por um abraço, o fracionamento de quem tinha a sua de modo mais puro que a do mais nobre anjo. O ser, que então, era demoníaco, fora salvo. E mais que humano, Cho KyuHyun agora partilhava com Lee SungMin não somente seu espírito, mas a luz que carregava no coração deste salvador.


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Notas finais do capítulo

Foi isso



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