CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 35
CAPÍTULO 2 - Um Toque do Destino




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O diretor pediu silêncio para iniciar o banquete.

Orlando parecia estar mais velho e fraco do que nos anos anteriores. Rumores entre os alunos afirmavam que talvez fosse o último ano dele na escola, pois estava velho demais para continuar.

Entre os professores havia o rumor de que o próprio Governo da Magia e o ministro da educação sul-americana já sugeriam a aposentadoria do diretor, com interesse na indicação de um substituto. Usavam os eventos dos dois últimos anos como justificativas para a necessidade de sua aposentadoria.

Agora, olhando para as feições do diretor, de fato ele já apresentava estar com idade avançada. As manchas de velhice em sua testa e mãos estavam mais aparentes e os movimentos eram mais cuidadosos e lentos. Porém, Orlando não demonstrava qualquer interesse em deixar o cargo, mantendo sua mente funcional.

—‌ Bem-vindos a mais um ano de aprendizado na nossa querida Escola de Magia & Feitiçaria de Castelobruxo. Neste novo ano letivo que surge à nossa frente, temos que manter a mente focada em nossos objetivos, pois os desafios apenas se iniciaram. Seus destinos ainda aguardam pelas escolhas que irão fazer. Os senhores e senhoras estão aqui para traçar essas histórias com determinação, planejamento e força. O céu é o limite para tudo aquilo que vocês podem alcançar, tenham fé. Independente do ano escolar, todos estão iniciando oficialmente suas vidas como membros da grande e unida comunidade bruxa da América do Sul e começando a ter a merecida participação no mundo mágico. Assim, permitam que eu aconselhe aqueles que estão iniciando para que se empenhem em acumular mais e mais conhecimento. Já aqueles que estão na reta final, reforço para que sejam confiantes com os caminhos que se iniciarão. É hora de se certificar de que escolheram exatamente o que querem tentar e avançar nesse objetivo. Tenham força e fé, meus jovens.

Iniciou-se a salva de palmas pelos professores que foi seguida pelas demais pessoas no Saguão.

—‌ Iniciaremos agora, a parte burocrática. Como de costume, vamos apresentar as classes com melhor pontuação no ano anterior e que passam a integrar a sala A de seu respectivo ano.

Enquanto o diretor anunciava as salas, Eduardo aproximou-se de Hugo.

—‌ Quando ele vai anunciar os que vão para Argentina?

—‌ Acho que depois disso tudo. Ele vai deixar para o final, com certeza.

—‌ Só para nos torturar.

Um caipora comia ansiosamente um pedaço de bolo ao lado dos garotos, lançando migalhas para todos os lados. Parou assim que os jovens o notaram. A criatura afastou-se com cuidado, deixando um rastro de migalhas pelo caminho.

—‌ Será que eles deixariam que um caipora fosse selecionada?

—‌ Duvido muito.

—‌ Por quê?

—‌ Porque na informação, dizia “alunos selecionados”.

Neste momento a sala do segundo ano B comemorava ter conseguido a melhor nota e agora passaria a ser o terceiro ano A.

—‌ Pois bem. Encerramos assim, as formalidades de praxe. Sei que os senhores e senhoras estão ansiosos para terem a notícia sobre a ida ao Instituto Varita Maestra. Tenho o prazer de informar que após anos de conversas, as duas maiores escolas de magia da América do Sul decidiram intermediar um processo de troca cultural e disciplinar. Isso significa que alguns alunos serão selecionados para passarem um período na outra escola, sob a supervisão de um grupo de professores. Serão escolhidos oito alunos de cada ano escolar a partir do terceiro ano, sendo um total de quarenta alunos. Cada grupo de alunos será acompanhado por um professor que será seu responsável.

“A ida dos alunos escolhidos ocorrerá em setembro e permanecerão na outra escola pelo período de dois meses, retornando em novembro. Durante esse período, sua conduta, atividades, provas e exercícios serão analisados pelo professor responsável e ele dará uma nota que servirá para compor sua nota final e de sua turma, então… cuidado. Tudo que fizerem enquanto estiverem por lá será considerado para sua nota e da sua turma. O questionário que responderam serviu de avaliação preliminar eliminatória. Os alunos que conseguiram uma nota abaixo da média já foram eliminados e não poderão participar do processo de escolha. Ao final do banquete, os nomes daqueles que continuam estarão no mural, com a respectiva identificação de sua turma. Sim, senhores e senhoras, o questionário não foi a prova definitiva, mas apenas uma das etapas de seleção. Até o recesso do meio do ano, ocorrerão outras três avaliações que definirão os alunos selecionados.

“Pois bem. Acredito que tenha dito todo o necessário para o início das atividades deste ano. Reforço para que todos tenham cuidado em relação às criaturas das estufas, do minimagizoo e da Floresta Profunda. Todas as criaturas mágicas são seres vivos e não devem ser subestimadas ou tratadas de forma leviana. Desejo a todos ótimos estudos, grandes conquistas e vamos comer, pois não somos norques, mas sim bruxos!”

 

Os caiporas faziam sua participação costumeira durante o jantar, roubando comida dos alunos, tropeçando, caindo e brigando entre si. O uso da magia, mesmo entre os caiporas, era limitado dentro da escola, de modo que usavam mais de suas habilidades acrobáticas para escapar dos dedos ágeis de seus semelhantes e dos alunos.

—‌ Será que já podemos ir ver? —‌ Questionou Eduardo.

—‌ Mas a lista já apareceu no mural? —‌ Respondeu Hugo.

—‌ Não vi.

—‌ Parece que ninguém foi lá, então provavelmente ainda não apareceu.

—‌ Ele disse que ia aparecer depois do jantar. —‌ Comentou Roberto.

—‌ Mas... Por que aguardar?

—‌ Talvez para que não vá todo mundo de uma vez. Como um bando de caiporas na hora do almoço.

Nesse momento, um caipora desceu do teto por um cipó e agarrou o pedaço de bolo do prato de Roberto, assustando o garoto.

—‌ Odeio quando eles fazem isso. —‌ Reclamou o garoto.

Quando o jantar estava no fim, um grupo de alunos do quinto ano levantou-se de suas cadeiras e correu para o mural. Outros próximos a eles do sexto e quarto ano fizeram o mesmo e logo vários alunos estavam na frente do mural.

Eduardo saltou de seu lugar e correu para verificar. Empurrando alunos do terceiro e quarto ano ele chegou ao mural de avisos, onde os documentos flutuavam fantasmagoricamente. Um documento longo, com cerca de vinte nomes, constava com o título “Selecionados do Terceiro Ano”, com uma teiniaguá movendo-se pelo documento.

Os nomes estavam em ordem alfabética, então não foi difícil para o garoto chegar na letra E. Em uma rápida busca, encontrou o que queria. Seu nome estava lá, entre Edmundo e Fernando. Incontrolavelmente ele deu um pequeno grito de alegria.

Alguns alunos o empurraram e ele percebeu que teria que ver os nomes dos seus amigos logo. O de Hugo, Maria e Miguel estavam um pouco abaixo do dele, o que o animou mais. Numa primeira observação não viu o de Roberto e ficou desanimado, mas após uma segunda verificação encontrou o nome do amigo próximo ao fim da folha.

Voltou para a mesa feliz, sorrindo e não conseguiu fazer suspense.

—‌ Passamos! Uhul!

—‌ Que ótimo. —‌ Disse Maria animada.

—‌ O quinteto avança! — Animou-se Hugo.

Miguel e Roberto permaneceram apenas sorrindo.

O jantar encerrou e todos os alunos foram para os dormitórios. Dentro da antessala do terceiro ano, os cinco ficaram conversando sobre quais seriam as próximas etapas de seleção. Talvez uma competição esportiva, algo em algum dos labirintos ou jardins.

Eduardo acreditava que seria algo esportivo, como quadribol ou bola quente. Maria e Hugo suspeitavam que seriam testes de inteligência, como provas escritas. Roberto sugeriu alguma atividade envolvendo animais ou plantas mágicas.

O sono logo pesou para os alunos e todos foram dormir.

 

Após a reunião da noite com os professores, Orlando foi para sua sala.

Sua cabeça estava cansada e ele precisou se apoiar na estante assim que entrou no quarto. Sabia que a hora de sua aposentadoria se aproximava. Logo não conseguiria mais desempenhar suas funções e deixaria para o corpo docente o futuro da escola.

—‌ Alexandre com sua ansiedade ou Hermenita com sua rigidez? —‌ A dúvida quanto a quem seria seu sucessor o divertia e instigava. Logo teria de apresentar ao corpo docente sua indicação de sucessão. Podia escolher qualquer professor da escola, o que apenas dificultava sua escolha.

Olhou pela sala, observando o local em que trabalhou por anos. Nas paredes, vários quadros de paisagens e animais ornavam o ambiente, onde apenas três quadros de diretores podiam ser vistos. A maioria dos quadros dos diretores estavam no corredor ou nas salas de reunião do quarto andar da pirâmide. Troféus e medalhas de honra, além de premiações e certificados ficavam acima de sua estante, sendo que no meio deles havia o pequeno retrato de sua falecida esposa.

Seus filhos estavam distantes, um morando com a família no Peru e outro viajando pela Europa com a esposa. Via seus netos no Peru uma vez ao ano, durante o Natal e recebia cartas de seu outro filho contando suas aventuras pelos países europeus.

Sua vida havia ficado muito agitada após assumir o cargo de diretor. Trabalhava na escola há mais de vinte anos, sendo os dez últimos como diretor. Uma vida voltada para os estudos e honrar a escola que sua mulher tanto amou.

Sentia no passar dos anos que havia feito um bom trabalho e que sua amada se orgulharia de tudo que fez no geral. Contudo, uma coisa ainda perturbava sua mente. O estranho apreço de cinco jovens, agora no terceiro ano, para atrair problemas e perigos. No ano anterior, interrogou cada um dos cinco em separado e notou um estranho toque do destino no que acontecia com todos.

Desde que entraram na escola, haviam brigado com alunos mais velhos, encontrado os livros do Aluno Pedroso, três estavam presentes no minimagizoo no dia em que um integrante da F.U.L.A.M. invadiu a escola e quase alcançou o boitatá. No ano seguinte, escaparam das defesas feitas para impedir os alunos de encontrarem a Floresta Cantante e a passagem oculta. Entraram na Floresta do Sussurros, se encontraram com a cuca, fantasmas e um grupo de caçadores de recompensas. Curiosamente, todos passaram na primeira fase eliminatória do processo seletivo para ir ao Instituto.

Vários eventos curiosos ocorreram a cinco alunos.

Intimamente, torcia para que não fossem aceitos para ir à outra escola, pois isso os deixaria fora de sua vista. Sua intuição havia ajudado as crianças nos eventos anteriores. Ter voltado para a escola e ido direto para o minimagizoo havia impedido que o homem machucasse as crianças ou chegasse no boitatá. Sua suspeita de que os caçadores pudessem dar problemas o fez enviar reforços para a Floresta dos Sussurros.

Porém, na Argentina, há quilômetros de distância, pouco poderia fazer para ajudar. Ou será que não?

Foi então que uma ideia surgiu.

Augusto estava na Argentina. Orlando poderia não ficar de olho nas crianças, mas Augusto poderia. Só precisava encontrar a melhor forma de pedir isso para o teimoso e impulsivo homem.

 

Augusto tateou as paredes com cuidado, entrando mais fundo na caverna. Passou por alguns guajaras que estocavam comida e pedras brilhantes em seus depósitos subterrâneos. As pequenas criaturas se irritaram com o intruso. Balançaram suas pequenas clavas e proferiram xingamentos em seu dialeto limitado.

Em um ponto mais a frente, pensou ter visto uma figura alta e de cabelos longos que logo escondeu-se nas entranhas da caverna. Em outro ponto, pensou ter ouvido algo como um bater de asas.

Ele sentia que naquele local havia magia e criaturas mágicas, mas não sabia exatamente quais. Considerando quem procurava, apenas torcia para que não se deparasse com alguma criatura das trevas de periculosidade E* ou L**.

Ouviu então alguns estampidos e sons de rochas sendo explodidas. Andou com cuidado em direção ao sons, que aumentavam de modo gradual. Após alguns minutos viu luzes em uma câmara e vozes.

Viu bruxos malvestidos, com expressão cansada e sujeira no rosto utilizando feitiços para explodir, desmaterializar ou perfurar as rochas. Pontos de luzes eram emitidos das pedras preciosas e metais que saiam das escavações mágicas, indicando o material de interesse descoberto. Conseguiu ver cerca de dez pessoas perfurando as pedras. Outros dois bruxos, usando roupas mais pesadas e máscara, fiscalizavam as escavações e coletavam as pedras.

Augusto percebeu onde estava. Um campo de escavação e, pelo estado das pessoas e do local, deveria ser irregular. Provavelmente era uma extensão de um campo regular e melhor, que servia de fachada para esconder as operações irregulares.

As pessoas que ali trabalhavam estavam em uma situação decadente. Augusto pensou em ajudar, mas pouco poderia fazer. Ali, mais do que na entrada, haviam feitiços poderosos de proteção e detecção. Os criminosos não iriam querer que autoridades descobrissem seu trabalho ilegal e lucrativo.

O homem guardou o local na memória. Assim que saísse da caverna, iria procurar Orlando ou outra pessoa importante e relatar o que viu.

Ele voltou pelo caminho até a bifurcação e tomou outra direção. Se Manoel estivesse naquela caverna, com certeza não estaria por ali. Iria preferir encontrar um local mais recluso e protegido.

Augusto adentrou mais nos veios da caverna, sem perceber as três figuras na escuridão que o seguiam em silêncio, observando-o com seus olhos vermelhos brilhantes.

 

*Criaturas que apenas um bruxo Especialista pode lidar com sucesso sem maiores danos.

**Criaturas extremamente perigosas, geralmente Letais, que apenas um grupo de bruxos qualificados conseguem lidar com sucesso sem maiores danos.


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