— Sabe, você é mais sociável em um barzinho. – Damon se sentou ao meu lado, colocando o braço em meu ombro. Ergui a sobrancelha pra ele.

— Não me lembro de te dar essa intimidade toda, amigo. – delicadamente, retirei seu braço de mim, apenas para ele colocar a mão na minha coxa. – Ta querendo que eu corte sua mão fora?

— Você não tem coragem, não sem antes saber o que esses dedos conseguem fazer.

— Damon! – ralhei, ficando extremamente vermelha. Alguns olharam rapidamente para nós dois. O desgraçado caiu na gargalhada. Sem saber o porque, acabei rindo também.

— Acho que seu amigo lobinho tá muito interessado na minha amiga bruxinha.

Olhei para Jacob que conversava visivelmente animado com Bonnie. Parecia mais intenso do que quando conversávamos. Acho que se caísse um meteoro no quintal, ele não notaria. Estava tão... vidrado em Bonnie que o mundo ao redor não era notado.

— Acho que alguém está com ciúme... – cantarolou em meu ouvido, rindo. O empurrei irritada e cruzei os braços, em encostando na cadeira. – Perdeu o amigo e o namorado. Só falta perder a vir..

Antes que ele falasse, coloquei as duas mãos na boca dele, com força. Fiquei quase sentada em cima dele.

— Para de me encher o saco senão eu juro que dou um jeito de arrancar sua língua e atacar fogo em você! – praticamente gritei, me esquecendo que havia mais pessoas a nossa volta.

— Eu ajudo! – a loira, Caroline, apareceu ao meu lado. – Vou pegar a gasolina.

Soltei Damon e fui pra fora, sendo seguida por Edward.

— Quer sair daqui? – perguntou parando na minha frente. Ergui o rosto para o céu, a leve garoa estava me deixando ainda mais irritada. – Podemos ir dar uma volta.

— Não, esse clima horrível vai me deixar pior. Só preciso de um pouco de ar.

Ele ficou calado, ao meu lado. Fiquei olhando para as árvores em minha frente até me acalmar. Minutos depois, vi que alguns já se despediam, não ficariam para a festa de formatura que Alice organizou. Finalmente entrei e fui ao lado de Jacob, observando que ele ainda conversava animadamente com Bonnie.

— Você podia me contar as histórias do lobo enquanto passo os dias aqui. – ela disse, vendo que Alice rapidamente arrumava tudo para a presença dos outros.

— Claro. - ele sorriu, entusiasmado demais. Controlei a vontade de sorrir por conta disso. - Nós... vamos fazer a fogueira amanhã, seria legal se... você aparecesse. É mais fácil de contar a história assim.

— Fogueira? - Elena perguntou confusa.

— Os lobos se reúnem frequentemente para repassar a historia das tribos. - finalmente me pronunciei, a encarando. - é... divertido. Mas não acho que vampiros possam passar da fronteira, mesmo com uma possibilidade de aliança por causa do exército.

— É, Sam realmente não vai gostar. - Jacob deu de ombros, se aproximando de mim. - Você vai?

Olhei para ele, depois para Edward. Não era um olhar de “pedir permissão”, mas uma preocupação tipo “você ficará bem se eu for?” ou algo do gênero. Não queria passar a impressão que estava pulando nos braços de outros no dia seguinte após o término confuso. Ele assentiu para mim, me entendo. Mandou apenas um sorriso fraco e continuou encostado no piano.

— Os convidados estão chegando. - Alice anunciou, sorrindo. - Vou aumentar a música!

Respirei fundo, encarando Bonnie. Queria saber mais sobre bruxa, queria uma demonstração desse poder. Eu continuava admirada com o sobrenatural que me cercava, e conhecer uma bruxa só me animava para conhecer mais desse mundo escondido.

Carlisle e Esme saíram de casa para algum “jantar romântico” e vigiar ao redor, por conta do exército que podia se aproximar. Jacob se empolgou em uma conversa com Bonnie e então todos estavam afastados, conversando com alguém ou fazendo alguma coisa. Fiquei sentada na escada observando os alunos entrarem, animados. Comida e bebida servida para todo lado. Dei apenas alguns sorrisos falsos, até não aguentar e procurar algum lugar sozinho para me esconder e refletir.

Estava na sacada do escritório de Carlisle quando senti alguém se aproximando. Olhei pelo canto do olho e vi Damon se encostando na sacada ao meu lado. Voltei a olhar para baixo, os adolescentes se embebedando, entrando e saindo da encantada casa dos Cullen.

— É difícil olhar para ela com seu irmão, não é? - perguntei após um tempo em silêncio, ainda sem olhar pra ele. - relaxa, a música está alta demais para que alguém escute.

— Não gosto de falar sobre isso.

— Sobre sentimentos? - perguntei um tanto debochada. - É bom falar deles, os torna mais compreensíveis.

— Ficou melhor depois que terminou com o sabe-tudo?

Ri do seu apelido e fiquei um pouco mais em silêncio, refletindo, até me pronunciar.

— Tirou o peso das costas. Ter conversado com Rosalie em primeiro lugar foi o que aliviou, esclareceu isso que eu sentia. Abriu minha mente. Foi... como se ela me desse um dicionário sentimental.

— Uau, que... metáfora intensa. – ele debochou. Ri um pouco e continuei, mas dessa vez o encarando.

— Depois de conversar e entender o que sentia, finalmente confrontei meu problema. Eu sei que não acabou, que... ainda vai ser difícil lidar com ele e com esse amor que sinto por ele, mas... melhorou.

Ele ficou em silêncio um pouco, refletindo. Acabamos por rir quando um garoto caiu na frente de casa, depois o silêncio reinou por mais alguns minutos até ele decidir falar.

— Acho que procuro alguém para brigar comigo, alguém para irritar. Quando eu era humano, tinha meu pai para me reprimir. Ele só me dava atenção quando eu fazia algo errado, então eu vivia fazendo algo errado. Acho que só... assim consigo atrair a atenção de alguém. Então vivo cometendo erros.

— Alguém tem aproveitado a eternidade para estudar psicologia. - brinquei, o encarando. Ele revirou os olhos.

— Na verdade, é psicanálise. É um pouco diferente. - me corrigiu. Dessa vez, eu revirei os olhos

— Faz sentido. E agora você só tem seu irmão que tenta ser bom a cada segundo que respira. Para compensar os erros dele. E tem Elena. Você espera que ela te faça bom.

— É, acho que vou estudar um pouco mais e talvez fazer terapia.

Rimos de novo, até entrarmos no assunto sobre os poderes da mente, psicologia, erros e acertos da vida. Não conseguia deixar de ficar impressionada com sua capacidade de apelidar pessoas e ser irônico a cada frase.

O assunto, de alguma forma, se tornou sobre viagens e alguns pontos turísticos e suas curiosidades. Estávamos empolgados quando Alice nos interrompeu, trazendo bebidas.

— Vocês realmente vão ficar conversando aqui? - perguntou nos entregando os copos. Damon virou tudo de uma vez e pediu mais.

— Não estou com muito ânimo para festa. - falei, provando a bebida. Era vodka com energético. Fiz uma careta por estar amarga, mas tomei mesmo assim.

— Ok, então...

Ela saiu após mandar um olhar duro para Damon. Ele rapidamente puxou assunto sobre a escola; que fazia séculos que não ia para a escola, já não lembrava direito nem como fazer contas além da básica. Eu ri, agradecendo internamente por essa fase ter acabado. Sequer imaginava o que fazer de faculdade – ou se estaria viva para fazer faculdade.

Rosalie e Emmett apareceram quando o assunto era esporte, depois Jasper apareceu e o assunto foi sobre o passado deles. Guerras, lutas, encrencas que se metiam. Estava um clima leve, um pouco de bebida e uns doces que Rose trouxe, nem percebi que as pessoas iam embora, que a música abaixava. Só notei o passar do tempo quando Edward entrou, nos deixando um pouco desconfortável.

— Quer que eu te leve pra casa? - perguntou diretamente para mim, ignorando os outros. Eu não queria ir embora, estava tão agradável. Rose parecia me entender quando se pronunciou.

— Não vamos parar agora, se precisar ela dorme comigo hoje.

Sorri pra ela, agradecendo. Edward até tentou puxar um assunto, mas logo se sentiu desconfortável foi embora. Assim que ele saiu, Jacob me veio a mente. Pensei se ele ainda estava ali, rodeado por vampiros.

— Vou procurar Jacob. - anunciei, me levantando do chão.

— Eu o vi agora pouco conversando com a bruxinha e com Elena. - Emmett disse pra mim, dando de ombros. - parecia extremamente confortável e empolgado.

— Acho que alguém enfeitiçou o lobinho. - Damon brincou, revirei os olhos e bati na sua cabeça de leve.

Os deixei rindo atrás de mim e procurei Jacob pela casa agora vazia e suja. Não demorei muito e o encontrei na sala, empolgado em uma conversa com Bonnie. Apareci um tanto tímida, com a mão no bolso de tras da calça.

— Ei. - saudei baixo, os interrompendo. Os dois me olharam sorrindo.

— Bella. - Bonnie falou animada. - Você deveria estar aqui ouvindo essas histórias.

— Ah, eu já ouvi. Passei muito tempo com os lobos. É... deslumbrante.

Jacob sorriu mais ainda pra mim, provavelmente feliz por meu comentário.

— Não te contei tudo, ainda tem histórias sobre a ligação dos lobos com as bruxas. Podemos ir na reserva amanhã e pedir para meu pai contar melhor para nós.

Marcamos um horário em que ele passaria em minha casa para me buscar, com Bonnie. Logo se despediu, dando um longo e caloroso abraço em Bonnie. Depois, antes de me abraçar, me olhou profundamente, tentando transmitir uma mensagem nisso. Demorei alguns segundos para entender, até perder a fala e receber seu abraço apertado.

— Não fala nada, ok? - sussurrou em meu ouvido, ainda me abraçando. Não falei nada, apenas retribui o abraço e o deixei ir, forçando um sorriso.

Olhei Bonnie enquanto ela se afastava. Ainda confusa sobre a rapidez, a estranheza... Respirei fundo enquanto voltava para a sacada onde estava o outro. Tentando entender que meu melhor amigo, antes apaixonado por mim, teve um imprintting por uma bruxa que acabou de chegar na cidade.