Jacob estava cansado da longa viagem, então preferi ir direto para casa, assim ele poderia descansar melhor. A distância entre os estados era o grande motivo da demora ele ter demorando tanto tempo para vir a Nova York me visitar. Jake teve que literalmente atravessar os Estados Unidos para chegar até aqui. Era feriado de Ação de Graças, proporcionando assim, alguns dias de descanso para nós dois. E para matar a saudade também, é claro. 

Jake estuda engenharia mecânica na universidade de LA, e sua grade curricular era bem mais intensa do que imaginamos. Ao contrário de mim que sempre tenho os fins de semana livre, Jake dificilmente consegue um espaço vago, pois trabalha frequentemente em projetos. 

Contudo, dessa vez ele mesmo havia insistido que deveríamos nos ver. Imaginei que consequentemente ele teria algo muito importante a dizer. Por esse motivo, criei uma expectativa, positiva claro, fantasiando que independentemente do que ele quisesse dizer, tivesse relação com nós dois. 

—Você falou tão mal desse lugar, mas até que eu achei confortável, Bella — Jake disse colocando sua mala sobre um suporte perto da cama. — Imaginei que aqui fosse um buraco de rato, isso sim. 

—Não está tão longe disso — brinquei. — Eu e Alice conseguimos ajeitar da nossa maneira o lugar, mas as coisas em Nova York são bem diferentes de Forks. 

—Você diz isso porque nunca foi a Los Angeles.  

—Qual é! A cidade é linda. 

—Isso eu tenho que concordar. Pode chover, fazer sol, cair um meteoro. A paisagem é sempre magnífica. 

—Sorte a sua. Aqui eu convivo com as baratas e os gritos de Alice. 

Nós dois rimos. 

—Então, esse é o nome da sua nova melhor amiga, Bella? 

—Não precisa ficar com ciúmes, Jake. Ela não faz meu tipo.  

—Sorte a sua. Eu sou um bom partido. Difícil ignorar esse fato. — Ele piscou pra mim. Mordi meu lábio, avaliando o seu maxilar, enquanto ele desfazia sua mala. 

—Ah, eu só esqueci de avisar uma coisa. Teremos que ficar no mesmo quarto, acredito que o sofá seja meio pequeno para você, mas eu planejo comprar um colchão de ar. Assim você poderá se acomodar perto da minha cama, ou… — Relutei em dizer o que eu queria. 

—Ou? 

—Ou poderíamos dormir na mesma cama, mas não sei se seria apropriado. 

A sua risada foi tão alta que eu fiquei paralisada de vergonha. 

—Prometo não tirar uma casquinha durante a noite então. Assim como você fez com Mike no segundo ano. 

Ele relembrou um dos piores momentos da minha vida no colégio. Quando após um simples beijo, o garoto mais idiota do colégio saiu espalhando que eu havia insistido em fazer outras coisas como ele. Jacob não estava se aguentando, escondendo sem sucesso, a gargalhada. Mas ao ver minha expressão temerosa, suas forças desabaram. Ele tombou a cabeça para trás rindo bem alto. 

Tossi tentando disfarçar a voz engasgada. 

—Eu vou ver se tem alguma coisa pra comer, enquanto você vai tomar seu banho rindo. 

Lhe dei as costas seguindo em direção à cozinha. Eu podia ouvi-lo rindo ao mesmo tempo que me chamava pelo nome completo. Algumas vezes é legal ter Jake como meu melhor amigo, mas por outro lado, ele era um amigo imprestável com relação a memórias terríveis do colegial. Eu não conseguia entender como uma pessoa não esquece uma coisa dessas. Todavia, graças à Deus, todos os meus outros amigos do ensino médio, não aguentaram a distância. Cada um seguiu seu rumo, e Jake foi o único que realmente ficou. 

Durante o tempo em que o senhor risadinha tomava seu banho preparei alguns petiscos com coisas simples que eu tinha na geladeira. Pensei que fôssemos a um restaurante ou lanchonete, então tecnicamente eu não estava preparada para isso. Encontrei algumas cervejas na geladeira. O que já era meio caminho andado. Eu adorava queijo, e por conta disso, eu tinha dois tipos bem saborosos. Fora as frutas e um pão fresco que eu havia comprado recentemente. 

Ajeitei os pratos na mesa de centro na sala, diminuindo um pouco a luz. O tempo lá fora era de chuva. O céu estava nublado, totalmente encoberto por nuvens escuras, porém não estava frio. Torci para que Jake não estranha-se o clima que eu intencionalmente criei. 

—Água quente do seu chuveiro é deliciosa — ouvir a voz grave de Jake de repente. 

Virei inocentemente, achando que ele já estivesse pronto para nosso “almoço jantar”. Contudo, dei de cara com seu peito totalmente descoberto e parcialmente molhado. Seus músculos pareciam ter sido colocados cuidadosamente em em seu peito largo e foi impossível não olhar fixamente para ele, enquanto vestindo apenas com uma bermuda escura, Jake se secava. 

—É mesmo? — eu disse fazendo meus olhos focalizar em qualquer outro ponto da sala. — Fico feliz que você tenha gostado. Eu quero que você se sinta em casa. 

—Já estou me sentindo, Bella.  

—Bem, não tem nada muito especial para comer. Mas, espero que você goste. Quer uma cerveja? — perguntei, seguindo em direção ao centro da sala. Jacob me acompanhou, sentando no sofá. Abrir duas garrafas pequenas, entregando uma pra ele. 

Todavia, quando foi minha vez de sentar no sofá, senti a merda do zíper incomodar minhas costas. O vestido era bem mais apertado do que eu esperava. Ficar de pé era confortável, agora sentar com ele era praticamente impossível. Jacob notou a expressão estranha meu rosto, e perguntou debochando, após tomar um longo gole de sua cerveja gelada. 

—Quer ajuda com isso aí? 

No começo eu não entendi bem o ele queria fazer. Percebi somente quando ele colocou a garrafa sobre a mesa, e levou suas mãos de encontro a parte de trás do meu vestido. Puxei os cabelos automaticamente para frente, sentindo as suas mãos ágeis forçarem o zíper para baixo. 

Jacob às vezes se tornava um grande mistério para mim. Eu não tinha como afirmar que o jeito como ele me tratava, sendo tão carinhoso, tinha por trás alguma intenção. Era uma dúvida cruel, mas ele estava aqui, e como prometido, eu deveria contar a verdade para ele.  

Eu tinha plena certeza de que eu não conseguiria passar um tempo tão longo com ele, sem querer, beijar e dizer inúmeras vezes o quanto ele era importante para mim e o quanto eu o amava. 

No meu ponto de vista o único impedimento seria a distância. Afinal, ficaríamos um período longo sem se ver. Mas eu tinha plena certeza que em nome do amor, tudo era possível. 

Nunca fui o tipo de garota que ficava com diversos caras na escola, e pelo que posso lembrar, Jake nunca teve muitas namoradas. Pensando bem, não me lembro de nenhuma vez ao qual ele tenha mencionado alguma garota. Será que ele sempre me amou? E como eu teve vergonha de admitir seus sentimentos? 

Por um instante eu senti a ponta dos seus dedos deslizarem pelas minhas costas nuas, como se estivesse ligando um ponto ao outro. 

—Você deve ter umas 20 pintas nas costas, Bell’s. — Ele riu. Mas eu só consegui me concentrar na sensação na sua pele na minha. 

Eu mantive os olhos fechados aproveitando a sensação do seu toque até que ouvi o som na porta do apartamento ranger e a Alice passar alegremente por ela. 

—Ai meu Deus! Ai meu Deus! Ai meu Deus! Cheguei na hora errada, não foi? 

Virei meu corpo, vendo a minha pequena amiga desesperada. Alice carregava diversas sacolas, mesmo assim tapou os olhos, com elas presas entre seus braços. 

—Não é nada do que você tá pensando… — falei com vergonha — Jacob só estava me ajudando abrir o zíper. 

Mas eu desejei que fosse realmente outra coisa. 

—É um prazer conhecê-la, Alice — Jacob a cumprimentou de longe, depois que ela vergonhosamente, destapou os olhos. Fiquei surpresa por ele ter lembrado do nome dela tão fácil. 

—Oi, Jacob. O prazer é meu, claro. Você é tão bonito... — sua voz soou como um suspiro. 

Eu a encarei surpresa, indicando com os olhos a direção da outra porta. 

—Bem, eu gostaria muito de bater um papinho com vocês, mas eu só vim deixar essas comprinhas aqui, e já vou sair de novo. Bella, será que você poderia me ajudar por um minutinho? 

Mesmo com vestido aberto eu seguia atrás de Alice até seu quarto. Ela literalmente jogou todas as sacolas sobre a cama, e se e se sentou à beira, cruzando as pernas. 

—Eu não acredito que esse é o Jacob? — não duvidaria nada que ela gritasse isso, caso ele não estivesse do outro lado, na sala. — Esse homem é um Deus grego! Misericórdia. Fiquei toda arrepiada.  

Ela estendeu o braço dramaticamente para me mostrar.

—Eu sei, eu sei. Ele está tão lindo. Que eu cheguei a ficar sem fôlego quando o vi. 

—Eu imagino — sua cara era uma mistura de espanto e desejo ao mesmo tempo. — Você já contou para ele que… enfim! — Alice gesticulou com as mãos. — Vocês já pareciam estar ocupados. 

—Ainda não. Eu não tive tempo na verdade. Demoramos um tempinho pra chegar aqui, por causa do trânsito. E Jake literalmente acabou de sair do banho. 

—Eu não sei como você conseguiu se controlar, mas tudo bem! Eu entendo. Só não desiste do plano e conte logo a história toda pra ele. Não dá para perder um cara desses — ela riu, se abanando. 

—Pode deixar. E você realmente tem um lugar para ir? Ou só falou aquilo porque viu ele? 

—Eu inventaria uma desculpa facilmente — brincou.  —  Mas não. Conheci um carinha hoje na apresentação, que me convidou para jantar essa noite. Ele parece ser um cara bem legal. Tem um cabelo loiro tão lindo, e se chama Jasper. 

Seus olhos brilharam de emoção. Ao contrário de mim, Alice nunca teve medo de arriscar. Sempre que ela conhecia algum cara bonito ou bem inteligente, ela logo o convidava para sair. No entanto, esse tal de Jasper parecia estar um passo à frente da aceleração dela. 

—Eu preciso me arrumar, e a senhorita trate de voltar pra lá e ficar colada neste boy magia. 

Eu ri, me divertindo como sempre com a emoções exageradas de Alice. 

Antes de voltar para sala, troquei de roupa, escolhendo algo bem mais confortável. Optei por um short jeans claro e um moletom de tricô branco. Quando voltei a sala Jacob parecia bem confortável, os pés apoiados sobre a mesa de centro, assistindo um programa de  televisão que não entendi muito bem do que se tratava, mesmo com ele explicando. Mesmo assim sentei ao lado dele, ainda naquela expectativa de iniciar a tal conversa, esperando apenas que Alice fosse embora. O que não demorou muito. 

Minutos se passaram até que ela finalmente girou pela sala, mostrando seu lindo vestido rosa curtinho. Seu cabelo estava todo alinhado, causando um contraste muito bonito entre sua pele alva e o cabelo preto. 

—Uau! — Jake entonou impressionado, esquecendo a TV por um minuto — Você está linda. 

—Eu sei! — respondeu confiante — Jasper vai ficar completamente chocado. Pelo menos eu espero. 

—Quem é Jasper? — Jacob perguntou confuso com essa conversa dela. 

—Meu futuro namorado se Deus me abençoar. Agora eu preciso ir meus amorzinhos. Não bagunce a casa em.  

—Divirta-se! — falei me despedindo, mas como sempre ela já estava dentro do elevador, que ficava de frente para nossa porta. 

—Ela é meio maluquinha. Você não acha? 

—Meio é pouco — falei rindo, recordando as diversas lembranças que eu tinha dela. — Acredito que até o Chapeleiro Maluco fugiria se encontrasse com ela. 

—Não duvido disso — falou. — Mas ela parece ser uma pessoa muito legal. 

—É sim — confirmei. 

De repente Jake puxou uma das minhas mãos para seu colo. Naquela hora já tínhamos nós acomodado confortavelmente no sofá. Jacob ainda apoiava os pés na mesa de centro, enquanto eu me acomodei cruzando as pernas em direção ao seu corpo. 

Seu olhar era complacente, conforme ele acariciava delicadamente as costas da minha mão com seu polegar. Aproximei-me mais dele e toquei seu rosto com ternura. Sentindo a pele áspera de sua barba por fazer. Nele esse simples detalhe o tornava ainda mais charmoso e atraente. 

—Eu tenho algo para te falar — proferir antes que perdesse totalmente a coragem para me declarar. 

—Eu também tenho, Bella. Algo que eu relutei muito em te contar… Mas, eu sei que você é muito especial e com certeza irá entender. 

—Se sabe disso, por que reluto tanto em me dizer? — perguntei confusa, pois se ele tivesse dito isso antes as coisas seriam diferentes. Eu sei que sim. 

—Eu tive medo da sua reação, não sabia se você iria aceitar. É algo muito importante. Nós crescemos juntos e eu fiquei com medo disso mudar alguma coisa entre nós. Pensei até que você desistiria de fazer parte da minha vida por conta disso. 

Eu sentia uma intensa conexão entre nossos corpos. Eu ainda tocava o seu rosto, acariciando sua pele morena e sua mão apertava cada vez mais a minha. A cada declaração. A cada palavra. 

Inopinadamente acabei imaginando o seu corpo másculo sobre o meu. Tão quente e cheio de desejo. Nossos corpos suados, ofegantes, buscando cada vez um pelo outro. Procurando desesperadamente por uma aproximação mais profunda e intensa. 

—Você me ouviu, Bella? — acordei de um devaneio ao ouvir sua voz mais alto. Seu rosto estava bem mais perto. 

—Err... Desculpe. O que você estava dizendo? — Movimentei meu corpo, procurando uma posição mais confortável. Jacob ainda segurava minhas mãos, mas manteve os olhos baixos enquanto falava: 

—Bella eu sou gay. 

Suas palavras cortaram o ar, como uma lâmina afiada sem compaixão. Meu mundo parecia ter desmoronado, enquanto meu cérebro absorvia plenamente aquela afirmação dele. 

—Como é? Como assim gay? Desde quando isso? — minha voz se elevou mais do que o esperado. De repente eu estava de pé, afastando-me dele inconscientemente. 

—Desde sempre, eu acho… As coisas sempre foram muito confusas para mim. Eu não entendia o que eu era no começo, acabei descobrindo tudo aos poucos — por mais que eu ouvisse suas palavras, era como se eu não conseguisse absorvê-las completamente — Bella eu sei que já deveria ter contado isso antes. Mas como eu disse… Tive medo medo da sua reação. Medo do que você poderia dizer. Medo de ser perder minha melhor amiga. Mas ao mesmo tempo, sabendo que eu não podia esconder mais quem eu era. 

—Sim, você deveria ter me contado isso antes. Bem antes Jacob. 

—Eu sei, Bella — ele levantou se aproximar de mim. — Edward sempre falou que eu deveria me abrir com você. No entanto, eu não queria contar algo assim por telefone, Skype ou qualquer outro tipo de coisa. Eu sabia que deveria contar pessoalmente. Olhando nos seus olhos. 

—Quem é Edward, Jacob? 

Àquela altura eu já estava extasiada demais com aquela notícia. Como assim ele era gay? E como eu nunca percebi nada? Sempre estive de acordo com isso. As pessoas devem gostar de quem elas quiserem, todos tem esse direito. Só não o Jacob. Não o meu Jacob. 

Talvez os meus olhos tivessem cobertos por uma máscara de paixão, impedindo que eu visse a verdade. Mesmo que ela tivesse sendo esfregada na minha cara. Não é possível. Era crueldade demais com meu coração. 

—É meu namorado, Bella. Você precisa conhecê-lo. Edward é uma pessoa incrível. Ele me ajudou esse tempo todo e acabou se tornando mais que um amigo. 

Eu não sei em qual ponto eu parei de ouvir suas palavras, pois inesperadamente tudo à minha volta começou a girar. Por um instante eu não senti minhas pernas, então tudo ficou escuro.