Rua Lillgston escrita por SmileLove


Capítulo 1
Abraçando a Lua


Notas iniciais do capítulo

Hey! Sejam bem vindos :3 Espero que gostem..... ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720931/chapter/1

"Sou uma coleção de esquisitices, um circo de neurônios e elétrons. Meu coração é o dono do circo; minha alma o trapezista, e o mundo minha platéia. Parece estranho porque é estranho, e é estranho porque sou estranha."
— Mosquitolândia.

Amo as nuvens. Elas parecem um monte de algodão que dissolve na boca junto com o açúcar. A sensação é boa. Na verdade, muito boa mesmo.
Sou apaixonada por edifícios altos de onde é possível ter visões maravilhosas.
Porém tem um pequeno problema: tenho medo de altura.
E quando uma pessoa tem medo de altura, não é nada legal alugar um prédio que seja no oitavo andar. Ainda mais se estiver caindo aos pedaços.

Levantei as mãos e fechei a cortina de velho que ganhei da vovó Rosie. A intenção foi boa, mas a cortina é realmente horrível.

Quando não se tem uma segunda opção, só resta usar a primeira, não é mesmo?

Virei de costas, tirando o olhar das nuvens lindas que me davam fome e uma sensação estranha.
Já faziam quatro dias. Quatro dias desde que me mudei e parecia que já haviam se passado semanas. Longas e tediosas semanas.

Sentia falta da antiga faculdade, da tia Caroline e por incrível que pareça da minha mãe, mesmo ela sendo o motivo de eu estar aqui.

Ah, qual é! Eu não havia feito nada de mais. Na verdade, eu não fiz nada.
Ela simplesmente surtou. Já estava acostumada com seus surtos, mas dessa vez não aguentei. Não consegui acreditar que a mulher que eu mais amo no mundo estava dizendo todas aquelas palavras que mais pareciam facadas, e elas me acertavam bem no estômago.

E aí, pela milésima vez, eu quis ser de outro mundo. Onde tudo iria dar certo mesmo quando tivesse certeza que não. Mesmo quando tudo parecesse uma bomba de problemas prestes a explodir.

Vovó me ligava umas dez vezes ao dia. E olha que eu só mudei de rua.

Ouvi um barulho ensurdecedor vindo da porta.

Pulei de susto.

— Moçaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!! - bateram na porta. Ou melhor, esmurraram a porta.

— Mas que saco - murmurei.
Essa é a senhora Azeléia. Sim, o nome dela parece uma mistura de " Amélia" com " Azeite". Estranho, eu sei. Mas fazer o que, né? Juro que essa é a coisa menos estranha nela.
Sabe, eu até gosto dela. Ela fede a xixi de gato, mas é um amor de pessoa.

— Já vai! - gritei de volta.

Fui andando em direção a porta, torcendo para que eu demorasse e ela fosse embora. Sem recentimentos, é só que hoje não estou a fim de aturar ninguém.

Abri a porta.

— Olá! Como a senhora est.....- senti uma jarrada de alguma coisa salgada ser jogada na minha cara. Tossi descontroladamente.

Olhei a senhora a minha frente, parada, com um saco de sal grosso na mão.

Antes que pudesse perguntar: " Que merda é essa?", ela já começou a falar:

— Minha filha, você está bem?- perguntou, encaixando meu rosto entre suas mãos enrugadas, estudando cada sentimentro.- Eu ouvi as vozes vindas daqui! Os espíritos estão por perto, sinto a presença deles!

Seu olhar era preocupado e assustado. Coitada, era doidinha. Afastei suas mãos com delicadeza, para não parecer um ato grosseiro.

— Está tudo bem senhora Azeléia, juro. Não há espírito algum aqui.

Ela arregalou os olhos.

— Ah, mas eu ouvi, ouvi sim! - afirmou com a cabeça, e sussurrou em seguida - Os vi com meus próprios olhos!

— Tenho certeza que viu - falei, já que tinha certeza que não iria convence - lá do contrário. - Agora, se me der licença, eu tenho que....hã....Ir ao mercado! É, isso, ir ao mercado!

Fui para fora e fechei a porta depressa, logo depois saindo correndo em direção às escadas do prédio.
Eu não iria no mercado, apenas queria fugir daquela situação.

Como já disse, faziam quatro dias que estava morando aqui, nesse prédio. Não sei se foi minha melhor escolha. As pessoas daqui são um tando quando....... diferentes, vamos dizer assim. Para ser sincera, todas as pessoas dessa rua é que são diferentes.

Rua Lillgston. Um lugar estranho, com pessoas estranhas.

Desde que cheguei, não tive um momento sequer onde pude parar e respirar em paz por alguns segundos antes que algo nada agradável acontecesse.

Eu realmente não estou acostumada com essas coisas. Eu realmente não sei como morar sozinha. Realmente não sei ser uma adulta responsável. Não sei mais o que estou fazendo da minha vida.

As coisas são complicadas, e as pessoas mais ainda.

Eu só precisava de ar. Precisava de respirar por um segundo e convencer a mim mesma que estava tudo bem e que eu era uma garota madura e responsável.

Talvez não tão madura assim. Mas responsável eu era. Não era?

Meus ombros pesavam cada vez mais a cada passo que eu dava na direção da portaria. Uma sensaçao estranha apertava meu estômago.

Assim que cheguei, nem passei pela porta e ouvi o porteiro, Damásio, perguntar:

— Vai aonde? Tá frio, viu? Daqui a pouco Neva! Que horas são? - olhou as horas- Ó, já são quase nove! Tá tarde viu? Tá tarde!

Olhei ao redor, sem nem ao menos acreditar no que o rapaz dizia. Apesar de que, mesmo passando apenas poucos dias aqui, já devia ter acostumado. Meus olhos se dirigiram ao sol que brilhava entre as nuvens. Era simplesmente impossível ser nove horas da noite. Será que ele confundiu cedo com tarde?

— Mas está dia....- respondi.

Ele me olhou.

— Então, foi isso que eu disse! Tá tarde.

Com certeza ele confundia.

— Ok!- respondi enquanto saia o mais rápido que conseguia dali.

Em uma coisa ele estava certo:estava frio. Muito frio. Achei que fosse congelar, mas já estava acostumada com o clima da cidade. Eu era nova na rua, mas cresci nesse fim - de - mundo - nem - tão - fim - de - mundo - assim!
Por um segundo cogitei voltar e pegar um casaco, mas achei melhor não.

Comecei a andar, olhando tudo e reparando nas míseras coisas enquanto viajava na maionese. Foi só então que percebi não saber onde estava indo. Eu fazia muito isso ultimamente.

Andei e andei. Só percebi o quanto já tinha andado quando o sol começou a se por e a noite já estava caindo. Eram tantos pensamentos. As coisas eram tão claras, mas para mim tudo estava confuso e ofuscado. Sempre tive esse dom de fazer as coisas mais simples ficarem complicadas. Eu era complicada. Odiava isso.

Enquanto andava, reparei no quanto a lua estava brilhante e receptiva hoje, como se estivesse pronta para distribuir abraços a qualquer alma chorosa. Era maravilhoso olha- lá ali, mesmo de longe. Me trazia uma sensação aconchegante. Ela era mágica, como um mundo inimaginável. Olhando de lá de cima, como se soubesse de tudo. Talvez ela realmente soubesse. Quis gritar e perguntar porque estava tão confusa. Por que é que algo estranho me dizia que alguma coisa iria acontecer. Isso era bom ou ruim? Tinha a completa noção do que realmente seria bom. Se a lua me abraçasse, seria muito bom. Se eu fizesse parte do seu mundo, seria melhor ainda.

Mas eu não fazia.

Ouvi uma melodia vindo de perto. Depois, um cheiro gostoso de comida que lembrava minha vó.

Virei a cabeça. Do outro lado da rua, havia um Bar/lanchonete/cafeteria. O letreiro brilhava em azul, piscando meio apagado. Atravessei a rua, olhando mais de perto. As letras diziam: " Mystery ballosagna". Olhei pela vitrine, o lugar estava cheio.

Tinham algumas pessoas sentadas as mesas conversando, outras no bar, no balcão e tinha até uma nova banda se preparando para tocar. Imaginei que a outra já havia saído.

Um vento frio passou por mim. Me encolhi, abraçando meu corpo e passando as mãos pelos braços, tentando esquentar um pouco.
Não sei o que me fez aproximar, muito menos abrir a porta. Algo fez barulho acima da minha cabeça assim que passei, um sininho. Poucas cabeças viraram na minha direção, querendo saber quem ara a " tão importante" pessoa que entrava no cômodo. Ainda assim, achei que foram poucas, contando com a quantidade que tinha lá.

Provavelmente o restante não ouviu os sinos, culpa da música alta que começou a tocar no instante que passei.

Estudei o lugar, o som da guitarra chegando a meus ouvidos junto com o arrepio que correu pela minha espinha.

Automaticamente e nada propositadamente, virei na direção da música e da voz que começou a cantar. Eu conhecia a letra. Ah, e como conhecia. Como não se apaixonar por Green Day? Era impossível.

O som de American Idiot tomou conta de todo o local e eu senti como se estivesse entrando em um lugar meu. Como se nada lá fora importasse e eu não estivesse tendo que aturar o tédio do dia a dia. Como se uma bolha de sensações boas estivesse ao redor daquele pequeno barzinho/ padaria ou seja lá o que era isso. Eu só não sabia o que tinha me causado aquilo. A música que chegava a meus ouvidos ou o olhar penetrante vindo do mini- palco. Específicamente do garoto com touca Amarela. Mais especificamente ainda do vocalista cantando no palco com uma guitarra.

Uma coisa estranha estava crescendo por entre meus órgãos, indo do estômago, subindo pela garganta e chegando ao cérebro. Acho que foi isso que me fez retribuir ao pequeno sorriso que ousou se expandir nos lábios do rapaz. Enquanto os timbres da música tomavam conta do local e de cada parte de mim, eu me aproximei, sentando em uma cadeira afastada, na janela.

E foi assim que eu passei a noite no meu quarto dia nesse lugar cheio de pessoas estranhas. Eu realmente não sei se foi pelas pessoas sentadas ao redor, se foi pelo som casual das risadas, se foi pela música ou as estrelas lá fora, mas ali, naquele lugarzinho minúsculo e insignificante para muitas pessoas, eu me senti viva como não me sentia a um bom tempo.

Eu percebi que talvez eu fosse muito mais que só uma simples garota nesse enorme mundo. Percebi que eu era especial. Se não para os outros, ao menos era para mim mesma.

Foi aí que eu olhei pela pequena janela. A lua ainda estava lá, brilhante e enorme. Mais uma vez eu quis abraça - lá. Senti como se as estrelas falassem comigo e, finalmente, percebi que fazia sim parte do seu mundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rua Lillgston" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.