Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 15
Capítulo 15 – Because of You.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Para começar essas notas, eu gostaria de agradecer do fundo do meu coração ao Jiog, que deixou um comentário lindo na fic. Mal chegou e já te considero pakas hahaha
Sobre o capítulo: é o primeiro a não ser narrado pela Claire, é um dos mais longos da fanfic até agora, e um dos meus favoritos também, porque nele acontece de tudo, treta, drama, cirurgia, flashback, etc. Eu pensei em dividi-lo em duas partes, mas como o leitor citado acima pediu por capítulos maiores, vi a perfeita oportunidade de satisfazê-lo hahaha mas apesar de longo, eu o acho bem envolvente, então não vai ser uma leitura cansativa (eu espero!).
Avisando que tem uma cena um pouco mais "hot", que eu tentei deixar o mais implícita que consegui, mas que era uma parte importantíssima para a história.
E a música de hoje é um clássico da Kelly Klarkson, acho que a maioria já deve ter ouvido. Creio eu que ela não foi escrita para esse contexto, mas dá para encaixar a letra com os acontecimentos do capítulo. Link: https://www.youtube.com/watch?v=Ra-Om7UMSJc
Bom, depois dessas notas gigantes, vamos ao capítulo. Se você leu até aqui, parabéns e boa leitura!



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Rebecca

 

Família sempre foi um bicho de sete cabeças para mim. Desde pequena eu me sentia deslocada em minha família, e depois que cresci e fui me descobrindo, as coisas foram ficando piores. Ninguém nunca me levou a sério e todos duvidavam de mim, então eu quero mais é que eles queimem no mármore do inferno. Desculpe, mas é verdade.

Já fazia um mês que meus malditos pais estavam zanzando pelo hospital, e Claire insistia em falar comigo sobre o progresso do tratamento. Eu não sei qual era a parte difícil de entender, que eu não queria saber deles. Sobre nada. Eles não foram pais no momento que eu mais precisava, então eu não seria uma filha quando eles mais precisassem. Nada mais justo.

Caminhava pelos corredores cautelosamente, com medo de esbarrar neles ou em Claire, a qual eu estava evitando ao máximo nos últimos dias. Segui até o balcão das enfermeiras e pedi o prontuário de uma paciente, adentrando seu quarto logo em seguida.

— Bom dia, vou pedir um hemograma, antes do Dr. Sloan chegar. – afirmei ao entrar no quarto, e me aproximei da cama depois de colocar o prontuário sobre a mesinha – Como passou os últimos dias? – perguntei, checando suas pupilas e fazendo outros exames.

— Muito bem, sinto-me pronta para a cirurgia. – respondeu a moça, sorridente. Senti que aquele era um sorriso de falsa felicidade, mas fiquei na minha.

— Que bom. – peguei a caneta e fui fazer algumas anotações no prontuário – Você andou fumando nos últimos 15 dias? É muito importante que seja sincera, pois isso pode trazer complicações para o procedimento.

— Não, o Dr. Sloan ordenou que eu não fumasse. – disse, concordando com a cabeça, e dessa vez meu detector de mentiras natural não disparou.

— Muito bem, vou vir pedir para uma enfermeira tirar seu sangue, até que o Dr. Sloan não chegue... – falei, porém, fui interrompida por uma voz na porta.

— Seria uma pena se o Dr. Sloan chegasse antes. – cortou-me o cirurgião plástico, aproximando-se de nós – Bom dia, Srta. Thompson. – sorriu galanteador, e eu ergui uma sobrancelha. Parecia que aquele homem flertava até com o vento, e confesso que me irritava além do normal – A Dra. Cooper já discutiu com você as opções da cirurgia?

— Bom dia, Dr. Sloan. – a moça sorriu e corou – Não, na verdade ela acabou de chegar. – deu de ombros, e eu fuzilei-a discretamente com o olhar. Mark sempre foi claro que seus residentes tinham que chegar cedo e adiantar todo o serviço, deixando só a cirurgia para ele. Um pouco folgado, com certeza, mas não podia reclamar, porque meu trabalho era aturá-lo.

— Hm... – olhou-me com ironia, e tive certeza que receberia uma bronca por aquilo – Então vamos conversar sobre isso agora. Comece apresentando a paciente, será que consegue fazer isso?

— Claramente. – peguei o prontuário e limpei a garganta – Bessie Thompson, 22 anos. Foi internada nesta manhã para uma Mamoplastia de Aumento. – apresentei, virando-me para Mark sem seguida, esperando-o dizer-me o que fazer.

— Okay, vamos explanar as opções para ela. – assentiu e cruzou os braços, encarando-me desafiadoramente.

— Tudo bem. Há algumas coisas que temos que decidir. Primeiramente, vamos falar sobre a forma da prótese. Pode ser em forma de gota, que é mais natural, ou... – comecei a explicar, mas fui interrompida por uma voz feminina, adentrando o quarto.

— Só tem comida que engorda nesse hospital! Cadê o cardápio fitness? – disse uma moça loira, parando ao lado da cama, de frente para nós – O que eu perdi?

— A Dra. Cooper aqui estava explicando as opções que sua amiga tem. – respondeu Sloan, apontando para mim – Pode continuar, Dra.

— Como eu dizia, pode ser em forma de gota, que dá um ar mais natural, ou em forma redonda, que apesar de ser mais artificial, é mais estável e os riscos de rodar no interior do seio e ficar torta são menores. – continuei minha explicação, porém fui interrompida mais uma vez pela loira.

— Ela vai pôr a de gota. Todo mundo diz que a redonda é mais segura, mas a de gota é bem mais bonita e olha os meus, fiz há 5 anos e continuam perfeitos. – cortou-me, apertando os próprios seios como demonstração. Olhei feio para a moça e estreitei os olhos, começando a perder a paciência.

— E você é...? – perguntei, franzindo o cenho, com uma pitada de sarcasmo.

— Eu sou Cecilia Campbell, a melhor amiga da Bess. – respondeu, com um ar um pouco superior.

— E você por acaso é formada em medicina? – ergui uma sobrancelha para ela, desafiadoramente.

— Não, mas... – começou a responder, mas eu cortei-a antes que continuasse.

— Então, por favor não se meta nisso. A decisão é da sua amiga, e qualquer conselho sobre qual escolher deve vir de um especialista. – falei, tentando ser o mais educada possível – Continuando, quanto ao formato, qual é a sua decisão? – virei-me para a paciente, destacando a palavra “sua”.

— Bom, o dela não teve nenhum problema, então acho que vou escolher o em forma de gota mesmo. – afirmou a moça, porém eu não senti confiança em suas palavras.

— Você tem certeza? Em cada pessoa o implante pode se suceder diferentemente... – tentei certificar-me, mas novamente me interromperam.

— Creio que ela já tomou uma decisão. – disse Mark, encarando-me com uma desaprovação discreta – Vamos continuar.

— Está bem... – suspirei, me segurando para não revirar os olhos – O perfil da prótese, baixo, alto ou médio? Lembrando que quanto mais alto, mais artificial.

— Eu coloquei o alto, e olha só, não ficou muito artificial... – a loira se pronunciou novamente, e eu fechei os olhos, contando até 10 mentalmente para não ser grossa.

— Alto. – afirmou a paciente, e eu olhei para Sloan descontente, mas o mesmo retribuiu com um olhar de “a decisão é dela, fazer o que”. Mordi o lábio na tentativa de reprimir meus pensamentos, e voltei-me para a jovem na cama.

— Okay. Quanto ao tamanho, nós normalmente colocamos de 200ml a 300ml, numa pessoa de porte médio como você. Acima de 300ml, são colocadas apenas em mulheres altas ou com quadril largo. – continuei a explicação.

— Mas eu coloquei uma de 400ml... – falou Cecilia, fazendo-me fechar o punho para descontar a raiva.

— Você está na categoria “mulheres com quadril largo”, por isso. Sua amiga aqui não é muito alta e não tem o quadril largo, então as opções dela são de 200ml a 300ml. – retruquei, começando a soar grossa.

— Então eu vou pôr a de 300ml. – a paciente assentiu.

— Há dois tipos de material: o silicone e o soro fisiológico, e pode ter textura lisa ou rugosa. O recomendado é que se coloque silicone coesivo e com textura, porque diminui o risco de infecção caso a prótese rompa, porque não se desintegra. – expliquei, e esperei a loira interromper-me novamente – Não vai dar seu palpite quanto a isso? – questionei, ironicamente.

— Não, eu coloquei esse que você falou mesmo. – respondeu Cecilia, dando de ombros.

— Então esse recomendado será. – afirmou Bessie.

— O local de implantação da prótese: pode ser por cima ou por baixo do músculo peitoral. No seu caso, que já tem uma quantidade considerada de mama, o recomendado é pôr por baixo do músculo. – falei, e automaticamente olhei para a acompanhante, que manteve-se calada.

— Por baixo, então. – concordou com a cabeça.

— Quanto à abordagem, isso é decisão do cirurgião. Pode ser por um pequeno corte em torno da aréola, na parte inferior da mama ou até mesmo pela axila. Em todas as opções, a cicatriz é mínima. – expliquei, e não pude perder a oportunidade de usar da minha ironia – Vai querer dar palpite na forma com que o cirurgião vai fazer a cirurgia também? – perguntei para a amiga da paciente, que revirou os olhos.

— Eu tenho preferência em fazer pela aréola. – Mark falou antes que a moça respondesse minha provocação – É bom para a paciente ouvir sobre a experiência de uma amiga, Dra. Cooper. – ergueu uma sobrancelha para mim, e eu já sabia que estava ferrada quando saíssemos dali – Alguma pergunta? – voltou a olhar a paciente.

— Quais são as possíveis complicações? – questionou, parecendo aterrorizada. Foi ali que tive certeza que ela não queria fazer aquilo, e estava sendo pressionada por algum motivo, e já tinha uma ideia de quem seria.

— Dra. Cooper? – o cirurgião chamou minha atenção, tirando-me de minha leitura de sentimentos da paciente através de seu rosto.

— Bom, pode haver dores no peito, mama dura, sensação de peso, diminuição da sensibilidade da mama, surgimento de hematomas, inchaço e vermelhidão. No pior caso, pode ocorrer endurecimento ao redor da prótese e rejeição ou ruptura da prótese, sendo necessária a remoção do silicone para evitar infecções graves. – expliquei, sutilmente tentando fazê-la mudar de ideia.

— Mas essa última parte, são casos muito extremos. Como nós somos um hospital qualificado para o procedimento, na maioria das vezes ocorre tudo bem. – disse o cirurgião, na tentativa de passar calma – Mais alguma pergunta?

— Que horas será a cirurgia? – perguntou Thompson.

— Está marcada para às 16:00, o que significa que agora começa seu jejum. – respondi – Algo mais?

— Não... – a paciente trocou olhares com a amiga, que também negou com a cabeça.

— Okay, vejo vocês na cirurgia. – despediu-se Sloan, deixando o quarto.

— Uma enfermeira ainda vai vir tirar seu sangue. – falei antes de seguir Mark para fora, levando o prontuário comigo. Apoiei-o no balcão das enfermeiras e fiz algumas anotações, mas já sentia uma bronca chegando.

— Qual é o seu problema? – questionou o médico, e eu senti seu olhar mortal em mim, contudo não tirei os olhos do que fazia.

— Olha, a culpa não é minha se a amiga da paciente é uma metida a especialista em cirurgia plástica. – retruquei, ainda sem olhá-lo.

— É sua obrigação como médica manter um ambiente agradável antes da paciente ir para cirurgia e enquanto ela toma decisões importantes, e tudo o que você fez foi criar intriga com uma garota da sua idade. – repreendeu-me, e eu finalmente encarei-o.

— A paciente não estava tomando nenhuma decisão lá dentro, foram todas influenciadas por aquela amiga da onça. – falei, estressada.

— Não cabe a você julgar se ela foi influenciada ou não, seu trabalho é expor as opções e dizer os prós e os contras, se a paciente decidiu por conta própria ou por influência, isso é problema dela.

— Aquela garota está apavorada! Ela claramente está desconfortável com essa decisão! – rebati, apontando para o quarto.

— É claro que ela está apavorada, afinal a ideia de que um homem desconhecido vai pegar nos seus peitos e cortá-los para enfiar um pedaço de silicone dentro parece uma ideia super fácil de se manter calma. – ironizou, negando com a cabeça – Do jeito que você fala, parece até que ela está sendo obrigada a fazer a cirurgia!

— Quer saber, eu aposto que é quase isso que está acontecendo. Aquela amiga dela deve ter feito a cabeça dela para fazer a maldita cirurgia, só porque ela fez. E gente sem opinião própria realmente faz isso. Os peitos dela nem são tão pequenos! – exclamei, inconformada.

— Bom, mas ela está aqui e está disposta a prosseguir com o procedimento. Seu trabalho é cuidar da estética e saúde física dela, se ela estiver fazendo isso obrigada, o problema é dela que não tem personalidade para tomar as próprias decisões. Mas ela já é bem grandinha, então deixe a garota em paz. – afirmou gesticulando em excesso com as mãos – E se você é tão contra essa cirurgia, eu posso encontrar outro residente para auxiliar-me nela.

— Okay, eu vou tentar me conter. – cedi, mas apenas por causa de sua ameaça.

— Eu acho bom, agora vá buscar um café para mim. – gesticulou para que eu saísse, e eu revirei os olhos, entregando o prontuário para uma enfermeira em silêncio, antes de partir em direção à saída do hospital.

Fui até a pequena lanchonete do lado de fora do hospital e entrei na fila dos pedidos. Fiquei batendo meus pés impacientemente, enquanto mantinha as mãos nos bolsos do jaleco e olhava em volta. Haviam vários médicos, enfermeiras e pacientes zanzando por ali, alguns em grupos, outros isolados. Alguns sorriam, outros pareciam ter chorado incansavelmente, e outros ainda tinham claros sinais de falta de sono. Peguei-me imaginando o que cada um estava pensando, coisa que eu fazia desde que era criança. Sempre gostei de analisar as pessoas à minha volta, e por algum tempo pensei em virar psicóloga, mas depois que descobri a magia da cirurgia, eu mudei de ideia na hora.

— O seu, Dra.? – perguntou a moça do caixa, encarando-me intrigada.

— Um café... – parei de falar ao me lembrar que não sabia como Mark gostava de seu café, então decidi improvisar – ... preto, com açúcar. – dei de ombros, e a garota assentiu.

— Só? – disse enquanto digitava meu pedido no computador.

— Sim. – respondi – Põe na conta do Mark Sloan. – afirmei, lembrando-me também que ele não me dera dinheiro.

— Okay. – falou e passou o pedido para o rapaz que preparava o café – Espere ao lado, por favor. Próximo!

Dei um passo para o lado e fiquei esperando, voltando a imaginar o que se passava com as pessoas à volta. De repente senti um vulto aproximar-se e virei-me bruscamente para ver quem era, dando de cara com quem menos queria ver: meu pai.

— Elizabeth... ou melhor Rebecca. – disse, já próximo de mim, abrindo um sorriso – Eu queria tanto conversar com você...

— Não vai rolar. – retruquei, virando-me para o balcão, na expectativa que alguém entregaria meu café.

— Sua mãe e eu estamos otimistas quanto ao tratamento, o Dr. Shepherd disse que ela é uma candidata perfeita. – o homem continuou falando, e eu respirei fundo, ainda de costas para ele – Filha, se você pelo menos ouvisse... – tocou minha costas, fazendo uma voz triste.

— Não toque em mim. – afastei-me rapidamente, e me virei para ele, olhando-o chocada, enquanto negava a cabeça.

— Café para Mark Sloan. – chamou o moço que preparava o café.

— É meu. – afirmei e peguei o copo, voltando a olhar o homem – Eu não quero saber nada da vida de vocês, do mesmo jeito que vocês não quiseram saber da minha vida por anos. Passar bem, ou não, tanto faz. – finalizei e parti em direção ao hospital.

— Se você soubesse o quanto nós sentimos muito... – falou, mas eu recusei-me a parar.

Apressei-me para dentro do hospital, e um turbilhão de memórias invadiram minha mente. Corri até uma Sala de Descanso, me tranquei lá dentro e deixei o copo de café sobre uma mesinha que havia ali, respirando fundo enquanto andava de um lado para o outro, lutando contra as lembranças. Sentei-me numa cama e enfiei o rosto em minhas mãos, deixando algumas lágrimas escorrerem, e voltei a sentir meu passado nitidamente.

 

Londres, 2000.

Era mais uma tarde quente de julho em Londres, e o sol estava brilhante no céu. Um dia perfeito para dar um passeio no Hyde Park com a pessoa que você ama.

Eu caminhava de mãos dadas com minha namorada da época, uma garota ruiva dos olhos bem verdes e cabelos bem longos, na altura da cintura. Nós duas conversávamos sobre as coisas mais banais, enquanto caminhávamos em torno da longa represa do parque.

— Eu estou cansada, vamos nos sentar. – pediu Zoe, e eu apenas assenti, sorrindo boba. Ela foi minha primeira namorada, na verdade, meu primeiro relacionamento de verdade. Ela era um ano mais velha, tinha 16 anos enquanto eu tinha meus 15.

Estendi um lençol sobre a grama, embaixo de uma árvore, e coloquei a cesta de piquenique ao lado. Sentei-me no lençol e bati a mão ao meu lado, indicando que ela se sentasse. A adolescente demorou um pouco, então eu puxei-a cuidadosamente para deitar-se ao meu lado, e a mesma deixou seu corpo cair sobre o pano, rindo alto. Acompanhei-a no riso, e juntei nossos lábios pouco depois, dando início a um beijo carinhoso. Afastamo-nos um pouco e eu continuei sorrindo boba, encarando seu rosto quase perfeito.

— Então, acho que as coisas naquela cesta vão estragar. – a garota apontou para a cesta ao nosso lado e riu fraco.

— É mesmo, vamos comer. – afirmei, também rindo fraco. Puxei a cesta para mais perto e abri-a, revelando vários sanduíches e uma garrafa de suco. Peguei dois copos e enchi-os, entregando um à menina.

Continuamos naquele momento fofo no piquenique por nem sei quanto tempo, e depois que acabamos com a comida da cesta, fomos até os pedalinhos, tendo mais um tempo fofo para nós duas. Ao final do passeio, segui com ela a pé para minha casa, de mãos dadas. Eu nunca me senti tão apaixonada como me sentia naquela época, e creio que nunca mais me sentiria.

Paramos em frente minha casa e eu suspirei, não querendo que aquilo acabasse.

— Você não quer entrar? – convidei, sorrindo esperançosa.

— Eu não sei, sua mãe não vai desconfiar? – disse, um pouco insegura.

— É só eu falar que você é só uma amiga, ela vai acreditar. – afirmei, mais como uma desculpa para ela entrar.

— Okay, vamos. – riu fraco e eu beijei-a rapidamente, adentrando a casa em seguida.

— Mãe? – chamei, e a mesma apareceu no corredor de entrada.

— Hey! – minha mãe sorriu e desviou o olhar para a jovem ao meu lado – Então essa é sua amiguinha, muito prazer, meu nome é Olivia. – a mulher estendeu a mão para minha namorada, e eu tentei esconder o quão constrangida eu estava.

— O prazer é meu, eu sou a Zoe. – a garota disse educadamente, apertando a mão da minha mãe.

— Creio que vocês não vão querer comer mais nada, não é? – falou minha mãe, e pegou a cesta de minha mão.

— Não, estamos bem, mãe. A gente vai para meu quarto, okay? – afirmei, puxando Zoe em direção às escadas.

— Okay... – minha mãe respondeu, dando de ombros.

Segui com a ruiva para meu quarto e encostei a porta. A mesma olhou tudo em volta e fez algum comentário bobo, rindo-se. Quando ficamos em silêncio, ela aproximou-se de mim e beijou-me com sentimento, fazendo minhas pernas quase falharem. Ela apertou-me contra seu corpo, levando uma mão até minha bunda. Foi a partir daquele gesto que o clima começou a esquentar, e um arrepio me percorreu quando sua mão desceu até minha intimidade. As carícias que começaram ali, terminaram na cama, onde nós duas nos beijávamos ferozmente, com ela por cima de mim.

— Eu espero que sua mãe não entre. – murmurou, tirando minha camiseta e meu sutiã rapidamente, antes de atacar meus seios, um de cada vez.

— E-eu também... – gaguejei, sentindo meu corpo se arrepiar inteiro. Aquela era a primeira vez que eu tinha aquele tipo de contato mais íntimo, e a sensação era maravilhosa.

— Principalmente agora. – sussurrou e desceu até minha calça, desabotoando-a lentamente, mas abaixando ela e minha calcinha de uma vez.

Senti sua boca em meu ponto fraco e soltei um gemido sem querer, e a mesma olhou-me de forma repreensiva, e colocou o dedo nos lábios, mandando eu fazer silêncio. Assenti e ela continuou o que havia começado, e eu mordi os lábios com força, prendendo os gemidos que quase saíam.

— Não pare... – falei baixinho, com a voz um pouco falha. Segurei seus cabelos e suspirei alto, sentindo um misto de emoções percorrerem meu corpo. Luxúria, prazer, amor, felicidade... Estavam à flor da pele.

— Eu esqueci de falar que fiz uns brownies deliciosos, receita de família... – disse minha mãe, abrindo a porta do quarto e entrando bem naquele momento. Foi só aí que notei que havia deixado a maldita porta destrancada, e todos aqueles sentimentos foram substituídos por desespero e vergonha, e olhei para a mulher na porta com os olhos arregalados, enquanto Zoe parou o que fazia e também virou sua cabeça em direção à porta, com uma expressão de choque – O que... – murmurou, deixando o prato cheio de brownies cair no chão e quebrar-se em um milhão de pedaços – Dá o fora da minha casa. – ordenou, encarando-nos com uma raiva que transbordava.

— Zoe, vá, por favor... – pedi, e a mesma concordou com a cabeça, levantou-se e calçou seus sapatos, pegou a bolsa e parou na frente da minha mãe.

— Desculpa, Sra... – começou a falar, mas a mulher interrompeu-a.

— Saia. – falou convicta, e a ruiva assentiu e saiu dali, sem ao menos olhar para mim.

— Mãe, eu ia te contar... – afirmei, levantando-me da cama e indo até ela, nua.

— Vista-se. – ordenou, e eu olhei-a confusa – Vista-se ou você vai para a rua pelada mesmo, você que escolhe. – berrou, e eu senti meu coração apertar-se. Peguei do chão as roupas que usava anteriormente e vesti-as de volta, subindo o olhar para minha mãe, novamente – Saia. – apontou para fora, seriamente.

— O que?! Mãe, por favor... Vamos conversar. Eu posso explicar. – praticamente implorei, aproximando-me dela.

— Explicar o que?! Que você é uma lésbica nojenta?! – rebateu, com ódio na voz – Minha filhinha, que criei com tanto cuidado... Onde foi que eu errei? – começou a chorar, e eu fui para mais perto dela.

— Mãe, você não errou em nada... Não foi uma escolha, eu simplesmente nasci assim. – falei, na tentativa de acalmá-la e de me explicar, segurando seus braços. De repente a mulher soltou-se de minhas mãos e deu um tapa em meu rosto com provavelmente toda a força do seu corpo, fazendo meu corpo cair para o lado. Coloquei a mão no local do tapa e olhei-a assustada, minha respiração já descompassada – Mãe...

— Saia! – gritou aparentemente o mais alto que pôde, e eu apenas a obedeci, seguindo para fora o mais rápido possível.

Deixei a casa, prendi o choro e corri até a estação de metrô mais próxima. Tranquei-me em um dos banheiros e desabei no choro, sentando-me no vaso sanitário enquanto as lágrimas de tristeza, desespero e vergonha lavavam meu rosto, e a cena não parava de se repetir em minha mente.

Passei o resto da tarde naquele banheiro, e quando finalmente controlei o choro, voltei para casa lentamente, torcendo para minha mãe já ter se acalmado. Quando virei a esquina do meu quarteirão, notei uma movimentação estranha em frente da residência, e apressei-me até lá. Na calçada estavam espalhadas todas as minhas roupas, e minha mãe ainda atirava alguns de meus pertences pela porta.

— Mãe, o que você está fazendo?! – exclamei, parando na escada que conectava a porta da casa à calçada.

— Você não vai mais pôr os pés nessa casa enquanto eu estiver viva! – berrou, ainda jogando minhas coisas para fora.

— O quê?! Cadê o papai? – questionei, incrédula.

— Seu pai está trabalhando, e nem ele vai te salvar dessa vez, Rebecca. Eu não vou ter uma sapatão horrorosa dentro da minha casa! Deus abomina gente como você! – gritou, e algumas pessoas que passavam na rua pararam para assistir à cena.

— Mamãe, por favor, eu ainda sou sua filha... – pedi, com o rosto tomado por lágrimas novamente.

— Minha filha não fica com outras meninas, como se elas fossem meninos. – olhou-me nos olhos, passando toda a sua raiva – Você não é mais minha filha. Saia da frente da minha casa e leve suas porcarias com você, e nunca se atreva a voltar.

— Mamãe... – tentei falar, em meio às lagrimas.

— Não me chame mais assim! Não fale comigo nunca mais! – retrucou e bateu a porta da frente em minha cara.

— Mãe, abre a porta, por favor! – bati fortemente contra a porta, soluçando – Não é minha culpa, por favor... – escorreguei meu corpo pelo corrimão de concreto da fachada da casa e sentei-me no chão, entregando-me ao choro, enquanto uma multidão observava.

Fiquei ali por um longo período de tempo, até que finalmente tomei coragem de levantar-me. Juntei o máximo de coisas que consegui e caminhei em qualquer direção, sem ter ideia do que fazer a seguir. Naquele momento, a tristeza já dividia espaço com a raiva e a indignação, e eu sentia-me completamente miserável. 

 

Seattle, 2011.

Depois de permitir-me chorar por alguns minutos, relembrando uma parte do meu passado, levantei-me da cama e respirei fundo, enquanto secava as lágrimas nas mangas do uniforme. Tomei coragem, saí daquela sala e disparei à procura de Mark. Perguntei a algumas enfermeiras sobre o paradeiro do cirurgião, e me disseram que ele estava no quarto de um paciente. Apressei-me na direção do local indicado rapidamente, contudo acabei trombando em alguém no caminho, quase derrubando o copo de café.

— Rebecca, hey! – a pessoa com que trombei era Claire, que sorriu, parecendo feliz em me ver. Infelizmente, aquele sentimento não era recíproco.

— Estou atrasada, a gente conversa depois. – falei rapidamente, tentando me livrar da jovem.

— Rebecca, você conversou com seus...

— Eu já disse para ficar fora disso, merda! – cortei-a, perdendo o pingo de paciência que ainda me restava – Eu estou cansada de você, Claire. Eu tenho sido muito paciente, porque você passou por um momento difícil, e precisa de alguém ao seu lado. Mas eu não preciso de você. Eu sei me virar sozinha. Cuide dos seus problemas, que eu sei que não são poucos, e deixe que dos meus cuido eu. – virei-me e continuei meu caminho.

— Você deveria parar de afastar as pessoas que só querem o seu bem, Rebecca. Quando você realmente estiver sozinha, vai arrepender-se! – ouvi a voz da garota, já distante de mim.

Recusei-me a responder e segui até o quarto do paciente em que Sloan estava, mas topei com ele já de saída.

— Por acaso você foi colher o café? – questionou, pegando o copo de minha mão e dando um gole – Que merda é essa? – fez uma cara de nojo e me encarou.

— Eu não sabia qual tipo de café você gostava, então peguei preto com açúcar. – falei, erguendo uma sobrancelha.

— Ainda bem que você é cirurgiã, porque como secretária você é péssima. – afirmou o homem, franzindo o cenho – Pode ficar com isso aqui. – devolveu-me o café, e eu dei de ombros antes de dar um gole.

—-

Estava no quarto da paciente de mais cedo, preparando-a para a cirurgia. Ela mostrava claros sinais de desconforto e nervosismo, e eu tentei convencer-me de que eram apenas sentimentos normais de antes de qualquer cirurgia, mas as palavras estavam entaladas em minha garganta. Olhei seu rosto mais uma vez, e a mesma mordia a boca e olhava tudo em volta, enquanto balançava a perna freneticamente. E, para variar, sua amiga maluca tagarelava um monte de bobagem, algo que eu estava fazendo um esforço de outro mundo para ignorar.

— A senhorita poderia, por favor, se retirar? Esse é um momento paciente-médico. – pedi o mais educadamente que pude, encarando a acompanhante.

— Mas ela quer que eu fique ao lado dela, não quer? – retrucou a moça, segurando a mão da paciente apertado, e a mesma pareceu ainda mais desconfortável.

— Você poderá vê-la antes dela entrar na Sala de Operações, eu só preciso de um minuto. – afirmei, respirando fundo para não perder a paciência.

— Eu estarei lá, “miga”. – disse a loira, e sua amiga apenas assentiu.

Esperei a jovem deixar o quarto e virei-me para a paciente, olhando-a seriamente.

— Bessie, você não precisa fazer nada que não quer, você sabe disso, não é? – indaguei, escorando-me nas grades em volta da maca.

— Por que está dizendo isso? – questionou, olhando-me com falsa confusão.

— Você não parece muito confortável com a cirurgia, e acatou tudo o que sua amiga disse. Eu sei que você confia nela, mas não precisa fazer isso se não for realmente o que você quer. A paciente tem que ter certeza do que quer para fazer esse tipo de operação. – encarei seus olhos, quase que tentando fazê-la desistir da cirurgia.

— Você não entende... – começou a falar, e já pude perceber que eu tinha razão – Eu tenho que fazer essa cirurgia. Minha vida toda eu fui uma excluída, um zero à esquerda, e agora eu finalmente encontrei pessoas que me aceitam. Eu passei e vou ter que passar por algumas modificações, mas eu tenho certeza que vai valer à pena. – explicou, sorrindo numa mistura de esperança e tristeza.

— Eu acredito que tenham pessoas que te aceitarão do jeito que você é, sem precisar mudar tanto. – afirmei, erguendo as sobrancelhas.

— Onde? E se existir, quando? Eu estou cansada de ser a excluída. Se eu tiver que tatuar alguma coisa na testa, eu vou tatuar. Mas eu não aguento mais ficar sozinha. – retrucou, suspirando – Eu tenho certeza que quero a cirurgia. – concordou com a cabeça, e dessa vez pareceu-me convincente.

Se tem uma pessoa nesse mundo que sabe como é ser a excluída, sou eu. Quando conheci Zoe, tudo mudou por um tempo, até minha vida desabar novamente. Desde então, continuei solitária por um bom tempo. A única diferença, é que nunca estive muito disposta a mudar para me encaixar. Contudo, eu entendia como aquela paciente se sentia, então decidi deixa-la em paz com sua decisão, e aproveitar para aprender com sua cirurgia.

— Okay, se é mesmo o que você quer... – sorri fraco e assenti.

— Estamos prontas aqui? – perguntou Sloan, parando na porta.

— Sim, pode chamar os enfermeiros. – respondi, afastando-me da maca – Vejo você na SO. – virei-me para a paciente rapidamente, e segui para fora da sala com o cirurgião.

Esfregamos nossas mãos em silêncio e adentramos a SO. A paciente ainda se encontrava acordada, e parecia um pouco assustada, o que era normal em todo paciente quando estavam naquele local.

— Vamos turbinar esses dois, que tal? – disse Mark, sorrindo para a paciente, que concordou com a cabeça, e ele fez um sinal para o anestesista agir – Okay, vamos começar. Bisturi. – esticou a mão para os enfermeiros, e num piscar de olhos estava cortando o seio da mulher – Retrator. – estendeu o braço novamente, pegando o objeto e utilizando-o para cortar mais profundamente. Alguns minutos se passaram, e ele estava pronto para pôr a prótese – O silicone, por favor. – pediu, e posicionou-o no peito da mulher – Você prestou atenção em como eu fiz? – olhou para mim, e seu olhos claros pareciam desafiadores.

— Claro! – respondi, criando esperanças.

— Então faça da mesma forma no outro seio, que nós vamos ajustar a simetria juntos. – ordenou, e eu abri um sorriso largo, que por sorte foi escondido pela máscara.

— Claro. – assenti e aproximei-me do seio esquerdo da paciente – Bisturi. – pedi, tentando parecer segura. Por fora eu podia parecer calma e serena, mas por dentro estava surtando e pulando de alegria. Sorte a minha em ser boa em esconder meus sentimentos.

Fiz todo o procedimento que ele fizera, atentamente. Ao terminar de separar o tecido mamário, ergui a cabeça e encarei-o.

— Estou pronta para a prótese. – afirmei, e alguém da equipe me entregou o silicone. Posicionei-o na mama da mulher, e voltei a olhar Sloan.

— Vamos ver... Mais para a esquerda. – falou, e eu obedeci. Fizemos alguns ajustes e finalmente concordamos que estavam simétricos – Estamos prontos para fechar. Fio 4-0. – pediu, e começou a costurar a pele, com cuidado – Você acha que consegue fazer isso? – olhou-me e eu assenti – Fio 4-0 para ela também. – apontou para mim, e alguém me entregou o que havia sido pedido.

Pouco depois, ambos havíamos terminado nossas suturas, e eu sorri satisfeita ao ver meu trabalho. Mark estudou o seio no qual eu havia trabalhado e assentiu, dando a entender que realmente estava tudo certo.

— Okay, pessoal, terminamos. Ótimo trabalho. – disse o homem, e deixou o local logo em seguida, indo até as pias para lavar-se. Segui-o e parei ao seu lado, também lavando minhas mãos.

— Obrigada pela oportunidade, Dr. Sloan. – agradeci, sorridente.

— Você tem futuro em Plástica, caso se interesse. Não pense que é só colocar silicone e fazer lipoaspiração não, temos muito trabalho difícil. – disse, erguendo uma sobrancelha.

— Vou pensar no assunto. – concordei com a cabeça, e o mesmo imitou meu gesto, saindo dali pouco depois.

Encarei a equipe organizando a SO, depois de já ter acabado de lavar minhas mãos. Apesar de estar feliz por ter posto a mão na massa em uma cirurgia, alguma coisa ainda estava fora, e eu sentia-me triste. Obviamente era a questão dos meus pais, e as palavras de Claire não saíam da minha mente. “Você deveria parar de afastar as pessoas que só querem o seu bem, Rebecca. Quando você realmente estiver sozinha, vai arrepender-se!”. Ela estava certa. Aquela paciente estava mudando ela mesma para não ser deixada de lado novamente, e eu tinha a chance de ter alguém por mim que me aceitasse do jeito que eu era, e estava a afastando.

Num impulso saí dali, e bipei Claire numa Sala de Descanso no caminho. Entrei na sala e fiquei caminhando de um lado para o outro lá dentro, enquanto esperava a residente.

— O que você quer? – questionou a garota, adentrando a sala e fechando a porta. Ela parecia aborrecida, o que quase me fez desistir de contar a ela. Porém, fui mais forte e decidi falar logo de uma vez.

— Minha mãe me expulsou de casa quando eu tinha 15 anos. – desembuchei, sentindo um grande peso sair de minhas costas.

— Meu Deus... Por quê? – falou Scofield, parecendo chocada.

— Ela me pegou na cama com outra menina. – respondi, e suspirei tristemente – Ela disse que eu era uma abominação aos olhos de Deus. – ri ironicamente, na tentativa de disfarçar o quanto aquilo mexia comigo.

— Rebecca, eu sinto muito, de verdade. – afirmou, encarando-me nos olhos – E seu pai, qual foi a posição dele quanto a isso?

— Ele estava trabalhando, e quando chegou em casa ela já tinha me chutado para fora. – falei, olhando para o nada – E ele nunca foi atrás de mim, nenhum dos dois nunca procurou saber onde eu estava. Se ele fosse contra a decisão da minha mãe, teria ligado para a polícia, pedido que me encontrassem, até se separado dela. Mas eles nunca se deram ao trabalho. – expliquei, prendendo ao máximo o choro – É por isso que não me importo com o maldito tratamento. Para mim, eles não são meus pais. Porque pais não abandonam os filhos assim, eles os aceitam do jeito que são, e dão apoio quando precisam. E eles não fizeram nada disso.

— Mas você não quer esclarecer tudo? Tirar a limpo? – perguntou, olhando-me sugestivamente – Ignorar o passado não vai fazer com que ele desapareça. O passado é igual as raízes de uma árvore gigante que você planta na calçada. Você pode jogar concreto por cima, e continuar crescendo como árvore. Mas as raízes sempre vão dar um jeito de quebrar a calçada. O passado sempre vai vir à tona. E você não pode se punir ou punir as outras pessoas quando isso acontecer. É por isso que você tem que “lavar a roupa suja”. Eu sei que você não acredita em Deus, então vamos dizer que foi o universo, ou por mera coincidência e ironia do destino, seus pais foram colocados bem na sua frente, e você tem a chance de tirar tudo a limpo. Muitas pessoas matariam para ter essa oportunidade. Tire todas as dúvidas do seu passado, e siga em frente de vez. – aconselhou, e eu fiquei boba com suas palavras. Não conseguia negar que Claire me atraía além do normal, e saber que passaríamos a vida apenas como amigas me matava por dentro. Mas ela era uma pessoa muito incrível para afastar apenas porque minha vontade era de beijá-la na boca ao invés de apenas beijar no rosto, então eu teria que aprender a conviver com mais aquilo.

— Eu... não sei se estou pronta para isso. Mas obrigada. – sorri agradecida, e num piscar de olhos a jovem puxou-me para um abraço apertado. Aproveitei para sentir seu cheiro maravilhoso, e afundei meu rosto em seu ombro, deixando que ela me visse um pouco vulnerável.

— Está tudo bem se você quiser chorar. – sussurrou, e eu ri fraco.

— Não terá o gostinho de me ver chorar não, Scofield. – brinquei para quebrar o clima, e finalmente tomei coragem de afastar-me. Olhei rapidamente para sua barriga que já parecia que ia explodir e sorri fraco. Eu realmente estaria disposta a ajudá-la a criar aquelas crianças como minhas, se ela me permitisse. Talvez porque me sentia culpada pela morte de Akira, ou talvez apenas porque me sentia diferente por ela – Eu preciso ir, quer carona para ir embora, hoje?

— Claro! – assentiu, sorridente.

— Te vejo depois, então. – despedi-me saí dali.

—-

O dia estava quase no fim, e Sloan já me dispensara de seus serviços. Segui para o andar da Obstetrícia e procurei por Roger, encontrando-o numa Sala de Exames.

— Você tem alguma paciente? – perguntei, parada na porta, e o homem olhou-me assustado.

— Deus, Rebecca, desse jeito você me mata do...

— Você tem alguma paciente?! – cortei-o, erguendo uma sobrancelha e laçando-o um olhar sacana.

— Não, acabei por hoje. – respondeu, aparentemente entendendo o que eu queria dizer.

Não falei nada, apenas fechei a porta bruscamente e tranquei-a. Abaixei as cortinas das janelas e parti para cima do médico, que já estava me esperando. Beijei-o com vontade de já tratei de despi-lo, necessitando de um orgasmo para amenizar toda a merda à minha volta.

Eu sei que vocês estão esperando uma lição de moral, algo motivacional, ou qualquer merda do tipo, igual a Claire gosta de falar. Mas eu não sou a pessoa certa para dar conselho para ninguém. Mas faça o que eu falo e não faça o que eu faço: resolva seu passado, tire as dúvidas que te matam sobre ele, “lave a roupa suja”, e supere. Porque o passado é igual as raízes de uma árvore que você planta na calçada e blá blá blá, vocês já sabem porque a Claire disse. E não afaste as pessoas que se importam com você, isso é feio. Tchau.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo narrado pela Rebecca? Já desconfiavam do passado dela?
Espero que tenham gostado desse capítulo assim como eu gostei. Vejo vocês nos comentários! Beijos!
[EDIT]: gente, só queria passar para falar sobre a cena da mãe da Rebecca expulsando ela de casa. Eu senti ódio de mim mesma escrevendo aquelas coisas que ela disse, me repugnei de verdade. E o pior, é que realmente existem pessoas que falam coisas daquele tipo, e me dá raiva só de pensar. Estou falando isso, porque às vezes os leitores podem confundir a opinião do personagem com a opinião da autora, e só quero deixar claro que essa foi uma das cenas mais difíceis para eu escrever, porque vai completamente contra o que eu penso. De qualquer forma, se você leu até aqui, tenha um bom dia/uma boa noite, até mais!