Modesty escrita por Cherry Pitch


Capítulo 1
Modesty (Capítulo Único)


Notas iniciais do capítulo

Preparem os lencinhos de papel, porque, tal como em "Credence", eu chorei e tremi mais do que o normal enquanto escrevia essa one.



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Minha mãe, sua mãe, bruxas vão levar

Minha mãe, sua mãe, bruxas vão matar.

Modesty fecha os olhos e vê aquele pesadelo começar de novo. Sua mãe, Mary Lou, cantando aquela canção para ela dormir, quase como um lembrete constante de que bruxas deveriam sofrer, de que bruxas deveriam ser mortas. Quase como um lembrete constante de que Modesty nunca poderia demonstrar o que era, nem mesmo seus desejos.



Bruxa número um, no rio afogada


Os fios loiros de uma mulher no rio, batendo os braços, tentando chegar à margem. Tentativas falhas de conseguir levar mais ar aos seus pulmões. A pesada capa preta dificultava a tarefa. Gritos mudos, silenciados pela água nos lábios da mulher.

E as roupas deixadas no gramado nunca seriam lavadas ou secas.

As roupas deixadas no gramado nunca mais seriam tocadas ou vestidas pela bruxa número um.

Pela bruxa número um, no rio afogada.


Bruxa número dois, vai ser enforcada.



— Modesty! - um garoto loiro grita. Um homem de jaqueta do exército agarra os braços do menino, que clamava por Modesty, e parecia ser o único a ver a garota observando, já que o homem do exército apenas arrastava o loiro pelo chão, como se não notasse a presença dela.

As roupas beges dele estavam sujas de terra, tal como seus cabelos da cor de limões. O desespero dominava os olhos do garoto, enquanto Modesty corria na direção dele, mas seus pés não a moviam mais.

Modesty tentava se mover, mas continuava no mesmo lugar, como se estivesse em pé na areia movediça.

E, enquanto isso, o menininho loiro era levado.

E Modesty observou-o gritar na força, até a corda apertar seu pescoço a ponto da respiração dele parar. E, com uma fumaça, tudo aquilo desaparece, ficando apenas na mente de Modesty.



Bruxa número três, vamos ver queimar. 




Uma fila de crianças loiras atravessando, um guarda para cada uma. Todas estavam sujas e com lágrimas secas nos olhos, sangue velho em todo corpo. Tinham tentado fugir, Modesty via.

Várias pessoas as observavam, rindo, se divertindo. Até mesmo os guardas traziam um leve sorriso no rosto.

Modesty observava a tudo, amedrontada. Todos os outros cenários tinham sido terríveis, e Modesty não esperava menos daquele.

E é quando uma grande luz vermelha e laranja chega aos olhos de Modesty, e ela sabe exatamente o que vai acontecer.

Aquelas crianças loiras, sujas e cheias de feridas seriam queimadas. Daquela vez, Modesty conseguiu correr, mas ninguém a via; nem mesmo as crianças.

Modesty estava ali, como ao mesmo tempo não estava. Os guardas empurravam as crianças em direção à fogueira, e quando Modesty se jogou na frente deles, simplesmente a atravessaram, como se ela não estivesse ali.

E os últimos irmãos de sangue de Modesty Barebone morreram queimados na fogueira.



Bruxa número quatro uma surra vai levar




Modesty, dessa vez, continua em casa. Ao invés de ver guardas agredindo os bruxos loiros que Modesty lembrava como sua família - seus nove irmãos e a mãe -, tudo o que conseguia ver era ela mesma em um quarto no segundo andar da sua casa atual.

Modesty olha em volta, e tudo está igual. Por alguns segundos, ela acha que acordou. Não havia nenhum alívio naquilo, Modesty bem sabia. Acordar de um pesadelo e saber que aquelas coisas de fato aconteciam, e que estavam mais perto do que ela imaginava? Era terrível.

Modesty olha para a porta de mogno ao ouvir um barulho, e vê as feições de Mary Lou Barebone mais vermelhas do que o normal. Modesty rapidamente percebe que ela está irritada. Tal como quando está subindo as escadas para bater em Credence.

— Modesty. - fala ela, com a sua voz determinada. Modesty, apenas Modesty. Não havia o Barebone. A menininha loira não estava junto a sua família, seu nome não era seguido pelo Barebone. Modesty era apenas uma bruxinha suja. A bruxinha suja número quatro, uma surra vai levar, Modesty não consegue tirar o verso da cabeça. - Uma aberração, uma mentirosa! - Modesty percebe que Mary Lou aumenta o tom de voz, mas não perde a sua pose. Ela sabia que a mulher estava irritada e enojada. Aquele tom de voz era usado por Mary Lou em outras situações. Situações que Modesty conhecia bem.

As declarações do grupo anti-bruxos.

— Com o que eu vou bater em você, aberração? - diz Mary Lou, acentuando a palavra "aberração", como se quisesse pisar no enorme coração infantil de Modesty. O enorme coração que não cabia no seu corpo pequenino. - No Credence é com o cinto, é claro... Mas com você... Tem que ser diferente. A bruxa número quatro, uma surra vai levar.

Ao ouvir a risada maléfica e as mãos ossudas de Mary Lou se aproximando dela, com um anel de ferro, Modesty levanta da cama num sobressalto.

O rosto de Modesty está suado. Ela finalmente abre os olhos, encarando tudo em volta dela, tentando tranquilizar a si mesma, tentando acreditar que Mary Lou não está ali para bater nela.

E é quando Modesty percebe o corpo do irmão ao seu lado.

Credence.

Modesty abraça o irmão, se apoiando nele. Suas mãos apertam o pescoço e os fios de cabelo de Credence, como se implorasse que ele a fizesse se sentir protegida.

 

Bruxa número dois, vai ser enforcada.

 

Modesty tira os braços do pescoço de Credence rapidamente e corre em direção ao canto do quarto. Todo o seu corpo treme. Ela não pode matar Credence. Não.

Quando o irmão se aproxima, Modesty grita para que ele não o faça. Credence não podia chegar perto dela. Modesty era perigosa, e não podia ser tocada. Ela o mataria. Ele precisava se afastar enquanto ela ainda tinha controle do próprio corpo.

Modesty não conseguiria ver Credence gritar de dor, como fazia quando o cinto nas mãos de Mary Lou alcançava sua pele. Não de novo, e não com Modesty sendo a culpada.

— Se afaste de mim... - Modesty sussurra, com a voz embargada, a garganta seca e as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. - Por favor... Eu não quero... - Modesty aperta os olhos. - Minha mãe, sua mãe, bruxas vão levar. — Modesty respira fundo. - Minha mãe, sua mãe, bruxas vão matar. Bruxa número um, no rio afogada. — Modesty morde os lábios, até eles sangrarem. - Bruxa número dois, vai ser enforcada.

A imagem do irmão sendo levado à forca pelo guarda volta a sua cabeça, e seus lábios perdem o movimento, tal como suas pernas, no pesadelo.

Bruxa número três, vamos ver queimar. — Modesty começa a arranhar toda a extensão do seu braço. - Bruxa número quatro, uma surra vai levar.

Modesty se levanta e caminha na direção do espelho. Ela arranha mais seus braços. Linhas vermelhas já estavam marcadas.

— Aberração. - diz Modesty, se arranhando cada vez mais. - Bruxa. Vagabunda. - a respiração dela fica mais pesada. O espelho cai no chão, e Modesty se abaixa, pegando um dos cacos. A ponta deste se arrasta pela sua pele. - Bruxa número quatro. - ela diz. - Uma surra vai levar.

Modesty está caída em cima dos cacos de vidro do espelho, quando o último verso da música está escrito no chão em sangue.

Credence e Modesty precisam de ajuda, mas ninguém sabe. Os dois precisam de ajuda, os dois precisam ser amados.

Mas ninguém sabe.



Bruxa número quatro, uma surra vai levar


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado



(mereço reviews?)
:)



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