Proibido para menores de 70 anos escrita por Gabi Wolf, Giovanna Wolf


Capítulo 19
O show de Filomena - parte 3




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— Eu vou te esganar!! - Ouvi Camila gritando do outro lado da porta. Nem pensar eu iria sair daquele banheiro. Nem morto.

— Vai embora Camila.- pedi, aconchegado na tampa da privada. – E desista, eu não vou sair! Não até eu completar vinte anos.... Eu acho.

Ela incrivelmente riu.

— E como você vai sobreviver esse tempo todo em um banheiro de um avião?!? – Nem me dei o trabalho de responder. – Mais cedo ou mais tarde você vai ter que sair daí. Nem que eu mesma cuide disso! - E então ela esmurrou a porta como um touro furioso, ou como uma maluca mesmo.

De repente, uma fina voz feminina interrompeu nossa pequena discussão. Acho que era uma aeromoça porque disse:

— Senhor, não é permitido o uso dos banheiros na decolagem do voo. Por favor, peço sua compreensão para retornar a sua poltrona. – Ela deu umas batidinhas na porta. Eu ainda não estava convencido se a escutava ou não. – Senhor? Está tudo bem aí?!? – Outras batidas.

— Nicolas, sou eu, o vovô. – Ouvi a voz do vovô naquela confusão. Finalmente, um pouco de alívio. – Estou aqui. Pode sair.

— Vovô, o senhor não entende... – tentava achar palavras para explicar e não conseguia. Como explicar a seu avô que você estava sendo ameaçado de morte por uma garota?!? – Eu não posso sair daqui.

— Por que não? – Vovô parecia não saber da confusão.

— É uma longa história... – falei. – Mas, só me responda uma pergunta: a Camila está aí de fora, com você?

Uma breve pausa. Praticamente foram os minutos mais tensos da minha vida. Minhas mãos estavam úmidas de suor. Meu cabelo então, estava molhado. Estava quase conseguindo estabilizar a minha respiração ofegante.

— Não. Ela está sentada ao lado do Manuel. – Ele respondeu e ao mesmo tempo soltei um suspiro aliviado. Ainda bem que aquela garota havia sossegado. Achei que iriam ter que acertar um dardo tranquilizante tamanho GG para leões nela.

— Tudo bem então. Eu saio. – Anunciei.

Abri a fechadura e como um cidadão comum, voltei ao meu lugar, e claro, sem deixar de olhar de um lado para o outro, como um suricato, esperando algum sinal de uma hiena.

O voo seguiu bem, e na minha opinião, foi bem curta. Acho que é porque eu tirei uma soneca, com a cabeça no ombro do vovô. Acho que eu havia passado uma situação bem tensa e isso havia mexido com meu cérebro, ou pelo menos, era o motivo que eu havia encontrado para aquele sono todo.

Chegamos em São Paulo. O clima aproximadamente doze graus. Pode parecer não muito frio, mas para quem vem de Minas Gerais, o choque térmico é inevitável. Já que onde eu morava era tão quente que era possível fritar um ovo frito na calçada. Eu não poderia dizer o mesmo de São Paulo, que era digamos... Um pouco mais frio.

Pegamos um táxi na primeira oportunidade após sair do aeroporto. Durante todo o trajeto, nem eu e nem Camila falamos nada um com o outro. E eu não pretendia fazer isso tão cedo. Acho que ninguém quer morrer na sua flor da idade.

Entretanto, Manuel, vovô, Tio Barnabé e Francisco estavam bem animados, já que de vez em quando eles compartilhavam algumas risadas. Tia Filomena estava mais quieta, trocando poucas palavras com Valentína, que estava toda alegre de ter feito uma nova amizade. Aposto que ela gostaria de ter uma avó de novo, e por isso, imagino que ela torcia para que o vovô e Tia Filomena se casassem.

Acho que não seria tão ruim. Apesar de eu ainda preferir a vovó se ela ainda estivesse entre nós.

Tia Filomena fez questão de alugar um quarto de hotel de luxo, bem em uma das ruas movimentadas de São Paulo. E podem acreditar, o quarto parecia de rei. Só o meu quarto e dos outros homens era do tamanho de uma casa! Está bem, não era tão grande assim... Mas ainda assim era bem elegante, com umas duas camas de casal king size bem suntuosas.

— Pular na cama!! – Valentína foi a primeira a pular na cama enquanto o resto de nós nos restringimos a apenas depositar as bagagens pesadas no carpete amarronzado. – Iuhuuuu!!

— Mocinha. – Tia Filomena a repreendeu. – Lembra do que aconteceu da última vez, não se lembra?

Valentína assentiu com a cabeça. Acho que ela lembrava o quanto fora dolorido ter que dar aqueles pontos na testa. Acho que até eu teria sentido aquilo. Só de ver aquela agulha entrando na pele dela.... Me deu calafrios! Aquilo era bem assustador.

— Tudo bem então. – Valentína parou de pular e sentou-se na cama. – Mas... Camila, você quer brincar comigo?

Eu daria uma risada, mas como eu não tinha esse direito, decidi ficar calado.

— Ainda dá tempo de alcançarmos a gravação de hoje no estúdio. – Tio Barnabé informou, checando as horas em seu caríssimo relógio de pulso (recém-adquirido em uma loja de antiguidades) – Posso até tomar um banho.

— Depois de mim meu caro chapa. – Francisco interviu, retirando aqueles sapatos de couro. Torci o nariz. Com certeza aquilo não tinha um cheiro bom. – Estou sem tomar banho há dois dias.

Acabara de descobrir que aquele cheiro podre de sardinha envelhecida que eu sentira durante todo o dia era do Francisco.

— O que será que passa nessa TV? – Manuel já monopolizou o controle, colocando seus pés grandes e cheio de micose na cama de colcha vermelha novinha. Senti até pena da camareira que iria limpar aquele quarto.

Bom.... Acho que seria a minha deixa para tirar minhas coisas da mala e as organizar um pouco.

+++

— O plano é o seguinte: precisamos de duas iscas e precisamos nos dividir em dois grupos. – Tio Barnabé disse, enquanto estávamos apertados em um táxi, vagando em direção ao estúdio da record. Ele estava no banco da frente e mandava um olhar de chefão para a gente através do retrovisor. Já eu e o resto da cambada estava amontoada nos bancos de trás. – Eu, Francisco e Filomena vamos na parte dos fundos enquanto as crianças, Bento e Manuel distraem os seguranças.

— Por que eu tenho que ficar com as crianças?!? – Manuel resmungou. – Sempre fico com a parte mais difícil mesmo...

Eu, Valentína e Camila rimos.

E então, tínhamos um plano completo. E agora, parte do sucesso do sonho estavam em minhas mãos.


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