Addispiratu escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 5
Capítulo 4.


Notas iniciais do capítulo

Eu ouvi um amém?



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Capítulo 4.

Sirius Black já estivera em Malfoy's Manor como convidado um par de vezes na infância, porém nunca como um intruso. O portão de aço com detalhes intricados guardava uma alameda larga, ladeada de teixos tão imponentes quanto a mansão da era elisabetana que escondiam.

— Como vocês fazem para se comunicar? Não acredito que possamos passar daqui sem sermos formalmente convidados. - Sirius sabia que os Malfoy eram tão cuidadosos com seus feitiços de proteção quanto os Black e nenhuma das duas famílias era conhecida por terem feiticeiros medíocres.

James passou a mão pelos cabelos e começou a correr em direção do que sabia ser uma pequena entrada lateral pelo bosque, que dava em um jardim secreto na ala oeste da mansão. Se transformou no cervo imponente de sempre, ganhando mais e mais velocidade.

Sirius o acompanhou, também assumindo sua forma animaga. Parou apenas quando os cascos do cervo que liderava o caminho derraparam no cascalho. James passou o portal para o jardim que pertencia e era frequentado apenas pela senhora Malfoy.

Um par de cisnes albinos já se encontravam recolhidos em um canto para passar a noite e nenhum dos dois homens fez menção de se aproximar do local, não queriam incomodar as belíssimas criaturas de Narcisa, por outro lado, ela tinha mais é que ser incomodada mesmo!

James se debruçou sobre o bebedouro dos pássaros, lembrando do dia em que dissera a Cissa que a pele dela não se parecia com cetim ou veludo, nem mesmo era macia tal qual as pétalas de um narciso. Não, era tão suave e maleável quanto a própria água.

Passou o dorso da mão no pequeno espelho d’água, alongando o toque com o indicador. Sirius o olhou de cenho franzido e braços cruzados.

—  E então?

—  Agora é só esperar.

***

Eu tinha dormido tudo que podia no pequeno Inn em conta que Petunia achou ainda no início de Aberdeen. Aparentemente nem todo mundo ficou fazendo coisas inúteis nessa viagem, Lily. Ao menos eu tinha garantido o nosso almoço em um pub escocês que fazia vezes de restaurante.

Estrela dourada pra mim? Nah!

A dona escocesa com um decote avantajado e um linguajar de marinheiro não gostou da atitude de minha irmã - eu quero é novidade, ninguém gosta -então eu tive que negociar com ela e acabei conseguindo tudo.

Acho que ela ficou com pena de mim, eu devo estar parecendo uma coisinha bem patética mesmo!

Estávamos quase entrando em Cokeworth agora e por isso Tuney me “acordou”, mesmo que eu já estivesse acordada a pelo menos meia hora.

—  Acorda, garota! - Ela tirou uma das mãos do volante rápido, para tocar meu ombro e retornou mais rápido ainda, provavelmente com medo de perder o controle do Landau de Vernon. –  Já pensou na desculpa que vai dizer para nossos pais?

Aumentei o volume do rádio, porque Fred começava a cantar Bohemian Rhapsody, então fazia sentido acompanhá-lo a plenos pulmões. 

—  Is this the real life? Is this just fantasy? – Ela meneou a cabeça sem paciência, então sussurrei dramaticamente o resto.–  Caught in a landslide, no escape from reality!

— Até que se encaixa bem em sua vida, continue. - Petunia falou com ironia, mas não havia muita energia nisso, ela também estava preocupada.

—  Acho que vou ficar bem em uma camisa de força... O branco dela ressaltará as minhas futuras olheiras e pele sem vida. – Arrastei a mão no rosto até distorcer a pele em uma careta. Petunia não me olhou, mas revirou os olhos.–  O que acha?

 

—  Acho que você vai ficar bem, Lily, apenas tente seguir o curso do rio.- Muito poético para a Petunia que eu conheço dizer isso, porque a pequena ponte que passava por cima do rio Doe acabou de se descortinar na nossa frente.

—  Não sei o que será da minha vida, Tuney. – Fred mandava sua mama seguir com a vida caso ele não voltasse e aquela música nunca pareceu tão certa, porque eu agora só queria desaparecer.–  Hogwarts era tudo para mim... E ela não é real.

—  Ela é real para você, Lily. – Ela me deu um sorriso calmo, familiar, mas não em seu rosto.–  Só não é para nós.

Aquelas palavras, aquele sorriso... A memória veio morna, como se estivesse subindo do meu peito até atingir meu consciente, para me lembrar daquele que me mostrou a magia para início de conversa.

"Ele é real, não é? Não é uma piada? Petunia diz que você está mentindo para mim. Petunia diz que não há Hogwarts. Isso é real, não é?"

"É real para nós", ele me disse. "Não para ela".

A entrada da Spinner’s End estava ali, dobrando a esquina e antes que Petunia alcançasse a Cottom, mandei ela parar o carro antes que o meu coração parasse de desespero.

—  O que foi agora, Lily? – Ela freou bruscamente e eu já estava abrindo a porta antes mesmo da roda do Landau de Vernon se alinhar com o meio fio.

—  Só mais uma chance. Eu preciso de só mais uma chance, Tuney!

Sai em disparada pela margem do Rio Doe, o barulho dos meus tênis na rua de pedra era ofuscado pelo som das batidas do meu coração martelando em meus ouvidos. Minha jaqueta nova formava uma mini capa arrastada pelo vento, que fazia subir também minha camisa curta demais do Queen, que eu comprara a menos de uma semana na mão daquele punk de cabelo verde.

Era isso, tinha que ser isso!

Já havia virado na esquina da rua onde passava uma boa parte dos meus verões fora de Hogwarts. Onde descobri que não era uma aberração, que haviam outros iguais a mim, onde perguntei se os pais dele ainda continuavam brigando, onde eu descobri sobre as serpentes, os leões...

Onde eu descobri tudo.

Ouvia passos atrás de mim, passos apressados, mas eles não eram dados em um chão de pedra como o que estava sob os meus pés. Não, eram passos em piso de madeira. Um choro de bebê ao longe me fez sentir um aperto no peito, estava quase sem fôlego quando finalmente cheguei na frente da casa dele.

Ao abrir a porta da casa atarracada, em uma rua mal cuidada, com prédios de janelas quebradas, cobertas por tábuas de madeira e mato crescendo nas frestas entre as pedras do passeio, soube quem havia me jogado nesse mundo estranho, desconexo e sem magia.

Aquele que não era sangue do meu sangue, que não era minha alma gêmea, que não era nem sequer meu amigo mais, mas ainda assim, eu sabia que me protegeria mesmo depois de todo esse tempo...

Sabia que me protegeria sempre.

Abri a porta sem dificuldade, com os olhos fechados, com medo de estar errada novamente, de tudo não passar de um último ato de desespero de uma mente realmente doente, de uma garota que realmente é uma aberração...

—  Severus?

***

Narcisa tinha uma qualidade inerente de parecer etérea em qualquer situação e essa noite não fora diferente. A capa de um tom de azul meia noite cobria parcialmente o rosto da mulher miúda que entrou no jardim secreto.

Sua expressão confusa transformou-se em assustadiça ao ver que James não só voltara, como também havia trazido o seu primo traidor do sangue.

—  O que fazem aqui? James, eu te disse que Lucius voltaria a noite, inclusive deve estar para chegar a qualquer...

—  Não finja que não sabe porque estamos aqui, priminha... O plano seu e da veela moribunda que chama de marido funcionou muito bem! – Ela olhou para Sirius com um pouco mais de aprumo, porque ele estava em sua casa, ofendendo o senhor seu marido.

—  Você não está se fazendo entender, querido primo. Será que finalmente sua mente ficou tão deteriorada que...

—  Narcisa, onde está minha família? – Ela parou uma daquelas retóricas que eram praticamente a marca registrada da família Black, para encarar o ex-amante, agora apenas amigo.

A expressão de James estava mais séria do que ela jamais vira e não dava margem para escape ou desculpas inventada as pressas. Esperava que seu amigo nunca desconfiasse dela, que nem sequer cogitasse que ela fez algo para trair sua confiança, mas ele havia retornado muito rápido.

Narcisa superestimou a confiança que James ainda tinha em si.

—  Não sei do que...

—  Como pôde? Usar seu filho como pretexto para entregar o dele na mão do seu maldito lorde? – Sirius havia se aproximado daquele jeito leonino dele e a mulher se sentiu intimidada o suficiente para dar dois passos atrás. James não moveu um músculo em sua defesa.–  Isso é baixo até para você, garota!

—  James, eu não... Sirius, dá para me deixar falar com ele? – O rapaz de cabelos compridos fechava seu campo de visão, então a senhora Malfoy o empurrou de leve pelo abdômen. Seu primo era uma criatura intrometida demais!–  Eu nunca faria nada para machucar a sua família, Jay, sabe como me sinto em relação ao Lorde, eu...

—  Onde eles estão? – Tinha perguntado em um tom baixo e falsamente calmo.–  Para onde mandaram minha família?

Narcisa queria sair dali, queria ir para qualquer outro lugar, porque não podia mentir para James, mas não podia quebrar sua promessa, ela prometera que não contaria nada e sabia que ele nunca faria algo para machucar a ruiva e seu bebê, ele a amava.

—  Estão seguros. – Sirius rosnou em descrença, mas a mulher já estava acostumada com o temperamento selvagem do primo.–  Vocês foram traídos e o Lorde cedo ou tarde chegaria em seu esconderijo, o velho diretor não pode proteger a todos, chegará um tempo em que não poderá proteger nem a si mesmo, Severus acredita que...

—  Severus? – Sirius pronunciou o nome como se fora uma maldição.–  Foi por ele que traiu James?

Parecia uma grande ironia isso, Severus Snape sempre quis ter o que James tinha e agora havia usado o seu anormalmente grande e seboso cérebro para fazer com que a garota anterior de Prongs entregasse a atual para ele em uma bandeja de prata. Sirius admirava e odiava o ranhoso em partes iguais.

—  Entregou minha família nas mãos de um comensal da morte e ainda tem o atrevimento de dizer que eles estão seguros? – Doía fisicamente na sonserina o tom de acusação e decepção usado por James.–  Quem é você, mulher? Se esqueceu de quem era e agora assumiu completamente a carapuça dos Malfoy? É a esse lugar que você pertence agora?

—  Ele a ama. – Usou a única coisa no discurso de Severus que a havia convencido de atrair James enquanto o outro homem tirava Lily Potter do perigo.–  E eu amo você e não podia permitir que perdesse sua esposa e filho, tinha que fazer algo, mesmo que para isso você me odeie pra sempre! 

James tentava entender o que a mulher a sua frente dizia e ela parecia não saber mais o que dizer. Sirius suspirou pesado, porque aquela era uma situação de merda mesmo, ele não sabia muito de amor, mas não era suposto que as pessoas se apaixonassem apenas por uma pessoa?

Sabia que James era irremediavelmente apaixonado por sua esposa, mas aquilo que tinha com Narcisa era algo muito forte também. Ele estava confuso.

—  Prongs, Snape é do tipo escorregadio e realmente tinha um algo não resolvido com Lily. Se tem alguém que poderia enganar minha prima com esse papo de amor, esse alguém é aquela cobra oleosa! – Sirius olhou a prima com uma mistura de condescendência e irritação.–  Você é muito idiota mesmo, né, já não bastava ter se casado com a boneca loira, tinha que ter absorvido a mente ferrada dele também?

—  Vai a merda, Sirius! – O moreno sorriu satisfeito de ver que a muito nobre dama elegante ainda tinha sangue correndo nas veias.–  Você não entende do que estamos falando, mas se ainda tiver alguma parte da inteligência Black em você, tente entender isso: Severus estava muito certo que o plano de Dumbledore de protege-los não funcionaria e eu confio completamente em seu julgamento.

—  Ah, minha nossa, isso torna as coisas mais claras, se Cissa acredita no ranhoso...

—  Sirius, já chega. Narcisa, onde Snape levou Lily e Harry? – A mulher não gostou de ouvir seu nome de nascimento na voz de James, mas aquilo era algo que teria que cuidar depois.

—  Não saberia dizer e ele não confia em mim nesse tanto. – Cruzou os braços, desconfortável com o olhar dos dois homens sobre si, como se estivessem esperando que ela sacasse da manga a cura da varíola de dragão!–  Mas se fosse para apostar em algo, dado a pressa que ele parecia ter, apostaria em algum lugar que lhe fosse familiar, alguma lugar onde pudesse levar os dois em segurança até bolar um plano definitivo.

James e Sirius se entreolharam, porque não faziam ideia dos lugares que eram familiares para aquela criatura. Uma caverna? Uma cripta? Uma fábrica de óleo? Sirius sorriu divertido para esse último, mas depois voltou a ficar sério quando todos o encararam com severidade. Limpou a garganta para falar.

—  Sabe de algum lugar onde ele frequentava, algum lugar em que ele poderia se sentir seguro? – Narcisa meneou a cabeça porque, apesar de ser eternamente grata pela ajuda que Severus tinha lhe dado na concepção de seu Draco - por isso mesmo ele era o padrinho de seu filho - ela não sabia muito sobre o homem.

—  Ele nunca falou nada sobre isso pra mim, embora... Bem, ele mencionou um par de vezes sua antiga casa familiar, nunca de uma maneira lisonjeira, então não acho...

—  Onde fica essa casa? Ela já é um começo. – Tanto James quanto Sirius tinham passado com louvor no módulo de decifrar pistas na academia de aurores, então podiam muito bem usar suas habilidades para achar o rastro de Snape.

—  Eu não sei ao certo o nome, mas sei que fica ao norte de Londres, só um par de horas da capital. – Ela pareceu pensar em algo mais, mas era isso, Severus não era muito falador.–  Eu não sei mais nada, só sei que não fica longe de Londres e foi o lugar onde ele cresceu, desculpem.

—  Espera, você disse no lugar onde ele cresceu? -  James olhou para Sirius, como se o outro maroto tivesse obrigatoriamente que acompanhar seu raciocínio.–  Sirius, Lily e o ranhoso eram vizinhos antes de Hogwarts, isso significa dizer...

—  Merda, Dumbledore havia nos mandado para o lugar certo! – James deu um tapa na cabeça de seu amigo tonto e aquilo fez Narcisa disfarçar um sorriso, os dois não cresciam mesmo.

—  Sim, Pads. – Apertou com mais força do que o necessário o ombro do amigo para uma aparatação em conjunto.–  Cokeworth.

***

Lily segurava uma xícara de chá com uma mão e um Harry inquieto, tentando pegar seu brinco, com a outra. Snape a encarava apoiado na mesa de infusões em seu laboratório recém-organizado. 

—  Você é um idiota. – Severus a encarou sentido, mas ela abriu um pequeno sorriso para ele.–  Por todo o conjunto da obra que já discutimos e ainda vamos discutir mais, mas principalmente por ter me mandado para a Cokeworth do outono de 1977, onde estava com a cabeça?

Ele levou um tempo para absorver o que ela havia falado, infelizmente não tendo uma xícara de chá para ocupar sua pausa reflexiva, como ela tinha.

—  Achei que tínhamos estabelecido que seria um lugar que ambos conhecêssemos, para não causar estranhamento e para que eu pudesse conseguir guia-la na sua imersão. 

—  Sim, mas eu achei que se referia a Hogwarts e não aquela versão sem magia da minha casa antiga! -  Harry parou de balbuciar e tentar colocar o cabelo ruivo de sua mãe na boca e ela sorriu para que o bebê não ficasse tenso.–  Sabe o quão horrível foi ser uma garota sem magia, sabendo que a magia existia sim? Foi desesperador!

—  Não podia permitir que ficasse fazendo encantamentos em seus sonhos induzidos ou todo o propósito de disfarçar  sua magia não serviria de nada. – Colocou o indicador na boca, intrigado.–  Ainda não sei o que deu errado, não sei porque você continuou consciente do mundo mágico...

—  Ser bruxa moldou quem eu sou, Severus, devia saber disso melhor do que ninguém... – O homem acenou incomodado, o fato dele corroborar com as ideias daqueles que acreditavam que ela era menos bruxa que eles e que por isso devia ser colocada “em seu lugar”, fora justamente uma das coisas que os havia separado. –  Quanto tempo estive dormindo?

—  Cerca de seis horas... – Lily olhou surpresa, pareceu ter se passado dias!–  Teremos que pensar em outra...

O som da campainha calou Severus, que fez o sinal de silêncio para uma Lily alarmada. Nas últimas horas não havia sentido a marca queimar, o que significava que o traidor ainda não havia contado do sumiço de Lily e seu filho ao lorde.

Mas uma visita a essa hora da noite, em uma casa que nem sequer recebia visitas em um horário decente, fez Snape ter certeza que fora descoberto muito antes da hora. Seu plano era tirar Lily do país o quanto antes, levaria ela e a criança para fora da ilha, onde as pessoas não os conheciam e a guerra era apenas um pálido conto de horror em uma terra distante.

Pensara em ir para a América, onde a MACUSA era rígida com aqueles que ameaçavam pôr em risco a frágil trégua entre bruxos e os que eles chamavam de no-maj. Os tentáculos de Voldemort ainda não eram tão longos para chegar no outro continente, embora soubesse que havia partidários das ideias do homem em todo o mundo.

Infelizmente tudo havia desandado muito rápido e nem haviam cruzado a primeira fronteira da Inglaterra ainda!

Snape usaria o feitiço protetor que havia envolvido na casa e que era bastante impressionante e, se tivessem sorte, daria tempo de Lily escapar, mas um patrono em forma de um cervo com uma galhada impressionante marchou para dentro da casa, através das paredes do laboratório.

—  James? – Lily sussurrou em dúvida e Harry balbuciou algo próximo a um papa, batendo palmas animado.–  Severus, você conseguiu avisar a James? Obrigada!

Lily fez menção de subir as escadas, mas o homem a segurou pelo ombro assim que ela passou na sua frente.

—  Isso pode ser uma armadilha. 

—  Severus, esse é o patrono do meu marido, não tem como alguém forjar algo como isso!

—  Ele pode estar sendo obrigado...

—  James nunca faria algo que colocaria nossas vidas em risco! – Snape estava pronto pra dizer que foi exatamente o que ele fez ao sair para atender sua ex-amante no meio de uma guerra, mas Lily já irrompia escada acima, com seu filho no colo.

—  Teimosa! – O sonserino taciturno a acompanhou em seus calcanhares. Essa teimosia toda explicava o tanto de vezes que precisou intervir dentro da imersão para fazê-la ficar no caminho certo, sem sucesso, claro.

Ao chegar no andar de cima se deparou com uma cena que nunca falhava em partir seu coração em um milhão de pedaços: Potter a tinha em seus braços, a única pessoa que amava nesse mundo e a beijava como se realmente tivesse direito a isso.

O bebê dos dois compartilhava da alegria na bolha familiar Potter, bebê esse que o infernizou nas últimas horas, sendo tão impertinente quanto o pai. Já a diferença entre ele e a mãe era,  além  de tudo com exceção dos olhos, que ele era muito mais fácil de disfarçar a magia do que ela e por isso mesmo pôde ficar acordado.

Não teve tempo de pensar em mais nada, porque uma varinha saída Merlin sabe de onde havia sido encostada em seu queixo.

—  Ranhoso, que desprazer em vê-lo. – Claro que Potter não teria vindo sozinho. Onde o infeliz estava, um ou todos da sua gangue vinha atrás lambendo-lhe as botas.

—  A dupla dinâmica! – Falou com ironia e Black inclinou a cabeça de uma forma que lembrou muito a um cachorro raivoso.–  Se a intenção é atrair o lorde das trevas até nós, saiba que os dois estão no caminho certo.

—  Você gostaria disso não é? De ver o seu mestre chegando e destruindo tudo pela frente, porque destruição é a única língua que vocês entendem. – Revirou os olhos, porque Sirius Black não só era idiota como os amigos, mas também era extremamente teatral.–  Mas olha só, hoje isso não vai acontecer.

—  Sirius, para com isso. – Ouviu a voz de Lily as suas costas e logo depois a porta se fechou.–  Severus está aqui para nos ajudar. 

—  Te tirando de uma casa segura e a colocando... – Deu um olhar para o lugar antigo, que parecia ter visto dias de uma pobreza digna e hoje era apenas a epitome do abandono. –  Nesse lugar que estou arrependido de ter limpado as botas para entrar. Claro, esse plano é infalível, o que poderia dar errado?

—  Sirius... – A ruiva falou naquele tom de alerta que o fazia sentir como se fosse o irmão mais velho de Harry levando bronca da mãe.

—  Amor, o que veio fazer aqui? Tem ideia de como me senti quando me dei conta que vocês haviam partido? – Lily ia responde-lo, estava feliz de ver que James se juntara a ela e a Harry exatamente como Severus dissera, mas justamente ele tomou a palavra.

—  E onde estava você, senhor Potter? – Snape perguntou irônico, feliz por saber que estava colocando seu rival em uma encruzilhada.–  Será que podemos ter a honra de saber?

—  Você cale a boca! – Sirius empurrou o idiota morcegoso na poltrona velha e ele caiu desajeitadamente, ainda com um sorriso vitorioso no rosto.–  Essa é uma conversa de família, já ouviu falar nisso?

—  Oh, meu Merlin, estou prestes a ter uma aula sobre família com o Black traidor do sangue, que fantástico!

—  Parem vocês dois! – Sirius parou com a varinha em riste, pronta para executar uma azaração cruel no ranhoso, talvez até mesmo uma imperdoável, afinal agora era liberado usá-las contra comensais, não era?–  James, querido, onde você estava?

James encarou a esposa com a boca aberta, não sabia qual era a melhor resposta para essa maldita pergunta. Optou por uma meia verdade.

—  Fui checar se uma amiga estava bem, achei que vocês dois ficariam seguros por um par de horas... – Snape fez um “rá” divertido ao ouvir a palavra amiga na voz do inimigo de infância.–  Mas no fim das contas não passou de uma das armações desse morcego seboso aqui!

—  Eu estou confusa, o que... – Lily tinha acabado de passar Harry para o pai, porque gostava de ter as duas mãos livres para caso tivesse que dar uns tabefes ou um puxão de orelhas em alguém, mas não fez nenhuma das duas coisas, porque um toque vigoroso na porta chamou a atenção de todos.–  Severus?

O questionamento sussurrado de Lily pois todos ainda mais em alerta. James pegou a varinha, assim como todos os outros e Harry apenas explodiu uma bolha de baba e riu divertido, fazendo seu pai fazer uma careta com o barulho delator.

—  Lily, James? Vocês estão aí? – Sirius abaixou a varinha ao ouvir a voz do homem que chamava lá fora.

—  Muito bem pensado seu esconderijo, Ranhoso, ninguém conseguiu te achar! 

—  Cala boca, Black, se esqueceu que ainda não sabemos quem é o traidor que entregou a localização dos Potter? – Sirius iria falar que se tratava de um Fidelius o feitiço que protegia a família Potter, então não tinha como haver um traidor, mas calou a boca ao perceber a enormidade daquilo que pensara.

—  Pessoal, eu ainda posso ouvir vocês! – Remus se sentia muito ridículo falando com a porta, era quase como quando Sirius levava uma garota para o dormitório e fingia que não estava fazendo sem vergonhice na cama alheia. Apoiou o rosto na mão encostada na porta de carvalho. – Gente, os Longbotton foram atacados.

A porta se abriu bruscamente e Remus acabou tendo que dar dois passos longos para não cair de cara no chão de madeira da casa de Severus Snape.

—  Como assim, Remus, eles estão bem? – Lily o puxou para dentro e fechou a porta com pressa. Sirius tinha razão, o que demônios Severus estava pensando ao deixar a casa tão desprotegida?

O maroto observou o local rapidamente, Lily parecia nervosa, mas bem, James sacudia de leve um Harry tranquilo e Sirius ainda encarava feio um Snape elegantemente sentado em uma poltrona nada elegante.

—  Mas que merda vocês estão fazendo aqui? Lá  fora está um pandemônio, os comensais estão atacando em todas as frentes e vocês aqui fazendo um chá da tarde?

—  Atacando? – Severus olhou para sua marca, que permanecia intacta.–  Ele sabe! Ele sabe que eu o trai e está adiantado, não pretendia atacar com toda força até o Halloween! Vocês precisam sair, precisam sair daqui agora!

—  O quê? Severus, do que você está falando? O lorde, ele... – O homem segurou Lily pelos ombros e a encarou com veemência.

—  Vá para a América, Lily, pegue seu filho e vá! – Ele pegou as solicitações de uso de varinha na mesa da cozinha, não tinha tido tempo de enviar, mas ela podia cuidar disso quando já estivesse lá.–  Peça asilo de guerra no MACUSA, eles irão protege-la!

—  Não, eu não vou sair daqui. – Virou para seu marido, que a olhava sério, segurando tudo que tinham de mais precioso na vida.–  James, eu não vou fugir, estou cansada de fugir!

O maroto também estava cansado disso, ficar escondido dentro de casa enquanto seus melhores amigos se arriscavam para mantê-los a salvo o estava matando aos poucos. Não tinham medo de Voldemort, nunca tiveram, teriam enfrentado pessoalmente o bruxo das trevas outras três vezes se pudessem, mas não podiam...

—  E quanto a Harry, amor? – A ruiva olhou para seu menino sorridente, que precisava salvar de qualquer jeito. Era exatamente por ele que havia saído da linha de frente sem nem pensar duas vezes. Mas havia outra pessoa nessa sala que ela precisava salvar de qualquer jeito, então acabou falando a primeira coisa que veio em sua mente.

—  Severus leva!

—  O quê? 

—  Lily!

—  Só por cima do meu cadáver! – Não fora James que falara aquilo. Sirius tinha voltado a sacar a varinha e ela agora estava apontada para o mestre em poções.–  Ou melhor, só por cima do seu!

—  Isso não faz o menor sentido! – Sirius fez uma careta, porque realmente não tinha como Snape levar o menino caso estivesse morto, mas é que a frase toda tinha parecido tão boa em sua cabeça...–  Não me refiro a isso, Black, apesar de que o que você falou não faz sentido nenhum também. Me refiro a cuidar da criança, sem ofensa, Lily, mas seu filho é o demônio encarnado!

O bebê demônio em questão deu uma risada divertida e muito babada, porque seus dentinhos estavam crescendo e ele achava a voz daquele moço muito engraçada.

—  Severus, por pior que tenha sido ficar com Harry, nada se compara a ser caçado, acredite, eu sei do que estou falando. – Lily tocou no braço do homem, em uma última tentativa de convencimento.–  Merlin sabe o que eles fazem com traidores!

—  Merlin pode até não saber, mas eu sei bem...

—  Eu confio que se tem alguém que pode levar Harry daqui em segurança, esse alguém é você! – A ruiva o olhou de um jeito que não cabia argumentação.–  Sempre foi o mais inteligente de nós, pena que sempre insistiu em tomar as piores decisões, pena que nunca achou por quem lutar...

—  Eu achei. – James desviou o olhar para o outro lado, porque não era fácil aceitar que outro homem amasse sua esposa tanto quanto ele.–  E eu lutarei, Lily.

Vinte minutos depois, Severus Snape partia com nada mais além da roupa do corpo e o bem mais precioso do casal Potter em seus braços. Ele tinha que conseguir chegar vivo do outro lado do Oceano com Harry ou tudo aquilo teria sido em vão.

—  Ok, Remus, qual a situação? -  Lily estava de volta ao seu antigo eu, cheia de uma energia nervosa acumulada em todo esse tempo sem ação.

— Há uma batalha acontecendo nos Longbottons, mas Dumbledore me mandou vir atrás de vocês. O Beco Diagonal está sendo atacado por Vocês sabem quem em pessoa e a marca negra brilha nos céus. -  O homem parou de falar para recuperar o fôlego, tinha acabado de sair de uma lua cheia particularmente ruim, da qual ainda não tinha se recuperado.–  Ele diz que se vocês não se entregarem, matará um nascido-trouxa a cada hora e Merlin sabe que o verme não brinca em serviço.

O casal Potter se entreolhou e deram as mãos, Lily olhou para a aliança no dedo de seu marido, bem onde suas mãos entrelaçavam.

—  Não vamos deixá-lo esperando mais então, amor, isso seria muito mal educado de nossa parte.

—  Não importa o que aconteça lá, pessoal, Wormtail é meu. – Sirius rosnou baixo e todos o olharam sem entender.–  Merda, vocês estragaram todo o efeito! Vamos, eu conto tudo no caminho...

E foi assim que os três marotos, mais Lily Evans Potter, reescreveram a história do mundo bruxo, contando com uma pequena ajuda sonserina, claro. Uma pequena ajuda que simplesmente havia mudado tudo.

Porque, como diria o grande dramaturgo francês Victor Hugo: “A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero.”

 


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Notas finais do capítulo

O nome da fic é desespero, só para vocês entenderem todo o cof, cof, simbolismo, cof.

Bjuxxx



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