sopa de ervilha escrita por gaby


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Aproveite a fanfic e tenha um ótimo natal!



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Finalmente estávamos em casa. Cansados e quase congelados, mas vivos, e isso era tudo o que importava, considerando as circunstâncias do momento. Retiramos a capa de invisibilidade das nossas cabeças assim que adentramos nossa sala de estar. O gato veio até nós e roçou em nossas pernas, obviamente pedindo por comida. Ateei fogo na lareira e pedi pra James pôr a ração de Ginger na tigela e as roupas molhadas na lavanderia, enquanto eu tomava um banho quente.

Era véspera de Natal, mas quase não pensávamos nisso. Saímos de Hogwarts e já de cara fomos convocados para a Ordem da Fênix. Se eu fiquei lisonjeada? Talvez um pouco, não me recordo ao certo. De qualquer forma, não era uma coisa para ficar exatamente feliz. Quase todo dia temos que sair para duelar com comensais da morte, certa vez até mesmo com você-sabe-quem, e vivemos escondidos porque, além de tudo, somos alvos, assim como minha família foi.

Deslizei o sabonete pelos meus braços, aproveitando a temperatura da água da banheira por alguns segundos, tentando me esquivar da dor. Recordei-me que aquele seria meu segundo natal sem meus pais e também sem minha irmã. Tocar nesse assunto me fazia sentir tudo o que senti nos meus dias de luto. Mas eu já não podia perder meu tempo pensando naquilo e preferia ocupar a cabeça ajudando a quem ainda podia ter uma chance. Três batidas na porta e James abriu.

Nos casamos assim que deixamos a escola. Alguns poderiam chamar de "ação precipitada", eu preferia chamar de "aproveitando o que nos resta". Não sabemos se vamos estar aqui amanhã, e temos que encarar isso, mesmo que não seja uma forma muito agradável de viver. Não foi uma cerimônia grande, apenas para amigos e familiares; um momento de luz, eu diria.

— Tudo bem? – ele sempre me perguntava isso se eu demorava no banho. Todos tínhamos medo de perder o que nos restava. Assenti com a cabeça. – Quer comer algo específico?

— Estou com vontade de sopa de ervilha – ele me encarou por uns segundos.

— Você detesta sopa de ervilha.

— Eu sei, mas hoje eu quero – estava com esses desejos estranhos ultimamente. Ele sorriu e, antes de fechar a porta, ainda disse:

— Sirius vem chegando.

Eu e James quase não tínhamos diversão junto de nossos amigos, era muito arriscado sair de casa desacompanhado e todos estavam se empenhando para proteger o que ainda não tinham perdido, e isso significava não ter muito tempo livre. Quem mais aparecia em casa era Sirius, o que não era surpresa, já que ele e James nunca se desgrudavam. Não seria diferente nem se o mundo estivesse caindo.

O engraçado é que, mesmo com todo o afastamento, estávamos muito mais unidos que antes. Quando nos encontrávamos fora da Ordem, era o momento de esquecer o que se passava lá fora, mesmo que por pouco tempo, e eu me via de novo na sala comunal da minha casa, como a um ano atrás, envolvida pela alegria que os amigos traziam para a vida. Não que eu não estivesse feliz com James, claro que estava.

 Diferente de quando estudávamos, agora não tinha mais espaço para brigas nem discussões, havia coisas maiores para se preocupar. Com toda certeza, ele fora a melhor coisa que me aconteceu, competindo com a magia. Nosso relacionamento superou todas as minhas expectativas. Mesmo no meio de tudo aquilo, eu tinha um motivo para sorrir, e era ele.

Saí do banheiro e, com auxílio da varinha, vesti-me e arrumei os cabelos. Enquanto descia as escadas de minha casa, ouvia algumas risadas que logo me fizeram sorrir. Sirius não viera sozinho. Alcancei a sala de jantar, e lá estavam todos. Abracei cada um deles; fora uma ótima surpresa vê-los ali. Remus, Alice e Frank, Lene, Peter, meus sogros e o padrinho de nosso casamento, como sempre, contando suas piadas.

Era verdade que Sirius perdera um pouco do seu charme de adolescente; todos nós, aliás. A barba lhe crescia um pouco emaranhada, os cabelos já não tão sedosos, mas ainda longos, e os olhos azuis visivelmente cansados, contornados por olheiras. Mesmo assim era um homem bonito, e, sem dúvidas, o que mais se esforçava para animar a todos. O que era realmente bom, já que era o mais engraçado de nós.

— Sério que você ainda fica vermelha por isso, ruiva? – ele disse depois que corei por entrarem em assuntos indecentes. Os outros riam. – Todo mundo sabe que você não é santa.

— Pare de falar assim da minha esposa, seu cachorro, ela não gosta – James me defendeu. Se inclinou em minha direção, beijando-me a bochecha. Sorri.

Sem dúvidas, era o homem mais carinhoso que eu conheci. Tinha aquilo de proteger a quem amava, mesmo que isso pudesse lhe custar a própria vida. Em meio a tantas outras qualidades, essa era a que eu mais admirava nele, pôr a vida de alguém a frente da sua era uma prova de amor extremamente corajosa.

Logo era meia noite. Alice, Euphemia e Lene ajudaram-me a pôr o jantar à mesa. A última estava prestes a se casar com um de nossos colegas de escola e, por mais que tentasse aparentar felicidade, eu sabia que não era o que ela queria. Mas ela precisava decidir por si, era o seu momento. Eu queria vê-la feliz, do mesmo jeito que ficava depois de seus encontros a escondida em Hogwarts, como eu e James estávamos em nossa união. Conversávamos na cozinha.

— Eu queria ao menos ter um vestido – lamentava.

Ela e o noivo não teriam uma cerimônia como Alice e eu tivemos, e sempre fora o sonho dela entrar numa igreja com o grande vestido branco. Chegamos a oferecer os vestidos que usamos, mas eu já sabia que ela não aceitaria, essa era Marlene.

— Não dá pra arriscar uma festa agora. Quem sabe quando a poeira abaixar – disse ela, tentando forçar um sorriso.

— Eu acho uma ideia ótima – Euphemia era boa com as palavras. – Teremos mais tempo para planejar, estaremos mais dispostos, e tudo poderá ser como você sempre quis – mas todos sabíamos que fazer planos para depois era incerto.

De volta à mesa, todos serviam-se, enquanto comentavam sobre coisas banais. Dei algumas colheradas na minha sopa, mas logo percebi que eu realmente não gostava dela; meu estômago rodopiou e tive certeza que fiquei completamente pálida. Euphemia e James foram os únicos que perceberam. Ele me olhou preocupado, mas eu fiz um sinal de que estava tudo bem, por mais que eu estivesse levemente tonta e nauseada.

Afastei meu prato de sopa e contentei-me em beber um copo d'água, tentando me distrair com a conversa. Percebi Sirius lançando alguns olhares em direção a Marlene enquanto ela falava com Alice e Frank sobre a coisa do casamento. É, ele ainda gostava dela, e era recíproco. Esse era o problema dos dois.

— Agora que já estão todos, como posso dizer...? – Frank falava depois de um pigarreio. – Saciados e confortáveis, talvez você queira contar, amor – se dirigiu para a esposa ao seu lado. Todos contraíram os cenhos com curiosidade.

— Claro – abriu um sorriso. Apreciei a cena por uns minutos. Eram um casal tão bonito. – Temos uma grande novidade – seus olhos brilharam. – Nada foi planejado, na verdade. Sabem como é, com tudo que estamos vivendo essa era a última coisa em que pensaríamos, mas nós simplesmente adoramos.

— Você sabe que está nos matando de curiosidade, não é? – Marlene externou.

— Frank e eu estamos grávidos!

Houve um grande silêncio, onde todos processavam a frase, seguido de um alvoroço de perguntas e felicitações. Euphemia logo se pôs a falar sobre James e como ele era sapeca quando criança, o que o fez corar (e isso era realmente raro). Todos rimos um pouco com algumas histórias, mas aquilo de gravidez impregnou em minha cabeça de uma forma que eu nunca pensei que aconteceria. Era lindo e tão perigoso para o que estávamos passando, mas também não tínhamos a garantia do "deixar para depois". Eram tantos "e se".

— Sabemos que não é o melhor momento – Alice falou exatamente o que pensei. – Mas estamos tão felizes e precisávamos disso.

Não muito depois da notícia do casal, nos despedimos, porque já era tarde e o perigo ainda estava lá fora. Quando todos saíram, o crepitar da lareira foi ouvido novamente. Ajudei meu marido a tirar a mesa e seguimos para nossos aposentos. Seu cansaço era visível e eu também precisava dormir. Num silêncio confortável, trocamos nossas roupas e nos enfiamos debaixo das cobertas.

Nos encaramos por alguns minutos, como sempre, antes de finalmente descansar. Sua barba estava por fazer, o cabelo mais comprido que o comum, e mesmo assim era lindo. Naquele ano, construímos um relacionamento que a Lily da escola jamais imaginou ter; com confiança, cumplicidade e um amor tão grande que fazia o peito inflar.

— Feliz natal, meu amor – disse, rouco pelo sono, e beijou-me com carinho.

Naquele momento, achei que nunca poderia amar alguém mais do que eu o amava.

— Feliz natal – falei, com um sorriso. E ele então fechou os olhos.

Mas havia um concorrente.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido!
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