POV Acacia

Fiquei sentada na minha cama, a Allison tentou ligar-me, o Thomas também, o Derek igualmente, na verdade toda a gente me tentou ligar. A minha mãe estava sempre a ver como eu estava, obviamente nada bem. 

Eu preciso de falar com alguém, mas não posso falar com a Allison, depois tenho o Thomas, mas eu não quero falar com ele acerca disto, ainda não decidi se lhe vou contar esta história toda, o Derek seria de todos o que mais me valeria, é da minha família, apoiar-me-ia sempre, mas por outro lado, não quero falar disto com ele.

—Acacia... - reconheço aquela voz, aliás, reconhecê-la-ia em qualquer lugar.

—Sai - ele continua a caminhar. - Não ouviste? Sai!

—Deixa-me falar contigo! Deixa-me explicar-me, por favor - pede-me. - Eu prometo que saio em seguida, isto se quiseres.

—De que estás à espera? - eu já sei que o vou querer fora, por isso, é igual, tanto me faz que fale ou não.

—Quando acabamos o secundário éramos miúdos, achávamos que tínhamos tudo sobre controlo, que sabíamos tudo acerca de tudo, afinal, nós salvamos Beacon Hills vezes e vezes sem conta, superamos as chances, quem consegue isso? Entramos para Nova Iorque, eu e a Lydia, o Scott e a Malia ficaram por Boston. Eu e a Lydia estávamos juntos na altura, íamos a festas, tínhamos vidas fantásticas, tudo estava calmo, nenhuma vida em risco, percebes? No meio disto tudo, foi quando o Liam acabou o liceu, ele mudou-se com a Hayden para Boston, eu e a Lydia sentimo-nos deslocados do restante grupo, por isso, mudamo-nos. Na altura, a tua mãe tinha um namorado, o Theo, o rapaz que nos tinha tentado matar a todos. Eu não aceitei isso nada bem, mas eu tinha-a deixado ir, ela não me pertencia, tinha o direito de estar com quem queria. Com a mudança para Boston, a Lydia veio a descobrir que estava grávida. Entramos em desespero, éramos demasiado novos, tínhamos um curso por acabar, uma vida pela frente, tempo era o que não nos faltava! No meio de toda a agitação, acabamos por ficar com o bebé, decidimos que a gravidez seguiria. Quando a minha filha nasceu e eu olhei para ela, fiquei encantado, era linda como a mãe, e eu tinha o privilégio de ser pai de uma filha da Lydia Martin, a mulher que sempre amei. Fomos conseguindo tirar o curso e criando a miúda ao mesmo tempo, foi difícil, mas o Scott e a Kira, que tinha voltado do deserto ajudaram-nos. Todos vimos aquele ser ruivo e lindo crescer dia após dia, mas um dia, a nossa casa ardeu. Não a conseguimos salvar, a bebé morreu, a tua irmã morreu! - ele contou-me tudo e algumas lágrimas vieram-me aos olhos. Ele já chorava. - Eu vi a casa arder e não pude salvá-la! A Lydia e eu acabamos por nos separar e cada um seguiu a sua vida, tudo tinha sido demasiado para nós, ficamos amigos, mas não dava para continuarmos como um casal. Nessa mesma altura, a tua mãe e o Theo fugiram, foram viver a aventura louca da vida deles, sem olharem para trás, para o que estava a acontecer à volta deles! Eu fiquei sem filha, sem namorada, sem aquele apoio que costumava lá ficar, e sobrou-me o meu melhor amigo, apenas o meu melhor amigo.

—Porque é que achas que ela haveria de ficar ao teu lado? Depois de tudo o que lhe fizeste? Pai! Tu deixaste-a! Ela tinha alguém que realmente quis saber dela, porque é que ela não haveria de aproveitar e sair dali com ele? Já que a Lydia Martin era quem tu querias, bem podias ter ficado com ela, o que tu fizeste foi quase que ficar com a minha mãe como segundo plano! Tu sentes-te culpado! - acuso-o.

—Sim, sinto-me culpado por não ter salvo a minha pequena Ariel! - eu deito lágrimas pelos olhos.

—Já reparaste como falas dela e como falas de mim? Os teus olhos brilham quando falas da minha irmã morta, mas nunca quando falas de mim. Tal como aconteceu ao longo da história quando falavas da Lydia e da mãe. É quase como se nós fossemos a segunda família que tu tiveste porque a primeira não resultou como planeavas, como se fossemos o teu segundo plano! - reclamo.

—Acacia, a minha filha morreu, como queres que fale dela? - lágrimas deslizam-me pelo rosto fora.

—Eu sou tua filha! Pai! Eu sou a tua filha! Eu estou cá! Ela não! Eu quase morri imensas vezes para salvar toda a gente, a minha mãe quase morreu para salvar toda a gente, tu não falas de nós com orgulho! - eu reclamo e ele tenta começar a falar mas eu corto-o. - Não, escusas de falar! Sai de perto de mim! Já que te sentes assim quanto à tua filha, então ignora esta filha e vai criar uma nova Ariel com a mulher que amas, ignora esta família, esquece que tiveste uma filha, esquece que me tiveste a mim um dia! 

—Acacia, não sejas assim! Não é verdade! - diz ele levantando o tom.

—Como assim não é verdade? Pai! Eu arrisco a vida por toda a gente mas tu nem um bocado de reconhecimento! Não penses que eu nunca notei! Alguma vez te perguntaste como me sentia quando chegavas a casa bêbado? Quando tu desaparecias por horas e não davas notícias? Quando tu te esqueceste do meu aniversário? Quando tu desaparecias durante a semana do 23 de fevereiro? Quando ficavas a fazer noitadas? Mas eu sempre te amei, eras o meu pai, aceitei tudo! Mas neste momento, estou cansada de sofrer! Acabou! Sai! Esquece que eu existo! Esquece que tiveste outra filha para além da tua Ariel! - ele tenta tocar-me. - Não me toques! Tu não me tocas, Stiles! Desaparece da minha vida, não te quero ver nunca mais!

—Tu não podes fazer isso! Tu não me podes pedir isso! - ele tenta tocar-me e eu rujo e tiro as unhas fora.

—Não! Tanto posso como fiz! Sai antes que me transforme! - ele não me ouve, eu estava quase a passar-me, mas eu ainda consegui pensar como humana e para não o magoar saltei da janela e comecei a correr já transformada em animal. De longe ouvi-o a gritar o meu nome, mas eu continuei a correr pela estrada fora, eu não tinha para onde ir, não podia ir para casa do Scott, ou do Isaac, visto que eles iam avisar o Stiles, não podia ir para casa do Derek, porque ele está com a Paige e eu não quero empatar, e muito menos para casa da Lydia, que para além de ameaçar matar-me de novo, vai avisar o Stiles, e se eu os vir à minha frente a coisa vai ser sangrenta e não há grito que me pare, estou em momento coiote. Por último, a única pessoa de quem me lembro é uma pessoa com quem eu não quero estar, mas que neste momento é a minha última esperança, nunca chamará o Stiles e acolher-me-á.

Fui para o prédio a toda a velocidade, não sei como entrei transformada e ninguém reparou, fui pelas escadas, comecei a bater contra a porta, ele abriu-a com uma arma nas mãos e quando me viu, eu voltei à forma humana e fiquei nua em frente dele. 

—Acacia?! - ele parecia surpreendido por me ver.

—Avô! - chamei e ele parece ter ficado ainda mais espantado, abracei-o e ele abraçou-me de volta, chorei um pouco.

—Entra, vou arranjar-te algo para vestires - ele diz e eu assim o faço, ele vai lá dentro e traz-me uma roupa que é mesmo o meu estilo. - Eram da tua mãe, um dia deixou-as cá ficar quando se transformou, mas eu nunca as devolvi porque ela foi para Boston e eu acabei por ficar com elas.

—Obrigada - agradeço.

—Queres beber algo? - eu nego com a cabeça. - Bem, calculo que a tua mãe não saiba que estás aqui...

—Não, ela não sabe, mas não deve tardar a descobrir. O que se passa é que eu afastei o Stiles da minha vida para sempre - ele fica a olhar para mim. - Eu percebi que para ele eu fui o segundo plano, tal como a minha mãe e eu nunca vou permitir que ele continue a magoar-nos.

—Ele contou-te a história toda? - eu assinto. - Presumo que também te tenha contado como ele e a tua mãe voltaram a ficar juntos.

—Não... - digo e ele suspira.

—Quando a Malia regressou com o Theo, as coisas mudaram, o Theo acabou por ter que ir embora para Londres e a Malia ficou triste e desamparada, foi aí que eles voltaram a ficar juntos - eu assinto.

—Toda a gente diz mal do Theo, que ele tentou matar toda a gente, e pode até ter sido verdade, mas ele gostou muito mais da minha mãe do que alguma vez o Stiles gostou - desabafo. - E depois nem é só! Ele continua a referir-se à Ariel como a filha dele, os olhos dele brilham quando fala dela! Eu farto-me de arriscar a minha vida para o proteger a ele e a toda a gente, sabe-se lá como eu ainda estou viva, e mesmo assim ele continua a não reconhecer nada do que faço! Eu estava disposta a morrer por ele, mas neste momento, nunca o faria.

—Acacia, tu precisas de descansar, eu sei que é difícil, mas podes contar com o avô para tudo, bate-me à porta, fala comigo, vou estar sempre aqui para ti - eu assinto e deito a minha cabeça no colo dele, ele acaricia-me e eu acabo por adormecer ferrada.