State of Grace escrita por Edmayra McHale


Capítulo 9
Reaching Insanity




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6 de janeiro de 2019

Naquela manhã, tudo parecia estranho. Quando o sol nasceu, ela podia sentir o toque em seus cabelos, mas permaneceu de olhos fechados e acabou adormecendo mais uma vez. Quando acordou, no entanto, não sentiu nada, apenas o vazio em seu peito. Abriu seus olhos, encontrando vestígios da presença de alguém ao seu lado. Respirou fundo, notando o cheiro de seu melhor amigo, mas, de novo, algo parecia estranho.

Continuou na cama, mas ouviu sinos ao longe, que pareceram lhe dar forças para levantar. Passou uma mão pelos cabelos e seguiu até o armário, pegando uma muda de roupas, ainda com os sinos ecoando pelo cômodo. Ela fechou os olhos, apoiando a testa na porta do armário, e respirou fundo, pondo sua roupa de volta, pegando um traje diferente, mas logo seguiu para o banheiro.

Ao passar pelo corredor, não encontrou o amigo, mas, depois do banho, viu um bilhete sobre a mesa, onde ele avisava que saíra para comprar algo para o café. Ela suspirou, virando o papel, e pegou a caneta, escrevendo que voltaria logo. Fechou a porta atrás de si e deixou a chave sob o vaso de planta, como sempre fizeram.

Quando alcançou a rua, apertou a jaqueta contra o corpo, subindo o zíper, e começou a andar. Sua mente seguia focada em Daniel, então, não se surpreendeu quando seus pés pararam em frente à igreja sem nem mesmo perceber o caminho que havia tomado. Entrou em meio aos fiéis, sentando-se numa das banquetas do fundo, mantendo a cabeça baixa durante todo o sermão do padre.

Seria inocência sua pensar que o fato de que as palavras dele, sobre o luto e a impotência de não poder ajudar as pessoas que ama, era apenas uma coincidência? Ela não costumava acreditar em tal coisa. Ficou tão pensativa que nem notou quando a missa acabou. Ergueu seu olhar ao se sentir observada e notou o padre se aproximar, sentando no banco à frente de onde ela estava.

— Primeira vez aqui? — ele perguntou num tom calmo, apoiando um dos braços no encosto do assento, e observou a mulher atentamente, tendo apenas um manejo em resposta. — E o que a trouxe até a casa do Senhor?

— Eu — ela se interrompeu. De fato, ela não sabia. — Não faço ideia — confessou com um sorriso amarelo, unindo as mãos sobre o colo, e o observou. — Eu perdi alguém recentemente, ouvi os sinos e me pareceu certo na hora...

— Eu sinto muito — desejou. Os olhos claros do padre não saíam dela, como se tentasse encontrar um jeito de confortá-la. — Se identificou com o sermão?

— Muito. — Um riso fraco escapou pelos lábios dela antes que a mulher os umedecesse, passando uma mão pelos cabelos. — Eu me mudei há alguns dias, não consigo parar de pensar que não teria acontecido se eu tivesse ficado.

— Esse é o problema da vida. — Esboçou um sorriso acolhedor, unindo as mãos, e deu de ombros. — Nunca dá pra saber o que poderia acontecer. Pode ser que nada tivesse acontecido, mas, às vezes, poderia ter acontecido algo pior. — Ele ajustou sua postura. — Você já deve ter escutado isso, mas Deus escreve certo por linhas tortas...

— É, eu ouvi sim, obrigada, Castiel — a mulher murmurou, coçando a testa, e desviou seu olhar para o chão, deixando que um novo suspiro escapasse.

— Se você ainda está aqui, é por algum bom motivo — assegurou, observando a expressão corporal dela brevemente. — Você não é religiosa, não é? Me pareceu impaciente com a minha frase...

— Não, não sou — confirmou, voltando a olhá-lo, e sorriu de lado. — Mas o meu sogro acreditava em Deus, eu pensei que... — interrompeu-se, mordendo os lábios.

— Que poderia lhe dar algum sossego? — A viu assentir. Se levantou, seguindo até o corredor entre os bancos, e olhou para o altar. — Gostaria de acender uma vela para ele?

Ela pareceu um pouco receosa, seguindo o olhar do padre, mas se levantou, concordando num tom baixo, e o acompanhou até uma das laterais do altar, onde várias velas estavam postas. Entregando uma das pequenas varetas a ela, o homem pegou outra, cada um acendeu uma vela com o auxílio de outra já acesa.

— Qual era o nome dele?

— Daniel — ela respondeu, voltando as mãos aos bolsos da jaqueta, e observou o mais velho, notando-o fechar os olhos e erguer as mãos, então, apenas fechou os seus também.

— Pai Celestial — o padre começou, fazendo uma pequena pausa, e uniu as mãos. — Pedimos que cuide das almas de nossos entes queridos, que acolha Daniel e Sean em seus braços amorosos. Permita que tenham paz, trazendo também paz para aqueles que deixaram para trás.

Ele disse mais algumas poucas palavras e repetiu o “amém” junto à mulher, retomando sua postura ao abrir os olhos. Notando que ela continuava de olhos fechados, levou a mão a um de seus ombros, apertando em conforto. Ela alongou o pescoço, se recompondo, e enxugou a lágrima que caiu, assentindo em agradecimento. Indicou o caminho de volta ao tapete vermelho para a saída e a acompanhou em silêncio, esperando o momento em que estivesse pronta para dizer alguma coisa.

— Sean? — ela perguntou antes que alcançassem as portas e o olhou. Por suas palavras, sabia que era importante para o padre de alguma maneira.

— Meu sobrinho — contou, unindo as mãos às costas, e sorriu de lado para a morena. — Ele se suicidou há alguns anos... A Igreja Católica considera o suicídio como um pecado, mas...

— É da sua família, você não pode deixar de tentar, não é? — Mack esboçou um sorriso fraco, vendo o homem assentir antes de parar, e aceitou a mão estendida em sua direção.

— Eu sou o padre Kieran — apresentou-se, segurando a mão dela entre as suas, e apertou firmemente. — Nossas portas estarão abertas sempre que precisar...

— Mackenzie — respondeu ao notar a brecha, esboçando um pequeno sorriso, e assentiu. — Obrigada, padre Kieran. De verdade. Eu espero que o seu sobrinho esteja num lugar melhor.

— Eu sei que eles estão — garantiu, soltando a mão da jovem, e recuou um passo, acompanhando-a com o olhar enquanto sumia pela pequena multidão que se formava pelo Quartel Francês para o início da tarde.

 

Enquanto passava em frente ao casarão, os passos de Mackenzie diminuíram, como se procurasse algum sinal de vida pelos portões de ferro que levavam ao pátio, mas tudo o que ouviu fora a água no chafariz. Lembrou-se, então, do dia anterior, quando quis passar para perguntar se estava tudo bem, mas a chegada do amigo atrapalhara seus planos. Um calafrio percorreu sua espinha ao sentir uma brisa veloz passar, jogando alguns poucos fios de cabelo em seu rosto. Quando passou a mão pela testa para afastá-los, pôde ver a figura de cabelos loiro escuros dentro da propriedade, mas fora outro o causador de sua ventania. Olhou um pouco mais à frente e notou Elijah deixar a sombra que cobria a entrada.

— Bom dia, vizinha — ele desejou, levando uma das mãos ao bolso da calça, e alisou seu paletó com a outra.

— Bom dia, vizinho. — Ela sorriu, ajeitando a postura, fazendo os olhos do vampiro seguirem até o pingente que tilintou pelo contato com o zíper da jaqueta. — É, eu não gosto de chaveiros chamativos — brincou ao acompanhar seu olhar, alisando o pequeno cristal brevemente.

— Ficou bom. — Ele sorriu, olhando sobre o ombro ao se sentir observado, e encontrou uma figura loira desconhecida lhe encarando. — Amigo seu?

— Sim, meu melhor amigo — contou, voltando sua atenção ao original, e abriu a boca para dizer algo, parecendo pensar bem antes de finalmente suspirar, criando coragem. — Você se importa se eu pedir pra minha avó me encontrar na sua casa mais tarde? — perguntou, coçando a testa, e respirou profundamente. — Eu acho que devo algumas explicações...

— Não, não deve — Elijah garantiu num tom acolhedor e apertou o ombro dela em conforto. — Mas estaremos aqui pra te ouvir. E você é da família da Hayley, então, também é da minha.

Mackenzie suspirou, encolhendo um pouco os ombros, mas sorriu sem graça, agradecida, e umedeceu os lábios ressecados, sentindo seu corpo relaxar um pouco. Olhou novamente na direção do pátio, mas Klaus já havia desaparecido. Ergueu seu olhar para o moreno mais uma vez e despediu-se brevemente, seguindo na direção do amigo e de seu prédio.

— Quem era? — Oliver questionou quando ela se aproximou, com sua mão livre no bolso da calça.

— Um amigo — respondeu, pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha, e deu um breve beijo em seu rosto, caminhando até o portão para seu apartamento.

— E aonde você foi?

— Até a igreja — contou.

Ainda sem olhá-lo, Mack conseguia sentir o olhar curioso e confuso do loiro em suas costas, provavelmente desacreditado, mas deixou para explicar depois de fechar a porta do apartamento atrás de si.

 

Quando terminou o gole de seu café, a Kenner ergueu sua atenção para o amigo, que ainda parecia processar toda a informação que ela dera nos últimos minutos. Ela nunca foi uma pessoa religiosa, então, entendia sua hesitação, embora fizesse até um pouco de sentido a julgar que era tão próxima de Daniel. Oliver pôs sua mão sobre a dela e apertou firmemente, lhe dando todo o apoio que precisava naquele momento.

— Eu tenho certeza de que o Greg fez algo especial por ele em casa — comentou para consolá-la. — Não importa o que o Trevor faça, ele nunca vai mudar o quão adorado o pai dele era...

— Eu sei que ele não era um santo, mas ele nunca nos fez mal, sempre tratou todos como família. — Ela abaixou o olhar, balançando a cabeça em negação, e respirou fundo, desviando seu olhar para a janela, mas fechou seus olhos e coçou a nuca com a mão livre. — Eu preciso ligar pra minha avó.

— Eu vou limpar essas coisas. — Oliver sorriu fraco, se levantando, e seguiu até a amiga, ajudando-a a se levantar, mas logo a acolheu em seus braços, dando um beijo demorado no topo de sua cabeça ao notá-la se acomodar. — Estamos juntos agora, vai ficar tudo bem.

 

 

O sol entrava pelas janelas do cômodo, deixando-o iluminado apesar das cortinas grossas. O homem esfregou os olhos, soltando um longo suspiro, e se sentou na cama, olhando ao redor, mas sem encontrar sinal algum de sua companhia. Passou as mãos pelos cabelos, se levantando, e caminhou a passos um pouco lentos até o banheiro. Tomaria um banho para despertar antes de verificar o andamento de seu plano.

Quando alcançou a sala de estar, um de seus capangas estava sentado ao sofá junto ao irmão. Olhou ao redor e ouviu o som de algo na cozinha, então, se aproximou do cômodo, encontrando a figura ruiva sentada à mesa.

— Bom dia — desejou enquanto servia uma caneca de café, tomando um gole ao ouvi-la responder.

Provavelmente diferente do que ela esperava, não se sentou nem deu um beijo de cumprimento, então, a mulher apenas o acompanhou o olhar pelo caminho reverso que ele havia acabado de fazer.

Trevor se sentou no sofá, atraindo a atenção do “amigo”, e fez sinal para que o irmão tirasse os fones, tomando outro gole da bebida quente. O ruivo se ajeitou de frente para o alfa e apoiou-se sobre os joelhos, mantendo um tom baixo ao começar a falar.

— Os caras chegaram lá — avisou. — Ele já está com a garota, mas nós temos um problema... — O olhar impaciente do Blake foi incentivo suficiente para que continuasse a falar. — Encontraram o corpo do Gale no porta-malas do carro na entrada da cidade — contou num tom mais baixo, vendo o mais velho cerrar o maxilar.

— Vocês não se cansam de me dar notícias ruins, não é? — reclamou, revirando os olhos, e deixou a caneca sobre a mesa de apoio entre os sofás, estalando os dedos com certa força para conter sua frustração e não quebrar nada. No entanto, uma longa respiração, seguida do ruído da cerâmica se estilhaçando, demonstrou que seus esforços foram em vão. — Porra! — Levantou, passando as mãos pelos cabelos, e começou a andar de um lado ao outro do cômodo, até que parou de frente para o amigo e apoiou as mãos na cintura, apertando firmemente. — Como ela conseguiu matar o Gale? — bradou num tom tão raivoso quanto seu olhar. — Ele tinha o dobro do peso dela!

— Arrancaram o coração — Iannick informou, deixando os ombros caírem, e coçou a nuca. — Ele era um híbrido, seria mais rápido do que ela, conseguiria fugir — disse um pouco sugestivo.

— Acha que ela teve ajuda? — Trevor suavizou sua expressão de maneira quase imperceptível, mas estava mais curioso e pensativo do que irritado. — Ela raramente falava da família, não me lembro de onde eram...

— Luisiana? — Foi a primeira vez que Lance chamou atenção para si, recebendo o olhar do irmão. O mais novo deu de ombros, pigarreando de leve para que sua voz saísse normalmente. — Eu morei lá por algum tempo, quando ela ficava irritada, tinha um sotaque parecido — comentou.

— Então, ela fugiu de volta pra casa. Que poético — o Blake mais velho ironizou, revirando os olhos, e balançou a cabeça em negação, passando uma mão pelos cabelos mais uma vez, soltando o ar de seus pulmões. — Mande os dois recuarem, se ela tem ajuda, eles não vão conseguir muita coisa sozinhos.

Ian puxou seu celular, se levantando, e deixou o cômodo para fazer a ligação, fazendo com que Trevor enfim notasse a outra figura ruiva parada do lado oposto à porta, que olhava em sua direção.

— Vamos para Nova Orleães? — Delilah perguntou, se aproximando com os braços cruzados, e deixou um leve sorriso estampar seu rosto, tendo apenas um suspiro como resposta. — Eu soube que as bruxas de lá têm conexão com os Ancestrais. Magia forte e pura direto da fonte.

— Ótimo, vai poder atear fogo nos ajudantes dela sem muito esforço. — Um sorriso macabro surgiu no rosto do híbrido, que deu um beijo em sua amante, e se virou para o irmão, sinalizando para que o seguisse. — Vem, vamos conferir a bagagem extra — chamou, fazendo com que o mais novo se levantasse um tanto depressa.

 

 

Como havia combinado com o Vampiro Original mais cedo naquele dia, Mackenzie enviou uma mensagem para a avó, pedindo para que ela e Hayley fossem até o Quartel Francês perto do fim da tarde, depois que mostrasse um pouco da cidade ao amigo.

Mack havia sentido uma sensação estranha a manhã inteira, mas não sabia dizer o que era. No entanto, tornou-se ainda pior quando se aproximaram novamente de seu bairro. Quando foi jogar o copo de seu milkshake numa lixeira, aproveitou para olhar ao redor, não conseguindo encontrar o que havia de errado. Ao sentir uma mão em seu ombro, ela quase pulou, mas suspirou ao notar que era apenas seu melhor amigo.

— Você está bem? — perguntou preocupado pela reação dela, vendo-a assentir, e jogou seu copo fora antes de cruzar os braços, deixando claro em sua expressão que não acreditava na resposta.

— Eu acho que eram só o medo e a ansiedade falando. — Ela deu de ombros, soltando um riso fraco e forçado, pondo uma mecha do cabelo atrás da orelha, e suspirou, caminhando em direção ao maior prédio do Quartel Francês. — Eu estou ficando paranoica, é só isso...

Oliver sorriu de lado, voltando a acompanhar os passos da mulher, e olhou sobre o ombro antes que pudessem entrar no complexo dos Mikaelson.

O pequeno grupo estava reunido no pátio, próximos ao chafariz, mas a mulher de cabelos grisalhos logo se levantou para receber a neta com um forte abraço, sem esconder sua surpresa ou curiosidade pelo fato de ter convocado o encontro naquele lugar. Mackenzie cumprimentou os dois Originais brevemente, assim como a cunhada, que estava sentada ao lado de sua avó.

— Esse é o Oliver, meu melhor amigo — apresentou o homem atrás de si, mas não precisou apresentar as mulheres, já havia comentado sobre elas durante suas conversas.

— É um prazer finalmente conhecê-la, senhora Dumas — disse enquanto levava a mão dela aos lábios para depositar um breve beijo, recebendo um carinho no rosto pela mão livre.

— Não precisa de tanta formalidade, pode me chamar de “vovó” — brincou, rindo junto à neta e ao loiro antes que se sentassem.

Mackenzie uniu as mãos sobre o colo, esfregando-as firmemente, o que levantou as suspeitas da avó para seu nervosismo, e alongou o pescoço antes de erguer seu olhar para os presentes.

— Mais uma vez, eu queria pedir desculpas por toda a confusão — disse aos Mikaelson, vendo Elijah apenas assentir, num sinal de que estava tudo bem, e deixou um longo suspiro escapar por seus lábios. — Quando deixei Nova Orleães há quinze anos, eu encontrei uma matilha de lobos no Kentucky, em Sloans Valley — começou a contar sua história.

Sem se aprofundar muito nos detalhes, a Kenner contou desde quando encontrou Melissa no hospital onde trabalharam até quando se casou, dando certa ênfase em como sua vida tinha sido boa, para tranquilizar o coração culpado da avó. Estava na hora de contar o motivo de ter fugido. Ela respirou fundo, sentindo o aperto encorajador do amigo em seu ombro, e voltou sua atenção para os originais.

— Há algumas semanas, Daniel descobriu que o filho estava me traindo — contou, pigarreando de leve, e umedeceu os lábios ressecados. — Ele me considerava uma filha, então, é claro que me incentivou a largar o Trevor, então, eu fugi. Oli ficou para trás, mas... — Engoliu em seco, sentindo sua voz fugir.

— Eu fiquei para garantir que estaria tudo bem, não levantar suspeitas, então, eu viria checar se ela estava bem — o loiro de cabelos cumpridos explicou, fazendo uma breve massagem no ombro da amiga, mantendo o braço livre nas costas. — Mas o Trevor matou o pai e tentou jogar a culpa em cima de mim, eu precisei fugir também.

Todos estavam um pouco surpresos pelo caso da loba, mas Klaus parecia mais incomodado do que surpreso, o que não passou despercebido por Elijah nem por Mackenzie.

— O que foi? — o vampiro questionou o irmão.

— Ele te quer viva — Niklaus respondeu ao olhar a fugitiva, deixando Elijah com uma expressão confusa.

— Você sabia disso e não ia compartilhar a informação? — Hayley acusou, encarando o híbrido, e cruzou os braços, mudando o peso em suas pernas, deixando os quadris um pouco inclinados.

— Eu não achei que era relevante, já que ela não tinha dito a ninguém que o marido homicida tinha enviado alguém atrás dela — defendeu-se, fazendo a vizinha suspirar.

Mack levou uma mão às têmporas, sentindo-as pulsarem junto ao olhar fulminante da avó sobre si.

— Como assim? — Mary perguntou um pouco alterada, dividindo sua atenção entre os presentes, e parou sua atenção na esposa de seu neto. — Que história é essa?

— Um dos amigos dele invadiu o meu apartamento há algumas noites — a própria neta respondeu, atraindo seu olhar de volta. — Eu não queria te deixar preocupada...

— Não funcionou muito bem, já que fiquei preocupada do mesmo jeito — protestou, olhando de maneira acusadora para a Kenner, e respirou fundo, pondo sua mão sobre a livre dela, que repousava em seu joelho.

— Eu sei que ele é possessivo, o fato é que eu esperava que ele me deixasse em paz e continuasse com a amante, mas, se ele matou o pai por ter me ajudado, eu não sei mais se é uma opção — Mack confessou, olhando para o trio de pé à sua frente. — Eu agradeço o que fizeram, mas essa não é a luta de vocês...

— Na verdade... — Klaus cruzou os braços, deixando um longo suspiro frustrado escapar, e olhou para o irmão antes de voltar sua atenção à loba mais nova. — Como você mesma disse, eu o transformei, então, meio que é minha luta sim. — Deu de ombros. — E eu já estava começando a ficar entediado, vai ser bom ter o que fazer — brincou, esboçando um sorriso irônico.

— Vocês acham que ele pode mandar mais alguém? — Elijah perguntou, tentando obter mais informações antes de traçar uma estratégia, e viu a dupla assentir.

— Ele deve ter enviado alguém assim que o Oli sumiu e o Gale não respondeu. — Mackenzie suspirou, sentindo seu estômago embrulhar.

— Nós vamos dar um jeito nele pra você parar de viver olhando sobre os ombros a cada cinco segundos — o híbrido garantiu, ajeitando sua postura.

— Será mais fácil se der um jeito de tirá-lo do território dele — Oliver aconselhou, deixando Elijah pensativo. — Sabe como fazer isso?

— Ela carrega a resposta no ventre — anunciou, causando espanto nos familiares, fazendo a mulher arregalar os olhos em sua direção, num modo de repreensão.

— Você enlouqueceu, Niklaus? — o vampiro acusou, encarando o mais novo.

— Você não vai usar o meu bisneto como isca! — Mary resmungou, apertando a mão da neta entre as suas, e a olhou, esperando alguma reação, mas ela parecia perdida nos próprios pensamentos.

— É a tática perfeita — o híbrido defendeu seu ponto, ignorando os comentários. — Sei como idiotas como ele pensam, eu também pensava assim até algum tempo. Ele acabou de matar o pai, está preocupado em criar o filho à própria imagem para que não se repita com ele...

— Seria um ótimo plano, mas ele não sabe. — Mackenzie balançou a cabeça, um tanto frustrada, e mordeu o lábio com força. — Ninguém sabia, só Daniel e Oliver. Por isso eu fugi, seria impossível se ele soubesse.

Niklaus suspirou, quase tão frustrado quanto a mulher, e desviou sua atenção, mas o protesto de Hayley logo atraiu a atenção dos dois para si.

— Você não está mesmo considerando isso, não é? — A híbrida tinha uma expressão séria, mas desacreditada, e o olhar no rosto da cunhada.

— Eu não quero viver com medo pro resto da vida. — Mack deu de ombros, logo deixando-os caírem, e uniu as mãos sobre o colo ao encostar nas costas do sofá. — Só que eu não tenho outra ideia. Ou alguém forte o suficiente pra bater de frente com ele.

O silêncio se instalou no espaço por alguns instantes, como se todos digerissem as informações e a escolha da mulher. Talvez ser uma isca fosse o jeito mais fácil de se livrar de suas preocupações, afinal, o alvo já estava em suas costas. Ela só começava a temer por aqueles que estavam ao seu redor.

— Nós vamos pensar em alguma coisa — Elijah garantiu, recebendo um pequeno sorriso como agradecimento.

 

Quando deixaram o complexo dos Mikaelson, Mackenzie acompanhou a avó e a cunhada até o carro, que estava estacionado logo atrás do seu. Mary apertou as mãos da neta firmemente, deixando um longo suspiro preocupado escapar por seus lábios.

— Por que não me contou quando chegou? — questionou, atraindo o olhar da neta, e parou de frente para ela.

— Qual parte? — Mack soltou um riso baixo e forçado, deixando os ombros caírem. — Que estavam atrás de mim ou que eu estou grávida de um psicopata? — tentou brincar, mas o aperto dela em suas mãos fez seu sorriso sumir.

— Deixe essa loucura de lado, querida — pediu, olhando em seus olhos sem esconder a agonia com a situação. — Volte para o Bayou conosco, o seu irmão vai engolir o orgulho, nós podemos protegê-los lá, como uma família...

— Eu não quero mais problemas com o Jackson, vovó — resmungou com um sorriso triste. — Eu estou cansada demais pra continuar brigando...

— Ele vai nos ouvir, por favor — insistiu, olhando para Hayley em busca de algum apoio, mas a alfa tinha uma expressão pensativa.

— Ele precisa de tempo, não vamos apressar as coisas, está bem? — Mackenzie pediu, soltando as mãos da avó, e lhe deu um forte abraço, fechando os olhos com força ao deixar um longo suspiro escapar por seus lábios.

— Me ligue se precisar de algo — a mais velha murmurou por fim, dando-se por vencida, e suspirou, fazendo um breve carinho nas costas da neta, dando um beijo em seu corpo antes de soltá-la com o coração inquieto, dando espaço para Hayley.

As duas morenas se abraçaram firmemente, mas Mack sentia que havia algo errado.

— O carro cinza do outro lado da rua — a híbrida avisou num sussurro, deixando-a num ângulo que tivesse visão de onde indicara, e ouviu seu longo suspiro. — Vou avisar o Elijah.

— Obrigada. — Um sorriso fraco estampou o rosto de Mack ao soltar a cunhada do abraço, acompanhando-a com o olhar até o carro, onde sua avó já fechava a porta.

Com um aceno, ela se afastou com o amigo, seguindo em direção ao apartamento. Assim que fechou a porta, ela tirou o casaco, deixando sobre as costas da poltrona, e apoiou as mãos logo ao lado, apertando com força, começando a chorar baixo ao sentir as mãos do amigo lhe puxarem para um novo abraço.

 

Quando tudo começou a dar tão errado?

Eu não faço ideia.

Talvez eu devesse ter feito escolhas melhores, mas a partir de qual momento? Minhas escolhas erradas me apresentaram ao casal que cuidou de mim como uma filha, ao meu melhor amigo. Talvez eu devesse ter mudado minhas escolhas a partir do momento em que os conheci?

Ter criado coragem para voltar pra casa, agradecida por seu acolhimento, e tentado me reconciliar com a minha família? Assim, talvez, eu tivesse o Jack do meu lado, e Daniel ainda poderia estar vivo.

Talvez eu devesse ter tratado Trevor como um irmão, assim como faço com Oliver, quem sabe eu não tivesse me apaixonado... Mas também não teria você. Eu ainda nem sei se sobreviveremos até o fim dessa história, mas vou fazer o que puder para garantir que você esteja seguro.

 

 

Os dois últimos dias haviam sido exaustivos. Primeiro, a sessão de tortura e linchamento no celeiro da comunidade, podendo ouvir enquanto todos lhe chamavam de assassino pelas finas paredes de madeira. Todos aqueles que ele considerava o seu povo, a sua família.

Era assim tão fácil fazer com que deixassem de acreditar nele? Só porque não era privilegiado? Só por não ter o mesmo sangue de ninguém?

Como resultado de toda aquela ingratidão, sua cabeça girava de exaustão, mesmo que tivesse acabado de acordar. Seus ouvidos zuniam e suas pálpebras estavam pesadas, assim como seus membros, mas as correntes lhe impediam de abaixar os braços.

Uma tosse seca escapou por sua garganta e notou alguém se aproximar. Diferente do que esperava, sentiu um toque gentil erguer seu queixo, encostando uma garrafa d'água em seus lábios, deixando que tomasse alguns goles antes de se afastar, tossindo um pouco mais pelo contato do líquido com sua garganta arranhada.

— Mas como você dorme, hein! — o tom zombeteiro de Trevor ecoou pelo espaço, fazendo com que Oliver olhasse em sua direção. — Eu não me lembrava dessa sua qualidade! — O Blake se levantou do banco onde estava, aproximando-se do ex-amigo, e bateu as mãos para limpar a poeira do porão mal iluminado que havia repousado em suas calças.

— Você não se cansa, não é? — resmungou com a voz rouca, deixando sua cabeça baixa, e a balançou em negação, suspirando de cansaço.

— De te ver sofrer depois de ajudar o meu pai a sumir com a minha esposa? — Deu de ombros, parando em frente a ele, e uniu as mãos em frente ao corpo, esboçando seu sorriso macabro. — Nem um pouco!

— Por que não deixa ela em paz? — questionou, sem forças para encará-lo. — Você tem caminho livre pra ficar com a sua amante, deixe-a viver a vida dela, já que você não está nem aí. Nunca esteve mesmo, não é?

— Sabe com quem está parecendo, Oli? — Trevor assumiu um tom impaciente e irritado, aproximando-se um pouco mais, e segurou os fios cumpridos do loiro, erguendo seu rosto para que pudesse encará-lo. — Com o velho Daniel, é uma pena que você o tenha matado, não é?

— Nós dois sabemos que não foi isso o que aconteceu — acusou, cuspindo um pouco de seu sangue no rosto do moreno, mas quase se arrependeu quando ele deu um forte soco em seu queixo. Só não caiu no chão porque as correntes lhe seguraram.

— Filho da puta — o mais velho xingou, limpando os fluídos, e bufou, olhando na direção do lobo forte num dos cantos do porão. — Prepare-o, partimos em uma hora — avisou, e, então, seguiu para fora do lugar, com o irmão em seu encalço. Quando o sol tocou sua pele de novo, avistou Iannick se aproximar um tanto depressa.

— Os caras a encontraram, mas temos mais problemas. — O ruivo suspirou, já prevendo outro surto do amigo. — Ela estava com os Mikaelson.

— E agora essa...


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