State of Grace escrita por Edmayra McHale


Capítulo 7
Found a place to rest my head


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Já tem um tempinho, né? Mas, dessa vez, não levei um ano o/
E nada mais justo do que atualizar a minha história sobrenatural no Halloween, certo?
Boa leitura!



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4 de janeiro de 2019

O sol começou a nascer antes que Elijah pegasse seu celular. Encarou o número, apertando o aparelho em sua mão, e soltou um longo suspiro antes de ligar, sabia que ela já estaria de pé àquela hora. Esperou alguns toques até que a híbrida atendesse, respondendo algo ao marido antes de saudar quem quer que fosse sem olhar o visor.

— Hayley — chamou seu nome num tom apreensivo.

A alfa olhou sobre o ombro para o moreno que se afastava, ajeitando a jaqueta ao próprio corpo, e deu alguns passos para se afastar da porta da cabana, embora soubesse que qualquer um que prestasse atenção poderia ouvir.

— Elijah. Aconteceu alguma coisa com ela? — questionou um tanto agoniada, cruzando o braço livre ao outro, e suspirou, tentando conter sua ansiedade.

— Ela está bem, mas talvez seja melhor vir até aqui — pediu e não demorou muito para desligar, não querendo prolongar a chamada mais do que o necessário.

O vampiro guardou o celular no bolso interno do paletó e seguiu até a cozinha, onde ouvira seu irmão com Marcel. O vampiro contara que não conhecia o cadáver que lhe mostraram na madrugada, assim como ninguém se lembrava dele no acampamento dos Crescentes, então, tinham um mistério em suas mãos.

— Eu vou dar uma vasculhada por aí, perguntar para mais algumas pessoas, sacudir umas árvores e ver o que cai — garantiu, unindo as mãos para estalar os dedos.

Klaus assentiu, concordando e agradecendo brevemente, e o acompanhou com o olhar até a porta, vendo o vampiro dar um breve abraço em seu irmão ao passar por ele. O loiro cruzou os braços, retomando sua postura, e analisou o mais velho, dando alguns passos em sua direção.

— Pela sua quietude, eu imagino que já tenha ligado para a Hayley — comentou, parando de frente para ele, e esboçou um leve sorriso por seu suspiro. Estava certo.

— Eu vou esperar um pouco mais antes de ligar para arrumarem as portas do apartamento — contou, tentando desviar do assunto, e suspirou, seguindo até a geladeira. — Ela já acordou?

— Ainda não, seria bom ter algumas respostas antes que... — interrompeu-se quando ouviu os passos rápidos pararem em frente à porta da cozinha e olhou sobre o ombro.

— Estou aqui, o que houve? — a voz preocupada de Hayley perguntou enquanto a híbrida dividia sua atenção entre a dupla. — Ela está bem?

— Sim, está — Elijah respondeu a última pergunta, ouvindo o suspiro aliviado da mulher.

— E nós não sabemos — Klaus respondeu a primeira, observando-a ao se virar para ela, e levou as mãos aos bolsos da calça. — Ela foi atacada no meio da noite. Não era um dos nossos, acho que nem da cidade — contou. — Ela desmaiou e está dormindo no meu ateliê...

— Por que ela está no seu ateliê? — questionou tão depressa quanto as palavras deixaram os lábios do original e cruzou seus braços.

— Ela poderia acordar num lugar estranho no meio da noite, só queria ficar de olho nela, não ia corromper a sua cunhada nem nada do tipo. — Forçou um sorriso irônico ao notar a expressão desgostosa dela. — Seja lá quem for, não a queria morta...

— Como você...

— O cara que a atacou disse. — Notou-a arquear a sobrancelha em sua direção. — Eu o matei, antes que queira mais respostas que não tenho. Estamos tão no escuro e curiosos quanto você.

— E ele nem ao menos se deu ao trabalho de perguntar de onde ele era — Elijah ironizou.

A alfa suspirou, olhando na direção das escadas, e conseguiu relaxar um pouco os ombros, embora estivesse inquieta com toda aquela situação e suspense. Deu uma breve olhada nos originais, mas logo seguiu em direção ao ateliê do híbrido.

 

Vozes haviam acordado a loba. Eram baixas e distantes, não era como se estivessem gritando, mas sua concentração subconsciente achou que seria legal lhe pregar uma peça. Nem era como se conseguisse dormir bem todas as noites. Um longo suspiro frustrado escapou por seus lábios, fazendo Mackenzie se acomodar na cama, mas, ao apertar o cobertor contra seu corpo, sentiu uma textura diferente do seu e abriu os olhos com certa pressa, sentando-se na cama. No entanto, precisou fechar os olhos novamente e abaixar a cabeça quando flashes da noite anterior lhe atingiram junto à tontura, então, apoiou as mãos na testa, curvando o corpo para a frente.

— Merda — resmungou, respirando fundo, e passou as mãos pelos cabelos.

— É melhor tomar cuidado com esse linguajar perto da Hope.

Ergueu seu olhar para a porta ao ouvir uma voz familiar e esboçou um sorriso fraco ao ver a cunhada caminhar até a cama, deixando as mãos caírem sobre o colo. Hayley sentou ao seu lado, analisando-a atentamente com o olhar, e pôs uma mão em seu joelho.

— Como você está? — A híbrida usou um tom calmo, podendo ver algumas lesões em seu pescoço que poderiam ficar piores depois, e suspirou.

— Com um pouco de dor de cabeça e com o pescoço dolorido — confessou, levando uma mão ao pescoço, onde alisou, e sorriu fraco, dando de ombros. — Mas eu vou ficar bem. Já estive pior...

— Eu espero que não desse jeito. — Hayley sorriu de lado, depositando um beijo em seu rosto, e respirou fundo. — Você se lembra do que houve ontem?

— Muito pouco. — Mackenzie pigarreou de leve, tentando se recompor e se concentrar. — Eu cheguei tarde da clínica, tomei banho e apaguei quando me joguei na cama. — Coçou a nuca, fechando os olhos, e pareceu se esforçar um pouco mais, sentindo um leve calafrio percorrer seu corpo. — Ele entrou de madrugada, eu não ouvi nada, quando me dei conta, ele já estava tentando me sufocar. — Respirou fundo ao sentir o aperto da outra em seu joelho e abriu os olhos. — Mas estava escuro, não consegui ver quem era.

— Tudo bem, você está segura agora — a alfa garantiu, mordendo o lábio, e sorriu fraco.

— Que lugar é esse? — Mack questionou curiosa e olhou ao redor, identificando seu prédio do outro lado da rua, então, logo voltou sua atenção a ela.

— É a casa de alguns amigos, a família da Hope — contou, ouvindo passos se aproximarem. — Eu pedi para que ficassem de olho em você e, ainda bem, porque eles te salvaram ontem à noite.

— Elijah — murmurou o nome do homem quando o viu entrar antes do loiro que vira na sacada assim que havia chegado. Esboçou um sorriso fraco, visivelmente sem graça pela situação, e assentiu de leve. — Obrigada.

— Não precisa agradecer. — O moreno uniu as mãos às costas, observando a dupla feminina. — Este é meu irmão...

— Niklaus, pai da Hope — Hayley apresentou-o ao se levantar, sentindo o olhar da cunhada sobre si, e suspirou, apoiando as mãos na cintura. — Tem certeza de que não quer voltar ao pântano? Eu posso falar com o Jack, ele precisa...

— Não, eu tenho certeza — garantiu, dando de ombros, e deixou um longo suspiro escapar por seus lábios. — Nós dissemos coisas que não queríamos, somos teimosos e orgulhosos, nenhum dos dois vai pedir desculpas, então... Vamos só deixar ele de fora disso, como ele quer.

— Ele é seu irmão, ele tem que...

— Ele não tem que fazer nada — interrompeu-a e sorriu de lado, dando de ombros, como se dissesse que estava tudo bem. — Eu fiz a minha escolha.

— Que te levaram a tomar péssimas decisões e encontrar algumas pessoas ruins — Klaus comentou, recebendo o olhar torto da Marshall e a repreensão do irmão, embora sua atenção não saísse da outra.

— Tudo bem, ele está certo. — Mackenzie deu de ombros. — Para ser honesta, eu reconheço isso... Fui ingênua e me fodi de várias maneiras diferentes, mas essas “péssimas decisões”... — Fez as aspas com os dedos, erguendo sua atenção para o loiro. — Também me apresentaram pessoas incríveis que cuidaram de mim por metade da minha vida. Então, eu não vou dizer que me arrependo delas — completou, tentando soar indiferente, mas ele sentira a farpa em suas palavras. — E eu não preciso que entenda, senhor Mikaelson. Só que não menospreze as escolhas dos outros, quando as suas próprias quase mataram a sua família diversas vezes. — Ela forçou um sorriso ao se levantar, ignorando a surpresa do olhar dele. — Obrigada por terem me acolhido, mas eu prefiro voltar pra minha casa agora, se não se importarem...

O silêncio se instaurou no cômodo conforme ela se levantava do lado oposto a Hayley. A dupla seguiu até a porta sob os olhos atentos de Elijah, enquanto Mack passava as mãos por seus cabelos, tentando parecer o mais decente possível para atravessar a rua de volta ao apartamento, ouvindo os passos da cunhada mais atrás.

— Eu não vou voltar, Hayley — disse num tom firme, soltando um longo suspiro, e levou as mãos aos bolsos da calça de moletom para tentar fazer com que parassem de tremer.

— Eu sei que não — rebateu, apressando-se um pouco mais para parar de frente a ela, e a viu revirar os olhos. — Você é tão orgulhosa quanto ele, mas já sabe disso. — Aproximou-se um passo, segurando os ombros dela firmemente, e olhou em seus olhos. — Mas você não está sozinha — garantiu.

— Eu sei...

— Brigados ou não, você ainda é da família e a sua avó ainda se importa muito com você. — Suspirou, apertando seus ombros, e sorriu de leve ao soltá-la. — E eu adoraria te conhecer. Quem sabe não podemos ser amigas e a Hope não consegue passar mais tempo com a tia loba favorita dela? — brincou.

— Nossa. — Mack estreitou os olhos em sua direção, balançando levemente sua cabeça em desaprovação. — Usando sua filha para chantagem emocional, Hayley? Eu não esperava isso de você — implicou, ouvindo o riso da mais nova enquanto caminhavam para a saída do prédio.

Por mais que nada tivesse sofrido estrago maior do que as portas de seu quarto, Mackenzie pôde notar que a fechadura da entrada havia sido arrombada, então, nem precisou de sua chave para entrar. Coçou a testa, olhando brevemente ao redor, e notou que o vaso que estava na beira da bancada acabou indo parar no chão. Balançou sua cabeça em negação, olhando de relance para o relógio, e se aproximou, mas a voz de Hayley chamou sua atenção.

— Vá se arrumar — pediu, tocando seu ombro, e apertou de leve, indicando o corredor com a cabeça. — Eu limpo. Não pode se atrasar, não é?

— Obrigada. — A Kenner deixou seus ombros caírem, respirando profundamente, um pouco aliviada, e mordeu o lábio antes de esboçar um pequeno sorriso. — Por tudo. Nos conhecemos há menos de uma semana, mas você já me ajudou bastante.

— É pra isso que serve a família — Hayley garantiu e a puxou para um forte e acolhedor abraço, que Mack prontamente retribuiu. Poucos instantes se passaram antes que se soltassem e cada uma seguisse uma direção no apartamento.

 

— O que fez com o corpo? — Niklaus perguntou de repente a seu irmão, sem desviar a atenção de seu livro, e virou a página, acomodando-se na poltrona da sala de estar.

— Eu o deixei no porão enquanto Marcel procura por algum amigo do nosso indigente — avisou, tomando um breve gole de seu vinho, podendo sentir o gosto do ferro do sangue misturado ao álcool, e olhou para o loiro.

— Ele disse que o marido dela o mandou, deveríamos ter mostrado a foto a ela...

— Ela tinha acabado de acordar, não acha que ela merecia um pouco de tempo para digerir a informação? — Elijah o repreendeu, balançando sua cabeça em negação, e ajeitou sua postura antes de começar a dedilhar o piano, soltando um longo suspiro conforme sentia suas mãos deslizando naturalmente pelas teclas. — E, além do mais, eu enviei a foto à Hayley. Ela vai saber abordar o assunto de forma mais condescendente do que nós.

O híbrido apenas murmurou algo em concordância, mas ergueu sua atenção para o mais velho ao ouvir seu celular vibrar sobre a cauda do piano. O vampiro continuou a tocar com apenas uma das mãos, pegando o aparelho com a outra, e leu a mensagem que havia chegado antes de se desvencilhar do instrumento. Levantou sem dizer nada e subiu as escadas tão rápido quanto desceu em seguida, ajustando o paletó do terno ao corpo. Klaus o acompanhou com o olhar, estranhando um pouco a quietude do irmão, mas desistiu ao perdê-lo de vista e voltou seus olhos ao livro.

 

Antes de deixar o apartamento, Mackenzie deu uma última olhada em seu cabelo no espelho do banheiro, pondo alguns fios teimosos atrás de sua orelha, e ajeitou o rabo de cavalo, seguindo para a sala de estar, onde havia deixado sua bolsa na noite anterior.

— Eu sei que isso é um pouco estranho, mas... — Hayley pigarreou de leve ao se aproximar, tirando o celular de seu bolso, e mordeu o lábio, observando a mulher do lado oposto do sofá. — Elijah me enviou uma foto do homem que te atacou ontem...

— E vocês querem saber se eu o reconheço? — Suspirou, erguendo seu olhar para a mulher de olhos verdes, e sorriu fraco, lhe estendendo a mão. — De certa forma, não é o meu primeiro rodeio — brincou.

Hayley sorriu fraco, abrindo a imagem, e suspirou ao lhe entregar o aparelho. Por alguns instantes, Mack não esboçou reação alguma, era como se seu cérebro ainda processasse as informações, mas, de repente, a híbrida notou um forte arrepio percorrer seu corpo quando apertou o celular. Ela o conhecia, afinal.

— Está tudo bem? — a Marshall questionou num tom calmo, dando a volta no móvel que as separava, e repousou uma mão em seu ombro, fazendo uma leve carícia para confortá-la.

— É uma longa história...

— Eu estarei pronta para ouvir quando estiver pronta para falar — garantiu, recebendo um pequeno sorriso em resposta, e pegou o celular de volta, olhando na direção da porta ao ouvir passos se aproximarem.

— Com licença — Elijah pediu ao surgir na porta, que se abriu um pouco, mesmo com as batidas leves, e entrou com o sinal de Hayley, indicando um trio de homens do lado de fora com uniformes e caixas de ferramentas. — Eles vieram tirar as medidas para trocar as portas e arrumar o parapeito — avisou.

— Claro, por favor, entrem — a locatária do apartamento pediu, indicando a porta do quarto para dois deles enquanto o último ficou na entrada. — Eu preciso trabalhar, mas fiquem à vontade. Eu até entregaria minhas chaves, mas não acho que vão precisar — tentou brincar para descontrair, mas apenas suspirou quando a maçaneta da entrada se soltou na mão do rapaz.

— Nós vamos resolver isso — o Mikaelson garantiu à enfermeira, que assentiu e sorriu fraco em agradecimento antes de seguir para a porta. Ele a acompanhou com o olhar, passando uma das mãos pelo paletó enquanto a outra descansava no bolso da calça, e suspirou quando Hayley parou ao seu lado. — Niklaus disse que o marido dela o enviou.

— Isso explica a reação dela quando viu a foto — a híbrida murmurou, cruzando os braços, e respirou profundamente. — Ela está assustada. Ele não deve ser boa coisa...

— Ela não teria fugido se ele fosse.

 

 

Quando entrou no casebre, Gregory ouviu os passos apressados atravessarem um dos cômodos de um canto ao outro. Avançou um pouco residência adentro e quase assustou o homem quando parou na porta do quarto, levando as duas mãos aos bolsos do casaco.

— O que está fazendo? — perguntou um tanto confuso ao notar a mala e a mochila sobre a cama, parando seus olhos no loiro.

— Não parece meio óbvio? — Oliver riu impaciente, sem parar sua tarefa, e balançou a cabeça em negação. — Vou embora. Atrás da Mack. Não posso deixá-la sozinha.

— Não acha que é perigoso? — Suspirou, aproximando-se, e segurou o braço do mais novo, observando suas feições atentamente.

— Eu tenho certeza de que é perigoso, tão perigoso quanto o Trevor, mas eu prefiro estar lá se ele encontrá-la do que dar chance ao azar de que ele a encontre sozinha — defendeu, olhando nos olhos do negro.

Greg notou a confusão de emoções que o rapaz lhe transmitia, incluindo algo que nunca pensou que viveria o suficiente para ver Oliver Raymund sentir: medo. O medo de que algo acontecesse à amiga era enorme, mas não era tão grande quanto sua determinação para protegê-la, então, deixá-la ao acaso não era uma opção.

— Fugir agora é burrice — o mais velho opinou, soltando o braço do outro, e suspirou, voltando a acompanhá-lo com o olhar. — Ainda mais depois do que ele insinuou ontem...

— Você não acha mesmo que eu o matei, não é? — Oli o olhou instantaneamente, contraindo seus ombros, entrando na defensiva, mas deixou um pouco do ar sair por seus lábios quando o outro negou.

— Mas os outros lobos podem não te conhecer tão bem quanto eu e sabemos que alguns deles são radicais...

— Eu preciso saber como ela está, ela precisa saber o que houve aqui — disse um pouco apressado, como se beirasse o desespero, e parou de frente para o outro. — Ela precisa saber o que ele fez ao Dan... — Sua voz saiu mais baixa.

Gregory parou por alguns instantes, ponderando os argumentos do loiro e a situação. Ainda não aprovava, achava arriscado demais. Principalmente se ele saísse à luz do dia, com certeza o seguiriam, mas, à noite, a vigilância estaria sobre ele de qualquer modo. Com um longo suspiro, pareceu finalmente ceder à ideia.

— Deixe as malas na janela à noite — pediu num tom baixo, como se quisesse garantir que apenas o loiro lhe escutasse. — Deixo no estacionamento do hospital quando for levar as crianças na escola.

— Obrigado.

Para a surpresa do mais alto, Oliver se aproximou e o abraçou fortemente. Seus olhos estavam fechados, mas sabia que ele estava dando seu máximo para não desabar. Daniel sempre fora como um pai para ele, desde os dezesseis anos quando o encontrara na beira da estrada pedindo carona. No entanto, havia conseguido bem mais do que aquilo.

Ser separado de quem você ama nunca era fácil e, àquela altura, ele sofria por aquilo em dobro. Ou triplo. Claro que sentia que deveria proteger quem ainda lhe restava. Greg sabia que seu amigo faria o mesmo.

— Vai ficar tudo bem, garoto — garantiu, fazendo um leve afago nos cabelos longos do loiro para acalmá-lo e ajudá-lo a se recompor.

Após alguns minutos e alguns tapinhas em suas costas, Oliver tentou demonstrar ao homem que estava bem e se afastou, passando as mãos pelos cabelos, inspirando profundamente antes de assentir.

— De volta ao trabalho — o moreno brincou, apertando seus ombros, e sorriu fraco antes de seguir para fora do cômodo. Quando fechou a porta do casebre atrás de si, olhou para o céu e suspirou. — Você tem um bom garoto aqui, Dan — sussurrou como se o amigo pudesse ouvi-lo.

 

 

Em seu horário de almoço, Mackenzie havia decidido ficar isolada na varanda dos fundos do casebre que servia como clínica. Mal conseguira tocar em seu almoço, já que as lembranças da noite anterior – e o enjoo matinal – embrulhava seu estômago. A caneta batucava levemente a página aberta de seu diário, com nada além da data escrita. Ela não sabia o que escrever.

Estava tão absorta em seus pensamentos, que despertou no susto quando ouviu a janela do vizinho bater com o vento. Olhou alarmada em direção à cerca e encolheu os ombros de forma instantânea, o que não passou despercebido pela médica que havia acabado de parar na porta.

— Você está bem? — Keelin perguntou ao se aproximar com cautela.

— É, estou sim — a enfermeira respondeu num tom baixo, pigarreando brevemente para se recompor, e ajustou sua postura, descruzando as pernas inquietas ao erguer sua atenção a ela.

— Estou vendo — zombou, revirando os olhos, e sentou ao seu lado, apoiando um dos braços nas costas do balanço de madeira onde estavam, ficando de frente para a subordinada. — Depois de tudo que me contou ontem, quer mesmo que eu acredite que se assustou daquele jeito por nada?

— Nada importante, pelo menos. — Deu de ombros, fechando o diário com a caneta entre as páginas. — Já foi resolvido. Ou está sendo... — A Kenner umedeceu os lábios ressecados. — Invadiram o meu apartamento ontem...

— Nossa — Keelin expressou, arregalando um pouco os olhos, e inclinou-se em direção à outra, tentando procurar algum sinal de hematoma ou machucado. — Você está bem? — repetiu a pergunta.

— Estou — garantiu, levando a mão inconscientemente até seu pescoço, alisando a pele, e suspirou, mas levou a mão ao colo de novo ao notar seu gesto. — Um dos meus vizinhos chegou antes que algo acontecesse, só tive que trocar a porta, ele ficou de cuidar disso por mim, já que não conheço nada na cidade. — Forçou um riso fraco, tentando esconder seu incômodo.

— Se tivesse me dito antes, eu teria te passado o telefone do filho de uma das senhoras que atendemos hoje. — Sorriu fraco, pondo uma mão sobre a dela, e apertou brevemente em conforto. — Se precisar de alguma coisa, pode contar comigo.

— Obrigada. — Mack retribuiu seu sorriso, suspirando, e deixou seus ombros finalmente relaxarem. — De verdade.

A médica assentiu antes de se levantar, apertando seu ombro, e se afastou para deixá-la a sós com seus pensamentos novamente.

Mackenzie acomodou-se no balanço, usando uma das pernas para impulsionar lentamente o assento, e encarou o nada à sua frente, abrindo o diário mais uma vez.

 

Eu não faço ideia do que estou fazendo. Sei que partir foi a escolha certa, mas não esperava que ele chegasse a esse ponto. Talvez, que ele viesse atrás de mim, pedisse desculpas e prometesse que seríamos melhores juntos. Como sempre fomos. Não esperei que ele enviasse um dos lacaios para me levar à força.

Agora as portas do meu apartamento estão sendo reparadas por um estranho em quem eu pareço confiar mais do que no meu próprio marido. Queria poder ligar para o Oli e pedir notícias, já que Trevor pegou o telefone que Daniel usava e não recebi mais mensagens ou ligações.

Merda.

 

 

Assim que travou o carro com suas chaves, Mackenzie se afastou em direção ao portão do pequeno complexo. Sentia-se exausta demais para passar a bolsa pelo ombro, então, apenas a carregou na mão, jogando a chave dentro. Já estava alcançando o jardim quando lembrou-se do ocorrido na madrugada anterior e parou de andar. Fechou os olhos com força e mordeu o lábio, xingando-se mentalmente. Não tinha as chaves da porta nova.

Um longo suspiro frustrado escapou por seus lábios e deu meia volta, mas olhou na direção do jardim ao ouvir alguém chamar seu nome. Elijah estava sentado num dos bancos e exibiu um pequeno sorriso ao erguer sua mão com as chaves.

— Precisa disso, não é?

— Está sentado aí o dia inteiro me esperando? — brincou, aproximando-se do vampiro, e deixou um riso baixo escapar.

— Não, na verdade, eu te ouvi chegar — avisou, levantando quando ela chegou perto, e lhe estendeu as chaves.

— Faz sentido — concordou, fazendo uma leve careta, e suspirou, sentindo um calafrio percorrer seu corpo ao tocar o objeto, resultando numa nova careta. — Feitiço de proteção?

— Ele me disse que seria imperceptível — defendeu-se, balançando a cabeça em negação, e abaixou o olhar ao esboçar um sorriso amarelo, um tanto sem graça por ter sigo pego em flagrante.

— É, para os humanos, costuma ser — lembrou, dando de ombros.

— Faz sentido — repetiu as palavras dela, erguendo seu olhar estreito para a mulher, e fez menção de passar por ela para ir embora, mas parou quando a notou hesitar.

— Sobre a porta... — Coçou a nuca com a mão livre.

— Esqueça — pediu, sorrindo levemente, e olhou para a porta do apartamento antes de voltar seus olhos à expressão confusa dela. — Não é caridade. Considere um presente de boas-vindas.

— Obrigada.

Ele sorriu um pouco mais, mas logo assentiu em despedida, se afastando com o aceno dela.

Mackenzie o acompanhou com o olhar até que o perdeu de vista numa fração de segundos. Desceu seus olhos até a chave em suas mãos, admirando brevemente o chaveiro de cristal, e suspirou, seguindo para a escadaria. Não demorou a alcançar sua porta, notando algumas trancas extras na parte de dentro após fechá-la. Não faria diferença se outra criatura sobrenatural tentasse invadir, mas, ao menos, poderia acordar com o ruído das correntes se partindo.

Seguiu até seu quarto, mas apenas deixou a bolsa na porta e foi ao banheiro. Ligou a torneira, enchendo suas mãos com a água fria, e molhou o rosto para tentar despertar o suficiente para fazer algo para comer. Apoiou as mãos à beira da pia, ouvindo a água cair, tentando relaxar, e encarou seu reflexo.

Não estava tão cansada quanto no dia anterior, mas a exaustão de seu corpo não era pelo dia corrido na clínica. Apesar de ter apagado durante a noite, grande parte fora por seu desmaio e não sono. Seu cérebro ainda não havia se recuperado daquilo. No entanto, estava bem o suficiente para lhe dar uma boa ideia.

Olhou para a mesa da cozinha, diretamente para sua nova chave, e desligou a torneira antes de deixar o cômodo. Após alguns minutos revirando sua mala, ela encontrou o que queria. Voltou à cozinha com um colar em mãos e sentou-se à mesa. Tentou ignorar a lembrança de quando o ganhara quando seus olhos pararam no pingente e puxou a chave, separando-a do chaveiro para pôr junto à do carro.

Por fim, pôs sua unha na abertura da argola do pingente do cordão e o tirou, jogando o coração no lixo, então, pegou o chaveiro de cristal e, se livrando de alguns elos, o substituiu na corrente.

Se aquilo era um amuleto para sua proteção, teria mais sentido se estivesse com ela o tempo inteiro e não na bolsa, não é? Abriu o colar e o prendeu ao pescoço, deixando a pedra cilíndrica do cristal pendurada em seu colo.

Passou os dedos levemente pelo objeto, erguendo seu olhar para o ambiente, e examinou cada detalhe com atenção. Só havia chegado há alguns dias e nada tinha seu toque pessoal ainda, mas soltou um longo suspiro, sentindo certa calma finalmente lhe atingir, e deixou um pequeno sorriso estampar seus lábios.

— Agora sim — sussurrou quando a outra mão alcançou seu ventre. — Nós não precisamos mais correr. Finalmente estamos em casa.

Talvez não fosse pelo apartamento e sim pela sensação de acolhimento que a cidade lhe passava, ou, então, pelas pessoas que ela mal havia conhecido e já tinham lhe conquistado, mas Mackenzie finalmente havia chegado à conclusão de que não precisaria mais fugir.


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