State of Grace escrita por Edmayra McHale


Capítulo 2
Perfect match


Notas iniciais do capítulo

Aloha!
Esse saiu bem mais rápido do que esperavam, não é? Podem admitir!
Boa leitura.



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14 de dezembro de 2018

A mulher de cabelos pretos andava calmamente pelo caminho de concreto da pequena comunidade de lobos, cumprimentando seus vizinhos com um doce sorriso no rosto, apesar de todo cansaço que sentia por ter passado a noite no trabalho. Na casa antes da sua, encontrou seu sogro, que conversava com Greg, seu velho amigo, e seus três netos.

— Mack, nos ajude aqui! — pediu o homem de cabelos cinzentos, acenando para que ela se aproximasse.

— Estes dois não querem ir à escola e estão tentando convencer a pobre Joss a não ir também — contou o negro, avô das crianças, e os olhou com desaprovação.

— E por que não? — ela questionou, cruzando seus braços, e fingiu uma expressão zangada ao olhá-los. — Sabe qual foi a única coisa que Daniel me exigiu quando cheguei aqui? — Abaixou-se, mantendo seu olhar neles, que negaram com a cabeça. — Que não deixasse que as bobagens dos garotos me atrapalhassem — respondeu ao parar seu olhar na menina, que riu junto a ela e lhe deu um breve abraço antes de correr para dentro da casa para pegar sua mochila.

— Mas estudar é chato! — um dos meninos resmungou, cruzando os braços, e olhou para a mulher.

— A maior parte das coisas da vida é, mas como você pretende comprar aquele carro que viu na TV no outro dia? Vai precisar de um bom emprego, o que não vai conseguir se faltar à aula! — o repreendeu de maneira calma, logo esboçando um sorriso divertido ao vê-lo ceder e seguir os passos da irmã enquanto o outro menino ia até sua casa.

— Você é um anjo, Mackenzie! — Gregory comemorou, rindo, e se levantou, acenando brevemente em despedida para a dupla antes de se levantar e entrar na cabana próxima.

— Eu te disse aquilo mesmo? — Daniel se levantou da escada de madeira, batendo as mãos nas roupas antes de repousá-las na cintura, e observou a morena de olhos azuis.

— Talvez não exatamente com aquelas palavras, mas foi um ótimo conselho — ela justificou, rindo baixo, e deu de ombros, caminhando ao seu lado pelos metros restantes até sua casa.

— E parece que você o seguiu quase muito bem — comentou, atraindo o olhar confuso dela antes de passar pela porta. — Se formou no colegial, cursou enfermagem e agora é a segunda no comando das enfermeiras do hospital da cidade, embora pudesse ser bem mais, só que se casou com um cabeça-dura sulista que nem pensa em se mudar para viver uma vida à altura da esposa.

— Ele é cabeça-dura, eu sou cabeça dura. Somos o casal perfeito, não concorda? — brincou, rindo baixo, mas logo o olhou novamente sobre o ombro. — Mas nos mudar e te deixar aqui sozinho? Não mesmo, nem eu quero isso, Dan. — Ela sorriu, pondo sua bolsa no armário ao lado da entrada, e seguiu para o quarto, parando na porta para olhar o mais velho, que estava na cozinha.

— Vá tomar seu banho, vou deixar a água fervendo para o chá e vou buscar a torta que a Margaret fez, porque eu não vou conseguir comer aquele negócio sozinho — avisou, de costas para ela, e ligou o fogão.

— Obrigada, Dan. — Ela sorriu, observando-o, e pareceu confusa pela expressão do mais velho quando se virou para ir até o casebre ao lado, mas a encontrou no mesmo lugar.

Ele fez uma careta e acenou para que ela se apressasse, fazendo-a rir ao se afastar. Balançando a cabeça em negação, Daniel Blake esboçou um leve sorriso, fechando a porta atrás de si.

 

Mackenzie pegou uma muda de roupas largas no armário e seguiu para o banheiro, deixando a água esquentar enquanto tirava o uniforme. Assim que sentiu o líquido quente percorrer seu corpo, ela finalmente se permitiu relaxar. Passou as mãos pelos cabelos e respirou profundamente, ouvindo nada além do chuveiro. No entanto, ela quase pulou de susto quando duas mãos tocaram sua cintura, virando-se para dar um tapa no peito do marido, que ria de sua situação.

— Muito engraçado — repreendeu-o, revirando os olhos, mas não resistiu e acompanhou seu riso, selando seus lábios brevemente ao abraçá-lo pelo pescoço.

— Eu senti sua falta essa noite — ele sussurrou no ouvido da mulher, deslizando as pontas dos dedos lentamente por suas costas, e sorriu ao notar os pelos eriçados de seus braços.

— Também senti a sua, querido — ela respondeu no mesmo tom, passando uma das mãos pelos cabelos, agora molhados, dele, e olhou em seus olhos antes de sentir seus lábios se tocarem novamente.

— Como foi o trabalho? — ele perguntou baixo enquanto descia os beijos para o pescoço dela, apertando-a contra seu corpo.

— Acabei de sair de lá, a última coisa que quero fazer é falar daquele lugar — o repreendeu, suspirando de satisfação, e encostou a cabeça na parede ao sentir as mãos dele percorrerem seu corpo.

— Tudo o que você quiser, meu amor.

 

 

Após o café da manhã, Mackenzie não se preocupou com o almoço, já que Trevor havia saído para caçar com os rapazes durante o fim de semana, então, apenas voltou à cama, acordando por volta das três da tarde. Encontrou um bilhete do sogro avisando que havia um prato para ela na geladeira e levou ao micro-ondas para esquentar, voltando à sua bolsa perto da porta para pegar o resultado dos exames que fizera à pedido da superior antes do turno começar. Deixou o envelope sobre a mesa de centro da sala, pegou um copo de suco e seu prato antes de sentar no chão em frente ao sofá, ligando a TV enquanto se acomodava. Quando terminou de comer, pegou o envelope e tirou o papel de dentro, passando uma das mãos pelos cabelos ao desocupá-la. Passou o olhar pelos resultados, constatando que a maioria dos tópicos estava normal, mas seu pensamento foi interrompido quando ouviu a porta se abrir, revelando o sogro.

— Com um sofá tão confortável, você senta no chão? — ele brincou, aproximando-se, e deu um beijo no topo de sua cabeça antes de se sentar. — O que é isso? — Apontou para o papel.

— Exame de sangue — contou. — A administração do hospital só está tentando garantir que não estamos morrendo por exposição à radiação sem saber — brincou, tentando voltar para onde parara, mas sentiu sua respiração falhar ao encontrar uma anomalia.

Daniel estranhou sua reação, perguntou algumas vezes qual era o problema e chamou pela nora, mas ela não respondeu. Na verdade, parecia nem ouvi-lo. O homem pegou a folha enquanto tirava os óculos do bolso de sua camisa, pondo-os no rosto, e encontrou uma série de números que pareciam um pouco irregulares após folear algumas páginas.

— O que é Beta Gonadotrofina Crônica? — questionou, atropelando-se um pouco na segunda palavra, visivelmente confuso com tanta informação, e olhou para a mulher.

— Coriônica — ela o corrigiu de forma automática, com a voz um pouco baixa, apoiando-se no móvel, mas permaneceu sem olhá-lo.

— Isso — ele confirmou ao voltar a ler, encontrando uma pequena observação abaixo do gráfico com algumas explicações, e ergueu seu olhar para ela. — Grávida?

— Segundo o exame, sim. — Ela soltou um longo suspiro, olhando-o sobre o ombro, mas sua expressão pareceu suavizar ao notar o sorriso que estampava o rosto do mais velho.

Sem dizer nada, ele se levantou, estendendo-lhe as mãos para que ela fizesse o mesmo, e a abraçou fortemente, apertando os olhos fechados antes de respirar fundo e começar a rir.

— Se estiver tentando me tranquilizar, eu acho que devo informar que não está funcionando nem um pouco — ela murmurou, apertando-o, e respirou fundo.

— Não posso te culpar. — Ele riu baixo, acariciando levemente as costas dela para acalmá-la. — Melissa também ficou assustada quando descobriu — contou ao soltá-la e apertou suas mãos fortemente, mantendo seu olhar na nora. — Provavelmente mais assustada do que eu.

— Você não é um homem que se assusta fácil, Daniel, você é um alfa — ela brincou, soltando um riso fraco e nervoso.

— Mas eu também sempre quis alguém para ensinar meus dotes culinários, que acabou sendo você, porém, não vejo problema em passá-los ao meu netinho ou netinha — comentou, levando as mãos à barriga dela, mas logo as recolheu. — Tudo bem, é estranho, ainda parece que estou falando com o seu intestino — brincou, fazendo-a revirar os olhos, mas também sorrir.

— Tenho certeza de que ela também gostaria da notícia, eu só não sei qual vai ser a reação dele — confessou ao se sentar e cruzou os braços, mantendo o olhar no chão.

— Não se preocupe com ele ainda, está bem? — aconselhou, sentando ao lado dela, e sorriu, unindo as mãos sobre o colo. — Só aproveite a notícia.

— Você já está aproveitando bem mais do que eu — ela implicou, rindo baixo, e suspirou profundamente, parecendo pensativa, mas, pela primeira vez após abrir aquele envelope, tranquila.

 

 

— Já sabe como vai contar a ele? — Oliver perguntou à amiga, ajudando-a a carregar as compras do carro até sua casa, mas sem tirar os olhos dela.

Uma semana já havia se passado desde que ela descobriu a gravidez, mas ainda não tivera coragem. Mackenzie deu de ombros, abrindo a porta com sua mão livre, e apertou o saco de papel contra o corpo sem notar.

— Talvez na manhã de Natal — ela murmurou, como se pensasse alto, e olhou brevemente para as portas, não ouvindo nenhum sinal do marido. — Quer dizer, não deve ser tarde para comprar um par de sapatinhos, não é? — Suspirou, pondo as coisas sobre a mesa.

— Me parece uma boa ideia — o homem de longos cabelos loiros opinou, esboçando um leve sorriso para tranquilizar a amiga. — Mas ele não vai fugir se você não conseguir comprar. — Riu um pouco alto ao vê-la revirar os olhos. — Não se preocupe, eu posso ir até a cidade amanhã e procurar alguma coisa, assim, você não levanta suspeitas, não é?

— Eu já disse que você é um ótimo melhor amigo, Oli?

— Mais de uma vez, e serei um tio melhor ainda — garantiu, depositando um beijo estalado no rosto dela, e sorriu ao voltar ao carro.

— Eu sei que vai. — Ela sorriu, acompanhando-o com o olhar até a porta, mas logo se voltou para os armários, guardando suas compras.

 

Ao fim da ruela calçada, de frente para todas as casas da comunidade, ficava um prédio que tinha diversas utilidades. De forma geral, era usado para reuniões entre os membros da matilha Lupin; fosse para organizar as rondas, treinamentos ou apenas festividades como a ceia de Natal da próxima semana. Nos fundos, ficava a cozinha, onde as mulheres mais velhas já começavam a preparar alguns de seus temperos especiais; num meio-piso acima da cozinha, mas com vista para todo o salão, ficava um pequeno escritório, onde o líder da matilha, Daniel, guardava a maioria de seus registros sobre o grupo. Ele sempre fazia uma observação sobre as pessoas que acolhia, quando o filho entrou, ele lia o diário do dia em que a nora chegara.

— Você ainda escreve nessas coisas? — Trevor riu baixo, cruzando os braços, e se aproximou da mesa do pai, vendo alguns dos diários espalhados, provavelmente para procurar o que queria.

— Às vezes, é como se eu falasse com a sua mãe — contou, erguendo levemente as mãos, e sorriu um pouco triste antes de olhar o filho. — Mas não é por isso que está aqui…

— Na verdade, eu queria saber como o senhor está. — Suspirou, passando uma das mãos pelos cabelos, e se sentou numa das cadeiras de frente para a mesa. — Kenzie disse que você tem comido pouco e até passou mal um dia desses.

— Não é nada, eu já disse a ela que farei o que ela quiser depois que o Natal passar, se for deixá-la tranquila — esclareceu, observando-o, e sorriu de lado, tirando os óculos de leitura do rosto, deixando-os sobre um dos diários.

— Sabe que o ideal é não perder tempo, não é? — insistiu.

— Eu sou um velho, Trevor…

— E velhos têm problemas de saúde, pai, não é só porque nos transformamos em lobos que significa que estamos imunes a doenças — o repreendeu. — A mamãe não estava.

— O caso da sua mãe era diferente — Daniel murmurou, levantando de sua poltrona, e uniu as mãos às costas ao se aproximar da vidraça que lhe dava visão dos moradores que enfeitavam o salão.

— Mas ela está morta, nós não somos imortais — disse num tom rígido, acompanhando o pai com os olhos. — Você sempre me diz que sou cabeça-dura, mas de quem acha que puxei isso?

O alfa suspirou profundamente. Geralmente, era ele quem dava os sermões. Não estava acostumado a recebê-los.

— O senhor não é nenhum garoto, muito menos tem a cura para a morte, então, deixe de ser teimoso. — Trevor respirou fundo, balançando levemente a cabeça. — Sua nora é enfermeira, se ela está preocupada, deve ter um bom motivo.

Daniel permaneceu calado, ouvindo o suspiro frustrado do filho logo seguido de seus passos até a porta. Seu recado havia sido dado. O alfa entendia a preocupação dos dois, principalmente após a partida repentina de sua esposa, quando um acidente de carro levou ao diagnóstico de derrame e meses de acompanhamento médico para um quadro irreversível e inevitável. Aquele provavelmente havia sido o motivo por trás da aproximação de Mackenzie e Trevor na época.

Ainda pensava se eles teriam o mesmo relacionamento se ela não tivesse sofrido o acidente. De toda forma, era grato pela presença da jovem, que os ajudou bastante, já que sempre a consideraram uma filha. Ele sabia que o fato havia influenciado bastante sua escolha de carreira, mas Mackenzie era boa em cuidar das pessoas, só esperava que o filho fosse tão bom em cuidar dela e de seu neto.

 

Trevor fechou a porta com certa força atrás de si, assustando a esposa, e passou as mãos pelos cabelos de maneira nervosa, respirando fundo enquanto ela caminhava em sua direção, alisando lentamente seus ombros na intenção de acalmá-lo. O que ela sempre conseguia.

— Vocês discutiram, não foi?

— É assim tão óbvio? — Ele sorriu de lado, repousando uma mão na cintura da morena, e acariciou levemente seu rosto com as pontas dos dedos da outra, olhando em seus olhos. — Ele é teimoso, mas, se disse a você que ia, ele vai. Nem que seja à força.

— O pior é que eu sei que você não está brincando. — Ela riu, passando uma das mãos pelos cabelos compridos do homem para arrumá-los. — Não vai mesmo cortar, não é? — Fez beicinho. — Nem fazer a barba?

— Não posso nem aparar? — Selou brevemente seus lábios, observando-a.

— Talvez. — Estreitou seus olhos, pensativa, e passou os dedos por uma mecha, acompanhando-os com o olhar. — Tudo bem, pode cortar um pouco, ou daqui a pouco vai acabar roubando a minha chapinha.

— Na verdade, eu te pediria para passar pra mim — implicou, puxando-a para si, rindo junto à esposa, e deu um beijo demorado em seu rosto. — Como pude ter tanta sorte? — questionou-se, sem conseguir desviar seu olhar.

— É uma ótima pergunta. — Ela sorriu, abraçando-o pelo pescoço, e o beijou.

 

 

Quando a noite caiu, a comunidade estava calma, os únicos que rondavam eram os vigias, enquanto os moradores já estavam dormindo. Bem, nem todos. Assim que a esposa adormeceu, Trevor esperou mais alguns minutos antes de se levantar e vestir uma camisa. Ele deixou sua cabana com cuidado, caminhando até o prédio do salão, entrando por uma porta lateral, e sorriu ao ver a mulher na cozinha, de costas para ele. Se aproximou com cuidado, repousando as mãos ao lado do corpo dela no balcão, e depositou um beijo demorado em seu pescoço, esboçando um sorriso ao notar seu arrepio.

— Eu pensei que não viria mais — ela sussurrou, logo se virando, com um largo sorriso estampado no rosto, e selou seus lábios aos dele com vontade.

O Blake mais novo não perdeu tempo em puxá-la de encontro a seu corpo, apertando suas coxas, e a sentou sobre o balcão enquanto as unhas da ruiva arranhavam suas costas sob a camisa. Mas a dupla não sabia que não eram os únicos sem sono naquela noite, nem no prédio.


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Notas finais do capítulo

Então, sem diário nesse, mas logo vamos entender como nossa amada Mackenzie começou com essa "mania". Bem, um dos meus arrependimentos da versão anterior era não ter explorado essa relação entre a Mack e o sogro, que, na minha cabeça, era incrível. Dessa vez, eu tive essa ideia de voltar um pouco para poder mostrar um pouquinho e poder colocar o tio Dan num potinho ♥ E, de quebra, acabei gerando mais algum tempo de tela pra ele.
Eu espero que tenham gostado. Sintam-se livres para me contar o que esperam e o que estão achando. A história é tanto minha quanto de vocês, então, quem sabe vocês não consigam me dar uma ideia pra complementar o enredo. :3
Obrigada por lerem, beijos da tia May xx



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