Na ida para casa foi como se nada tivesse acontecido. Andrew conversou comigo com os braços atrás da cabeça, como se estivesse tranqüilo, mas percebi que tremia um pouco ao meu lado, e quando viu meu olhar colocou as mãos nos bolsos, querendo disfarçar. Chegando em casa, ao invés de eu me atirar em cima da cama como de costume, me encolhi para baixo das cobertas, como se fosse um feto com medo do mundo, e afundei meu rosto no travesseiro.

-FILHA! – Minha mãe abre a porta com um estouro e grita meu nome de repente. E eu levei um susto tão grande que caí da cama e rolei pra baixo dela.

-Mãe! Quer me matar do coração??

-Ai minha filhinha, mil perdões. É que eu me lembrei de uma coisa e não podia deixar para outra hora.

Minha mãe se sentou na ponta da cama e esperou até que eu sentasse também.

-Como vai indo o namoro?

-Bem... – eu estava super desconfiada com essa conversa que iniciava.

-Que bom... David é muito querido, não é?

-Sim mamãe.

-Você tem um bom gosto, sabia?

-Mãe, por favor, não enrola e fala logo que tá me deixando nervosa.

-Ah, desculpa. Eu queria saber como vão indo as coisas do namoro.

-Que tipo de coisas?

-Você sabe... as... coisas...

Eu reclamava de Andrew, mas com certeza eu fui muito mais lerda que ele.

-Mamãe, se você está falando de sexo...

Esperei ela me dizer alguma coisa, mas seu olhar explicou tudo.

-Eu não acredito. – Me levantei da cama irritada.

-O que é minha filha, é meu trabalho falar contigo sobre esse tipo de coisa.

-Eu to cheia de problemas, e você vem e pede pra conversar sobre sexo?!?! De novo!?!!??!?

-Larissa, você está namorando, agora mais do que nunca eu tenho que saber se você entende tudo ou não. Mas agora que você me disse que está com problemas, venha, sente-se aqui e me conte o que lhe aflige.

-Não mãe, sai daqui. Não quero mais conversar contigo.

-Não se faça, mocinha. Você sabe que eu sou a que mais te quer bem, e me tratar assim só porque você tem vergonha de falar sobre sexualidade não é motivo. Agora venha cá e deixe sua mãe fazer o trabalho dela.

Eu suspirei e voltei a sentar de frente para ela.

-Mãe... você se lembra do Andrew?

-Aquele de cabelinho preto que veio aqui no seu aniversário? Claro.

-Bom... é que...

-Você está apaixonada por ele?

-Bem, sim, e...

-Você não sabe como terminar com David.

-Bom, não é bem isso, mas...

-Você está em duvida entre os dois e não sabe o que fazer.

-Mãe, você quer me escutar ou quer adivinhar tudo sozinha?

-Me desculpe filha, não queria atrapalhar.

-Pois é,você adivinhou.

-Ah.

-Como é que você consegue?

-Coisa de mãe.

-Sei... Vai me ajudar?

-Filha, coisas de coração é complicado. A gente nunca sabe o que fazer, e quando faz se arrepende, ou fica pensando como seria se tivesse feito diferente, ser humano é isso. Mas só sei de uma coisa. Quando o coração decide o que fazer, você deve segui-lo sem pensar duas vezes. Mas apenas quando ele tiver certeza do que quer fazer. Por mais que seja de repente, na hora H, ele sabe o que é melhor para nós, e não devemos duvidar de seu poder em nenhum momento. – Ao dizer isso, ela colocou a mão em meu peito, sentindo meu coração bater. – Saudade de quando eu sentia essa batida em meus braços.

-Você sente tanta saudade de quando eu era bebê, é?

-Não, você não sabia limpar a bunda sozinha. Mas era difícil acreditar que um dia aquele pitoquinho se transformaria em uma pessoa do meu tamanho. Mas vejam só, o pitoquinho já está do meu tamanho.

Mamãe segurou meu queixo suavemente, sorrindo. Eu ria de tudo o que ela dizia, e quando ela sorriu de volta, eu a abracei. Minhas esperanças eram que ela estivesse certa sobre o que dizia. O problema era quando isso iria acontecer...