Até aquele dia, pensei que a coisa mais bizarra que já me acontecera foi a reação dos meus pais quando eu menstruara pela primeira vez. Eu já sabia o que era menstruar, já havia tido aquela conversa constrangedora sobre sexos com minha mãe, incluindo isso e o sexo em si. Mas quando aconteceu, foi totalmente estranho.

Foi bem nas férias do meio do ano. Senti minha calcinha meio quente e úmida, mas não dei atenção. Apenas quando fui ao banheiro vi que ela estava com uma poça gigantesca de sangue, que ia até a minha calça. Como ninguém viu a mancha eu não sei, só sei que na hora quase passei mal e gritei pela minha mãe.

-Que foi, minha filha?

-Mãe...

-Aconteceu alguma coisa? Fez xixi nas calças?

-É claro que não mãe, não faço isso desde bebê!

-Isso acontece ué.

-Não é isso.

-É o que então?

-Eu... eu menstruei.

Ela ficou alguns instantes em silêncio, e quando perguntei se ela ainda estava ali, ouvi ela gritar e pular “Minha filhinha virou mulher! Minha garotinha virou gente!” Até meu pai ficou nervoso quando viu minha mãe saltitando e gritando bem feliz.

-Vai te tratar mulher, quer que a vizinhança ache que você é louca?

-Mas nossa filhinha menstruou, George!

-Isso é nojento. E isso significa que agora ela pode engravidar, não é coisa boa.

-Com licença, ainda escuto vocês! – Eu disse, ainda sentada no vaso, sem calças e com o rosto feito um pimentão de tanta vergonha.

-Cale a boca e vá comprar absorventes, homem. Vou ajudar nossa nova mulher da casa.

-Eu? Eu não posso ir até a farmácia e comprar absorventes! O que os outros vão pensar de mim?

-Vão pensar que você tem uma filha ou uma mulher que está com problemas e você é homem suficiente para ajudá-las comprando absorvente.

Eu vi que ele sussurrou alguma coisa, mas mamãe não escutou. Foi me ajudar a tomar banho e pegou uma roupa e toalha para mim, enquanto esperávamos papai chegar. Foi a coisa mais bizarra que já me acontecera. Até aquele dia.

Demorei dois dias para tomar coragem e contar a eles. Desci do meu quarto, fui até a cozinha falar com minha mãe, que estava fazendo o almoço.

-Mãe...

-Sim, filha.

-Eu preciso te contar uma coisa...

-O que?

-...é meio difícil...

-O que? Não me diga que você está grávida!

-Não!!!

-Ah, menos mal.

-Credo mãe!

-Desculpe filha, mas nunca se sabe. Você transou, é isso?

-Não mãe! Quer parar de falar essas coisas? Nossa!

-Mas você não fala!

-Eu me sinto nervosa quando falo sobre esse tipo de coisa com você!

-É por isso que eu sempre acho que é o pior.

-Posso falar?

-À vontade.

-Eu... eu... eu estou namorando.

Ela estava cortando legumes naquele momento, e de repente parou. Olhou para mim, séria, e depois de alguns instantes, sorriu e me abraçou.

-Ah, filhinha, eu sabia que esse dia iria finalmente chegar.

-De novo não, né mãe.

-George! – Papai entrou na cozinha naquele momento.

-Diga, Tina.

-Larissa está namorando!

Meu pai paralisou no meio do caminho, com uma mão na orelha, onde estava coçando.

-O que? – Disse depois de meio segundo.

-Nossa filha arranjou um namorado!

-Q-quem?

-É verdade. Quem é seu namorado, Larissa?

-Bem... vocês o conhecem... é David.

-O DAVID? – Minha mãe estava cada vez mais feliz.

-S-sim.

-Seu professor de harpa? – Meu pai perguntou, não acreditando.

-Sim.

-Nossa filhinha tem um gosto e tanto, hein! Eu sabia, e concordo, David é um gato!

-Não pode namorar um professor! – Meu pai parecia muito brabo.

-É claro que pode, ele não é tão velho assim.

-Ele já é professor!

-Ele tem apenas vinte anos. E não é bem professor.

-Ele ensina nossa filha, pra mim isso é ser professor.

-Você ensinava besteiras a ela quando a garota era criança e nem por isso é chamado de professor.

-Isso é diferente, isso é ser pai.

-É, mas – Os dois continuaram discutindo. E eu voltei para meu quarto, saindo de fininho para eles não me incomodarem.

Não sabia o que estava fazendo, nem se era certo. Mas uma experiência nova é sempre bem vinda, contanto que não me traga coisas ruins...

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