Signus, Memories escrita por Capitain Fabbris


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bem vindo!
Este capítulo vai bem com: Molto Vivace e Horror Music - Morbid Obsessions



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Gotas carmim tingiam aos poucos o vivido verde das gramíneas da bela floresta que cercava Sargos enquanto Anahtya caminhava lentamente para a parte maciça da camarção, onde as folhas se encontravam escurecendo celeremente a floresta.

Sua velocidade de caminhada diminuía equitativamente a sua perda de sangue, desacelerando rapidamente ao entrar na área escurecida da floresta. Poucas vezes de sua vida havia sido governada pelo medo e pela sensação de que a morte a seguia nas sombras de suas vestes.

O silêncio era mortal enquanto tentava se localizar e até o diminuto passos de Himm, uma espécie de mamífero nativa do local fazia seu coração acelerar.

Já não sentia mais sua panturrilha quando seus pés descalços vacilaram entre algumas raízes secas que se entrelaçavam ao chão, derrubando-a de bruços, e fazendo com que suas pernas dissipassem seus comandos, a deixando ali.

Pontos negros começavam a aparecer em sua vista maculando a paisagem do Bosque de árvores que estava ao seu redor, trazendo a pequena elfa uma mistura de sentimentos enleados que perturbavam e destruíam a sanidade que sua mente criara com o passar dos tempos.

— Eu vou ficar bem – dizer em voz alta era algo que sempre amparava Anahtya – Eu vou ficar bem.

Os Sóis desciam cálidos no horizonte, minguando o calor que outrora aquecia a vida de quem vivia por ali. O tempo passava a cada segundo e a angustia de ser descoberta era um dos maiores temores que a criança estava sentindo, aquela fuga causara um reboliço em sua vida, uma turbulência que traria uma vida nova e a esperança de recomeçar uma vida comum. Sem poderes, sem reis, sem magia.

O silêncio foi tomando conta da Floresta Tabby, uma deixa para que os animais diurnos se escondessem em suas tocas e cavernas, protegendo-se dos predadores da noite. Aves se empoleiravam em seus ninhos, pequenos roedores deitavam-se com seus filhotes na toca escura, para uma noite de sono e, com muita sorte, uma noite qualquer.

A certeza de que já havia passado tempo suficiente para que se levantasse de sua humilhante queda sem ser vista por guardas da realeza nunca existiria, mas o silêncio se acomodara a tanto tempo em seus ouvidos que imaginava que as chances de ser pega no cair da noite eram pequenas.

De noite, a floresta parecia mais bela do que sob os astros explosivos. Borbes dançavam suavemente entre as folhas, os insetos eram alongados e variavam em seus tamanhos, sendo tão pequenos quanto uma unha e chegando ao tamanho de uma cabeça, três pares de asas pendiam em uma simetria bilateral, bioluminescentes em cores vivas rosas, azuis e roxas, trazendo uma paz e magia que não podia ser encontrada em qualquer lugar.

Sob as luzes dos insetos que sobrevoavam a floresta, Anahtya se endireitou, passando suas mãos sobre sua panturrilha machucada. Graças a Deusa, pensou, o sangue havia se estocado e o grande corte úmido tinha sido substituído por um envoltório duro e áspero de sangue coagulado.

Recompôs sua postura, se levantando e caminhando por entre as árvores sem rumo. A verdade é que não havia planejado nada após a fuga do grande castelo e sabia que deveria criar um plano rápido mas, também, tinha a convicção de que nada adiantaria fazer naquela situação, precisava se deitar e descansar até que as duas estrelas que regiam seu planeta voltassem a surgir pelos céus.

Seus pés estavam instáveis, suas mãos trêmulas. Seu coração pulsava dor e ansiedade. Já não suportava mais seu próprio peso quando, ao encontrar uma fissura em um tronco velho, parou subitamente. O buraco era grande o suficiente para que Anahtya entrasse com seu corpo todo, úmido, quente e com algumas orelhas de pau, que cresciam por sua extensão.

Sem exitar entrou rapidamente na fenda, se acomodando sossegadamente com o odor pútrido que exalava do lugar. Seus olhos estavam pesarosos e não precisou de muito tempo para que a pequenina fisgasse suas pálpebras, entrando no seu temeroso mundo inóspito.

Seus joelhos estavam gelados e doloridos, sintomas de ajoelhar-se no chão frio. Estava debruçada em uma grande banheira de água fervente, vendo seu reflexo opaco sumir e reaparecer nas bolhas de ebulição. Não aparentava ter mais que cinco anos de idade, mesmo com as marcas roxas por seu corpo, hematomas de seus erros como filha.

Eu mandei limpar suas vestes! - Gritou a rainha – Se quer sangrar, sangre até a morte, mas tenha respeito pela humildade que eu e seu pai, ah que desgraça te chamar de filha!, te demos.

Seus olhos não haviam se erguido ao ouvir a voz de sua mãe e não tremeluziram ao ouvir os passos se aproximando. A garota só se preocupava em lavar suas únicas vestes na água escaldante. Suas mãos queimavam e em quase toda parte podia se ver sua palma em carne viva e, onde ainda havia pele, bolhas cresciam como tumores.

Os passos cessaram quando Anahtya pode ver o reflexo da rainha pela água, os cabelos vermelhos em um grande coque trançado, as vestes brancas cheias de pedrarias que refletiam com a luz vinda das janelas.

Em um movimento súbito a rainha levantou sua mão até a cabeça da criança elfa, pegando em seus cabelos e a atirando contra a parede mais próxima. “Controle, controle, controle” se passava na cabeça de Anahtya enquanto sua mãe voltava a se aproximar.

Mostre suas mãos, aborto de raça pura – ordenou.

Anahtya não respondeu, travando levemente os músculos de seu corpo.

Mostre-me a porcaria de suas mãos sujas, criança imunda! - gritou com raiva e quando não obteve resposta puxou as mãos da criança com força para frente, abrindo as palmas da mão ferida. - Deixe-as estendidas ou vai ser pior para você.

Lágrimas escorriam dos olhos da criança. Era torturada sem entender o porque, não queria saber o quão ruim era nascer com os longos cabelos loiros em vez do vermelho de seus pais. A elfa adulta mexeu por trás de suas costas, soltando a cinta de couro de Mergro, o couro mais resistente que existia em qualquer reino, e enrolando-a em suas mãos.

Você é uma maldição – disse, desferindo a primeira cintada na mão da criança – Você nasceu para quebrar uma tradição. Você veio para tirar meu marido de mim. - voltou a movimentar a cinta, estourando algumas bolhas recém-formadas – Sangre! Sangre pra mim e mostre o quão inútil você é!

Asticia tinha ódio desde que a criança nascera, desde que seu marido, o rei, tinha se tornado obcecado pelo poder que a cria loira poderia trazer. Más línguas diziam que a quebra de uma regra genética traria poder ao mundo e o mundo para quem quer poder. O homem largara sua vida perfeita para treinar e tentar de todas as formas despertar o que queimava dentro do corpo de sua filha. A obsessão a transformara em uma louca.

Seus pensamentos voavam com raiva enquanto golpeava as mãos da criança com fúria e cada vez que Anahtya gritava de dor, seu corpo idolatrava a dor que trazia e aumentava a força que o couro atingia a criança, não só nas mãos mas em seu corpo todo.

A pequena elfa gritava e chorava para controlar aquilo que reboliçava dentro dela, o poder, a fonte de todo o mal de sua vida, sua maldição. Era pequena demais para entender o poder que ela trazia, mas grande o suficiente para saber que custaria sua vida. Seu corpo era dilacerado e seus movimentos desacelerados até que seu pai, o rei abriu o grande portão da área de lavagem.

O que você está fazendo? - se dirigiu a sua mulher retoricamente. Seus olhos se passaram por todo o local. A criança nua ensanguentada, a água derramada no chão tingida de vermelho. - O que eu disse em encostar no que é meu?

O rei elfo se aproximou da criança com um sorriso em seu rosto, por dentro, amando a tortura que havia sofrido.

Eu tenho um presentinho para você, por desobedecer sua mãe – sussurrou em seu ouvido – e entregarei a você mais tarde.

Voltou-se para a mulher que havia se transformado. A mulher que ameaçava Anahtya agora esperava a ordem do seu irmão e rei. Grimore tirou suas roupas, aproximando-se violentamente da mulher e rasgando suas vestes. Sua mão enroscou em seu pescoço frágil enquanto a levantava e a via se debater, antes de atirar a mulher no chão e montar por cima dela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo! Tentei trazer um pouquinho da infância de Anahtya e sei que esta família trará muito ódio a todos.

E ai? O que vocês acham sobre os reis? O que será que está acontecendo?



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