Um Amor Absoluto escrita por Hellena


Capítulo 2
Capítulo 2




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Eu morava agora em Massachusetts, depois que perdi minha memória meus avôs acharam melhor me mandar para uma escola de meninas – pensavam que eu poderia crescer e ter bons modos, é lógico que eu levei um belo tempo para isto. Em 2007 senti medo em perder minha querida vovozinha. Eu a chamava de: Meu fubazinho não sei se ela gostava mas se sentia feliz.

Meu fubá estava doente! Não era a mesma de antes, meu avô e as freiras me explicaram que eu devia ter muita paciência, pois vovó estava esquecendo-se das coisas. Eu dei alguns truques para ela: Amarrar uma fitinha vermelha na pontinha do dedo será mesmo que isto resolveria algo? Eu não sei! Já existem anos que faço isto, mas a única coisa que consigo ver quando estou dormindo sou eu e um garoto deitado observando as estrelas.

Depois de quatro anos morando em Massachusetts recebi autorização de meu avô para voltar ao Brasil e ver minha avó. Eu não me lembrava muito bem dela... Então me senti envergonhada de estar em seu quarto, sentada em uma cadeira observando ela. Sua pele estava bem enrugada, seus olhos claros estão caídos e cansados – eu me pergunto: Ela dormia? Ela me olhava com carinho, amor e lealdade. Era muita pureza e eu gostei do seu olhar.

—Mas olhe só Helena, você já e uma mocinha – Ela diz com certa dificuldade, estava muito fraca e depositava muita força para conseguir falar. Mas as palavras saíam como um sussurro.

—Sim... Já tenho nove anos. Mês que vem completo dez – Digo sorridente – Já estou perdendo os meus dentes de leite, olhe só, já caíram quatro! E todos da frente.

—Sério minha bonequinha?

O rosto de meu avô carregava muita tristeza consigo me lembrar disto todas as noites como se fossem cenas de um filme. Meu avô deu todos os gatos, cachorros e papagaios que tínhamos na fazenda. Eram os meus bichinhos de estimação, mas eu ganhei um peixinho dourado então sempre senti ciúmes dele o seu nome era Bolha. Ele foi minha alegria e eu passava o meu dia inteiro desenhando na frente do aquário. Fiz de tudo para garantir que ele estivesse bastante confortável e feliz – tia Lia me deu uma ração para peixes, passei a tarde toda jogando ração para Bolha, mesmo sabendo que ele não queria. Meu sonho sempre foi ter um peixinho dourado obeso.

Bolha estava inquieto, talvez sentisse falta de sua família de peixes. Fiz até um desenho dele com sua família para colocar no vidro do seu aquário, mas parecia não ter resolvido nada, Bolha queria ir para sua casa, queria voltar para onde veio é eu me sentia mal em estar o prendendo dentro de um recipiente de vidro.

Em meus nove anos de idade, conheci uma garota que se chamava Becca, ela era uma menina simples com família de origem humilde – sua mãe era uma escocesa bastante bonita, seu pai era um brasileiro não tão bacana... Becca sempre foi motivo de chacota das outras crianças da sua escola. Ela me disse que a professora que nunca gostou era Judite, uma professora de matemática, Becca dizia não gostar de ir para a escola, pois lá as crianças faziam piada por ela ser diferente e por sua mãe trabalhar de cozinheira em um restaurante, e nas horas livres pegava roupas para revender. Enquanto seu pai... Um pai que vivia culpando sua mãe por algo que ela nunca fez, e que nem se quer tinha a capacidade em sair de casa para procurar um emprego. Muitas vezes não conseguia por conta de sua fama ruim, batia na esposa e na filha.

Eu queria mostrar o mundo para Bolha! Queria mostrar na verdade o meu mundo, mesmo sendo um pouco diferente do dela, achei melhor levar meu peixinho para fora ele precisa tomar um ar.

—Bem bolha, como você pode ver está e nossa garagem – Eu dizia enquanto colocava seu aquário no chão. – Qual é a sensação de ficar ai dentro? Você sente falta dos seus pais? – Tinha uma mania de me deitar no velho piso de madeira da fazenda, minha avó ficava uma fera dizia que minhas roupas eram imundas ela não estava errada! – Sabe eu também perdi meus pais quando tinha acho que eu tinha... Dois anos, ou apenas alguns dias de vida. – Faço uma cara de choro – Eu não consigo me lembrar, aquele pessoal de dentro daquela casa vive falando que eu perdi meus pais em um acidente de carro – Coloco minhas duas mãos em minha boca – Mas eu não consigo me lembrar de nadinha! Absolutamente nada.

Bolha era um ótimo amigo! Um companheiro fiel, desde quando me mudei para a escola de garotas e encontrei bolha somos inseparáveis. Mesmo não falando comigo, ele estava ali para me ouvir era daquilo que eu precisava! Que algum ser vivente me escutasse sempre que eu tivesse algo para dizer, e não me chamasse de criança ou me ignorasse. Poxa, as crianças precisam desabafar também.

—Bolha eu preciso beber água, enquanto isto você vai ficar aqui observando essa bela vista. Depois volto para conversarmos melhor, eu não demoro.

Meu maior erro foi ter deixado Bolha sozinha, principalmente quando você tem uma vizinha que deixa o gato andar solto e invadir propriedade dos outros. Aproveitei e fui ao banheiro, depois de alguns poucos minutos eu fui ao quintal e me deparo com a pior cena que uma criança poderia ver: Bolha estava sendo atacada pelo gato da vizinha.

—Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Vovô e tia Lia foram correndo até o quintal para ver o que havia acontecido comigo, quando chegaram depararam-se comigo no chão e o aquário de Bolha estava todo estilhaçado no chão. Estava em prantos. Eu me sentia uma péssima criança por ter deixa Bolha só. Vovô tentou me consolar, mas era impossível até que tomou Bolha em minhas mãos e caminhou até a torneira que ficava perto do jardim. Ele ligou e molhou meu peixinho dourado.

— Eu sou uma criança horrível – Disse chorosa coçando meus olhos entre soluços.

Vovô me olhou com amor e carinho, ele tentava me acalmar com aquele olhar bondoso querendo dizer que eu não era culpada.

—Talvez não esteja morto! Logo ele voltara você precisa ter fé minha querida.

—E se não voltar?

—Não será o fim do mundo pequenina, existem milhares de peixinhos dourados espalhados pelo mundo inteiro. Podemos comprar outro.

***

Já se passava anos desde o dia em que conheci Mateus. Mesmo com problemas de esquecimento, ele conseguiu se fazer especial desde o último dia em que eu mais precisei dele.

—Amor, você está bem? – Ele pergunta com uma voz embargada de preocupação, eu não queria que ele ficasse mais preocupado do que estava, então apenas sacudi a cabeça em sinal positivo.

''Não leve ela de mim... Por favor, não leve ela de mim... '' Mateus pedia em pensamentos.

—A morte é algo natural meu anjo – Sussurro para ele – Estou chegando ao fim, mas quero que você continue aqui – Fiz uma pausa para respirar – Você foi um ótimo homem desde quando nos conhecemos. Mostrou para mim que o amor verdadeiro é aquele que você sente te queimar. E sabe de uma coisa? Eu sempre te achei o Máximo.

Fechei meus olhos por um longo tempo, e continuei me lembrando de todas as coisas que vivemos durante o tempo em que eu ainda era uma jovem sadia.

—Ela está bem? – Mateus pergunta para uma médica que estava no quarto conosco.

—Estou bem meu anjo – Digo enquanto beijo sua mão – Eu ficarei bem, você vai ver... Eu não me importo em usar perucas, eu sempre quis ter cabelo colorido.

—Eu não quero que me deixe Helena – Suas lágrimas molhavam minhas mãos que agora estavam juntas – Eu quero que fique ao meu lado, sem pretensões.

—E eu quero que você siga em frente! Quero que você continue assim e que cuide bem das crianças. Mas logo sairei daqui desta cama para andar de bicicleta com vocês.

Eu sempre adorei aquele jeito dele, de querer sempre cuidar de mim, mesmo eu sendo tão teimosa. Talvez eu nunca tenha dito isto para ele, mas ele conseguiu me ganhar a cada segundo que conversávamos. Meu coração batia forte em ver aquele belo sorriso, dinheiro nenhum compra a felicidade que eu conquistei ao lado de Mateus, meu novo fiel companheiro.

Mateus me olhava com olhos curiosos enquanto eu transmitia um olhar de indignação, ele sabia que eu odiava estar daquele jeito. Eu sempre odiei ficar parada em um canto, pois sempre fiz exercícios físicos, sempre andava e cumprimentava as pessoas, agora me encontrava naquele estado...

—Se sente bem? – Mateus indaga, enquanto acariciava meus cabelos.

—Quando disse que queria voltar para casa – Falo dando uma pausa – Não disse que queria voltar para ficar deitada em uma cama. – Faço uma pausa, mas logo volto falando – Este quarto é magnificamente lindo, possuí lembranças perfeitas – Fecho os olhos, e dou um sorriso tímido – Quero sentar lá fora.

—Você quer ver algo em especial minha pequena? – Ele ainda possuía aquele jeito carinhoso de ser e de falar comigo. Mesmo eu estando um pouco velha... Já estava com quarenta e oito anos.

—Quero ver nossos filhos brincando, ver os cachorros correndo. As pessoas caminhando pelas ruas... Nossos netos...

—É bom sentir a liberdade não é minha querida? – Ele questiona enquanto afoga seu nariz em meus cachos – Já volto para lhe buscar, vamos arrumar a varanda, conversarei com Marcos, Gabriele, Enzo e com o Miguel.

Nós tínhamos quatro belos filhos, tão preocupados comigo, eu sempre amei todos eles. Começaram a questionar o porquê levar a mãe para a varanda sabendo que ela estava doente. Mas depois de muita conversa. Eles acabaram cedendo e achando que seria melhor mesmo eu ir.

Logo estávamos sentados observando nossos pequenos netos brincando com areia de nosso quintal, todos os planos que montamos havíamos conseguido conquistar. Ali estava Mateus e eu, juntos com nossos quatro filhos e três netos. Conseguimos montar tudo o que planejamos e isto é bom.

Ele chegou mais próximo de mim, e me deu um beijo em meus lábios. Nossos beijos ainda eram apaixonantes como se nos conhecêssemos hoje. Acariciou mais uma vez meus cabelos, e uma lágrima de emoção escorreram de meus olhos.

—Eu te amo.

Ele disse.

****

Eu estava com 22 anos...

—Helena! Helena! – Ouvi a voz de Mateus.

Eu estava ocupada depois que minha avó ficou doente, eu não possuía muito tempo para conversar. E eu não me lembrava muito bem de Mateus, para ser sincera não me lembrava de nada que vivi em minha vida.

—Desembuche, estou ocupada ainda não percebeu? – Falo enquanto dobrava algumas roupas que havia acabado de recolher do varal.

—Onde estão seus avôs? Vi eles passando pela estrada hoje de manhã, mas até agora não voltaram?

Seus olhos escondiam tantas coisas... Aqueles belos pares de olhos castanhos, seu cabelo desgrenhado, ele era tão lindo, tão único e ao mesmo tempo tão meu.

—Esta madrugada me lembrou de uma coisa que você sempre gostava de fazer no seu tempo vago, principalmente quando éramos crianças.

—Ah é? – Eu estava curiosa – É o que se trata?

Ele retirou de trás de si uma luneta.

—Isto.

—Oh meu Deus, Mateus... – Meus olhos se encheram de lágrimas


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