Born To Die escrita por Sabsyoda


Capítulo 12
Capítulo 11




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Jin prometeu-me que apareceria ali na biblioteca novamente, então eu esperei. Em minha imaginação, já conseguia vê-lo sentado em uma das cadeiras parecendo bastante confortável ao abrir seu sorriso simplista para mim.

Mas ele não apareceu. Nem no outro dia ou no dia seguinte a ele. Ou no próximo, e no próximo, e no  próximo...O engraçado é que, mesmo sabendo das baixas probabilidades dele aparecer, eu ainda sentia-me estranhamente animada ao esperar por ele. E no segundo em que me dava conta de que Jin não apareceria mais uma vez, bem, eu sentava em alguma cadeira esperando o tempo passar, para só então ir dormir.

Os dias passavam por mim tão rápido que não percebi de cara quando um mês se passou sem eu ver novamente o Jin.

As meninas não estranharam minhas idas à biblioteca num horário tão tarde e ninguém parecia suspeitar de algo. As aulas da professora Bae concentraram-se mais em nossa dança e canto, ao passo que a professora Lee e a Jeon revisaram boa parte de suas aulas. As outras matérias ainda seguiram normais, para não nos pressionar demasiadamente.

A perna de Wendy já estava melhor que há duas semanas atrás, contudo, Tiffany pediu que ela esperasse mais um pouco antes de tentar voltar para as Rebellis. Se algo desse errado e houvesse uma perseguição, talvez Wendy não fosse capaz de escapar. Essa informação deixou Seulgi bastante preocupada com a amiga, o que resultou em mais uma pessoa pedindo para Wendy esperar um pouco antes de tomar uma ação precipitada.

De modo que Wendy optou — após muita insistência da parte das meninas — esperar mais um pouco. "Não muito, caso contrário não consigo mais uma oportunidade boa para fugir" disse ela, resmungando ao ver a felicidade estampada em nossas faces.

Em parte, eu estava feliz com essa notícia. Wendy já se tornou demasiada próxima de mim e só de imaginar que o adeus entre nós está perto faz com que meu coração se aperte. Será bom tê-la por mais algum tempo.

Contudo, a preocupação me afligia toda madrugada. Eu compreendi quando ela disse que não poderia perder uma boa oportunidade para fugir. Ela está certa, com certeza. Agora, com todas as meninas preocupadas com vestidos, cabelos, boa forma e O Grande Dia, seria bem mais fácil fugir. Quando as coisas se acalmassem por aqui, como ela conseguiria fugir?

E exatamente como ela faria isso?

Tentei perguntar-lhe algumas vezes, mas ela tratava de desviar o assunto de maneira rápida. Via em seus olhos que ela tinha receio de me contar.

Por conta disso, parei de pressioná-la após algum tempo. Ela é minha amiga e se ela não está pronta para dizer agora, o certo é esperar que ela confie em mim o suficiente para se abrir mais.

Como Joy estava bastante ocupada ajudando as meninas responsáveis pela comida e revendo as aulas de História do País com Gain e Tiffany, acabei passando boa parte do meu tempo sozinha.

Não que eu não tenha tentado socializar com as outras meninas, nada disso, o problema é que eu não conseguia me interessar pelas mesmas coisas que elas ou encontrar assuntos que envolveriam todas.

Porque, para falar a verdade, qual garota ali conversaria sobre palavras proibidas? Sobre músicas favoritas — como se alguma delas tivesse uma?

Sobre o mundo que nos esperava lá fora e todas as regras que devíamos seguir?

Tentei passar um tempo com Momo, Mina, Tzuyu, Jiyoon e Eunji. A primeira era tão tímida quanto a segunda — mesmo Mina depois de ter me alertado sobre um possível perigo, ela não disse mais nada sobre o assunto — , o que resultou mais num silêncio conjunto de nós três na sala de estudos. Tzuyu já era mais comunicativa do que as outras e parecia mais a vontade para falar sobre o nosso casamento que estava por vir. Dava para ver em seus olhos brilhantes que ela ansiava por esse momento, sem nenhuma sombra de medo. Eunji e Jiyoon sempre dúvida alguma eram as mais dinâmicas e atrapalhadas do grupo, tentando a todo custo fazer Momo e Mina interagirem conosco — sem muito sucesso.

Com o passar da tarde acabei ajudando Suzy e Mijoo a arrumarem seu quarto, opinando quando questionada sobre quais vestidos eu considerava mais bonitos e o que eu esperava dessa mudança inesperada nas regras sobre o Grande Dia.

Mijoo e Suzy possuíam a mesma opinião sobre essa repentina mudança — seria bom para nós, pois poderíamos ter um tempo maior para escolhermos um rapaz.

Contudo, eu não queria escolher ninguém. Ao menos, não por enquanto. Essa ideia de que precisamos ter um homem para sermos aceitas na sociedade parece ser tão...errada. Como se não tivéssemos nosso verdadeiro valor. E o mais estranho de tudo é que a maioria das garotas pensa desse modo.

Por que, então, eu iria querer passar o resto da vida com alguém que só me veria como um objeto que iria comprar para exibir aos colegas?

Se esse fosse o caso, eu não seria eu. Todas essas regras, essas maneiras de como falar, se portar, sorrir e pensar na frente de um rapaz...Seria tudo uma mentira.

Como eu poderia passar o resto da vida com alguém pra quem eu mentiria todo dia?

E alguma hora essas mentiras acabariam? E se acabassem, o homem com quem casaria me aceitaria do jeito que sou?

Ajudar Mijoo e Suzy a arrumarem o quarto não foi uma boa ideia. Não consegui ficar por muito tempo lá e — após alegar estar um pouco cansada por causa da revisão das matérias em nossas aulas — logo me vi mais uma vez sozinha no quarto que divido com as garotas.

Não exatamente sozinha, já que Wendy estava dormindo ali. Sua expressão está serena e não parece que ela vá acordar tão cedo.

Suspiro, sentindo-me solitária. Eu não devia me sentir assim. Ou devia? Não, não devia. Poderia muito bem ir atrás das meninas para conversar sobre algo ou acordar Wendy para me contar sobre como eram as coisas antigamente. Antes das regras.

Mas sei que isso não mudará a sensação que tenho.

A sensação de que falta algo.

Sento em minha cama e tento me concentrar para descobrir o que me incomoda, o que sinto falta.

"Não posso prometer que voltarei amanhã. Ou no dia depois de amanhã. Só posso prometer que voltarei"

Fico surpresa por recordar do tom exato da voz de Jin quando ele disse aquelas palavras. A memória de seus olhos citrinos e seu sorriso simplista deixam-me estranha. Com certa relutância percebo que o algo que sinto falta é na verdade um alguém. Não imaginei que Jin poderia fazer tanta falta assim.

Saio da cama, devagar, esperando que Wendy não acorde com a movimentação do colchão de baixo. Ando até o guarda roupa que compartilho com as meninas e mexo na minha parte. Não demoro muito para encontrar o casaco de Jin e a caixa lilás com as fitas e o walkman.

Numa ação espantosa até para mim mesma, levo o casaco até a ponta do nariz sentindo o aroma delicioso vindo dele. Balanço a cabeça para tentar clarear os pensamentos e volto novamente para cama com todo o cuidado possível. Deixo o casaco atrás de mim, ponho a caixa lilás na cama e tiro a tampa, vendo todas as fitas e o pequeno walkman juntos.

Pego o walkman, o observando por um momento antes de pegar uma das fitas e botá-la nele.

Coloquei as pequenas caixas de som chamadas de fone nas minhas orelhas e apertei o botão, assim como Jin instruira antes.

Um violino começou a tocar e a voz suave da mulher veio após alguns segundos. Apesar de não entender nada por conta da língua estrangeira, a emoção que a música passou não foi menor por isso.

“Remember those walls I built? Well, baby, they're tumbling down. And they didn't even put up a fight they didn't even make up a sound…”

Escutei a música mais duas vezes antes de levar o casaco e a caixa de volta para o esconderijo no guarda roupa.

Mais tarde, quando me preparava para dormir, lembrei da melodia calma e suave da música.

~*~

No dia seguinte decidi tentar escutar as outras fitas que faltavam. Tentei escutar novamente no quarto, mas dessa vez as meninas resolveram passar o dia nele após as aulas. Dessa forma, o único lugar onde eu poderia escutar a música sozinha era na biblioteca — isso, é claro, esperando que nenhuma das outras garotas aparecessem por ali.

Peguei a caixa lilás enquanto Gain se distraía com a conversa de Joy e dei-lhes a desculpa de que iria passar um tempo na biblioteca.

A segunda fita que escutei por inteiro possuía uma música mais animada que as outras. E de novo, numa língua que eu não compreendia.

“Here's a dance you should know. When the lights are down low. Grab your baby, then go…”

Fiquei surpresa com a divergência entre as músicas. Mesmo não entendendo nada, ficava claro que cada uma era de um determinado gênero musical. Não que eu conhecesse muitos gêneros musicais, afinal, só escutavámos músicas consideradas apropriadas para nós. Existe uma rádio central para todas as escolas de garotas, onde escutamos tais músicas e as novas tendências de roupas e comidas. Dessa vez, a roupa da moda são os vestidos delicados ao invés dos conjuntos blusa e saia. E o acréscimo de um novo ingrediente no mingau de sempre que comemos parece estar fazendo bastante sucesso.

Fiquei sabendo disso ao esbarrar sem querer em Jiyoon e Eunji e quase derrubar a caixa lilás no chão. Por sorte, as duas estavam tão animadas com as novidades que não pareceram perceber a caixa em minhas mãos.

~*~

“Today is gonna be the day that they’re gonna throw  it back to you. But now you should’ve somehow realized what you gotta do. I don't believe that anybody feels the way I do about you now…”

A terceira música eu escutei quando a professora Lee nos levou para pegarmos sol no final de semana. Nem sempre fazíamos isso, pois mesmo que não chovesse muito por aqui se comparado com outros lugares, o clima ainda assim não era propício para o sol.  Então quando ele aparecia, a professora sempre dava um jeito de aproveitarmos na quadra de nosso campus por duas horas.

Mesmo querendo muito sentir o sol na minha pele, inventei uma desculpa para permanecer em nosso dormitório — no caso, na biblioteca.

Durante meu tempo na biblioteca escutando as músicas, resolvi procurar um livro que falasse sobre essa língua estrangeira. Inglês, ele havia dito. Consegui encontrar um ou dois livros bem surrados na minha busca. Sinto-me frustrada por não ter decido fazer aulas complementares de inglês nos finais de semana, já que certamente isso me ajudaria a compreender as músicas.  Levei-os comigo na volta para o quarto certa de que poderia tirar bom proveito deles e sem ter que escondê-los de ninguém.

“Share my life take me for what I am cause I'll never change all my colors for you. Take my love I'll never ask for too much. Just all that you are and everything that you do…”

~*~

De noite quando todas já estavam dormindo, tive a ideia de escutar pelo menos uma fita inteira. Travei por completo quando Tiffany murmurou algo em sua cama, mas percebi com um alívio que ela estava apenas falando durante o sono.

Demorei um pouco para voltar a escutar a música que parei rapidamente por conta do murmúrio de Tiffany, mas não muito. Percebi que a vontade de escutar as fitas que Jin deixara para mim era maior do que eu pensava. Naquela noite, eu escutei duas fitas inteiras.

“You're just too good to be true can't take my eyes off of you. You'd be like heaven to touch I wanna hold you so much…”

Apesar de ser divertido escutar músicas diferentes — especialmente a última que consegui ouvir por completo — e sentir o coração quase parar ao pensar que alguém vai descobrir o que está fazendo — esta parte me deixa realmente angustiada —, eu podia sentir que a sensação de faltar algo ainda não havia passado.

Tento ler um dos livros que peguei, sem muito sucesso. Conversaria mais tarde com alguma das meninas e tentaria descobrir qual delas optou por fazer aulas complementares — e eu espero que a aula escolhida em questão não tenha sido chinês.

Eu estava sentada na biblioteca guardando a última fita que escutei dentro da caixa lilás quando Joy e Gain entram na sala exalando euforia.

Yerim! Ah, Yerim, você não vai acreditar! — Joy quase gritou, dando pulinhos em minha frente. Gain ao seu lado possuí um sorriso enorme nos lábios.

— Conte logo a ela, Joy! — Gain reclama, sem perder a animação — Antes que eu conte.

— Está bem, está bem! —Joy balança as mãos e solta um gritinho ao parar de pular. Olho para as duas, confusa.

— Contar o que? — o que será que as deixaram tão felizes assim? Talvez seja o novo ingrediente no mingau. Joy faz parte da equipe da cozinha e ama cozinhar, se ela soubesse que existe um novo ingrediente a ser usado nas comidas provavelmente ficaria nas nuvens.

— As regras do Grande Dia mudaram de novo!

Demorei um pouco para assimilar o que escutei, mas quando o fiz, não pude deixar de ficar espantada.

— Como assim "mudaram de novo"? — questiono, ainda mais confusa que antes.

— Lembra que por algum acaso incrível as regras mudaram e nós não iríamos mais conhecer os rapazes só no Grande Dia? — digo que sim e Joy continua — Pois então, elas mudaram de novo! Nós não vamos mais conhecer os rapazes uma semana antes do Grande Dia.

— Não? — então a animação das duas era por conta disso? Estranho. Na perspectiva que eu tinha, elas estavam bastante animadas com essa mudança de antes. Principalmente Joy.

— Não — Joy solta uma risadinha e Gain a acompanha — Vamos conhecê-los daqui dois dias!

Sinto meu queixo caindo e as duas riem da minha expressão. Não encontro palavras para descrever o meu espanto com tal informação. Nem ao menos consigo respondê-las de imediato.

— Eu sei, eu sei, é extremamente incrível e aterrorizante — Joy diz, sentando na cadeira ao meu lado. Gain faz a mesma coisa, observando-me, esperando alguma reação positiva, creio eu — Sinto meu estômago embrulhar só de pensar nisso, mas ao mesmo tempo fico tão feliz com essa notícia.

— Quando a professora Lee nos contou, ninguém no começo acreditou — Gain fala, enquanto Joy puxa minhas mãos e as segura, tentado passar conforto. — Afinal, como poderíamos? A própria professora Jeon nos informou da mudança nas regras e mesmo assim lá estava a pequena e engraçada professora Lee nos dizendo que elas tinham sido mudadas mais uma vez. E dizendo que nos encontraríamos com os rapazes daqui dois dias! Simplesmente daqui dois dias!

— Eu pensei que fosse infartar quando ela nos assegurou que a notícia era verdadeira — Joy confessa, as bochechas ficando róseas — A professora Lee disse que os rapazes ficaram tão ansiosos quanto a gente e pediram para nos conhecer com mais antecedência do que apenas uma semana do Grande Dia. Como já estávamos mudando as regras esse ano, o governo concordou com tal pedido. Que maluquice, não é? Até parece um sonho.

— Viemos contar para você assim que ficamos sabendo! — Gain comenta, seus olhos indo da caixa lilás e os livros até meu rosto — Pensamos que você estaria no quarto, mas Wendy disse que você estava aqui.

— Você perdeu nossa hora no sol para ler? — Joy indagou, apontando a unha pintada de esmalte verde para os livros.

— Não são qualquer livros. São livros de inglês — digo, vendo a confusão se aumentar no rosto da meninas. — Eu queria aprender um pouco sobre essa língua, mas não estou obtendo muito sucesso.

— Por que não pediu ajuda para Sandara? Ela faz aulas complementares de inglês — Gain diz. Sua expressão se contorce numa careta por dois segundos e então ela me olha novamente animada — Mas então, o que achou da notícia?

Ahn...Legal? — eu não sei como reagir. Gain revira os olhos e Joy suspira.

Francamente, Yerim, acho que você deveria estar um pouco mais animada — Gain resmunga e Joy concorda, ambas parecendo frustradas — Todas nós sabemos que da escola você é a mais qualificadas para se casar com alguém importante, mas parece que você não liga muito para isso.

Fico boquiaberta mais uma vez. Desde quando eu sou a mais qualificada da escola? Suspiro, sem saber de onde surgiu essa verdade escolar. Em meu ponto de vista, sou a menos qualificada para tal feito. Se alguém era qualificada, esse alguém era Miryo, mas como ela sofreu o acidente só consigo pensar em Nana, Tiffany, Gain e Joy. Elas com certeza são bem mais qualificadas do que eu.

— Não é isso. É só que essa notícia me pegou de surpresa — e realmente o fez. Não esperava encontrar alguém do sexo masculino tão cedo...bem, não outro alguém.

A animação volta aos olhos das duas e Joy bate palma de repente.

— Bem, se é só isso mesmo...Temos que ver qual dos vestidos você vai usar amanhã!

Vestidos? — a palavra quase engasga em minha garganta. Parece que a nova tendência está realmente tomando força por aqui. — Mas eu não tenho nenhum vestido.

— Você não tinha nenhum vestido. Preste atenção ao verbo no passado — Joy possuí um sorriso maroto nos lábios — Nós também temos uma outra surpresa para você.


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