Nações de Bronze escrita por The Thief


Capítulo 1
Uma História das Boas


Notas iniciais do capítulo

Caramba, lá vamos nós de novo :v é Bem difícil começar uma nova fic (ainda mais recomeçar uma que você já tinha escrito antes), mas eu estou otimista. Eu realmente espero que você leitor goste do que eu escrevi, e se tudo der certo, em breve teremos o capítulo dois!



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O último dia de nossas vidas

 

— O que está fazendo aqui? — O general observava o menino quando uma gota da chuva fina que caía na cidade ameaçou invadir seus olhos.

Ajeitou seus cabelos negros, deslizando a franja molhada de chuva para a esquerda e se livrando do uniforme de camurça vermelho de gola alta, pois pinicava muito o pescoço, além de ser justo demais. Aquele garoto era talvez a única pessoa no mundo que ele verdadeiramente gostava, admirava, amava até.

Talvez por isso sua face se entristeceu, quando, naquele beco das favelas da Cidade-Estado de Cidade Lamparina, Tom Dogue Deane lhe apontava um revolver prateado, com as mãos tremulas, e chorando, bradava:

Já chega! Não vou mais participar disso. — Tirou uma das mãos da arma e jogou a boina marrom encharcada no chão agressivamente — Não entende? Você não está salvando ninguém, você não está protegendo ninguém, tudo isso, toda essa merda, não passa de assassinato!

 

As gotas d’agua escorriam pelas paredes dos prédios que formavam a viela, perto do chão, já carregavam consigo o lodo que se formava ali graças a falta de cuidados. Detrás do general, jazia um cadáver desfigurado, esmurrado até a morte pelo braço mecânico do impiedoso militar. Ele deu alguns passos lentos e singelos em direção à criança, quando foi detido pelo levantar tremulante da mira.

— Maldito o dia, maldito o dia em que aceitei tudo isso! Você devia ter me largado naquele reformatório! — Ele chorava e não conseguia manter a arma apontada para aquele que, talvez, fosse o mais próximo de uma figura paterna que teve em anos. — Eu amei você, droga! Você me acolheu de uma forma... que eu me senti bem-vindo finalmente, eu estava errado Getúlio?

Ele permanecia em silêncio, escorado em um cano de metal rente ao prédio a direita. A chuva engrossava, e o céu ficava cinzento.

— Eu fiz uma pergunta! — Gritava descontroladamente, sacudia a arma para lá e para cá, sua expressão era terrível e não devia estar jamais em um rosto de criança, mas estava, e a culpa, Getúlio sabia, era toda dele...

Menos de dez minutos depois, podia-se ouvir um tiro seco, que logo foi abafado por uma trovoada ensurdecedora.

Capítulo 1:

 

Uma história das Boas

 

Era uma história das boas, daquelas que se conta para os amigos e eles duvidam.

Cidade Lamparina, Nova Oventure: os becos e vielas eram recheados de moradores de rua e de verdadeiras minicidades entre prédios. Tudo desmontável, feito de papelão e vigas de madeira.

Nas madrugadas, a praça da feira livre virava uma verdadeira sala de confraternização, onde os mendigos contam suas histórias, muitas fictícias, sobre as façanhas daquele dia.

Mas a história que contavam era real, ao menos segundo eles dois.

— Tá bom, eu vou tentar te explicar Roger! — Tom e seu melhor amigo estavam em uma das rodas de desabrigados, com direito a uma fogueira dentro de um barril de metal.

Roger estava sentado em um pneu rasgado, como se tivesse sobrevivido a uma explosão. Ele tentava entender como exatamente o Ford T do Senhor Roman, um sapateiro local, havia explodido e custado aos dois tamanho trabalho para fugir da figura furiosa que queria, e ainda quer, matar ambos os garotos.

Roger duvidava de que tinham participação naquilo, apesar de estar sentado no último pedaço inteiro do calhambeque.

— Tinha esse cara, um metro e oitenta, uniforme militar vermelho e um braço de metal, então ele...

— Tom! — Carlos o interrompeu — Você tá começando do final, tem que contar a história desde quando acordamos hoje, se não ela fará sentido algum.

— Do começo, né? Ok então, nós decidimos então ir pegar roupas novas para nós... Então o dia mais louco de nossas vidas aconteceu.

Nessa manhã...

A sapataria do Roman era uma das mais populares da região, pois além do concerto e compra e venda de sapatos, ultimamente ele também vinha pondo roupas infantis com uma qualidade decente a venda, terninhos, meio-fraques, fraques e vestidos simples. Nada muito glamoroso, mas o suficiente para pais com renda um pouco menor conseguirem vestir seus filhos como a sociedade esperava.

A loja de Roman era pequena e com o segundo andar inaugurado recentemente para a novidade das roupas, ele estava faturando quase o dobro. Ostensivo como era, tratou logo de comprar um carro em evidência, um Ford T, na cor azul perolado.

Ele o pôs na frente de sua loja, atraindo assim a atenção de admiradores de carros e também de alguns invejosos. Protegido pela sombra do seu novo segundo andar, ele aproveitava os olhares curiosos, e, sobre vãs promessas de que poderiam dar uma volta em seu carango, ele fazia com que todos renovassem os guarda roupas de filhos, enteados e afilhados.

Claro que com tal tática, ele formou alguns rivais nos negócios, porém aumentou em muito sua clientela.

— Então é ali que você quer pegar roupas, com o maluco do Roman Roland? Eu é que não vou, tenho amor a minha vida e ouvi falar que o último que tentou roubar algo da loja dele levou uma surra de taco de madeira.

— É, eu vi o Lucas, ele estava horrível mesmo. — Tom fez uma careta ao lembrar-se do estado do garoto — Eu nem sabia que era possível virar o braço naquela posição, bem, ao menos ele vai conseguir lamber o cotovelo. — Deu de ombros.

— Você tá brincando, não é? — Carlos parecia assustado — Não, não, não, não! Eu é que não entro ali! — Sacudia a cabeça em negativa.

— Quem falou em entrar em qualquer lugar? — Um sorriso maldoso acometeu Tom — Distraia-o Carlos, distraia-o com maestria, me deixe fazer minha mágica.

Aquela região cheirava a cachimbo com fumo velho, o que fazia com que Carlos ficasse o tempo inteiro reclamando. Irritado pela demora do amigo, Tom deu um tapa em suas costas.

— O que está esperando, deixe de chatices e vá logo!

Ele começou a caminhar, e a cada passo, seu sapado desgastado era encharcado pelas poças formadas no chão mal nivelado.

Mesmo assim, com uma confiança análoga a sua personalidade, ele com as mãos nuas um pedaço solto de paralelepípedo, e, na atitude mais irresponsável e impulsiva de sua vida, bateu com o lado pontiagudo da pedra no para-brisas do Ford T.

Uma.

Duas.

Cinco vezes.

Gritou na última. Por um momento, Tom, já em posição para adentrar a loja e pegar as roupas, ficou atônito observando o que Carlos estava fazendo. Este momento passou quando Roman Roland apareceu, já com o taco de madeira em mãos, correndo em disparada contra o garoto que tinha uns seis segundos de vantagem.

Entrou na pequena loja, com quatro grupos de estantes com três prateleiras cada, todas repletas de sapatos masculinos e uma única dedicada a sapatilhas e sapatos de salto, o público feminino era minoria em seu ramo.

Olhou então para o balcão, para checar se ninguém estava ali para cobrir o patrão. Por sorte, estava vazio, mas se ouvia o murmúrio ao fundo da porta coberta por um pano. O balcão estava com materiais para concerto e um caixote de engraxate com um nome gravado.

— Tália, droga, de todo mundo, tinha que ser você? — Sussurrou lembrando-se de sua amiga. — Tudo bem, é só pegar o que vim pegar e sair antes que ela apareça.

Subindo por uma escada em espiral, o garoto notou que as paredes ao seu redor e até o piso novo era diferente do resto. Isso mostrava que aquela escadaria foi posta depois, fruto das reformas para ampliar a sapataria.

Ao invés de prateleiras, o segundo andar era repleto de araras cheias de roupas e, diferente do andar debaixo, os vestidos e roupas para meninas eram maioria ali.

Para Carlos, escolheu uma roupa “mauricinho”, uma camiseta moletom quadriculada, com gravata e short azul marinho, para ele, o de sempre, uma camisa social e um colete, com um babador branco.

E só.

Tom aprendeu rápido que a maior vergonha de um ladrão era roubar e não poder carregar. Pôs tudo em uma sacola e ignorou os sapatos de velho, desceu as escadas com pressa e, quando alcançou a porta, ouviu seu nome.

— Tom, o que isso significa? — Era Tália, uma garota com aproximadamente anos, alta e com uma expressão séria e repreensiva, o olhando de cima a baixo. De pele negra e cabelos crespos presos em um coque, seu olhar zangado e lábios proeminentes exalavam indignação.

— Olá Tália, como vai a vida de adotada? — Sorria de forma malandra, como se pudesse disfarçar o que estava fazendo com um papo.

— Devolva, não vou ter problemas com meu pai por sua culpa.

— Não sei do que está falando! — Pôs a sacola na calçada, fora do campo de visão dela e mostrou as mãos vazias — Eu não peguei nada.

Ela abriu a portinhola do balcão e começou a andar na direção de Tom. Tália era um ano e alguns meses mais velha que ele e era bem maior, ele levaria uma surra da garota facilmente, não fosse a distração barulhenta que viria a seguir.

— Eu peguei a chave dele! Tom, eu peguei a chave dele! — Balançou a chave do automóvel para lá e para cá, havia não só despistado Roman, mas, ao fazer o caminho de volta, notou que ele deixou cair sua carteira e as chaves na corrida.

— Por Deus Carlos, você se superou dessa vez! — Carlos jogou a chave no ar, deixando Tália sem reação diante do absurdo da cena. Tom saltou para frente, agarrando a chaves. Então, pelo para-brisas quebrado, lançou a roupa roubada, entrando no carro em seguida.

— E-ei! Não façam isso, vocês vão acabar comigo se fizerem! — Tália parecia desesperada — Por favor, Tom, Carlos, não façam isso, não acabem com minha vida assim.

— Ele é seu pai agora, vai te perdoar. — Disse Carlos em sua inocência juvenil.

— Vocês não entendem. — Seus olhos enchiam-se de lágrimas.

— Parece que foi você que esqueceu como é viver como nós, Tália. — Tom ligou o carro, e levantou a alavanca do acelerador.

— Tom, não! — O carro começou a andar, ao fundo se via Roman correndo desesperado na direção das crianças. Largou o taco para poder correr melhor, e bradou.

— Eu vou matar vocês seus filhos da puta! Saiam de meu carro agora, ou pelo profeta, juro que esfolarei vocês vivos moleques!

— Até mais, Roman! — Carlos acenou e deu um sorriso de orelha a orelha, que uniu suas sardas em uma só, contrastando com sua pele branca e cabelos ruivos.

O Ford T iniciou seu caminho, Tom já havia visto um homem dirigindo um automóvel, então seguiu os passos que se lembrava, porém, era bem mais complicado do que aparentava. Conseguiu virar a esquina sem problemas, mas, começou a perder o controle na descida. O veículo ziguezagueava de forma capenga, por pouco não acertou um cavalo acoplado a uma carroça, mas não teve a mesma sorte com o poste.

Com as mãos na cabeça, Roman Roland ficava rubro de fúria, entrou na sapataria e dessa vez saiu com uma escopeta de cano serrado em mãos, bufando e andando a passos pesados.

Os meninos saiam tossindo do carro, Carlos ralou o joelho e Tom bateu a cabeça no volante, lhes renderiam um galo feio, mas nada além disso. Pegaram suas roupas e já iam iniciar outra fuga, quando viram o trabuco.

— Moleques de merda, vou acabar com vocês agora! — Era pura cólera, as pessoas começavam a se aglomerar tamanha a barulheira, nunca viram Roman daquela forma, acostumados ao gentil vendedor.

— Ou, ou, ou! Fica calmo Roman — Tom colocou as mãos em frente ao corpo, e andando para trás lentamente — eu sei que a gente saiu um pouco do controle aqui, mas...

— Calem a boca! Mendigos de merda, calem a droga da boca! — Fungou a coriza, saliva escorria por entre os dentes.

Carlos e Tom se entreolhavam, Carlos começava a chorar, era o mais novo e medroso, Tom sempre foi astuto e espertinho, mas não sabia o que fazer naquela situação, era óbvio que iam morrer.

Iriam ao menos, não fosse mais uma vez a sorte dos diabos que os seguia: uma fumaça preta começou a sair do motor do carro, logo se transformando em chamas crescentes, labaredas.

— Isso não... Tália, traga um balde de água, agora! — A garota pulou de susto, correndo para a loja na esquina da rua para encher os baldes.

Ele virou-se, pôs a arma no chão e tirou o colete de seu terno, usava-o para tenta apagar o fogo dando constantes batidas, logo, o próprio colete entrou em chamas também, o obrigando a larga-lo no chão, e esperar a vinda de Tália, que, mesmo magricela, carregava dois baldes cheios de água, como se tivesse prática.

As pessoas que assistiam se afastaram todas, Roman fez o movimento para jogar o balde, quando um homem loiro pulou em sua direção, e um de uniforme militar vermelho agarrou a menina e jogou seu balde longe.

Logo após, a explosão.

Carlos e Tom há muito iniciaram sua corrida de fuga, mas viraram para olhar as chamas que alcançaram alturas incríveis. Viram então um homem segurar uma porta em chamas que voou em sua direção com a mão nua, e jogá-la sobre sua cabeça, só então notaram que ele tinha um braço de ferro.

— Aquilo foi legal pra caramba! — Carlos ficou admirado com o homem que mais parecia ter saído das revistas em quadrinhos que roubavam.

— Foi sim, mas um cara com uma escopeta quer nos matar, lembra? Vamos logo! — E fugiram, usando de becos e vielas para escapar do sapateiro enfurecido.

Atualmente...

 

— Bem, foi isso! — Um vento frio batia com o fim da história, as pessoas olhavam para eles sem saber o que dizer, um silêncio confuso se formava na roda de desabrigados.

— Pelo profeta, Tom, Carlos — Roger quebrava o silêncio — Como estão? Isso foi estúpido demais até mesmo para vocês! — Ele realmente parecia preocupado, sendo o único adolescente do grupo, se via com uma responsabilidade de irmão mais velho sobre os garotos. — Vocês precisam, precisam... Deus, vocês precisam dar o fora de Cidade Lamparina, Roman é maluco, ele vai acabar com vocês.

— Não parecia tão preocupado assim antes. — Tom parecia tranquilo, o que enfurecia Roger.

— Isso é porque eu pensava que era um conto da carochinha, uma dessas histórias absurdas que contamos na fogueira para fazer os outros rirem, mas vocês citaram até mesmo o Getúlio, ninguém sabia que ele estava lá.

— Getúlio? Quem é Getúlio? — Perguntou Carlos, brincando com os cabelos encaracolados.

— Ele pediu para que não divulgassem a informação de que ele estava aqui em Cidade Lamparina, eu só sei porque tenho contatos que diziam que ele estava rondando uma região onde havia ocorrido um acidente de automóvel, agora que eu liguei as coisas... Ele havia dito que era o carro do Roman... Getúlio é um monarca, Carlos, ele é o homem com braço mecânico que viram.

— Monarca? Quer dizer, um dos quatro Monarcas do Bronze? — Tom parecia surpreso.

— Exatamente, Um Monarca do Bronze...

 Olhou para os garotos, seus sorrisos tinham sumido.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! O próximo capítulo sairá em breve e se chamará "Formas de Poder".
Até lá!



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