“Não é apenas tesão, porque eu passaria o resto da minha existência fazendo carinho nos cachos do seu cabelo se eu não o amasse?”

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― Então amor, são onze jogadores de cada time, um árbitro que se ocupa da correta aplicação das normas e um juiz. ― Nicolas concluiu o que falava para Ariel e sorriu satisfeito consigo mesmo por sua explicação rápida sobre os componentes de uma partida de futebol.

― Está bem, e você acha que eu vou me lembrar desse monte de coisa que você me falou? ― Ariel disse dando de ombros. ― Eu continuo achando isso uma perda de tempo, poderíamos estar fazendo algo divertido, sei lá, poderíamos sair e namorar um pouco.

― Você precisa lembrar! ― Nicolas pediu carinhosamente fazendo um carinho na perna do namorado. ― Poxa amor, a galera vem pra cá ver a final do campeonato, e...

― E nada, Nicolas Bragança. Você está sempre me metendo em roubada. Cada vez é uma nova. Na última semana foi a sua irmã que ficou aqui, e agora isso? Nós vamos deixar de sair para fazer algo divertido para nós para encher a casa com um bando de marmanjo tomando cerveja, arrotando, peidando e gritando ao som de gols? ― Ariel disse e não parou. ― Não que eu não goste da Jude. Eu adoro a sua irmãzinha, mas ela deu trabalho apenas para mim, já que você ia trabalhar e a deixava comigo. E dessa vez será a mesma coisa, você vai trampar amanhã e a bagunça ficará somente para mim. Estou cansado disso.

― Eu sei, mas... Eu vou ajudar, eu vou arrumar a bagunça. ― Nicolas tentou com um sorriso de anjo nos lábios.

― Eu vou terminar de preparar a janta. Eu realmente tenho muitas coisas para fazer. ― Ariel disse baixinho e saiu para a cozinha.

Nicolas soube naquele exato momento que algo estava errado com seu namorado, e ele precisava descobrir o que era. Só não iria ser agora. Deitou-se no sofá novamente e voltou para o cochilo.

A noite realmente foi muito tranquila, os dois dormiram como sempre: agarradinhos. Mas no outro dia a realidade foi outra. Quarta feira. Nicolas levantou cedo e ficou olhando seu namorado dormir. O garoto tinha um olhar triste, diferente. Nicolas sacudiu os ombros como se tivesse se arrepiado, foi um calafrio. Ignorou a sensação ruim e foi trabalhar.

Ariel acordou um pouco tarde aquele dia, estava com o mau humor matinal habitual e caminhou até o banheiro pequeno do seu quarto. Ao se olhar no espelho viu um bilhete colado.

― Ele lembrou. Ele realmente lembrou. Oh céus que carinhoso esse meu namorado! ― Ele falou sozinho enquanto arrancava o bilhetinho do espelho, abriu o bilhete todo feliz.

“Não se esqueça de que hoje é dia do futebol, arrume a casa e lembre-se de preparar muita comida, e ah... Antes que eu esqueça, vá buscar as bebidas com o senhor Araújo no bar da esquina, eu já deixei pago. Eu ficarei muito grato, e lembre... Eu te amo. ― Nicolas.”

Ariel rasgou o bilhete com fúria e jogou no lixo do banheiro, lavou seu rosto irritado. E sentiu vontade de chorar. Ele apoiou as duas mãos no rosto e ficou em silêncio um pouco, respirou profundamente e depois se olhou.

― Mi mi mi buscar as bebidas... Argh!  Eu quero que você vá tomar no cu Nicolas! – Ele disse bravo e escovou seus dentes com pressa. Logo saiu do banheiro e foi direto para a cozinha. Ariel comeu torradas quando ouviu batidas fortes na porta do apartamento e se assustou.

― Já vai! ― Ele gritou e engoliu o resto do seu achocolatado, então correu para abrir a porta.

― OOOOOOOOi ― Disse Jason, o vizinho do forró totalmente animado. ― Tudo bem vizinho?

― Você é... ― Ariel perguntou irritado. Era manhã e já tinha um vizinho chato em sua porta?

― Jason! ― Jason estendeu a mão. ― É um prazer finalmente conhecer o novo vizinho!

― É... Prazer... Realmente! ― Ariel disse nada feliz.

― Posso entrar? ― Jason pediu.

“Não!” Ariel pensou, mas sorriu sem graça. Ele sentiu vontade de bater a porta na cara do loiro, mas sorriu ainda mais largo e permitiu a passagem.

Jason logo se jogou no sofá e arrancou o tênis. Ariel sentou no sofá que ficava em frente e então sentiu o cheiro de azedo de chulé que embrulhou seu estômago. Ele foi educado e não abanou o nariz.

“Que porco!” Ele pensou com vontade de bater no garoto em sua frente, mas apenas sorriu.

― A que devo a visita? ― Ariel perguntou, querendo saber logo do motivo e então mandar o vizinho porco embora.

― Ah eu vim te conhecer, saber como é sua cara. Já que o seu namorado eu já conheço. Ele foi esses dias reclamar do barulho. ― Jason disse rindo como se reclamar de barulhos insanos num sábado pela manhã fosse à coisa mais normal do mundo.

― Então é você, seu filho da puta do avião do forró? ― Nico resmungou bravo encarando o vizinho.

Jason riu.

― Ora, não fale palavrão docinho. E na verdade é aviões. ― Jason falou alto e continuou rindo.

― Pelos deuses, não me chame de docinho. E eu estou pouco me fodendo para o plural da sua banda, eu só quero dar um aviso que... ― Ariel começou a dizer entre dentes, porém, foi interrompido pelo celular de Jason que tocou uma música super dançante. Um pouco alto por sinal.

― Eu adoro essa, até coloquei de toque! ― Jason disse enquanto dançava ouvindo o celular chamar.

Ariel se irritou de vez.

― Não vai entender? ― Ele falou sério e indicando o celular na mão do outro que dançava mesmo estando sentado.

― Ah é! Eu sempre esqueço. Eu amo mesmo essa música! ― Jason riu e atendeu seu celular.

Jason ficou pelo menos por meia hora conversando, rindo e cantando no celular. E pela conversa Ariel pode notar que ele era veado. O papo foi resumido entre dançar e macho. Depois dos trinta minutos Jason se levantou e se despediu de Ariel, dizendo que tinha adorado a conversa. Ariel bufou, não entendeu qual conversa ele tinha adorado a do celular ou a mine conversa que os dois tiveram.

O dia passou rápido, e Nicolas chegou um pouco mais tarde do trabalho já com seus amigos.

Leonardo, Rafael e Victor.

Claro que suas namoradas acompanharam os rapazes. Era realmente muita gente para um espaço pequeno. Ariel estava querendo surtar.

― Oi! ― Ariel disse recebendo todos em sua casa. Não fez questão nenhuma de demonstrar que eles eram bem vindos.

Os rapazes foram direto para a tevê assistir o jogo que começava, enquanto Ariel ficou com Lúcias e Ana. As namoradas.

― Garotos e suas idiotices! ― Disse Ana demonstrando todo o seu desprezo por futebol.

― Concordo! ― Ariel bufou. ― Qual a graça nessa porcaria?

― Ah futebol é um esporte legal. ― Disse Lúcia sorrindo de um jeito estranho.

― Fala sério, Lu. Ninguém merece o dia do futebol. Olha como eles ficam! ― Disse Ariel apontando para os garotos que estavam vidrados vendo o jogo.

― É você tem razão... ― Disse Lúcia. ― Eles parecem idiotas, mas os jogadores, alguns são bem gostosos.

Ninguém riu. Então Lúcia fez uma cara de “ninguém vai mesmo rir?” Ninguém riu.

― Então, o que tem de bom pra fazer? ― Perguntou Ana. ― Ah e antes que eu me esqueça, eu trouxe esses anéis de diamantes para vocês. Eles estão divinos e com preços ótimos.

Lúcia riu satisfeita e bateu algumas palminhas, a garota sentou na cadeira da mesa que ficava na cozinha. ― Não acredito que você está vendendo joias. ― Ela disse toda contente para a amiga.

― Ah é divertido. ― Disse Ariel sentando e começando a olhar as joias.

― GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL ― Gritaram os rapazes da sala. Eles pareciam mesmo animados, pelo jeito o time deles estava ganhado a partida.

Os três que estavam na cozinha se assustaram.

― Gente eles levam isso a sério demais. ― Ana reclamou inclinando a cabeça para olhar os garotos na sala.

― Nem me fala. O Nicolas preferiu ver essa porcaria de jogo invés de sair comigo para comemorar nosso aniversário de namoro. Eu sei que estamos morando juntos agora, mas ainda é importante para mim. Eu não quero que a gente caia na rotina, sabe? Que passemos a ser aqueles casais chatos.

― Não acredito que ele fez isso! ― Ana reclamou parecendo realmente muito indignada.

― Ah normal, o Leo sempre faz essas merdas! ― Lucia disse desapontada e parecendo triste, não só pelo amigo, mas por ela mesma.

― Nós estamos há tanto tempo juntos, e morando na mesma casa a tão pouco e ele simplesmente ignorou... Ele está agindo como se nosso relacionamento estivesse já saturado. E eu sinto como... Eu sinto como se realmente tivesse. Acho que nós, eu e ele cometemos um erro. Ele parece um desconhecido para mim agora que moramos juntos. ― Ariel disse desanimado e segurando algumas lágrimas que queriam descer.

― Talvez ele apenas... ― Lúcia começou a falar com carinho, mas se calou quando ouviu o grito.

― GOOOOOOOOOOOOOL!  É mais um, porra! ― Os rapazes gritaram e riram batendo alguma coisa na sala.

Ariel olhou com desprezo de onde vinha o som.

― Não fica assim talvez ele preparou algo para depois do jogo. Quando a gente for embora, eu tenho certeza que ele terá algo preparado só para vocês dois. ― Ana tentou animar amigo.

Ariel apenas sorriu e os três voltaram a conversar. O garoto sabia que não iria ter nada para ele depois.

Depois do jogo todos foram embora, mas antas Lúcia convidou Ariel para seu chá de cozinha, ela e Leo tinham resolvido casar, Ariel disse que iria sim, mas sentia-se triste pela amiga, ele sabia o que a aguardava.  Ele abraçou a loira forte.

― O jogo foi lindo amor! ― Nicolas disse se deitando no sofá parecendo totalmente eufórico.

― Sim... ― Ariel falou por fim.

― Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
Fascina pela sua disciplina
O Fluminense me domina
Eu tenho amor ao Tricolor. ― Nicolas começou a cantar.

Ariel olhou aquela cena já conhecida, ele já tinha visto muitas vezes durante os anos que estão juntos. Então tampou os ouvidos com as mãos.

― Vai mor... Canta comigo! ― Gritou Nicolas e subiu no sofá. E começou a gritar.

Vence o Fluminense
Com o sangue do encarnado
Com amor e com vigor
Faz a torcida querida vibrar com a emoção
Do Tricampeão

Ariel olhou agora irritado. Ele respirou fundo e sentiu vontade de chorar.

― C H E G A! ― Ele gritou e ficou encarando o namorado. Estava nervoso e sentia o corpo tremer levemente.

Ele olhou e viu Nicolas se sentou no sofá de novo. O namorado parecia confuso.

― Você sabe que dia é hoje? ― Perguntou Ariel.

― Dia de campeonato? ― Nicolas perguntou. ― É, foi o dia da final do brasileirão, amor. ― Ele respondeu sorrindo animado.

― Errado! Hoje era nosso aniversário de relacionamento. E você esqueceu, esqueceu por causa de uma droga de jogo. ― Ariel resmungou agora sentindo as lágrimas rolarem pelo rosto.

― Ah é...  É verdade... ― Nicolas falou confuso e coçou a cabeça.

― Eu não mereço dia de futebol, as meninas não merecem dia de futebol. NINGUÉM MERECE DIA DE FUTEBOL! Essa bosta é apenas uma perda de tempo. ― Ariel gritou sentindo as lágrimas rolarem por sua face com mais força.

― Amor... ― Nicolas falou baixinho, ele se sentiu um idiota agora.

― Eu vou sair! ― Ariel disse secando suas lágrimas.

― Aonde você vai! ― Nicolas perguntou nervoso.

― Eu vou para casa do meu pai. ― Ariel disse triste e encarando o namorado.

― Não, você não vai! ― Nicolas disse levantando e tentando segurar o namorado.

Ariel não deixou Nicolas tocar nele. O jovem se esquivou e se abraçou. Ele abraçou o próprio corpo sentindo o choro lhe tomar novamente.

― Fica com o seu dia do futebol! ― Ariel disse sério e caminhou em direção à porta. O garoto se virou para o namorado. ― Eu não quero que você vá atrás de mim, e nem me espere. Eu não volto hoje. ― Ele completou e saiu.

O coração de Nicolas doía, pela burrice que tinha feito.

Mas o de Ariel doía bem mais. O garoto tinha total certeza que levar essa vida de casado tinha sido o maior erro em sua vida.

O que poderia ser feito para refazer uma burrice tão grande como essa?