Electus escrita por Khaleesi


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Adivinha quem fica se coçando para postar logo quando acaba o capítulo? Euzinha.
Então, aqui está o mais novo cap dessa confusão toda.
Assim, desejo-lhes uma boa leitura.



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Capítulo 11

 

Desmaiar devia ser minha especialidade. Perdi a conta de quantas vezes perdi a consciência em momentos tensos aqui em Eldarya. Se fosse no meu mundo, sem magia e situações perigosas, diriam que eu estaria grávida para desmaiar tanto assim. Era agradecia que esses pensamentos não ocorressem por aqui.

A ninfa estava ao meu lado, segurando uma xícara fumegante. Sentei-me e me permiti analisá-la. Seus pés que anteriormente estavam cobertos por veias enegrecidas tinham sido cuidados e enfaixados, sua flor estava ao seu lado em um novo terrário, seu cabelo folheado e salpicado com flores das mais diversas cores parecia mais aceso.

— Aqui – ela disse, oferecendo a xícara – ele me instruiu a te dar isso quando acordasse.

Peguei o item e imediatamente senti o calor passar por minhas mãos, acalmando-me. Inspirei um pouco a fumacinha e o líquido transmitia um odor forte, mas nada desagradável. Sorvei alguns goles e senti meus músculos gritarem de alívio. Devia ser algum remédio preparado por Leiftan.

— Onde ele está? - pedi, notando sua falta.

— Usando o portal para pegar mantimentos – indicou o poço que tinha visto anteriormente a luta.

Então aquele era o portal que procurávamos.

— Ele não quer se mexer enquanto você não se recuperar inteiramente – respondeu a minha pergunta muda, provavelmente lendo em meu rosto.

Típico dele. Preocupar-se com os demais e não consigo. Leiftan devia estar tão cansado quanto eu, se não mais por conta daqueles machucados em suas costas. O faria tomar uma xícara dessas quando voltasse, nem que fosse na marra.

— Qual seu nome? - pedi, pensando num meio de passar o tempo.

— Naia – respondeu, sorrindo – E o seu?

— Olimpya – falei, pousando a xícara ao meu lado.

A ninfa fez um “o” perfeito com a boca ao som do meu nome. Olhei-lhe com uma sobrancelha erguida.

— Ouvi falar de você, a mestiça prometida que pode salvar esse mundo.

Fiz uma careta com aquilo. Desde que cheguei aqui fui alvo de várias fofocas, desde espiã humana até a salvadora de Eldarya. Nenhuma me fazia respeito. Não imaginava como aquele tipo de conversa começara, mas as pessoas pareciam querer alguém para depositar sua fé e eu estava sendo o receptáculo no momento.

— Não sou nenhuma salvadora – comentei, rindo um pouco.

— A profecia diz o contrário – Naia retrucou sem se abalar, um dedo acariciando a grama ao nosso lado, fazendo uma flor nascer.

— Profecia? - indaguei, confusa.

Ok, as pessoas realmente estão desesperadas.

— É algo que ronda por aqui a alguns anos. Um sacerdote previu que uma jovem viria até nós de um modo inesperado e nos ajudaria a acabar com a mancha que os demônios deixaram em Eldarya. Que nossas terras se tornarão férteis e que jamais passaríamos fome ou medo novamente – sua voz era calma, cadenciada – eu mesma achava que era uma lenda, mesmo ouvindo falar de você – ia agradecer que ela me compreendia, mas ela ergueu um dedo me silenciando – porém, o que vi aqui me fez acreditar nisso.

Soltei um suspiro, um pouco tonta. Querendo que me escutasse com atenção, pousei minha mão sobre a dela.

— Naia, não sou a pessoa dessa profecia. Sou comum e nada mágica. Não tem como eu fazer essa terra ficar fértil – comentei, gesticulando para a vila destruída – eu mal sei enfrentar um mal de frente, quem dirá acabar com a mancha dos demônios – falei, pensando no modo que eles queriam que eu fizesse isso. Matando os demônios.

Eu não sou uma exorcista para início de conversa.

— Nada mágica? Alguém que consegue manipular o vento não parece comum para mim.

Ah. Eu tinha me esquecido daquele detalhe que me fez apagar de exaustão.

— Acho que as pessoas acrescentam detalhes demais na profecia e a idealizam alto demais. Mas, eu também creio que precisamos de alguém que se importe com os mais fracos para nos ajudar – os olhos da ninfa eram ferozes, como naquele momento que me pediu ajuda – e posso te dizer que poucos parariam para ajudar uma ninfa, e menos ainda para salvar sua flor ou árvore. Então, esse coração – ela apontou para meu peito – que ajudou os negligenciados me faz sentir menos medo e nisso eu acredito que a profecia se aplique a você.

Senti meus olhos marejarem diante aquela confiança. Nunca me achei necessária ou especial para alguém, mas naquele momento queria honrar a credibilidade que a ninfa me dava. Apertei sua mão que apontava para mim, demonstrando o quão emocionada fiquei com suas palavras.

Depois dessa pequena interação, Naia e eu organizamos os itens que Leiftan e eu possuíamos e fizemos uma checagem de quanto tempo demoraria para me recuperar totalmente. Após isso passamos o tempo conversando sobre as mais diversas coisas. A ninfa contou-me várias curiosidades sobre sua raça e tirou minhas dúvidas.

As hamadríades têm influência psíquica em pessoas com poucas proteções mentais. Mas, sua natureza gentil as impede de usar esses poderes. Yvoni foi um caso raro, pois ela foi aliciada a engolir um pedaço do cristal e acabou pervertendo sua natureza, fazendo-a usar essa influência nos outros e em mim naquele fatídico caso.

As ninfas das flores, ou dríades se for pensar no lado de sua raça, tem relação com a mente também, porém de uma forma diferenciada. Elas podem pegar pensamentos das pessoas sem proteção mental e não projetar pensamentos e sensações como suas parentes fazem. Um poder interessante a se ter, diria.

— Eles não estariam atrás dessa especialidade? - pedi, referindo-me ao fato do demônio ter tentado raptá-la.

— Acredito que não – ela negou, franzindo o cenho – pois essa nossa especialidade não pode ser usada por conta de um voto que fazemos ao nascer. Deve ter sido pela minha aparência – deu de ombros.

— Como assim? - indaguei, deixando de lado a curiosidade sobre esse voto.

— Aquela coisa estava se gabando por ter achado uma mercadoria bonita de se olhar para despachar ao outro mundo.

Prendi minha respiração quanto tomei conta do que estava se passando por ali. Aos poucos fui encaixando as falas de Dalabh e o que Naia me descrevera. Senti meu sangue ferver de raiva e ultraje.

— Eles estão traficando pessoas – sussurrei, indignada.

De algum modo o Trio Negro se apossou dos itens necessários para abertura de portal e estavam enviando seres mágicos para o mundo humano. Para o demônio se gabar da aparência delicada e bonita da ninfa só poderia ser tráfico. Me deixava doente saber que humanos estavam juntos nessa, pois para que isso ocorresse devia ter pessoas pedindo.

— O que disse?

A voz de Leiftan me trouxe dos meus pensamentos. Ele estava parado a alguns metros de nós, o rosto em choque, ouvindo o que acabamos de falar. Recuperando-se um pouco, ele soltou a bolsa que carregava perto dos nossos pés e começou a andar de um lado para o outro.

— Aqueles malditos – murmurou, lívido – então era isso o que estavam fazendo – grunhiu.

Levantei-me com um pouco de dificuldade e fui para seu lado. Peguei suas mãos, fazendo-o parar e olhar para mim.

— Vamos acabar com isso – disse, resoluta.

De jeito nenhum deixaria que aquilo continuasse. O povo de Eldarya não queria que alguém os ajudasse? Pois bem, eu faria isso.

— Vou ajudar – Naia falou, sua voz demonstrando sua força.

Leiftan piscou, surpreso. Mas, havia um indício de sorriso em seu rosto.

— Gosto do seu espírito, mas é perigoso demais – ele comentou.

A ninfa não se deixou abalar e ergueu um pouco mais o queixo.

— Vocês vão precisar de alguém lá dentro para conseguir derrubar todos os envolvidos. Se algum deles sobrar, isso vai voltar – ela argumentou.

— Ela está certa – murmurei, pensativa – espera um pouco – disse, estreitando os olhos – como assim alguém lá dentro?

Leiftan apertou nossas mãos ainda unidas, fazendo-me corar um pouco pelo meu ato impulsivo.

— Ela quer ser uma isca – ele me respondeu, sério – como disse, sua coragem é admirável – continuou, voltando sua atenção para Naia – Entretanto, é preciso ter cuidado e saber como jogar com eles ou pode perder a vida no processo.

Naia deu um pequeno sorriso como se esperasse esse tipo de resposta.

— Eu sei. E eu tenho um meio de ajudar. Algo que vocês não podem fazer.

Franzi o cenho, notando o que ela queria dizer. Soltei as mãos de Leiftan e me ajoelhei ao seu lado.

— Não tem a questão do voto te impedindo?

Meu companheiro fez uma careta ao notar sobre o que falávamos, sem dúvida sabendo das habilidades inacessíveis das dríades.

— Nosso voto é de não prejudicar qualquer ser neste mundo, mas não diz nada ao outro mundo – havia uma leve malícia em seus olhos, fazendo-me dar uma pequena risada.

— Se esquivando com as entrelinhas! Lembra-me de alguém – respondi, olhando para Leiftan pelo canto do olho.

— E quem seria? - ele zombou, entrando no clima.

Então ele passou um bom tempo conversando com Naia, pedindo sobre suas especialidades. Leiftan queria saber quais poderiam ser seus pontos fracos e ensiná-la como se portar e esquivar de situações perigosas. Enquanto os dois formulavam planos, eu peguei os itens de cozinha e fui preparar uma sopa.

Não era meu prato favorito, admito. Mas, com a nossa falta de opção de ingredientes me fez ser um pouco contida. Usei os legumes que conhecia do meu mundo e algumas plantas locais junto do animal que Leiftan conseguira caçar em sua aventura pelo portal. Ascender o fogo naquele fogão improvisado que foi um pouco complicado. Acho que devia ter entrado para os escoteiros como minha família queria.

Soltei um suspiro, ficando melancólica. Fazia tempo que não pensava em meus pais e amigos que deixei. Três anos distanciada de todos fazia com que a imagem mental deles fosse se tornando borrada e desfocada. Quase não procurava mais um meio de retornar, acostumando-me a ser parte desse novo cenário da minha vida.

Espiei a ninfa e tive uma ideia. Eu não poderia ir para lá no momento, não quando quem detinha o poder de transporte era o inimigo. Ajudaria esse povo e depois daria um jeito de voltar, nem que roubasse os itens no meio da confusão toda. Mas, por enquanto, poderia mandar uma mensagem. Ou tentar, pensei um pouco triste, afinal Naia não estava indo a passeio para lá. Balancei a cabeça, deixando para pedir que ela entregasse a mensagem mais tarde. Terminei de fazer nossa janta, afinal o sol estaria se pondo em pouco tempo.

Depois de fazer os dois comerem uma bela quantidade de sopa, independente do gosto mediano, era hora de tratar dos machucados de Leiftan. Ele vinha se esquivando do assunto desde que descobri sobre eles, querendo guardar a dor para si. Como se eu fosse deixar. Ele cuidou tanto de mim, era hora de retribuir o gesto.

Arrastei-o para do poço que realmente funcionava, não o portal perto da praça da vila. Apesar de resmungar que era perda de tempo, ele me acompanhou e foi retirando as vestes de cima para dar acesso as suas costas enquanto eu pegava água com um balde. Pousei o balde perto da trouxa de remédios e folhas e analisei suas costas.

Precisei morder meus lábios para não soltar qualquer som. Se de longe eu achei horrível o que acontecera, de perto era pior. Eu conseguia enxergar a dor dele naqueles golpes envergados e avermelhados que corriam por toda extensão de suas costas. Timidamente encostei o indicador na que parecia ser menos dolorosa, próxima ao ombro. Leiftan estremeceu com o toque. Apressei-me em tirar o dedo, mas sua mão me impediu, pousando em cima do dedo.

— Não sinta pena – sua voz era levemente rouca – eu não me arrependo de tê-las, pois essas marcas significam que salvei a vida de uma amiga preciosa.

Com o dedão livre de sua mão que ainda me mantinha no lugar, comecei a fazer círculos delicadamente na marca abaixo da minha palma. Novamente ele estremeceu, mas não parecia ser de dor.

— Eu não sinto pena ou dó. Sinto admiração pela sua força e raiva por você querer suportar tudo sozinho – respondi.

Então puxei e retirei minha mão da sua e ocupei-me com os medicamentos. As aulas de Ewelein me eram preciosas no momento. Depois de suas dicas e sermões, eu sabia distinguir as propriedades das plantas que existiam, podendo prepará-las para tratar ferimentos.

As marcas dele eram parecidas com de chicotadas, porém já cicatrizadas. Mas, a vermelhidão me dizia que havia uma pequena infecção nelas. Assim, preparei uma mistura de ervas e comecei fazendo compressas com elas em suas costas. O suspiro de alívio dele me mostrou que havia acertado em meu diagnóstico.

Passamos o restante do tempo em silêncio, até que todo centímetro de pele marcada estivesse coberto pelas compressas. Peguei a faixa de linho que ele trouxera consigo e passei a enrolar em torno de seu tronco, para manter as ervas no lugar. Deixaria as compressas fazendo efeito a noite toda e então faria uma pasta para deixar no decorrer do dia.

— Obrigado – Leiftan agradeceu, recolocando as roupas.

— Amigos se ajudam – respondi, sorrindo.

Então voltei-me para as plantas, iniciando o processo da pasta.

— Então me dê um espaço – ele cutucou-me, fazendo ir um pouco para o lado.

Ele sentou-se e começou a separar as ervas também, auxiliando-me. Concentrei-me no que fazia, tentando ignorar a pessoa próxima. Era engraçado como minhas atitudes mudavam inesperadamente com ele, uma hora eu estava calma e centrada em seus ferimentos e agora parecia uma garotinha do ensino médio. Fracamente, Olimpya!

— Como vai ser lá? - pedi, quebrando o silêncio.

Sabendo que me referia a nossa volta ao QG e para o Trio Negro, Leiftan pausou o processo e me olhou com seriedade.

— Nada fácil. Você vai precisar fingir a todo momento, mesmo quando estiver dormindo. Um pequeno deslize e tudo desmorona.

Senti um arrepio com tremenda responsabilidade.

— Como aguenta? - indaguei, lembrando a quantia de tempo que ele fazia isso.

— Penso naqueles que quero proteger – ele respondeu, os olhos perdendo-se na floresta a nossa frente.

Sem saber o real motivo, meus olhos deslizaram por seus ombros, fixando-se num ponto de sua clavícula. Uma lembrança me passou naquele momento, quando Leiftan fora alvejado por uma flecha no altar.

— Eles ainda querem nos casar, certo?

O lorialet assentiu.

— Provavelmente já possuem todo o arranjo pronto, esperando que pisemos no QG para realizar a cerimônia – falou, fazendo uma careta.

— Eu sou tão ruim assim? - brinquei, cutucando-o no braço.

— Quem sabe? - zombou, mostrando-me a língua – mas, não é com sua aparência ou jeito que me preocupo.

— E o que é?

Leiftan soltou um suspiro antes de virar o corpo todo para mim.

— A cerimônia que eles planejam é de junção eterna. Ou seja, você estaria ligada a mim por toda sua vida, sem chances de divórcio. Eu tinha feito alguns arranjos naquele dia para burlar essa situação, seria um casamento de fachada. Mas agora…

Fiz uma careta, vendo como ele sempre se precavia nas situações e como a fuga havia desmantelado isso.

— Tem alguma maneira de contornar isso? Substituir o sacerdote na hora? Ou eu fingindo desmaiar? Sei lá.

O rosto dele tornou-se contemplativo, fazendo-me ficar curiosa.

— Apenas se eu me tornar seu Guerreiro juramentado. Um ato desse invalida o casamento entre os envolvidos.

Minhas sobrancelhas subiram em alarde, possivelmente alcançando a raiz dos cabelos.

— Eu não sou uma rainha e muito menos uma princesa, camarada. Isso não vai funcionar – indiquei, ainda surpresa com a sugestão – e você estaria amarrado a mim e as minhas vontades como nas histórias que li.

Leiftan tinha uma expressão engraçada, deixando-me desconfiada.

— Desembucha – praticamente ordenei.

— Olimpya…

— Nem vem – o cortei, cutucando-o com um dedo no peito – você solta a bomba e depois foge? Pode parar. Sem mais segredos entre nós, lembra?

Ele estreitou os olhos.

— Vai ser melhor se eu te mostrar – respondeu, finalmente.

Pendi a cabeça para o lado, imaginado como isso aconteceria.

— Naia, vamos precisar da sua ajuda – ele falou um pouco mais alto, levantando-se e oferecendo-me sua mão – sem mais segredos – comentou para mim.

— Vamos lá – concordei, pegando sua mão.

 


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Notas finais do capítulo

O que será que Leiftan disse que vai mostrar? E o que seria isso? Palpites? Estou ansiosa para saber as teorias de vocês.
Quero agradecer de coração a todos que leem e comentam na fanfic, o feedback de vocês é muito importante para mim e para o decorrer da fanfic.
Espero que tenha gostado!
E até o próximo (já adianto que será um pouco... diferente).
Beijos.



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