Greater Good — Interativa escrita por Excelsior


Capítulo 8
VI.❝The Chameleon Day


Notas iniciais do capítulo

o ousado chegou !!! kkkkkk

Tô aqui parafraseando os tweets do Neymar não é à toa, galera. Tô de volta, AMEN. Espero que gostem desse capítulo, porque é o meu fave da história até então. Escrevi ele antes do hiato, e ainda o amo demais!



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CHAPTER VI O Dia do Camaleão

Pingando dos pés à cabeça, Locan Illéa se abrigou embaixo dos andaimes em frente ao prédio e checou o relógio de pulso. 21:23. A Marechal Cassandra provavelmente daria mais uma de suas lições de vida sobre como ser pontual inspirava respeito e confiança, mas ele estava ansioso demais para inspirar qualquer coisa em alguém.

Principalmente quando estava prestes a ser assassinado.

Ou incriminado.

Na melhor das hipóteses, chantageado.

Venha sozinho. Seja discreto.

Para alguém tão excepcionalmente inteligente, ele estava tomando uma atitude incrivelmente estúpida.

Ele sabia bem o que acontecia com pessoas que eram convidadas por meio de bilhetes anônimos a prédios abandonados no subúrbio, tarde da noite, numa rua escura. Eram os minutos iniciais de um filme de suspense policial.

Estava prestes a ser assassinado. Ou incriminado. Na melhor das hipóteses, chantageado.

Estúpido, de fato.

Um vento forte quase tirou seu equilíbrio, e ele teve que se reposicionar e apertar o punho em volta das muletas, que estavam molhadas e escorregadias.

Ele havia sido discreto. Estacionara várias quadras de distância do ponto de encontro, mesmo que aquela caminhada o deixasse encharcado, com os ombros doloridos e os músculos rígidos. Se certificara de que não estava sendo seguido, ou observado, o que era ordinariamente uma tarefa muito difícil, já que o cara de muletas raramente passava despercebido, mas supôs que estavam todos preocupados em se proteger do vendaval.

Mas Lorcan não era idiota — estúpido, mas não idiota. Ele sabia o que aqueles documentos anexados ao bilhete significavam. E suas escolhas. Sabia que, de um modo ou de outro, enterrado até os joelhos doloridos num problema cuja única solução podia estar ali, naquele prédio inacabado, naquela rua escura, naquele pedaço abandonado da cidade.

Por precaução, havia até mesmo providenciado um álibi para a última semana inteira.

A chuva varria a calçada, e o vento ameaçava arrancar as árvores do chão. Os pingos de água se amontoavam nas lentes dos óculos de armação fina quando encarou a rua, — não mais deserta.

Ele cerrou os olhos e tentou limpar as lentes com as costas da manga do casaco, retornando as mãos rapidamente para se firmar no chão. Se brincasse, seria arrastado pelo vento.

Uma figura envolta numa capa de chuva escura dos pés à cabeça se aproximava.

Lorcan Illéa engoliu em seco, e se preparou.

Ravenna Devereux estava encenando uma personagem.

Talvez aquele fosse o melhor, e mais útil, instinto que dezenove anos vivendo com Mama Devereux lhe trouxe.

A sensação já lhe era bem familiar; o primeiro passo consistia em observar.

Durante a curta viagem, foi exatamente o que fez. Com o canto do olho, analisou a elegante mulher que se sentava na poltrona oposta a dela, mexendo numa projeção holográfica com uma caneta sensorial, compenetrada no que quer que estivesse fazendo. Havia se apresentado como Senhorita Delaney quando a buscou na porta de casa, num carro que emanava dinheiro pelos quatro cantos de Illéa, vestindo um tailleur profissional e o cabelo bem preso no topo da cabeça. Era bonita e nova, mas o modo como encarava Raven por cima dos oclinhos meia-lua faziam com que ela se sentisse uma criança pega com o rosto melado com o chocolate que fora impedida de comer.

Raven descruzou os tornozelos e cruzou as pernas no lugar, endireitando os ombros, alinhando-os com o pescoço. Cobriu os joelhos com as duas mãos e encarou as mãos. Um homem aprumado, talvez o piloto, passou entre as duas poltronas e abriu uma pequena porta no fim do corredor.

— Alguma bebida, senhoritas?

De relance, Ravenna viu a Senhorita Delaney hesitar. Ela abriu e fechou a mão, então balançou a cabeça.

— Estou a trabalho, comandante.

Ele olhou para Raven.

— Vinho tinto, talvez? — ela perguntou, incerta das opções. Mas havia há muito aprendido que aquela era a escolha certeira, mesmo que não gostasse particularmente do gosto. Era elegante. O tipo de coisa que fora ensinada a apreciar.

O comandante acenou com a cabeça, um meio-sorriso nos lábios. Ela o observou por alguns momentos enquanto abria a garrafa e a derramava numa taça de cristal. Ele não era extremamente lindo, não do mesmo modo que os homens com quem Raven estava acostumada a trabalhar, mas sua postura ereta e o uniforme impecável concediam-no um ar encantador, fazendo-o muito mais bonito que seria como um civil, bonito do mesmo modo que todos os pilotos pareciam ser — jovem, com um brilho nos olhos castanhos de quem desbrava o mundo.

Esse, ela pensou com um sorriso enquanto observava a Senhorita Delaney brincar com o pingente na correntinha, os olhos grudados na figura do comandante, o rosto subitamente corado quando ele se virou com duas taças na mão, é o secular e já muito conhecido efeito dos Pilotos. Supôs que homens em uniformes eram, e sempre seriam, apelativos.

Uniformes não eram muito diferentes de máscaras, ou dos personagens de Ravenna Devereux.

O Comandante ofereceu a taça de vinho a ela, educadamente, encarando seus olhos intensamente, e então a com líquido transparente à Senhorita Delaney.

Ela ajustou os oclinhos no topo do nariz, e balançou a cabeça com veemência.

— Eu… estou trabalhando-

Ele ergueu uma mão, a interrompendo.

— Eu sei. É limonada.

A mulher piscou duas vezes, seus olhos encontrando brevemente os de Ravenna antes dela se voltar para o piloto novamente. Limpou a garganta discretamente e pegou a taça.

— Obrigada, Comandante Warrington.

Ele levou dois dedos à têmpora, numa saudação informal, e se curvou levemente.

— Se me derem licença, Alteza, e Senhorita Devereux — seus olhos castanhos se voltaram para Ravenna, e ela jurou vê-lo dar uma piscadela discreta. — A cabine agora pede pela minha atenção.

Agora menos corada, Delaney acenou com a cabeça, e quando Warrington desapareceu atrás da porta que levava ao cockpit, soltou um suspiro desarmante.

Ravenna girou a poltrona de leve para ela.

— “Alteza”?

Um aceno de mão.

— Um exagero. — Ela também girou a poltrona. — Gostaria de notificar alguém de sua partida, Senhorita Devereux? Vamos divulgar as sorteadas hoje à noite, não houve nenhum vazamento. Alguma avó com problemas de coração?

Ravenna demorou um segundo para responder, mesmo que já tivesse a resposta na ponta da língua. Não havia ninguém. Sua avó estava há muito falecida, levada ao desgosto pela perda da fortuna da família. Talvez sua mãe tivesse um ataque — bem merecido.

— Ah, não, — ela sorriu. — Vamos manter o fator mistério.

Delaney acenou.

— Como quiser.

Ela já havia estado no palácio antes, mas parecia que não; de manhã, o ar que a enorme propriedade emanava era diferente da noite, quando as luzes da estrada formada pela longa alameda de pinheiros estavam ligadas, e pareciam prontos para sussurrar mistérios e promessas de grandeza. À noite, o palácio fazia com que se sentissem estrelas. De manhã, sentada dentro do carro que pairava a apenas alguns centímetros do solo, Ravenna sentia-se, pequena.

Estava úmido, e as cores vibrantes, características típicas daquela época do ano, quando chovia muito. O céu estava acinzentado, e a neblina chegava a cobrir o topo dos pinheiros mais altos. O aquecedor ajudava, mas não espantava a baixa sensação térmica. Estava vestida no elegante sobretudo que haviam lhe oferecido quando deixou a aeronave, mas a Senhorita Delaney parecia pouco afetada pelo clima; continuava impassível, os olhos glaciais observando a projeção pelos oclinhos meia-lua.

A alameda de pinheiros emanava poder. Em casa, na velha Mansão Devereux, sua mãe vivia falando sobre reviver o jardim da entrada, mas ainda assim, não era nada comparado ao Palácio. Quando os pinheiros acabavam, abria-se um enorme pátio de pedras polidas e rústicas, uma ostensiva fonte logo no centro. Quando visitara o palácio há alguns anos, numa prémière de um dos filmes que estava trabalhando na época, o carro luxuoso em que se encontrava havia feito a volta pelo chafariz e parado na frente do carpete de veludo vermelho que levava até as portas principais.

Mas não foi o que aconteceu. Não é que ela estivesse esperando pelo carpete vermelho — ela só supôs que ele fosse estar ali. Perpetuamente.

Na verdade, o carro sequer deu a volta pela fonte. Ignorou completamente a entrada principal, e seguiu pela direita. Ela tentou não se sentir decepcionada. Então, depois de mais alguns minutos, pararam. Era a lateral do palácio, talvez não tão suntuosa quanto a entrada principal, mas ela duvidava que houvesse algo ali que não fosse suntuosa. Não havia tapete, mas havia uma recepção; duas mulheres vestidas em roupas meticulosamente brancas e um homem, que apenas pela pose a lembrava de um ator com quem contracenara num filme.

Ela encostou na porta, que abriu com um discreto click. O homem se aproximou e estendeu uma mas mãos enluvadas, qual ela tomou. Do outro lado, a Senhorita Delaney parecia estar tendo mais problemas com os saltos e buracos entre as pedras no chão que ela, mas Ravenna não viu ninguém a ajudando sair do carro.

— Seja Bem-Vinda ao Palácio Real, Senhorita Devereux, — o homem disse numa voz que também parecia ter saído de um filme. — Aquelas são Lania e Felícia, e vão te auxiliar com o que quer que precise pelos próximos meses de sua estadia.

Ele tinha um sotaque inglês, ela percebeu, que combinava muito bem com os cabelos grisalhos e marcas de expressão no rosto. Ele continuou, segurando sua mão enquanto adentravam o palácio:

— Faremos um tour pelas alas do palácio mais tarde, mas no momento, suponho que queira descansar. As garotas te mostrarão seus aposentos.

Ravenna se sentia num verdadeiro labirinto. Lania ia na frente, Felícia atrás, como se a estivessem escoltando.

Viraram esquinas, seguiram, corredores, subiram escadas. Chegou um ponto em que ela não estava inteiramente certa de que seria capaz retornar para o lugar de por onde havia entrado.

— Vamos preparar seu banho, — Felícia disse quando pararam na frente de uma das portas. — Gostaria de algo especial?

— Talvez alguma água? — ela pediu, sentindo a garganta seca. A última coisa que havia bebido fora o pinot noir do comandante Warrington.

Lania acenou com a cabeça e passou a mão pelo sensor ao lado, que reconheceu sua assinatura térmica facilmente.

— Vamos registrar sua assinatura, — ela pediu a mão de Ravenna, que estendeu na frente dos sensores. — Nível de segurança amarelo.

— O que significa? — recolheu o braço quando havia terminado.

— Acesso a todas as áreas comuns, aos estabelecimentos da Corte da Rainha Alina, e ao Salão das Selecionadas.

O quarto era luxuoso, o que não a espantou. Decorado minuciosamente, claramente preparado para uma garota; as cores creme e dourado predominavam, com o breve toque de outras cores delicadas. A cama, de frente para uma enorme janela, era enorme, com as cortinas semitransparentes do dossel caindo ao redor. Num dos cantos, uma prateleira com alguns livros se posicionava na parede, duas poltrona ligeiramente inclinadas para ela, e ao lado, uma escrivaninha. Na parede oposta, uma porta que ela supôs levar ao banheiro, e uma delicada penteadeira francesa.

As criadas viraram para analisar sua reação, e Ravenna esboçou um sorriso. Quando perdeu aquela maldita aposta que a colocara no jogo, ela não tinha perspectivas de ser escolhida —muito menos de estar dentro de um quarto como aquele, no Palácio Real. Mas agora conseguia se ver passando as próximas semanas, meses, ali. Ela quase podia sentir Erik sussurrar em seus ouvidos, dizendo precisava se abrir para novas experiências.

Felícia instruiu que ela tirasse as roupas enquanto elas preparavam o banho, o que aparentemente demoraria mais tempo que uma ducha rápida; sais e óleos que nem mesmo ela, com toda sua educação excepcional e estilo de vida exuberante, saberia nomear. Depois, seguiram para uma sala no final do corredor, ela vestida vestida em nada mais que um roupão pesado e o cabelo preso no topo da cabeça.

Lania apresentou a sala como o Salão das Selecionadas, onde elas, caso desejassem, passariam as horas livres confraternizando. Se tratava de um cômodo enorme, com sofás e poltronas, um grand piano, estantes acopladas às paredes repletas de livros físicos e transferidores infravermelho, por onde poderiam fazer download de cópias digitais para a pulseira e depois transferi-los para os aparelhos pessoais de cada uma — e não apenas livros, já que o Salão tinha um belíssimo acervo de filmes.

Era um ambiente confortável, e se surpeendeu ao conseguir imaginar a si mesma passando muitas tardes de lazer ali. Algumas mulheres já circulavam pelo Salão, mulheres quem ela deduziu também serem Selecionadas, a julgar pelos roupões. Ravenna enterrou as mãos nos bolsos felpudos do roupão e respirou profundamente.

Passo dois: se misturar.

— Ora, mas se não é uma surpresa.

Ravenna se virou, e precisou piscar duas vezes para processar a novíssima e inesperada informação. Quase que de imediato, a expressão de surpresa se dissolveu de seu rosto para dar espaço a um meio-sorriso agradável.

— Calliope Lovelace. — ela estendeu uma mão.

Trocaram um cumprimento formal. Uma criada passou segurando uma bandeja com algo que parecia milkshake, e Ravenna pegou, ignorando seus horários da dieta.

— Como veio parar aqui? — Calliope perguntou depois de dar um longo gole na própria bebida, que Ravenna descobriu não se tratar de milkshake, mas vitamina.

Raven deu de ombros.

— Do mesmo modo que você, suponho. É uma incrível coincidência.

— Num evento grande como a Seleção, coincidências são um nome bonitinho que encontramos para descrever coisas sob a qual não temos controle, — os grandes e amendoados olhos de Calliope se tornaram algo que Raven só pôde descrever como passionais. — Odeio fazer isso, mas temos que concordar com a imprensa neste quesito.

Ela acenou em concordância com a cabeça e se sentou no sofá posicionado perto da poltrona da outra selecionada.

— Como vai o andamento do terceiro livro? — ela perguntou após uma breve pausa, arrancando uma risada de Calliope, que limpava os cantos da boca depois de ter bebido mais vitamina.

— Muito bem. Estou dando uma pausa no momento. — admitiu, depois acrescentou, com um aceno: — Por razões óbvias.

— É claro.

Calliope era a escritora de uma trilogia que estava sendo adaptada para os cinemas. O primeiro filme já havia sido lançado, um sucesso de bilheteria, mas as gravações do segundo só começariam quando o terceiro livro fosse publicado. Raven tinha um papel secundário nos filmes, embora importante, e havia recebido algumas premiações pela atuação — assim como críticas dos fãs mais rigorosos dos livros, levando em conta que ela e a personagem, Allison Greengrass, uma psicóloga baixinha, loira e de olhos verdes, não compartilhavam nenhuma semelhança física, contrastando com a estatura alta e esbelta de Ravenna, olhos castanhos, cabelos e pele negra, além do ar inegável de femme fatale. Mas segundo as críticas mais sérias, Ravenna era uma atriz boa o suficiente para conseguir empunhar a personalidade de Allie com maestria.

Não sabia a opinião pessoal de Calliope no assunto, embora esta tivesse se manifestado positivamente, senão neutra, quando questionada.

— Falando em coincidências que não são coincidências, — Calliope começou, se inclinando levemente na direção de Raven. — Duas das selecionadas são irmãs. Quais as chances? Illéa não é tão pequena assim.

— É quase óbvio demais o que estão tentando fazer aqui, — complementou. — Mas eu consigo entender o porquê.

— Engenhoso, — a escritora comentou. — Porém não menos perigoso.

E embora ela tivesse dito isso, para Ravenna, Callioppe Lovelace não soou nem um pouco apreensiva. Se qualquer coisa, desafiadoramente animada.

— Entre.

Ele obedeceu, endireitando os ombros doloridos e se firmando no chão. Completou a tarefa laboriosa enquanto a figura o observava do topo das escadas, não mais que um vulto negro na semi-escuridão, e liderou o caminho até o inteiror do edifício eternamente inacabado.

O cheiro de maconha e substâncias que apenas um habilidoso químico do Departamento de Substâncias Tóxicas da polícia seria capaz de distinguir, misturado àquilo que supôs — corretamente — ser álcool, invadiu suas narinas, e teve de engolir a bile em repulsa.

Lorcan gostava de pensar que já era fodido demais para mexer com substâncias que apenas deterioravam o estado físico do usuário, e nunca havia ingerido quaisquer drogas que não fossem prescritas pelo médico (mesmo que às vezes, mais frequentemente que gostaria, engolisse mais aspirinas de uma só vez que as recomendadas pela OMS).

Seus instintos naturais estavam à postos quando seguiu a figura mais adentro. Talvez ele estivesse prestes a morrer. E não havia muito que pudesse fazer. Correr? Rá. Revidar? Digamos que Lorcan só se mantinha em boa forma devido às demandas da fisioterapeuta. Por dentro, era um típico nerd sedentário e obeso de porão, e tinha certeza que exatamente assim seria, se não fosse pela deficiência. Revidar além de alguns socos? Ele tinha braços impressionantes, mas uma vez que estivesse no chão, sedado — morto…

Quando chegaram ao fundo da construção, suportada por vigas enferrujadas, a pessoa parou. O som da chuva fora abafado, e ali dentro só estava a luz fraca e amarelada da rua.

— Está muito frio lá fora, — o estranho retirou o casaco negro, e ele percebeu, espantado, que não era estranho coisa nenhuma.

— Rowan.

Ela não sorriu. Colocou o casaco estendido numa mesa escorada na parede, e se voltou para ele novamente, mãos nos bolsos.

— Ei.

Lorcan franziu o cenho. Ele não era burro. Nos tempos de escola, quando era inocente demais para se defender, fora chamado de muitas coisas — entre elas aleijadinho, bebê de proveta, quatro olhos (simplesmente um clássico), rato...— mas nunca, nunca, burro.

Ele sabia quem era Rowan Goselyn. Além da mulher que o deixava fervendo, além da beldade de cabelos negros e intimidade pulsante, sempre pronta para ele, além de alguém que havia reivindicado uma gaveta em seu guarda roupa, e que ainda assim esquecia calcinhas nas gavetas dele, além de alguém que ele sentia falta, além de tudo isso — Rowan Goselyn era uma jornalista.

Uma excelente e inescrupulosa jornalista. Excelente porque era inescrupulosa. Inescrupulosa porque era excelente. Um ciclo interminável. Ele sabia.

— Não é o que está pensando. — ela afirmou numa voz que foi abafada pelo eco da chuva do outro lado das paredes, olhando diretamente em seus olhos.

— Sério? — ele bufou, incapaz de esconder o tom irônico da voz.

Rowan passou uma mecha negra para trás da orelha e balançou a cabeça.

— E é claro que você não acreditaria.

— Me desculpe se eu não acreditar em tudo que me diz, Lancaster. — ele viu ela estremecer com o uso do segundo nome. — O que diabos está acontecendo aqui?

— Permita-me. — uma terceira voz se juntou à dupla. Ele mal teve tempo de percebê-la.

— Lucien?

Definitivamente. Lorcan não estava gostando do desenrolar da cena. Odiava, odiava surpresas. Era por isso que preferia computadores a pessoas; equações são previsíveis, mesmo programas de aleatoriedade são o que são — programas. Previsíveis. Seres humanos são o exato oposto.

— Alguém quer me fazer o favor de explicar o que é isso?

Lucien se aproximou. Na pouca luz, parecia mais velho do que se lembrava, embora fosse apenas alguns anos sênior do próprio Lorcan. Não podia distinguir muito, mas a horrenda cicatriz que estraçalhara seu olho esquerdo e que se estendia da testa ao início da mandíbula era inconfundível.

Então o homem que era seu tio, mas que a vida toda se portou mais um primo mais velho e mentor que qualquer outra coisa, explicou.

— Quem? — perguntou a ninguém em particular quando terminou de processar que havia um ameaçador, só não era Rowan. Era como se alguém houvesse soltado um nó de sua garganta, apesar de parte do consciente se perguntar

— Michael Vizsl. Jornalista do Illean. Cobra peçonhenta. — Rowan falou, e quando viu a sobrancelha erguida de Lorcan, acrescentou um dar de ombros.

— E o que ele quer em troca?

— O que jornalistas sempre querem, — Lucien tomou a frente. — Um contato do lado de dentro. Mais que um contato, no caso.

— Estamos falando de espionagem suja. — Rowan complementou. — Ele sabia que eu não arriscaria ter as fotos expostas.

Ele se recostou contra a mesa, dando um descanso aos braços, e a observou, trocando os olhares entre ela e o outro homem.

— E você se encaixa exatamente onde? — perguntou, se dirigindo a Lucien.

Pouco impressionado, o príncipe balançou a cabeça.

— Ela conseguiu me contatar.

Ele bufou:

— Obviamente. Mas por quê? Dorian vive sendo flagrado pelado com mulheres, e tenho certeza que nenhum desses resultaram numa reunião secreta num prédio abandonado.

— Oras, você não acha que isso afetaria só você, certo, Lorcan? Cassian já está por um fio, principalmente com o Veritas espreitando por outra abertura. E Dorian não é flagrado com a jornalista mais influente na política de Illéa, pelo menos fora de quatro paredes, — ele gesticulou, então acrescentou rapidamente: — Sem ofensas, querida.

None taken.

Lorcan não se incomodou em apontar que eles haviam estado entre quatro paredes. O tio já estava continuando.

Mas o fato de você, o melhor amigo do próprio Rei, certamente alguém que pode colocar minhoquinhas na cabeça dele, estar num relacionamento às escuras com a inimiga número um da monarquia em plena-

— Opositora, Vossa Alteza. — ela corrigiu.

Lucien balançou a cabeça.

— Vê meu ponto? É uma reação em cadeia. Efeito dominó. Nações já foram perdidas por menos. Está aí, metade da Europa como exemplo.

Ele via. Claramente. E entendia. Talvez desde a primeira vez em que viu todos os fatos sobre a mesa. Ele só não entendia uma coisa — ou melhor, não queria entender.

— Então você vai dar um jeito, — concluiu. Ele sabia que o homem já havia lidado com crises maiores nos bastidores da monarquia.

Silenciosamente, Lucien acenou com a cabeça..

— Quando eu e...— sua voz falhou por uma fração de segundo, como sempre fazia quando estava prestes a mencionar Helena. — Eu posso dar um jeito.

Rowan parecia ter acabado de levar um soco, porque deu um pulo assustado.

— Dar um jeito? — ela franziu o cenho. — Nós nunca falamos sobre matar ninguém, príncipe.

O silêncio trocado entre o trio poderia ter durado um ano. Rowan ergueu os braços e se voltou para Lorcan, buscando por apoio.

— Existem outros modos de se livrar de alguém, — declarou o jovem duque depois de soltar o ar que estava segurando dentro do peito.

— Existem outros modos de se livrar de alguém, — Lucien concordou. — Só não muito eficazes.

— Lucy.

— Certo. Sem mortes. — grunhiu ele.

— Nem manipulação de acidentes.

O humor desdenhoso que Lucien emanava era o suficiente para derrubar um elefante.

— E faquinha no pescoço, pode? — perguntou, num tom igualmente irônico.

— Vamos evitar isso também, — Rowan revirou os olhos, encontrando os seus com os de Lorcan. — Se possível.

Lorcan sorriu involuntariamente, e por uma fração de segundo, eram só os dois— e nada, nada os preocupando.

— Uh, vamos evitar isso também, por favor. — Lucien acrescentou. — No caso de mais algum paparazzi estar de olho.

Ela desviou o olhar e cruzou os braços, encarando os próprios sapatos. Ele não podia ter certeza com a luz tão fraca, mas acreditou ter visto o vislumbre de bochechas rosadas. Lucien os deixou, mas não antes de soltar uma risada insinuante. A chuva no lado de fora não dava indicações de que iria ceder num futuro próximo, e nenhum dos dois estava muito animado com a ideia de se molhar ainda mais.

Rowan se aproximou com passos cautelosos, encostando o quadril contra a lateral da mesa, tão próxima de Lorcan que ele podia praticamente sentir os pelos de seu braço reagindo ao calor inesperado do corpo dela.

— Olha… — começaram em uníssono. Então pararam, compartilhando outro silêncio desconfortável.

Ela virou o corpo na direção dele, ele sustentou o olhar por mais tempo que achava ser capaz.

— Quer pular essa parte? — ela soltou, inesperadamente.

— Por favor.

Antes que pudesse raciocinar, estavam em cima da mesa, —e tão logo em cima um do outro.


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Notas finais do capítulo

Galerinha que ainda tá viva, que ainda gostaria de participar, dê um salve nos comentários! Ele vai valer 15 pts. As selecionadas que não responderem a este capítulo, já serão quotadas a sair na primeira eliminação, dando vantagem às novas selecionadas (esperamos).
Enfim. Desculpe-me pelos atrasos absurdos, vou tentar continuar fiel, porque amo DEMAIS essa história pra simplesmente largar! Amo vocês, galerinha fiel ao Nyah!, categoria Seleção, gênero Interativa, hahaha Nós somos um fandom à parte. ♥ ♥ ♥



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